Em 8 de junho é comemorado o Dia
Mundial dos Oceanos. Quero destacar esta data, pois são de imensa
importância os oceanos, ressaltando-se a vida marítima. Os oceanos são
fundamentais para o equilíbrio da vida no planeta.
É bom lembrar que os oceanos tem muita
importância na biodiversidade, clima, alimentação, economia e eles são
responsáveis pela maior parte do oxigênio na atmosfera. Eles cobrem mais de 70%
da superfície da Terra e contêm 97% da água de todo o planeta. Também é
importante considerar que as águas salgadas abrigam uma biodiversidade com
quase 200 mil espécies identificadas e absorvem aproximadamente 30% do dióxido
de carbono produzido pelos seres humanos. Até mesmo para a arqueologia os
oceanos tem sua importância, porque há o estudo de navios naufragados.
Uma área de quase 362 milhões de
quilômetros quadrados é ocupada aos oceanos, com uma profundidade média de 3690
metros e um volume de mais de 1,3 bilhão de quilômetros cúbicos. A forma e a
dimensão de cada oceano modifica-se de forma lenta e permanente, havendo a
relação com a movimentação das placas tectônicas. Os oceanos atuais não tem
mais de 200 milhões de anos o que significa cerca de 1/20 da história da Terra
Os oceanos estão relacionados ao
aquecimento global, erradicação da pobreza e segurança alimentar. Alguns países
já comemoravam a data, mesmo antes de ser oficializada pela ONU. O primeiro
país que propôs uma data sobre a importância de se preservar os mares foi o
Canadá, em conferência a que houve na cidade do Rio de Janeiro em 1992. O
governo canadense na época apoiou o evento “Oceans Day At Global Forum – The
Blue Planet”, organizado pelo Instituto dos Oceanos do Canadá. A Comissão
Intergovernamental Oceanográfica da Unesco em 1998 apoiou a criação de uma
data internacional.
Com a criação da data de 8 de junho
para o Dia Mundial dos Oceanos, cerca de 200 entidades de diversos países fazem
várias atividades e realizam discussões sobre a situação dos
oceanos.
Em 5 de dezembro
de 2017, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) anunciou a “Década da
Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável”. O período compreende os
anos de 2021 a 2030. Esta proposta pretende formar uma estrutura de apoio às
ações de gerenciamento sustentável dos Oceanos efetuadas por vários países. E
assim destacou-se a seleção de uma série inicial de ações para incentivar
uma “revolução do conhecimento do oceano”.
Segundo a diretora-geral da UNESCO,
Audrey Azoulay:
“Da restauração da Grande Barreira de
Corais ao mapeamento de 100% do fundo do oceano em alta resolução, esses
programas e contribuições inovadores constituem o primeiro conjunto de Ações da
Década da Ciência Oceânica que contribuirão para ajudar a entregar o oceano que
desejamos até 2030”.
Entre estas ações estão incluídas
iniciativas para expandir a pesquisa em alto mar e a exploração da “zona
crepuscular” do oceano. Também estão previstas ações baseadas no
desenvolvimento de conhecimentos e soluções para reduzir as múltiplas pressões
sobre os ecossistemas marinhos, como as alterações climáticas, perda de
biodiversidade e poluição e também ações para melhorar a gestão sustentável dos
estoques pesqueiros.
Informações adicionais sobre os oceanos:
Mitologia Grega
Para os gregos
antigos, Oceano era o mais velho dos titãs, primogênito de
Urano (o Céu) e Gaia (Terra). Ele era o deus das águas correntes, do fluxo
e do refluxo e a origem de todas as massas líquidas e fontes de água doce do
mundo, regulamentava também o nascer e o ocaso de corpos celestes, porque
a crença era de que esses corpos surgiam e desciam no reino aquático nas
extremidades da Terra. Oceano era um gigantesco rio cósmico do início dos
tempos, que circundava o mundo, que o mantinha apertado em uma rede circular de
suas águas. Já numa época posterior, a helenística, com mais conhecimentos sobre
geografia, Oceano tornou-se o deus que representava os oceanos e Poseidon
reinava sobre o mar Mediterrâneo. Na obra grega Ilíada, Oceano era
chamado de "o pai de todos os seres". Da união de Oceano com sua irmã
Tétis, deusa das fontes de água pura surgiram rios, poços, nascentes e nuvens
de chuva.
Como foram
definidos os oceanos:
Conforme a proximidade dos
continentes e várias características oceanográficas são definidos pela
Organização Hidrográfica Internacional (IHO) cinco grandes oceanos: Oceano Atlântico,
Oceano Ártico, Oceano Índico, Oceano Pacífico e Oceano Antártico. Este foi
definido recentemente, pois houve há pouco tempo a identificação de suas águas
como um ecossistema distinto e de grande impacto no clima global. A formação da
atmosfera, o resfriamento do planeta e formação da litosfera tem uma ligação
forte com a origem dos oceanos. Graças à atmosfera é que veio pelo menos 50% da
água que está nas bacias oceânicas. A outra parte da água pode estar
relacionada à meteoros. Os primeiros oceanos provavelmente tinham uma
composição muito diferente da atual. Foi há cerca de 2,2 bilhões de anos que
houve um aumento da quantidade de oxigênio no planeta. A forma como os oceanos
e os continentes foram se arranjando foi um fator muito importante para haver
mudanças climáticas e para a evolução de espécies.
Atlântico: O nome está
relacionado à Atlas, que na mitologia grega é um dos Titãs. Por isso que também
há uma outra denominação para o Atlântico: Mar de Atlas. Este
oceano foi mencionado pelo historiador grego antigo Heródoto. Na Idade Média,
se chamou de “mar Ocidental” ou “mar do Norte”. Foi o geógrafo Mercator que
voltou a chama-lo de “Atlântico” em seu mapa do mundo de 1569.
Pacífico: Foi antes chamado
de Oceano do Sul, pelo navegador espanhol Vasco Nuñez de Balboa.
Foi o navegador português Fernão de Magalhães que em 1520 o chamou Pacífico, impressionado
com a tranquilidade das águas deste oceano. É o maior dos oceanos.
Índico: Foi chamado assim
devido às características geográficas, porque banha áreas como Índia e
Indonésia. O almirante chinês Zheng He o chamava no século XV de “oceano
Ocidental”, nome como os chineses conheciam este oceano. É o terceiro maior
oceano, ficando trás do Atlântico e do Pacífico em extensão. Banha áreas da
Ásia, da África e da Oceania.
Ártico: O nome está
relacionado à geografia, vem da palavra grega “arctos” (urso, animal que habita
regiões banhadas pelo Ártico) e situa-se no polo norte sob a constelação de
Ursa Maior.
Antártico: O nome vem em
oposição ao Ártico, o do norte é Ártico e o do sul é Antártico e circula a
Antártica, o continente congelado.
Limite dos Oceanos:
Há algum tempo eram definidos 4 oceanos
delimitados por terra (continentes e algumas ilhas). Hoje em dia se considera o
oceano Antártico, cujas águas possuem um impacto nos outros oceanos. Atualmente
a Organização Hidrográfica Internacional (IHO) é quem define os limites
entre as águas oceânicas. São 77 os países que fazem parte desta Organização.
Os técnicos da IHO para definir limites analisam os oceanos
levando em conta relevos marinhos destes oceanos, tipos de correntes marítimas, temperaturas dessas águas e ecossistemas estabelecidos nestes ambientes.
Foi no ano 2000 que os limites do
Oceano Antártico foram propostos pela IHO. Houve países membros da IHO que
discordaram dos parâmetros. Em 2021 a National Geographic Society fez um reconhecimento
oficial daquelas águas como sendo o quinto oceano.
Problemas:
A Associação Nacional de
Conservação da Natureza (Quercus), uma Organização Não
Governamental de Ambiente, de Portugal, aponta dez problemas:
"1) Sobreexploração
da pesca
Estudos indicam que há uma considerável
redução nas populações de algumas espécies de peixes. Como exemplo, a
sobrepesca do bacalhau nas águas do Canadá quase levou à extinção deste
peixe e a pesca da sardinha em Portugal que tem recomendações de organismo
científico internacional para que termine totalmente já este ano. Para
além da sobrepesca, também existe uma grave falta de gestão da atividade
ou incumprimento de regras. Falta de definição das dimensões dos animais
ou da época de captura o que permita a captura de juvenis ou fêmeas com
ovos são alguns dos problemas recorrentes.
2) Captura excessiva de
espécies com ciclos de vida longos, tais como alguns tubarões e atuns
Algumas destas espécies são utilizadas
para culinária de luxo ou com fins de terapias alternativas para
tratamentos de saúde (exemplo, a barbatana de alguns tubarões é muito
apreciada na Ásia). As espécies no topo das cadeias alimentares têm,
normalmente um ciclo de vida mais longo, com reprodução mais
espaçada, logo menos resistente à recuperação das espécies.
3) Aquicultura não
sustentável
A aquicultura intensiva no mar promove
a proliferação de agentes poluentes nas águas marinhas. A produção de
peixes e bivalves implica a utilização de antibióticos e outros produtos
químicos, alguns deles tóxicos para o ecossistema. Esta situação é
facilmente visível nas águas da Ásia devido à produção intensiva de
amêijoa vietnamita.
4) Lixo
A quantidade de lixos deixados nas
praias ou atirados para as linhas de águas terrestres, tais como rios e
ribeiras, têm como destino final o oceano. A situação é mais grave quando
se tratam de resíduos não biodegradáveis, tais como os plásticos, que se
vão fragmentando em partículas mais pequenas, os microplásticos, e que são
confundidos com alimento por muitas espécies marinhas. Os microplásticos
presentes em produtos de higiene e de limpezas domésticas e industriais
também terão os mesmos destinos. As ilhas de lixo de plástico são já uma
realidade em algumas zonas dos oceanos.
5) Aquecimento das águas
O aumento da temperatura dos mares
causa imensas alterações nos ecossistemas marinhos, com consequências
gravosas e letais para muitas espécies. É também responsável por alteração
de rotas migratórias provocando desequilíbrios nas cadeias alimentares.
Para se ter uma noção, o aquecimento de 0,5ºC nas águas dos recifes de
coral, provoca a sua morte. Os recifes de coral saudáveis funcionam como
“maternidades” e zonas de abrigo para variadíssimas espécies usadas
na alimentação humana e das quais dependem algumas comunidades de
povos pescadores.
6) Poluição
Muitos fertilizantes e pesticidas
utilizados sistematicamente na agricultura acabam por ir parar ao oceano.
Alguns desses produtos provocam alterações irreversíveis e fatais para as
espécies (por exemplo, afetam no processo de reprodução). Além disso, se
ingeridos pelo ser humano podem trazer problemas de saúde ao mesmo.
7) Concentrações elevadas de
mercúrio
O mercúrio em excesso causa doenças
graves nos seres vivos e no Homem. É um poluente que se acumula na cadeia
alimentar (bioacumulação) e chega ao Homem através da ingestão de peixes,
e que em excesso pode causar graves doenças. Daí o consumo de determinados
peixes dever ser regrado, como o peixe-espada preto, o atum, entre outros.
8) Destruição de habitats
Existem habitats muito importantes como
local de abrigo para a reprodução, por exemplo as pradarias marinhas e as
florestas marinhas, que estão a ser destruídas por várias causas, entre as
quais a utilização de artes de pescas agressivas como a pesca de arrasto.
9) Obras de engenharia e
extração de petróleo
Todas as alterações do meio marinho
provocadas por construções, perfurações em profundidade, e tantas outras
(incluindo a poluição sonora) causam, alterações no habitat, provocam
perturbações várias e produzem poluentes. Estes fatores contribuem para a
destruição do habitat e comprometem a sobrevivência das espécies marinhas.
10) Acidificação dos
Oceanos e corais
Algumas das mudanças verificadas com as
alterações climáticas ao nível dos oceanos implicam alterações do Ph,
devido ao aumento da concentração de CO2 na atmosfera. Esta situação é bem
notória nas zonas tropicais, onde os ecossistemas marinhos são
extremamente sensíveis e ricos em biodiversidade, e cujos habitats estão a
sofrer alterações que se podem revelar irreversíveis, nomeadamente do caso
dos recifes de corais.”
A referida associação fez esta
observação:
“Por todos estes motivos a Quercus
pediu aos responsáveis políticos que acelerem e tornem mais ambiciosos os
planos para a criação de Áreas Protegidas Marinhas e que invistam
fortemente na redução das fontes de poluentes marinhos.”
A seguir algumas colocações de
especialistas:
Para a autora Jennifer Ann
Thomas: “O lixo coloca em risco não apenas o ecossistema marinho, mas também
a sobrevivência humana”
Para o oceanógrafo Alexander
Turra, responsável pela Cátedra Unesco para Sustentabilidade dos Oceanos,
“a poluição prejudica a biodiversidade e os processos da natureza, o que também
gera impacto nos benefícios que os oceanos garantem para a humanidade”
Segundo avaliação de Marcos César de
Oliveira Santos, coordenador do Laboratório de Biologia da Conservação de
Mamíferos Aquáticos e professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de
São Paulo (IO-USP):
“Até então, eram raros os institutos de
pesquisa oceanográfica que se dedicavam à investigação dos oceanos. A partir
dos anos 1960 e 1970 novos centros de oceanografia surgiram pelo mundo e
tornaram a ciência oceanográfica uma realidade, e uma necessidade, para
compreendermos nosso planeta e como manejá-lo da melhor forma(...)”
(...) “Em paralelo, movimentos
conservacionistas se fizeram presentes globalmente com a preocupação intrínseca
sobre os efeitos de nossas ações sobre a natureza e as consequências para nossa
saúde e bem-estar...”
Para Ricardo Aguilar, biólogo e
pesquisador sênior da Oceana, uma das ONGs mais ativas na defesa dos oceanos no
mundo:
“Infelizmente, e apesar dos oceanos
estarem na agenda, não houve muitos avanços, fora o reconhecimento do papel do
ecossistema marinho – nada foi aprovado até agora para protegê-los de verdade
(...). Temos que aumentar a superfície da área marinha protegida em todo o
globo para chegar pelo menos aos 30% recomendados por cientistas, ONGs e
a União Internacional para a Conservação da Natureza.”
A questão dos oceanos é algo que tem
que ser tratado com muita seriedade e as recomendações dos especialistas
precisam ser consideradas, com ações imediatas e amplas para se combater os
problemas citados. É urgente. A negligência e a ganância que existem em muitas
situações devem ser superadas para o bem da Humanidade.
Sugestão de vídeos:
Mares e
oceanos estão em perigo
https://www.youtube.com/watch?v=duzOPcSkBPE
Poluição
dos Oceanos
https://www.youtube.com/watch?v=z3nkfhkmZls
_______________________________________
Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+oceanos&sxsrf=ALiCzsZvGetrxQPOfjQ-UaS-3BwrVsQYKw:1656556056230&tbm=isch&sourc