sexta-feira, 4 de junho de 2021

O compositor francês Bizet autor da ópera Carmen

 









Em 3 de junho de 1875 falecia em Bouagival, França, o compositor francês Georges Bizet. Sua especialidade eram as óperas. Como teve uma carreira curta, não teve muitos sucessos antes de Carmen, sua obra principal, que é uma das óperas mais populares e bastante tocada até os dias de hoje.

 

O nascimento de Georges Bizet foi em  Paris, em 25 de outubro de 1838, tendo sido registrado como Alexandre César Léopold e depois batizado como “Georges” em 16 de março de 1840. O pai de Georges era Adolphe Bizet, que foi cabeleireiro e barbeiro antes de ser um professor de canto. Também foi autor de algumas composições musicais. A mãe de Georges era Aimée Delsarte. Os pais dela não queriam que ela se casasse com Adolphe por não verem futuro em um casamento dela com ele. A família de Aimée era ligada à cultura e à música. Ela foi pianista e o irmão François foi um destacado cantor e professor que se apresentava em espetáculos para a nobreza francesa. A mãe dela também foi cantora e professora de canto.

 

Georges Bizet tinha facilidade para aprender música e sua mãe lhe deu as primeiras lições de piano. Ele quando criança escutava por trás da porta as aulas de música de sua mãe e como tinha boa memória aprendia técnicas importantes sobre canto. A habilidade dele animaram seus pais que o matricularam no Conservatório em Paris antes da idade mínima geralmente exigida que era de dez anos. O professor que o entrevistou para ver se tinha capacidade ficou tão surpreso com as habilidades de Georges que resolveu autorizar a entrada do menino ainda que não tivesse completado dez anos.

 

Enquanto estava estudando Bizet conheceu o compositor Charles Gounod, que o influenciou. Graças às aulas do professor de piano Antoine François Marmontel o jovem Bizet foi melhorando como pianista, tendo vencido o segundo prêmio para piano do Conservatório em 1851 e em 1852 venceu o primeiro prêmio.

 

Bizet compôs suas primeiras obras em 1850. Em 1853, tendo aulas de composição de Jacques com Fromental Halévy, produziu mais obras e foi melhorando a qualidade delas. Duas canções publicadas em 1854 foram: "Petite Marguerite" e "La Rose et l'abeille”. Em 1855 Bizet escreveu uma abertura para uma grande orquestra e criou peças de piano para dois trabalhos de Gounod: a ópera La nonne sanglante e a Sinfônica em Ré. E quando tinha dezessete anos escreveu uma sinfonia. Participou de uma competição  de óperas para jovens compositores que que Jacques Offenbach organizou. Bizet dividiu o prêmio com Charles Lecocq. Já conhecido, passou a ser convidado por Offenbach para suas festas às sextas-feiras. Foi numa dessas ocasiões que Bizet conheceu Rossini.

 

No concurso Prix de Rome em 1857 Bizet foi premiado com seu desempenho na cantata Clovis et Clotilde  de Amédée Burion, passando a receber um financiamento por cinco anos. Os primeiros dois anos ele passou em Roma, o terceiro deveria ter sido na Alemanha (mas ele pediu para ficar na Itália e não ir para a Alemanha) e os dois últimos em Paris. Quando esteve em Roma um trabaho seu que foi elogiado foi uma ópera buffa: Dom Procopio (1858/1859). Um Te Deum que ele havia composto durante seus primeiros seis meses para concorrer no Prêmio Rodrigues em Roma não teve sucesso.  Após Don Procopio, nesse período romano, Bizet terminou seu poema sinfônico Vasco da Gama.

 

Depois de ter ficado no exterior por alguns anos Bizet percebeu em sua volta a Paris que muitos teatros de ópera dessa cidade tinham como preferência o repertório clássico. Ele não conseguia levar adiante suas composições para orquestras e para piano, o que fez com que sua carreira ficasse parada. Ele tinha de pagar seus custos por meio de organização e transcrição da música de outros autores. Ele começava projetos teatrais nos anos de 1860, porém abandonava. Mas duas óperas suas foram bem sucedidas nos palcos: Les pêcheurs de perles e La jolie fille de Perth.

 

Bizet teve a oportunidade de mostrar seu talento como pianista em maio de 1861 em um jantar em que estava o famoso pianista Franz Liszt. Bizet tocou muito bem uma obra de Liszt e esse disse: "Pensei que havia apenas dois homens capazes de superar as dificuldades da obra, mas há três e o mais novo é talvez o mais ousado e mais brilhante".

 

Em 1862 nasceu um filho de Bizet com uma empregada da família. Mas ele não o assumiu como sendo seu filho e somente muitos anos depois da morte do compositor é que a mãe desse filho de Bizet revelou o verdadeiro nome do pai para o filho. De 1870 a 1871, Bizet esteve na Guarda Nacional durante a Guerra Franco-Prussiana. Após isso ele conseguir ter pequenos sucessos com a ópera Djamileh, de um ato. Também a suíte orquestral L’Arlésienne tornou-se logo popular.

 

 

Bizet se casou com Geneviève Halévy (apesar de certa resistência inicial de familiares dela que não o achavam adequado para casar com  Geneviève ) em junho de 1869 e tiveram um filho. As obras de Bizet após sua morte foram ignoradas por muitos anos com exceção de Carmen. Ele não tinha deixado discípulo ou sucessor. No século XX trabalhos de Bizet começaram a ser mais interpretados e seu talento foi destacado como compositor.

 

Por necessidade financeira, Bizet começou a dar aulas de piano e de composição. Também tinha o trabalho de acompanhar ensaios de audições para óperas. Na época ele fez transcrições para piano de centenas de óperas e outras peças, preparou partituras e fez arranjos orquestrais, como também foi brevemente um crítico musical em 1867.

 

Bizet terminou uma ópera, Ivan IV, baseada na vida do czar Ivan, O Terrível. Entretanto não conseguiu que fosse encenada. A mesma só foi apresentada em 1946, muitos anos após o compositor ter morrido. Ele e outros três compositores criaram em 1867 a ópera Marlborough s'en va-t-en guerre em quatro atos. Cada compositor foi responsável por um ato. A ópera fez sucesso.  Mas nessa mesma época Bizet passou por frustrações, pois duas óperas foram abandonadas sem serem concluídas e também não teve sucesso em competições musicais. Foi só em 28 de fevereiro de 1869 que o compositor pôde apresentar sua Sinfonia Roma. As obras Clarissa Harlowe e Grisélidis em que Bizet estava trabalhando ficaram incompletas e não puderam ser apresentadas. Ele conseguiu terminar em 1871 seu dueto para piano intitulado Jeux d'enfants e uma ópera em um ato, Djamileh, que teve sua estreia em maio de 1872 no Opéra-Comique em Paris.

 

Em 1873 Bizet começou seus trabalho de criação da ópera Carmen, com base na novela do mesmo nome de Prosper de Mérimée. Por um tempo esse trabalho ficou suspenso. Havia temor de que temas de traição e assassinato pudessem não ser bem aceitos pelo público.Em outubro de 1874 começaram os ensaios. De início músicos e membros do coro tiveram resistências à partes da ópera. Também havia críticas moralistas de pessoas da companhia de teatro. A estreia finalmente foi em março de 1875, com a presença de grandes nomes da música: Jules  Massenet, Camille Saint-Saëns e Charles Gounod. Mas essa primeira apresentação desanimou Bizet, que achou que tinha fracassado, havendo na ocasião críticas moralistas da imprensa em relação ao comportamento liberal da principal personagem. O público de início não se entusiasmou. 

 

Bizet por anos sofreu devido a problemas na garganta, o que pode ter se agravado por causa de dias que trabalhava muitas horas e pelo fumo. Em 1875, após ter considerado que a ópera Carmen não tinha sido bem sucedidapiorou em maio, teve febre alta e dores e em 3 de junho teve um ataque cardíaco fulminante e morreu. No dia do funeral, em 5 de junho, a imprensa que antes o havia criticado enfim o elogiou como um grande compositor. Ele faleceu três meses depois da estreia de Carmen e não soube que essa ópera viria a ser depois um sucesso.

 

Comentários de especialistas sobre a principal obra de Bizet, a ópera Carmen:

 

    Segundo Frederico Toscano:

 

“Ao morrer em junho de 1875, aos 36 anos, o compositor francês Georges Bizet (1838-1875) não tinha sobrevivido o bastante para saber que sua ópera Carmen tornar-se-ia uma das mais queridas obras musicais jamais escritas e a mais amada de todo o repertório francês. Hoje, Carmen está sempre no segundo ou terceiro lugar – quando não no primeiro – nas listas das preferidas das plateias e dos críticos. Era a ópera favorita da rainha Vitória do Reino Unido, de Otto von Bismarck e de James Joyce; foi incluída em romances por Thomas Mann e até pelo desafinado – e totalmente destituído de ouvido musical – Vladimir Nobokov; sua história foi recontada um sem-número de vezes em filmes. Friedrich Nietzsche, um apaixonado discípulo de Wagner que se voltou contra seu ídolo depois da década de 1870, terminou sua vida louvando Carmen:

 

“Ontem ouvi – você não vai acreditar – a obra-prima de Bizet, pela vigésima vez […]. Essa música me parece ser perfeita. Ela se aproxima com leveza, maleável e polidamente. É agradável, não transpira. ‘O que é bom é leve, tudo que é divino move-se com pés gentis’: o princípio número um de minha estética. A música é funesta, sutilmente fatalista: ao mesmo tempo ela continua popular – sua sutileza pertence à raça, não ao indivíduo. É rica. É precisa. Ela constrói, organiza, termina: assim, ela se constitui no oposto ao pólipo na música, a ‘melodia infinita’. Alguma vez ouviram num palco acentos mais dolorosos, mais trágicos? E como se os consegue? Sem trejeitos. Sem contrafação. Sem a mentira do grande estilo!”

 

Bizet tinha a certeza de estar fazendo algo de inteiramente novo: “Os críticos afirmam que sou obscuro, complicado e tedioso, mais preocupado com a habilidade técnica do que iluminado pela inspiração. Pois bem, desta vez escrevi uma obra que é toda feita de clareza e vivacidade, que está cheia de cor e melodia”, afirmou ele. Essa confiança em sua criação, porém, não impediu Carmen de ser um fracasso ao estrear, em 3 de março de 1875, no Théâtre de l’Opéra Comique, em Paris, o que o abateu fortemente. O que teria causado tal fiasco?

 

Carmen é uma personagem absolutamente inédita, em termos de universo operístico, e vai influenciar muito todo o teatro lírico realista do futuro. Nada tem em comum com a heroína tradicional, pura, sofredora, um joguete nas mãos dos homens e do destino. É amoral, complexa, combina em si traços tanto de heroína quanto de vilã, mas de uma forma que a coloca acima dos julgamentos da moral corrente. Junto com Don Giovanni, Violetta Valéry, Manon Lescaut, Salomé, Lulu, faz parte daquela galeria de personagens que não se sentem culpadas por terem um comportamento que os padrões morais vigentes consideram “irregular”. Sim, isso era demais para o público de 1875…”

 

Segundo Osvaldo Colarrusso :

 

 

“A ópera Carmen de Bizet é uma das obras mais populares do repertório lírico, admirada até mesmo por homens sisudos como Friedrich Nietsche e Johannes Brahms. Eu mesmo, que tive a oportunidade de reger a obra diversas vezes, julgo a Carmen uma ópera excepcionalmente feliz em sua extrema musicalidade associada a um belo trabalho criativo. No entanto existe um trecho da partitura que foi surrupiado de forma, vamos dizer, desleal. A Habanera, que marca a entrada do personagem título da obra, foi desavergonhadamente copiada de uma partitura composta duas décadas antes da conclusão da ópera. O verdadeiro autor da Habanera da ópera Carmen foi Sebastián Iradier, compositor espanhol que viveu de 1809 até 1865. Faleceu dez anos antes da catastrófica estreia da ópera.

 

Iradier e as Habaneras

 

Iradier esteve em Cuba e no México em 1840, e acabou trazendo para a França, onde sua obra foi editada, um enorme apreço por Habaneras. Iradier foi um especialista neste ritmo, e é justo lembrar que a febre que existiu sobre o ritmo da américa central está presente em obras de seus contemporâneos como Louis Moreau Gottschalck e Emanuel Chabrier, e compositores posteriores como Debussy, Ravel, e Alban Berg. Iradier é autor de uma Habanera muito popular até hoje, que é chamada La Paloma, que já foi interpretada por grandes cantoras como Victoria de Los Angeles e Montserrat Caballé. A obra de Iradier que Bizet copiou foi El Arreglito, de 1855. Quem a escuta fica impressionado que Bizet não apenas copiou a melodia, mas a própria alternância entre uma parte inicial em modo menor e uma sequência em modo maior. Bizet aperfeiçoa muitos detalhes mas existe mesmo o plágio (...)”

 

 

Sugestões de vídeos:

 

Trecho da ópera Carmen - Abertura

 https://www.youtube.com/watch?v=E_EL6upyvak

 

Trecho da ópera Carmen - Habanera “L’Amour est um oiseau rebelle”

  https://www.youtube.com/watch?v=oGqRADwPDHA

 

 

 Trecho da ópera Carmen - Canção do Toreador

 

https://www.youtube.com/watch?v=JoiHbdaO9g0

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

 

Figura: 

https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk036rEh8jrwRjSikWCMkplUIVEmBEQ:1622816536998&source=univ&tbm=isch&q=imagen+de+bizet&sa=X&ved

 

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