A
escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, conhecida como “a dama da
literatura brasileira” e considerada pelos críticos e acadêmicos como "a maior escritora
brasileira viva", uma importantíssima escritora brasileira do século XX e
da história da literatura brasileira nasceu em São Paulo, em 19 de abril de
1923. Seu nome de batismo era Lygia
de Azevedo Fagundes. É advogada, romancista, contista e está ligada ao
pós-modernismo, sendo que obras suas tem a ver com temas como o amor, a morte,
o medo, a loucura e a fantasia.
Era a quarta filha de
Durval de Azevedo Fagundes, procurador, promotor público (que também foi
advogado distrital, comissário de polícia e juiz) e de Maria do Rosário Silva
Jardim de Moura, uma pianista talentosa que, por causa do preconceito em
relação às mulheres, viu-se reduzida aos deveres domésticos considerados
femininos.
Lygia
passou parte de sua infância em Sertãozinho e outras cidades pequenas cidades
paulistas (Apiaí, Assis e Itatinga), devido a transferências de seu pai. Suas
babás conheciam lendas e influenciaram a menina com histórias de personagens do
folclore popular. Aprendeu a ler em casa. Foi matriculada no Grupo do Arouche e
lá ficou estudando por quatro anos. Foi com sua família aos oito anos para a
cidade do Rio de Janeiro, ficando por cinco anos, quando então voltou para
São Paulo, matriculando-se no Instituto de Educação Caetano de Campos,
iniciando seu gosto pela literatura. Devido à separação de seus pais, ficou
vivendo com sua mãe que passou a enfrentar dificuldades financeiras. Foi
incentivada a escrever por escritores como Carlos Drumond de Andrade, Edgard
Cavalheiro e Érico Veríssimo. Formou-se
no Instituto em 1937.
Em
1938 foi publicado seu livro de contos Porão
e Sobrado, financiado por seu pai e com boa aceitação da crítica. Em 1939,
ela cursou o pré-jurídico e a Escola Superior de Educação Física da
Universidade de São Paulo (USP).
Em 1944 de novo teve sucesso com novo livro: Praia Viva. Em 1946 ela concluiu o curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde era uma de seis mulheres em uma classe que tinha mais de cem homens. Conheceu lá a poeta Hilda Hilst, que se tornou uma grande amiga e sofreu com preconceito por ser uma mulher fazendo um curso superior, o que não era comum naqueles tempos. Nessa Faculdade conheceu Mário e Oswald de Andrade, Paulo Emílio Sales Gomes e outros intelectuais da época. Veio a integrar a academia de letras da faculdade, colaborando com os jornais Arcádia e A Balança. Em 1947 casou-se com Gofredo Teles Júnior (que era filho de seu professor de direito internacional privado). Dessa união surgiu o filho Gofredo da Silva Telles Neto. Tornou-se colaboradora do jornal carioca A Manhã.
Em 1954 foi publicado o
primeiro romance de Lygia, Ciranda de
Pedra, com boa aceitação de público e crítica. Separou-se do primeiro
marido em 1960. Em 1962, passou a viver com o crítico de cinema Paulo
Emílio Salles Gomes. Foi criticada pela sociedade conservadora da época, já que
não era casada com ele, que morreu em 1977. O casal escreveu o roteiro para
cinema Capitu (1968), que recebeu o Prêmio
Candango de Melhor Roteiro Cinematográfico. Seus livros de contos Histórias
Escolhidas e O Jardim Selvagem foram publicados em 1964 e 1965.
Recebeu o Prêmio Afonso
Arinos da Academia Brasileira de Letras, pelo terceiro livro de contos dela, O Cacto Vermelho. Além de ser escritora,
exerceu a profissão de advogada e foi Procuradora do Instituto de Previdência
do Estado de São Paulo. Também foi presidente da Cinemateca Brasileira, instituição
fundada pelo segundo marido.
Nos anos de 1970 Lygia
teve grande sucesso como escritora, sendo reconhecida internacionalmente, tendo
sido publicadas algumas de suas obras mais elogiadas: Antes do Baile Verde (1970), com um dos contos (o que dá nome ao
livro) sendo premiado no Grande Prêmio no Concurso Internacional de Escritoras,
na França; As Meninas (1973), livro
ganhador do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, também ganhando o
Prêmio Coelho Neto da Academia Brasileira de Letras e um prêmio da
Academia Paulista dos Críticos de Arte. Outra obra premiada nessa época foi Seminário dos Ratos, de 1977, obra
ganhadora do Pen Club do Brasil. Em
1977, Lygia esteve com os intelectuais que foram à Brasília entregar o
"Manifesto dos Intelectuais”, protestando contra o regime militar e a
censura.
Em 1982 Lygia entrou para
a Academia Paulista de Letras e em 1985 para a Academia Barsileira de Letras,
vindo a ocupar a cadeira de número dezesseis em 1985, com posse em 12 de maio
de 1987. Também nesse ano passou a ser um dos membros da Academia das Ciências
de Lisboa.
Outras obras em que Lygia
teve sucesso como escritora foram Verão
no Aquário, de 1964; Mistérios, de 1981; As Horas Nuas, de 1989; Invenção e
Memória, publicada em 2000. O livro mais recente de Lygia foi publicado
em 2012: Um Coração Ardente. Parte de
seus livros foi traduzida para outras línguas (espanhol, alemão, francês,
italiano, polonês, sueco, tcheco). Livros seus tiveram muitas edições em
Portugal. Ela colaborou com a revista luso-brasileira Atlântico. Tornou-se Comendadora da Ordem do Infante Dom Henrique
em Portugal, em 26 de novembro de 1987. A Universidade de Brasília lhe deu o
título de Doutora Honoris Causa.
Foi vencedora da 17ª edição do Prêmio Camões, em 2005, prêmio concedido a escritores de países com língua portuguesa como língua oficial. Foi em 2016 indicada ao prêmio Nobel de Literatura. Para o professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Antônio Cândido a escritora: “sempre teve o alto mérito de obter, no romance e no conto, a limpidez adequada a uma visão que penetra e revela, sem recurso a qualquer truque ou traço carregado, na linguagem ou na caracterização". Para o professor e ensaísta Silviano Santiago: "uma definição curta e sucinta dos contos de Lygia dirá que a característica mais saliente deles é a dificuldade que têm os seres humanos de estabelecer laços”.
A escritora abordou
temas ligados à vida nas grandes cidades, problemas sociais e outros como
adultério, drogas e o amor. Tanta Lygia como Clarice Lispector, de quem era
amiga, romperam com limites morais que eram impostos às mulheres. Ambas
exploraram o universo feminino. Lygia teve influências do escritor
norte-americano Edgar Alan Poe em contos que ela escreveu. Ela afirmou que teve
influências também de Machado de Assis por causa de: "ambiguidade, o texto
enxuto, a análise social e a ironia fina”.
Nas obras da autora há uma prosa intimista, focando-se na dimensão psicológica dos personagens, com destaque a um realismo fantástico, mas havendo o lado político e social. Ela disse a respeito: “Sou, como escritora, uma testemunha desse nosso tempo e dessa nossa sociedade”.
A autora é uma defensora
da liberdade e crítica de determinados aspectos da política brasileira. Diz que
faz um tipo de política por meio de suas obras literárias, dando sua mensagem,
denunciando o que considera estar errado na sociedade, incentivando a reflexão
dos leitores. Segundo ela:
“Faço política ao poder
político. (...) Denuncio de forma romanceada as torturas, os vicios, as
feridas, os mandos e desmandos de nossa sociedade.”
Afirmou não apoiar
qualquer partido político, tendo sua posição crítica em relação aos mesmos,
considerando que há imposições neles que ela não aceita. Mas ela disse que
respeita os filiados aos partidos. Ela critica os profissionais políticos do
Brasil, pois para ela a política ficou muito ligada a um modo de se ganhar, de
se mandar e desmandar, de se conquistar.
Ela diz ter uma posição socialista e foi uma intelectual opositora do
regime militar.
Lygia teve como um de
seus amigos o poeta Carlos Drummond de Andrade, elogiando a postura política
dele em seus escritos e reconhecendo todo o apoio que ele lhe deu no início de
sua vida como escritora: "Ele percebeu que eu era uma jovem sozinha, sem
dinheiro, com ambições, escrevendo, e ele então foi afetuoso, foi ouvinte. Ele
fez a terapia que eu jamais teria dinheiro para pagar. Ele me aceitou, me
estendeu a mão”. Quando recebeu em 2005 o prêmio Camões, na cidade do Porto, em
Portugal, país pelo qual tem afinidades, estavam presentes os presidentes do
Brasil e de Portugal da época. Em 2015 ela venceu o Prêmio Cultura da Fundação
Conrado Wessel.
Certa vez ela comentou
sobre sua realidade como escritora brasileira:
"Como eu digo no
texto sobre o meu processo criativo, sou uma escritora do Terceiro Mundo,
uma escritora engajada nos horrores das diferenças sociais, uma escritora num
país de miseráveis e analfabetos. [...] Aqui, os que sabem ler, não leem. Os
que compram livros também não leem. [...] Fala-se muito em prêmios. Ora, os
prêmios... Escrevemos numa língua desconhecida. Desprestigiada. Não somos lidos
nem na América Latina, quem nos conhece na Venezuela? No Chile?
Na Colômbia? [..] Participei em Cáli de um encontro da nova
narrativa sul-americana, fui para falar do meu trabalho. E acabei informando ao
público de escritores sul-americanos que a nossa língua era o português.
Português? Sim, português com estilo brasileiro”.
Foi lançado um livro
sobre ela pela Editora da Universidade Federal de Alagoas, em 2 de setembro de
2016: "A construção de Lygia Fagundes Telles - Edição Crítica de Antes
do baile verde", escrito pelo professor, ator e escritor alagoano
Nilton Resende. Em novembro de 2017 a Tv Cultura realizou o filme Lygia, uma
Escritora Brasileira.
Comentário:
“Lygia
é uma ávida escritora e reúne um vasto conjunto de contos, crônicas e romances.
Além disso, participou de várias antologias e coletâneas; e, ainda traduziu e
adaptou diversos textos.
Muitos
livros da escritora foram publicados em outros países: Portugal, Espanha,
França, Alemanha, Itália, Holanda, Suécia, Estados Unidos, dentre outros.
Confira
abaixo as obras mais relevantes de contos e romances da escritora:
Contos: Porão e sobrado (1938); Antes do Baile Verde
(1970);Seminário dos Ratos (1977);Mistérios (1981);Invenção e Memória (2000).
Romances: Ciranda de Pedra (1954);Verão no Aquário
(1964);As Meninas (1973); As horas nuas (1989).”
Daniela Diana-Professora licenciada em
Letras
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Frases e pensamentos de Lygia Fagundes Teles:
“Solução
melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude,
mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente
loucos não precisaremos desses sanatórios porque é sabido que os saudáveis não
entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas
estranhas. Sem despesas”.
“A
beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo,
nesse meio tom, nessa incerteza”.
“Quero
ficar só. Gosto muito das pessoas, mas às vezes tenho essa necessidade voraz de
me libertar de todos”.
“Quem
me detesta tanto assim para me atacar até em sonho? Quis saber e nesse instante
vi minha imagem refletida no espelho”.
“Não peça coerência ao mistério nem peça
lógica ao absurdo”.
“Não cortaremos os pulsos, ao contrário,
costuraremos com linha dupla todas as feridas abertas”.
“Se é difícil carregar a solidão, mais
difícil ainda é carregar uma companhia”.
“É difícil separar a ficção da invenção, a
fantasia da memória. Não há uma linha separando o que você viu do que você
sonhou. A imaginação ocupa o espaço da memória”.
“Mas hoje minha face lúcida acordou antes da outra e está me vigiando com seu olho gelado. “Vamos-diz ela-nada de convulsões, sei que você é da família dos possessos, mas não escreva como uma possessa, fale em voz baixa, sem exageros, calmamente”. <erior
“Ouça, Virgínia, é preciso amar o inútil. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar roseiras sem pensar em colher as rosas, escrever sem pensar em publicar, fazer coisas assim, sem esperar nada em troca. A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas.“
"Apenas duas"
O poeta dizia que era trezentos, trezentos e não
sei quantos. Eu sou apenas duas: a verdadeira e a outra. Uma outra tão
calculista que às vezes me aborreço até a náusea. Me deixa em paz! – peço e ela
se põe a uma certa distância, me observando e sorrindo. Não nasceu comigo mas
vai morrer comigo e nem na hora da morte permitirá que me descabele aos urros,
não quero morrer, não quero! Até nessa hora sei que vai me olhar de maxilares
apertados e olho inimigo no auge da inimizade: “Você vai morrer sim senhora e
sem fazer papel miserável, está ouvindo?” Lanço mão do meu último argumento:
tenho ainda que escrever um livro tão maravilhoso… E as pessoas que me amam vão
sofrer tanto! E ela, implacável: “Ora, querida, as pessoas estão fazendo
montes. E o livro não ia ser tão maravilhoso assim”. É bem capaz de exigir que
eu morra como as santas.”
“Gato
Ele fixara em Deus aquele olhar de esmeralda
diluída, uma leve poeira de ouro no fundo. E não obedeceria porque gato não
obedece. Às vezes, quando a ordem coincide com sua vontade, ele atende mas sem
a instintiva humildade do cachorro, o gato não é humilde, traz viva a memória
da sua liberdade sem coleira. Despreza o poder porque despreza a servidão. Nem
servo de Deus. Nem servo do Diabo.”
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:
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