Em 2 de abril de 1840 nasceu em Paris o
famoso escritor francês Émile-Édouard-Charles-Antoine Zola, que pertenceu
ao movimento literário chamado Naturalismo. Também foi participante de
movimentos políticos pela liberdade. Há fortes suspeitas de ter sido
assassinado devido ao artigo em que protestava e acusava os que elaboraram um
processo falso contra o oficial francês de origem judaica, Alfred Dreyfus.
Zola era filho
de François Zola (originalmente Francesco Zola), um engenheiro italiano e
da francesa Émilie Aubert. Passou sua infância em Aix-em-Provence, tendo estudado
no Collège Bourbon (atualmente conhecido como Collège
Mignet). Aos 18 anos vai para Paris e passa a estudar no Lycée
Saint-Louis. Estando com sérias dificuldades financeiras quando o pai
morreu, Zola vai trabalhar em escritórios, em cargos de pouca influência. Seu
início no jornalismo acontece quando escreve para os jornais Cartier de
Villemessant's e Controversial. Fazia duras críticas ao
imperador Napoleão III e ao conservadorismo religioso. Críticos literários não
gostaram da obra de tipo autobiográfico de Zola, La Confession de
Claude (1865).Também criticaram o romance Thérese
Raguin, de 1866. Nessa obra foi inovador, com inspiração em aspectos
científicos daqueles tempos, indo além de um romance para fazer também uma
análise detalhada do ser humano e da sociedade. Foi o início de um movimento
literário novo, o Naturalismo, que se originou das análises científicas sobre
os seres humanos, com base em teorias como o darwinismo, o evolucionismo e o
determinismo científico. Em 1880 Zola publicou o texto O romance
experimental, o manifesto literário do movimento chamado Naturalismo.
Zola casou-se com Alexandrine Meley em
1870, com quem já tinha um envolvimento amorosos por cinco anos e em 1888 teve
um caso fora do casamento com Jeanne Rozerot e desse relacionamento que durou
14 anos o casal teve dois filhos.
Em 1871, Zola começou a executar seu
grande projeto: a série Os Rougon-Macquart (Les
Rougon-Macquart), com subtítulo de História natural e social de uma
família sob o segundo império. Esta série possui 20 romances com base
naturalista e foi escrita no período de 1871 a 1893. A inspiração para Zola
escrever esses romances foi a obra de 89 romances de Honoré de Balzac, um
grande escritor francês que viveu no século XIX. No prefácio do livro A
Fortuna dos Rougon, de 1871, Zola escreveu:
Eu desejo explicar como uma
família [os Rougon-Macquart], um grupo reduzido de seres humanos, conduz a si
mesma dentro de um determinado sistema social (…) dando origem a dez ou vinte
membros, que, embora possam parecer, à primeira vista, profundamente
divergentes uns dos outros, são, como a análise demonstra, mais intimamente
ligados por meio da afinidade. Hereditariedade, como a gravidade, tem suas leis
O escritor procurou seguir quando
escreveu Os Rougon-Macquart o método científico que
existia na época, considerando as influências do meio e da hereditariedade na
constituição das personalidades dos indivíduos.
Uma segunda série de livros escrita por
Zola foi As três cidades, que tratava de questões religiosas e
sociais. Com base em idéias socialistas e também tendo uma visão
estilo messiânico a respeito do destino da Humanidade, foi escrita uma terceira
série que não foi terminada pelo autor: Os quatro evangelhos. Mesmo
tendo escrito muitas obras com ótimo valor literário, Zola não conseguiu entrar
na Academia Francesa de Letras, tendo sua candidatura sido negada por 24 vezes.
Os amigos pintores famosos Zola Paul Cézanne (1839-1906), Claude Monet
(1840-1926), Edgar Degas (1834-1917) e Pierre-Auguste Renoir (1841-1919)
romperam a amizade com ele por se sentirem ofendidos pelo que o escritor disse
em seu livro A obra, escrito em 1886.
O livro que mais consagrou Zola como
escritor foi Germinal (1885), o décimo terceiro da série Les
Rougon-Macquart. Nesse romance o autor passou dois meses como mineiro em
uma mina de carvão e procurou conhecer bem o meio dos trabalhadores. Na obra
ele descreve com minúcias as duríssimas condições dos trabalhadores de uma mina
de carvão na França. Na obra os mineradores se organizam contra a opressão dos
que os exploram e iniciam uma greve por melhores condições, sendo reprimidos,
restando a esperança de conquistas por meio de lutas.
O escritor Zola também foi um ativista
político. Sua obra de maior repercussão na política foi a carta aberta J'acccuse (Eu
Acuso), para o presidente da França publicada no jornal L'Aurore, em
Paris, em 13 de janeiro de 1898. Nessa carta havia a acusação de antissemitismo
ao governo francês em relação ao caso Dreyfus ( ver nota de rodapé), um capitão
francês de origem judaica que foi condenado injustamente por espionagem. A
publicação da carta fez com que Zola fosse condenado por difamação e condenado
a uma ano de prisão, mas ele embarcou para a Inglaterra, escapando de ser
preso. Voltou quando teve resposta positiva a seu favor contra a acusação.
Em 29 de setembro de 1902, aos 62 anos,
Zola faleceu em sua casa em Paris por causa de inalação de uma excessiva
quantidade de monóxido de carbono vinda de uma lareira com defeito. Pesquisadores
levantam a hipótese de assassinato por causa do engajamento político do
escritor.
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*A carta de Zola e o caso Dreyfus
”No dia 13 de janeiro de
1898, o escritor Émile Zola revelava ao público francês uma grande farsa.
Denunciando o Tribunal e o Alto Comando Militar da França, Zola publicou no
jornal L’Aurore uma longa carta revelando a fraude contra Alfred Dreyfus.
Denominada J’accuse! (Eu Acuso!), a
carta revelava que o exército condenou Dreyfus à prisão perpétua baseado em
documentos falsos, e acobertado por ondas de nacionalismo e xenofobia.
O caso Dreyfus
Era 1894 quando o capitão de artilharia
Alfred Dreyfus foi acusado de vender informações secretas aos alemães.
Condenado pelo seu próprio exército e sofrendo com as ondas de antissemitismo
que assolavam a Europa, Dreyfus foi sentenciado à prisão perpétua na Guiana
Francesa e acabou ficando isolado por quatro longos anos, até que muitas vozes
se levantassem para defendê-lo.
A acusação foi feita 24 anos após a
Guerra Franco-Prussiana, quando a França já tinha conseguido se reconstruir e
experimentava um período de florescimento cultural e econômico, no contexto da
Belle Époque. Os franceses temiam que uma nova guerra contra a Alemanha
abalasse a prosperidade do país, e colocavam toda sua confiança nas Forças
Armadas.
A acusação de Dreyfus veio da
necessidade em proteger segredos estratégicos. Um novo e poderoso canhão de
guerra estava sendo construído, mais eficiente que qualquer arma do Exército
Alemão. Para resguardar essa informação, os franceses criaram uma série de
documentos falsos sobre outra arma, que deveriam ser entregues aos alemães por
um “espião”.
Para que a mentira funcionasse, tanto
os documentos quanto o espião deveriam ser “apanhados”. E a vítima escolhida
foi o introvertido Dreyfus, membro de uma família de industriais judeus-alemães
e que já era visto com desconfiança entre seus pares.
Inocente
Quatro anos depois, personalidades
resolveram levantar a voz contra essa fraude. Mudando a opinião do povo ao
provar que o exército falsificara documentos, a carta de Émile Zola — junto a
denúncias do poeta Charles Péguy e de compositores como Alfred Bruneau — levou
Dreyfus a deixar a prisão, e em julho de 1906 sua inocência foi oficialmente
reconhecida.” (Joseane Pereira, Aventuras na História, 13 de janeiro de 2020).
Trecho da carta sobre o caso Dreyfus
escrita por Zola:
“E será à sua Excelência, senhor Presidente,
que dirigirei meus clamores, a verdade, com toda força da minha revolta de
homem honesto. Conheço a sua honra e, por isso, sei que ignora a verdade. A
quem mais eu poderia denunciar a turba malfeitora dos verdadeiros culpados, que
não à Sua Excelência, o primeiro magistrado do país? A verdade, para começar,
sobre o processo e a condenação de Dreyfus. Um homem nefasto, responsável por
tudo, autor de tudo, é o comandante du Paty de Clam, naquele momento um simples
oficial. Ele é a personificação do caso Dreyfus; nada será esclarecido até que
uma investigação imparcial tenha estabelecido claramente seus atos e sua
responsabilidade. Ele representa uma figura nebulosa, a mais complicada,
obcecado pelas intrigas romanescas, comprazendo-se, à maneira dos folhetins
baratos, com papéis que desaparecem, cartas anônimas, encontros e lugares
desertos, mulheres misteriosas que carregam, à noite, provas irrefutáveis. Ele
imagina ter ditado o documento a Dreyfus; é ele que sonha estudá-lo em um
cômodo inteiramente revestido de espelhos, é ele que o comandante Forzinetti
nos representa, empunhando uma lanterna velada, desejando se aproximar do
acusado adormecido, para projetar sobre seus olhos um jato de luz e
surpreendê-lo então em seu crime, na confusão do sonho. Não tenho mais nada a
dizer: se procurar, alguma coisa aparece. Declaro simplesmente que o comandante
du Paty de Clam, encarregado de instruir o caso Dreyfus, como representante da
justiça, e, segundo a cronologia e a importância dos fatos, é o primeiro culpado
do erro judicial que foi cometido (...)”
Outro trecho:
“...Assusta o que o caso
Dreyfus acabou revelando, esse sacrifício humano de um infeliz, de um
“Judeu porco”! Ah!, que agitação de demência e imbecilidade, de
imaginações estúpidas, de práticas de políticas mesquinhas, de costumes
inquisitoriais e tirânicos, a satisfação de alguns oficiais agaloados
esmagando a nação com suas botas, enfiando goela abaixo seu grito de
verdade e justiça, sob o pretexto mentiroso e sacrílego da razão de
estado! E é um crime ainda terem se apoiado na impressa imunda, terem
se deixado defender por toda a canalha de Paris, de modo que é essa
canalha que triunfa insolentemente, diante da derrota do direito e da
simples probidade. É um crime terem acusado de perturbar a França aqueles
que a querem generosa, na vanguarda das nações livres e justas,
quando tramaram eles próprios a impudente conspiração para impor o
erro ao mundo inteiro. É um crime confundir a opinião pública,
utilizar para uma sentença fatal essa opinião pública que foi corrompida
até o delírio. É um crime envenenar os pequenos e humildes, exasperar
as paixões de reação e de intolerância, abrigando-se atrás de um odioso
anti-semitismo, de que a grande França liberal dos direitos do homem
sucumbirá, se não for curada. É um crime explorar o patriotismo para
as obras do ódio; é um crime, por fim, fazer do sabre o deus moderno,
quando toda a ciência humana está a serviço da obra iminente da verdade e
da justiça (...)”
______________________________________________________
“A partir de 1871, Zola trabalhou em um
ciclo de vinte romances de cunho realista-naturalista. “Les Rougon-Macquart”,
que tinha como subtítulo "História Natural e Social de uma Família no
Segundo Império".
Zola traça uma evolução
genealógica dos Rougon-Macquart ao longo de cinco gerações, onde mais de mil
personagens fazem parte de intrigas, invejas e ambições. O resultado foi
uma combinação de precisão histórica, riqueza dramática e um retrato acurado
dos personagens.
A Taberna (1876) é o sétimo romance da
série dos vinte volumes da obra Os Rougon-Macquart. Considerada uma das
obras-primas de Zola, o romance traz um estudo psicológico profundo das
consequências do alcoolismo e da pobreza na classe trabalhadora parisiense.
Na obra “Germinal” (1885), o décimo
terceiro da série e o de maior destaque, Zola descreve com grande realismo
as péssimas condições de vida dos trabalhadores de uma mina de carvão na
França.
O último livro da série “Le Docteur
Pascal” só foi publicado em 1893. Através dos romances naturalistas, Zola
pretendia determinar as leis do comportamento humano e da evolução das
sociedades.
Em 1898, Émile Zola se envolveu em um
caso polêmico de grande repercussão ao defender, em público, o oficial judeu do
Exército francês, o Capitão Alfred Dreyfus, num caso de traição montada pelos
generais reacionários da França.
Em uma carta aberta ao presidente da
República francesa, editada na primeira página do jornal L’Aurore, intitulada
"Eu Acuso", Zola defende a inocência de Dreyfus e critica a postura
antissemita do alto escalão do Exército francês. Por ter acusado o comando
militar de ter forjado as provas de acusação, foi perseguido condenado à
prisão, tendo que se refugiar na Inglaterra.
Preocupado em escrever a realidade com
exatidão absoluta em suas descrições, e sempre denunciando os grandes problemas
e injustiças sociais de sua época, posteriormente, Émile Zola publica mais dois
conjuntos de romances “As Três Cidades” (1894-1898) e “Os Quatro Evangelhos”
(1899-1902), em cujas intenções didáticas, manteve a violência quase visionária
das obras anteriores.” Dilva Frazão
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Frases de Zola:
"O sol surgia no horizonte
glorioso, era um despertar de regozijo por toda a extensão do campo. Uma vaga
de ouro rolava do oriente ao ocidente, sobre a imensa planície. Esse calor de
vida avançava, estendia-se num estremecer de juventude, e nele vibravam os
suspiros da terra, o canto dos pássaros, todos os murmúrios das águas e dos
bosques. Era bom estar vivo, o velho mundo queria viver mais uma
primavera." (citação de trecho do livro Germinal)
“O que é o amor? - um conto simples,
dito de muitas maneiras.”
“Prefiro morrer de paixão a morrer de
tédio.”
“Privado de uma paixão, o homem
ficaria mutilado como se o privassem de um dos sentidos!”
“O artista não é nada sem o dom. Mas, o
dom não é nada sem o trabalho.”
“Uma obra de arte é um canto da criação
visto através de um temperamento.”
“Os governos suspeitam da literatura
porque é uma força que lhes escapa.”
“Por que é que o sofrimento dos animais
me comove tanto? Porque fazem parte da mesma comunidade a que pertenço, da
mesma forma que meus próprios semelhantes.”
“Um romancista é constituído por um
observador e por um experimentador.”
“O amor, como as andorinhas, dá
felicidade às casas.”
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História
Figura:
https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk01MJNqwmPGzrACj1yDQ-A_j7-oHtg:1617371176363&source=univ&tbm=isch&q=imagens+de+Zola&sa=X&ved
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