terça-feira, 29 de junho de 2021

Poesias para a lua

 









Lua que brilha no céu

 

Ó lua,

Lua de saudade

E sentimentos.

Brilhais no céu neste momento!

Com a vossa claridade,

Dai  esperança,

Aos que estão em sofrimento;

Liberdade,

Aos que estão enclausurados,

Por injustiça no julgamento.

Que a menina não tenha medo,

Porque logo  virá bonança,

Após uma breve tempestade.

É o que me disse em segredo

O vento.


Márcio José Matos Rodrigues

 

Lua senhora do firmamento

 

Ò lua inspiradora,

De poetas

E trovadores.

Pareces agora,

Que ao mar,

Irás mergulhar.

Respeitável senhora

E ao mesmo tempo,

Sedutora.

Glória a ti,

Nesta hora,

Que brilhas neste momento,

Inundando com teu luar,

O firmamento!


Márcio José Matos Rodrigues

 

 

A deusa da paz  canta


A manhã não tardará,

Os cães não ladram,

Pessoas não falam,

E de onde eu estou

Não escuto o mar.

Mas sinto o luar,

E a luz de teu olhar

Como uma estrela a me guiar,

Neste silêncio das horas,

Que não me apavora,

Só me faz meditar.

Nenhum galo ainda se fez presente,

Estará ainda dormindo,

Ou foi servido quente,

Em uma refeição há tempos?

Ah! Lua,

Tua figura me lembra ela,

Que envolta em nuvens ,

Lembra-me a máscara que lhe cobria a face;

Mas assim como as nuvens te cobrem

E ainda me olhas lua bela,

Também a máscara não ocultava os olhos dela,

Que brilhando feito estrelas,

Fitavam com brilho perturbador,

Perturbavam-me a certeza,

De que não havia mais amor

Entre os seres humanos.

E eis então que a beleza ali daqueles olhinhos,

Que lindos  transmitiam luz e calor

Tamanhos,

Eu vi a beleza,

E me descobri de novo um sonhador,

Eu que tinha os sonhos encolhidos,

Talvez pelo frio das madrugadas de chuva,

Ou pela vida que às vezes torna os sonhos tolhidos

Em seu poder transformador.

Ò Lua faz-me um favor:

Abafa com tua luz os gritos,

Dos fantasmas de lembranças amargas,

Que porventura existam ,

Vagando nesta madrugada;

Ressuscita a esperança e desfaz as amarras!

A noite é uma criança que vai dormir,

Para acordar quando for a hora certa.

Poeta,

Quando o sol te chamar

Desperta!

Que a labuta diária te espera,

Assim como o camponês levanta ,

Para lavrar a terra;

Enquanto a deusa da paz canta,

Para espantar todas as guerras!


Márcio José Matos Rodrigues

 

 

 Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+lua&sxsrf=ALeKk03ijAJJAw424ZUrMDLwUr9wPnYEDQ:1625008397077&tbm=isch&source=iu&ictx=

 

 

 

 

 


domingo, 27 de junho de 2021

O escritor, médico e diplomata Guimarães Rosa, um dos grandes escritores brasileiros

 






Em 27 de junho de 1908 nasceu em Cordisburgo, em Minas Gerais, o escritor, novelista, médico e diplomata João Guimarães Rosa. Ele escrevia romances, contos e poesias. Pertenceu aos movimento literários  Modernista, Regionalismo Universalista, Pós-modernismo e ao Romance Regionalista. Sua grande obra foi Grande Sertão Veredasromance chamado pelo autor como uma "autobiografia irracional”. Foi considerado o maior escritor brasileiro do século XX. Seus contos e romances estão ligados em grande parte ao considerado sertão do Brasil. Em obras suas percebe-se as inovações de linguagem, com os falares populares e regionais. Em 6 de agosto de 1963 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura em 1967, o mesmo ano em que morreu.

Seu pai foi Florduardo Pinto Rosa ("Flor") e sua mãe foi Francisca Guimarães Rosa ("Chiquitita"). Guimarães Rosa foi o primeiro dos seis filhos do casal. Quando criança iniciou seus estudos de vários idiomas, a começar pelo francês. Em uma entrevista quando já adulto ele disse que falava português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto e um pouco de russo. E que sabia ler sueco, holandês, latim e grego.

Na sua infância, Guimarães foi morar com os avós, em Belo Horizonte. Lá terminou o curso primário. Em São João del-Rei começou a estudar no curso secundário que veio a terminar em Belo Horizonte para onde tinha voltado. Quem patrocinava seus estudos era um tio que era um fazendeiro com muitos recursos. Com 16 anos, em 1925, Guimarães Rosa matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. Sua primeira esposa foi Lígia Cabral Pena, que tinha 16 anos. O casamento foi em 1930. Com ela Guimarães teve duas filhas. No mesmo ano formou-se como médico e passou a trabalhar em Itaguara, que era distrito de Itáuna. A sua permanência por dois anos no interior de Minas proporcionou ao autor o contato com as características do sertão que vieram lhe dar base para se inspirar em obras suas.

Durante a Revolução Constitucionalista de 1932 Guimarães Rosa foi médico voluntário na Força Pública, sendo enviado para o setor do Túnel em Passa Quatro (MG) e na ocasião conheceu o médico chefe do Hospital de Sangue, o futuro presidente Juscelino Kubitschek. Entrou depois como médico concursado como médico na Força Pública. Foi para Barbacena em 1933 como Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Fez concurso e foi aprovado no concurso para diplomata e foi trabalhar na Europa e países da América Latina. Em 1929 houve sua primeira publicação, o conto "O mistério de Highmore Hall”, que foi publicado na revista O Cruzeiro. Em 1936 sua obra inédita, a coletânea de versos Magma, recebeu o Prêmio Academia Brasileira de Letras, obra elogiada pelo poeta Guilherme de Almeida.

De 1938 a 1942 trabalhou como consul-adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha. Na época conheceu e veio a casar com Aracy de Carvalho, funcionária do Itamaraty, que ajudou judeus a fugir para o Brasil emitindo vistos. Ela, pelo seu humanismo, recebeu posteriormente o reconhecimento do Estado de Israel.

Em sua carreira diplomática, Guimarães Rosa foi chefe de gabinete do ministro João Neves da Fontoura (1946); primeiro-secretário e conselheiro de embaixada em Paris (1948-51); secretário da Delegação do Brasil à Conferência da Paz, em Paris (1948); representante do Brasil na Sessão Extraordinária da Conferência da UNESCO, em Paris (1948); delegado do Brasil à IV Sessão da Conferência Geral da UNESCO, em Paris (1949). Quando voltou ao Brasil em 1951, foi nomeado de novo chefe de gabinete do ministro João Neves da Fontoura; depois chefe da Divisão de Orçamento (1953) e promovido a ministro de primeira classe. Assumiu em 1962 a chefia do Serviço de Demarcação de Fronteiras.

Como escritor, em 1946 foi publicado o livro de contos Sagarana, que lhe deu destaque no cenário da literatura brasileira, tendo a obra uma linguagem inovadora, com uma simbologia rica de seus contos. O regionalismo com Rosa adquiria um novo significado e com a característica de experiência estética universal. Após uma viagem a Mato Grosso em 1952, o autor escreveu o conto "Com o vaqueiro Mariano", que faz parte hoje do livro póstumo Estas estórias (1969), sob o título "Entremeio: Com o vaqueiro Mariano”. Por meio desta excursão a Mato Grosso Guimarães se inspirou para criar os cenários, personagens e as historias que seriam vistos em Grande sertão: Veredas, publicado em 1956, o único romance escrito por ele e publicado em várias línguas. Também de 1956 é o ciclo novelesco Corpo de baile.

Em 1963, Guimarães Rosa, na sua segunda tentativa, conseguiu ser eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em 1967 decidiu assumir a cadeira na Academia e afirmou, como uma despedida: "…a gente morre é para provar que viveu”. Três dias depois, em 19 de novembro, ele faleceu, na cidade do Rio de Janeiro, de infarto, aos 59 anos. Ele foi sepultado no panteão da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério de São João Batista, Rio de Janeiro.

Guimarães Rosa ganhou os prêmios: Prêmio da Academia Brasileira de Letras conferido a sua obra Magma; Prêmio Filipe d'Oliveira pelo livro Sagarana (1946); Grande Sertão Veredas recebeu:  o Prêmio Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro, o Prêmio Carmen Dolores Barbosa (1956) e o Prêmio Paula Brito (1957). E pela obra  Primeiras estórias,  recebeu o Prêmio do PEN Clube do Brasil (1963).

Segundo a professora licenciada em Letras Daniela Diana:

“ (...) Guimarães Rosa foi Patrono da cadeira nº 2 na Academia Brasileira de Letras, tomando posse três dias antes de morrer, no dia 16 de novembro de 1967.

No seu discurso de posse, curiosamente, suas palavras destacam o tema da morte:

Mas - o que é um pormenor de ausência. Faz diferença? “Choras os que não devias chorar. O homem desperto nem pelos mortos nem pelos vivos se enluta" - Krishna instrui Arjuna, no Bhágavad Gita. A gente morre é para provar que viveu. Só o epitáfio é fórmula lapidar. (...) Alegremo-nos, suspensas ingentes lâmpadas. E: “Sobe a luz sobre o justo e dá-se ao teso coração alegria!” - desfere então o salmo. As pessoas não morrem, ficam encantadas.

No auge da carreira de escritor e diplomata, Guimarães Rosa, com apenas 59 anos, faleceu na cidade do Rio de Janeiro, dia 19 de novembro de 1967, vítima de infarto.

Guimarães Rosa escreveu contos, novelas, romances. Muitas de suas obras foram ambientadas pelo sertão brasileiro, com ênfase nos temas nacionais, marcadas pelo regionalismo e mediadas por uma linguagem inovadora (invenções linguísticas, arcaísmo, palavras populares e neologismos).

Rosa foi um estudioso da cultura popular brasileira. Sua obra que merece maior destaque e por ter sido a mais premiada, é "Grande Sertão: Veredas," publicada em 1956 e traduzida para diversas línguas.

Sobre seus escritos, o próprio autor afirma:

Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens.

Algumas Obras:Magma (1936); Sagarana (1946); Com o Vaqueiro Mariano (1947); Corpo de Baile (1956) dividida em três novelas: “Manuelzão e Miguilim”, “No Urubuquaquá, no Pinhém” e “Noites do sertão”Grande Sertão: Veredas (1956); Primeiras Estórias (1962); Campo Geral (1964);Noites do Sertão (1965).”

 

Frases de Guimarães Rosa:

 

 “Mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando.

 

Quando eu morrer, que me enterrem na beira do chapadão, contente com minha terra, cansado de tanta guerra, crescido de coração.”

 

Ah, acho que não queria mesmo nada, de tanto que eu queria só tudo. Uma coisa, a coisa, esta coisa: eu somente queria era - ficar sendo!

 

Viver é um descuido prosseguido. Mas quem é que sabe como? Viver...o senhor já sabe: viver é etcetera...

 “É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado.”

 “Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?”

  “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.”

“Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.”

 “O mundo é mágico.

As pessoas não morrem, ficam encantadas.”

 

 “O correr da vida embrulha tudo.

A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.”

 

  “Deus nos dá pessoas e coisas,

para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...
Essa... a alegria."

“Saudade é ser, depois de ter.”

 ”Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando, mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.”

 “A gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é.”

 “Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo.”

 “Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.”

  “Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe.”

 “Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difí­cil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.”

 “Os outros têm uma espécie de cachorro farejador, dentro de cada um, eles mesmos não sabem. Isso feito um cachorro, que eles têm dentro deles, é que fareja, todo o tempo, se a gente por dentro da gente está mole, está sujo ou está ruim, ou errado... As pessoas, mesmas, não sabem. Mas, então, elas ficam assim com uma precisão de judiar com a gente...”

"Mãe, o que é que é o mar, Mãe?" Mar era longe, muito longe dali, espécie duma lagoa enorme, um mundo d´água sem fim, Mãe mesma nunca tinha avistado o mar, suspirava. "Pois, Mãe, então mar é o que a gente tem saudade?"

 “O amor? Pássaro que põe ovos de ferro.”

 “Na própria precisão com que outras passagens lembradas se oferecem, de entre impressões confusas, talvez se agite a maligna astúcia da porção escura de nós mesmos, que tenta incompreensivelmente enganar-nos, ou, pelo menos, retardar que prescrutemos qualquer verdade.”


“O passado é que veio até mim, como uma nuvem, vem para ser reconhecido; apenas não estou sabendo decifrá-lo.”

 “No que vagueia os olhos, contudo, surpreende-se-lhe o imanecer da bem-aventura, transordinária benignidade, o bom fantástico.”

 “As coisas mudam no devagar depressa dos tempos.”

 

 Algumas poesias de Guimarães Rosa

 

 “Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme.

Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d'água,
nos grotões fundos
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...

Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.

O orvalho sonha
nas placas da folhagem
e adormece.
Até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes...

Mas nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono...”

 

 “Soneto da saudade

Quando sentires a saudade retroar
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
E ternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!
Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas...
E a te expressar que este amor em nós ungindo
Suportará toda distância sem problemas...
Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve
Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,
Como uma gota de orvalho indo ao chão.
Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos,
Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...
Nem a distância apaga a chama da paixão.”

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 Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.

 

Figura:

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