Em 10 de junho de
1580 morria em Lisboa o poeta português Luiz Vaz de Camões. A data de 10 de
junho é considerada o Dia de Camões. Camões foi um poeta nacional
de Portugal, um dos grandes poetas da tradição literária ocidental e uma figura
de enorme destaque na literatura de língua portuguesa. Ele nasceu provavelmente
em Lisboa em 1524 em data ignorada. Foi filho único. O seu pai era Simão Vaz de
Camões, que foi membro da Marinha Real e comerciante. A mãe era Dona Ana
de Sá e Macedo, vinda de uma família fidalga de Santarém. É provável que o tio
de Luiz, que tinha seguido um caminho voltado para as Letras e da religião,
tenha protegido o sobrinho e o mandado para Coimbra aos 12 ou 13 anos para que
lá estudasse. O jovem Luiz recebeu uma educação clássica, com ênfase no
latim e com conhecimentos de literatura e história antiga e de sua época.
A época de Camões
era a fase final do chamado Renascimento Cultural. Os valores do Renascimento
estavam ligados ao humanismo, à razão, aos conhecimentos científicos e com
inspirações dos autores renascentistas em obras da Antiguidade Clássica. No
tempo que Camões escrevia existiam já inovações tecnológicas ligadas à
navegação. Politicamente despontavam nações absolutistas, economicamente a
burguesia mercantil se fortalecia e a Igreja Católica implementava suas medidas
de reação à Reforma Protestante, com ações rígidas da Inquisição inclusive em
relação à literatura. As características dessa época influenciaram nas artes e
essa fase cultural foi definida como maneirista. Na poesia camoniana as
principais características são: o desconcerto do mundo; a inconstância;
eo sofrimento amoroso.
Em relação a
Portugal, a partir da metade do século XV o país se projetava como potência
comercial e naval e as artes se desenvolviam. Essa situação propiciou o
aparecimento de um orgulho nacional e à euforia pela expansão marítima. Assim
surgem os primeiros escritores a falar das glórias portuguesas como João de
Barros, com sua novela de cavalaria A Crónica do Imperador Clarimundo (1520) e depois
Antônio Ferreira, como inspirador de uma geração classicista para escrever
sobre as façanhas da nação portuguesa. A vida de Camões coincide com essa fase
expansionista do século XVI que ele glorificou nos Lusíadas e
quando ele morre já estava chegando ao fim esse período, pois a Espanha passou
a dominar Portugal na chamada União Ibérica.
Existem estudiosos
que afirmam que Camões descendia pelo lado paterno de Vasco Pires de Camões,
que foi soldado, fidalgo e um trovador galego que foi para Portugal em 1370,
tendo sido agraciado com vários benefícios pelo rei. As poesias de Vasco Camões
eram nacionalistas e deram uma contribuição para a formação de um estillo de
trovas nacional. O filho de Vasco Pires era Antão Vaz de Camões, que
serviu como militar na região do Mar Vermelho e tendo se casado com Dona
Guiomar da Gama, que tinha laços de parentesco com Vasco da Gama.
Há possiblidade de
Camões ter estudado na Universidade de Coimbra, mas não há uma comprovação
documental. A família dele não tinha muito recursos, mas era nobre, o que
possivelmente deu uma abertura para que ele fosse um frequentador da corte do
rei Dom João III. De início foi um poeta lírico e teve envolvimentos amorosos
com damas nobres e plebeias, levando vida boêmia. Uma de suas paíxões pode ter
sido a irmã do rei, o que não foi bem visto e ele foi punido com um tempo na prisão.
Foi por conta
própria para a África como militar, talvez por causa de uma desilusão amorosa
que pode ter sido Catarina de Ataíde. Em combate naval perdeu um dos olhos. No
seu regresso a Portugal foi preso por causa de um atrito com um servo do Paço
que ficou ferido. Recebeu o perdão e partiu para o Oriente, na nau São Bento,
pertencente à frota de Fernão Álvares Cabral. Passou por dificuldades, tendo
sido preso e sido um combatente a serviço dasforças portuguesas. Em 1556 esteve
em Goa, na Índia, que tinha como governante o português Dom Francisco Barreto,
para quem Camões compôs o Auto de Filomeno .Depois de ano em
serviço militar, em seu retorno para Portugal, houve momentos muito difíceis
conforme o relato de seu amigo Diogo do Couto. Esse amigo fez o seguinte
registro:
"Em Moçambique achamos aquele
Príncipe dos Poetas de seu tempo, meu matalote e amigo Luís de Camões, tão
pobre que comia de amigos, e, para se embarcar para o reino, lhe ajuntamos toda
a roupa que houve mister, e não faltou quem lhe desse de comer. E aquele
inverno que esteve em Moçambique, acabando de aperfeiçoar as suas Lusíadas para
as imprimir, foi escrevendo muito em um livro, que intitulava Parnaso de Luís
de Camões, livro de muita erudição, doutrina e filosofia, o qual lhe juntaram
(roubaram). E nunca pude saber, no reino dele, por muito que inquiri. E foi
furto notável.”
Foi nessa época em
que Camões esteve como militar no Oriente que ele escreveu Os Lusíadas e
ao voltar para Portugal publicou sua obra. Por seus serviços à Coroa chegou a
receber uma modesta pensão. Porém a pensão estava limitada a um período de três
anos, podendo ser renovada e o pagamento não foi pago de forma regular, tendo o
poeta ficado em certas vezes em difíceis condições financeiras.
A obra lírica de
Camões foi reunida numa coletânea chamada Rimas. Também ele deixou
três obras de teatro cômico. O poeta queixava-se de injustiças que teria
sofrido e reclamava da pouca atenção dada a sua obra. No entanto, depois que
morreu não custou muito para que sua poesia fosse valorizada e com um padrão
estético ótimo, sendo elogiada por pessoas importantes da literatura europeia,
passando a influenciar futuros poetas em Portugal e outros países. A figura de
Camões está ligada á identidade portuguesa, sendo uma referência na literatura
para os países de língua portuguesa. Foi traduzido para diversas línguas e
tornou-se objeto para estudos especializados em literatura, havendo, por
exemplo, muitos elogios como também variadas críticas de estudiosos à
obra Os Lusíadas
Em 1977, quando já
tinham se passado três anos depois da Revolução de Abril, houve a associação de
Camões às comunidades portuguesas de além-mar e o dia da morte do poeta
tornou-se o "Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”..
A autora Iolanda Ramos afirmou:
"O nome do poeta
surge como um símbolo da união do mundo lusófono. Nesta medida, ganha lugar de
destaque a acção exercida pelo Instituto Camões que, em Portugal tal como no
estrangeiro, mantém vivo o nome desta figura ímpar e sublinha o elo que a une a
outras personalidades nossas contemporâneas. O simples vínculo do nome de
Camões a autores consagrados da língua portuguesa, como Miguel Torga, Vergílio
Ferreira, José Saramago, Eduardo Lourença e Sophia de Mello Breyner
Andresen incentiva, por sua vez, os mais curiosos a informarem-se sobre o poeta
que dá nome ao Prémio (Prémio Camões) outorgado todos os anos desde 1989".
Segundo a autora Dilva Frazão:
“(...) Luís de Camões viveu sua
infância na época das grandes descobertas marítimas e também no início do
Classicismo em Portugal. Foi aluno do colégio do convento de Santa Maria.
Tornando-se um profundo conhecedor de história, geografia e literatura.
Em 1537, D. João III transferiu a
Universidade de Lisboa para Coimbra. Camões iniciou o curso de Teologia, mas
levava uma vida irrequieta, desordeira, além da fama de conquistador, mostrando
pouca vocação para a Igreja.
Em 1544, com 20 anos, deixou as aulas
de teologia e ingressou no curso de filosofia. Já era conhecido como poeta.
Nessa época, compôs uma elegia à Paixão de Cristo, que ofereceu a seu tio. Seus
versos revelam que ele estudou os clássicos da Antiguidade e os humanistas
italianos.
Em 1544, com 20 anos, encontra-se com
D. Catarina de Ataíde, dama da rainha D. Catarina da Áustria, esposa de D. João
III e, desse encontro nasce uma ardente paixão, mais tarde imortalizada pelo
poeta, que se referia à dama do paço, com o anagrama “Natércia”.
Nessa época, a intelectualidade
nacional era incentivada, sobressaindo-se escritores, pensadores e poetas, como
Sá de Miranda e o próprio Camões (...)”.
E ainda a mesma autora:
“(...) Na capital, os versos do poeta
eram apreciados pelas damas da corte. Era perseguido por outros poetas, sendo
vítima de muitas intrigas para desprestigiá-lo e afastá-lo da corte. Para fugir
das perseguições, em 1547, Camões resolve embarcar, como soldado, para a
África. Serviu dois anos em Ceuta. Combateu contra os mouros e durante uma
briga perdeu o olho direito.
Em 1549, Luís de Camões retorna para
Lisboa e entrega-se a uma vida desregrada. Em 1553, envolve-se em novo
incidente, ferindo um empregado do paço. Foi preso e permaneceu um ano
encarcerado.
Nessa época, inspirado nas conquistas
ultramarinas, nas viagens por mares desconhecidos, na descoberta de novas
terras e no encontro com costumes diferentes, escreve o primeiro canto de sua
imortal poesia épica, Os Lusíadas.
Posto em Liberdade, em 1554, Camões
embarca para as Índias. Esteve em Goa, e toma parte de várias outras expedições
militares.
É nomeado provedor em Macau, na China e
durante sua estada aí, escreveu mais 6 contos de seu poema épico. Em 1556,
parte novamente para Goa, mas sua embarcação naufraga na foz do rio Nekong.
Camões consegue se salvar nadando,
levando consigo os originais dos Lusíadas. Chegando a Goa, é preso
novamente em consequência de novas intrigas. Ali recebeu a notícia da morte
prematura de D. Catarina de Ataíde (...)”
Segundo a professora licenciada em
Letras Daniela Diana:
“(...) Camões faleceu dia 10 de junho
de 1580 em Lisboa, provavelmente vítima de peste. No final da sua vida, passou
por grandes problemas financeiros morrendo pobre e infeliz, uma vez que não
teve o reconhecimento que merecia.
O Dia de Portugal é celebrado em 10 de
junho em comemoração à data de sua morte.
Características e
obras de Camões
Camões escreveu poesias, epopeias e
obras de dramaturgia. Foi assim que tornou-se um poeta múltiplo, sofisticado e
ao mesmo tempo, popular.
Decerto que ele possuía grande
habilidade poética, na qual soube explorar com muita criatividade as mais
diferentes formas de composição.
Foi um dos maiores poetas do
Renascimento, mas às vezes se inspirou em canções ou trovas populares
escrevendo poesias que lembram várias canções medievais.
Seus versos revelam que estudou os
clássicos da Antiguidade e os humanistas italianos.
Suas obras de maior destaque são:
- El-Rei
Seleuco (1545), peça de teatro;
- Filodemo
(1556), comédia de moralidade;
- Os
Lusíadas (1572), grande poema épico;
- Anfitriões
(1587), comédia escrita em forma de auto;
- Rimas
(1595), coletânea de sua obra lírica;
Os Lusíadas: a grande
obra de Luís de Camões
A poesia épica “Os Lusíadas”, publicada
em 1572, celebra os feitos marítimos e guerreiros de Portugal. Destacam-se as
conquistas ultramarinas, as viagens por mares desconhecidos, a descoberta de
novas terras, o encontro com povos e costumes diferentes.
Tomando como assunto central a viagem
de Vasco da Gama às Índias, Camões fez do navegador uma espécie de símbolo
da coletividade lusitana. Ele exaltou a glória das novas conquistas e as
proezas dos navegadores portugueses.
Isso permitiu comparar os feitos dos
portugueses com as façanhas dos lendários heróis dos poemas de Homero (Odisseia e a Ilíada) e de Virgílio (Eneida).
Camões usou os modelos clássicos para
cantar os acontecimentos do seu tempo, que ao contrário dos antigos, eram reais
e não fictícios. Camões faz algumas entidades mitológicas participarem da ação.
Assim, coube a Vênus o papel de
protetora dos portugueses. Ela os defende do deus Baco que quer destruir a
frota de Vasco da Gama.
No final do poema, os navegantes são
levados à ilha dos Amores, onde são recompensados de seus esforços por
sedutoras ninfas (...)”.
Poesias de Camões
“Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
________________________________
“Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.”
_______________________________
“Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.
Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.
Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.
Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.”
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“Ah! Fortuna cruel! Ah! duros Fados!
Quão asinha em meu dano vos mudastes!
Passou o tempo que me descansastes,
Agora descansais com meus cuidados.
Deixastes-me sentir os bens passados,
Para mor dor da dor que me ordenastes;
Então numa hora juntos mos levastes,
Deixando em seu lugar males dobrados.
Ah! quanto melhor fora não vos ver,
Gostos, que assim passais tão de corrida,
Que fico duvidoso se vos vi:
Sem vós já me não fica que perder,
Se não se for esta cansada vida,
Que por mor perda minha não perdi.”
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“As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram”
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“Inclinei por um pouco a majestade
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valorosos,
Em versos divulgado numerosos.”
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Frases de Camões
“O fraco rei faz fraca a forte gente.”
“Ah o amor... que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei
porquê.”
“Coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las.”
“Jamais haverá ano novo se continuar a copiar os erros dos anos
velhos.”
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a
confiança; Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.”
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História
Figura:
https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03o6RIrlchU9pep_kYSwcj7FH-nAw:1623271213248&source=univ&tbm=isch&q=imagem+luis+de+cam%C3%B5es&
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