quinta-feira, 3 de junho de 2021

O escritor alemão Thomas Mann

 






Em 6 de junho de 1875 na Cidade Livre de Lubeck, região histórica da Holsálcia, Estado de Schleswig-Holstein, ao norte do já extinto Império Alemão,  nasceu o escritor, romancista, ensaista, contista e crítico Paul Thomas Mann. Considerado um dos grandes romancistas do século XX, ele ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1929. Sua família era tradicional em Lubeck. Estudiosos consideram-no um herdeiro tardio da tradição idealista e romântica alemã e um dos principais autores modernos. Dizem estes especialistas que ao escrever, Mann se empenhava em colocar frente a frente seus  valores principais: a sociedade, o senso comum e o valor da vida e de outro lado a alienação, o individualismo, a fuga romântica e o jogo estético, culminando na doença e na morte. Ele se identificava com o segundo aspecto.

Seu pai era o comerciante e líder político Johan Henrich Mann e sua mãe a brasileira Júlia da Silva Bruhns. Tendo morrido seu pai em 1892, no ano seguinte começou a escrever textos em prosa e artigos para a revista "Der Frühlingssturm" (a tempestade de primavera). Em 1894 vai morar com a mãe em Munique, no sul da Alemanha, onde ela já estava há um ano com os outros filhos. Ela promovia eventos culturais em sua casa. Thomas Mann tinha atração por homens, mas apaixonou-se por uma moça judia, Katia Pringsheim, oriunda de uma família de industriais e intelectuais, assim como ela era neta de Hedwig Dohm, ativista pelos direitos das mulheres. Eles se casaram em 1905 e ela depois se converteu à religião de Thomas, o luteranismo. O casal teve seis filhos.

Thomas abandonou uma atividade de estagiário numa sociedade de seguros e em 1895 passou a ser um escritor livre. Entre 1896 e 1898 visitou na Itália seu irmão mais velho Henrich, que escrevia romances. Ao retornar a Munique Thomas Mann veio a ser um dos editores do jornal satírico-humorístico "Simplicissimus". Tentou servir ao exército, mas desiste e com a inteferência de sua família se desliga do serviço militar com falsas alegações de problemas de saúde. Com a edição de seu primeiro livro, "Buddenbrooks, em 1901, Thomas torna-se mais conhecido. Ele não esperava o sucesso do livro.

Thomas foi simpático à entrada da Alemanha na I Guerra Mundial e defendia a posição da monarquia alemã, com o que não concordava o irmão Heinrich, que defendia o lado francês na guerra. Thomas chegou a colaborar financeiramente em 1917 com o esforço de guerra alemão. A mãe Júlia tentou apaziguar os ânimos entre os dois irmãos. O que Thomas pensava nesse período da guerra pode ser percebido no ensaio “Considerações de um Apolítico”, de 1918 e no romance “A Montanha Mágica”, escrito entre 1912 e 1924. Quando esteve em Veneza em 1911 começou a escrever a novela Morte em Veneza, que foi publicada no ano seguinte.

Em 1922 os irmãos Mann que tinham um conflito por causa de suas visões sobre política iniciam uma reconciliação, com Thomas publicando uma forte defesa da democracia: “Sobre a República Alemã”. Nesse ano em Berlim, o escritor fez um discurso em favor da República de Weimar na Alemanha. Recebeu o Nobel de Literatura em 1929 pela obra, na qual o autor já demonstra ideias democráticas. Em 1939 fez outro discurso em Berlim, dessa vez alertando a população em relação ao nazismo.

Em 1933 Thomas sai da Alemanha por causa da ascensão de Hitler e vai para Zurique, na Suiça. Na Alemanha havia o jornal Volkischer Beobachter (Observador Popular) que no tempo do nazismo publicava listas de expatriados. Na lista 7 constavam os nomes de Thomas Mann, sua esposa e filhos. Foi tirada a cidadania alemã em 1936 e ele mudou-se para os Estados Unidos em 1938. Foi primeiro para Princeton, mas depois foi para Pacific Palisades em 1941. Obteve a cidadania estaduniense em 1944.

No período da II Guerra Mundial, de 1940 a 1945, Thomas Mann gravava um programa de rádio chamado “Ouvintes alemães”, com transmissão da BBC, criticando o governo de Hitler, pedindo que os alemães refletissem. 

O presidente Franklin Roosevelt pensou em indicar o nome de Thomas para presidente de uma Alemanha pós-guerra. Em 1949 Thomas Mann esteve na Alemanha na comemoração de 200 anos do aniversário do escritor Goethe. Com o clima de perseguição política pelo mccarthismo, Thomas retornou à Europa em 1952, indo residir em Zurique, na Suiça, lá falecendo em 12 de agosto de 1955, aos 80 anos. O escritor destacava sua origem burguesa, elogiando a burguesia a Idade Média. Disse ele a respeito: “antiga tradição de que se sente profundamente imbuído, tradição de trabalho leal e minucioso, visando à perfeição absoluta nos detalhes e no todo”.

Quando estava com 26 anos, tornou-se famoso internacionalmente com o romance Os Buddenbrook . Nele era contada a história de uma família protestante de comerciantes de Lubeck, em três gerações. Ele inspirou-se na história da própria família. Um tio de Thomas não gostou ao perceber essa relação familiar no que estava escrito e repreendeu Thomas.

Em seus escritos Thomas Mann descreve a tensão entre o aspecto nórdico (protestante, frio e ascético) e pessoas mais rudes e simples, de regiões católicas. Thomas vivia entre dois mundos, um envolvido com a ética protestante de Lubeck com ligação às tradições familiares paternas e o outro estava relacionado com sua própria vontade e com sua mãe brasileira, que interessava-se mais por literatura do que por negócios.  Os filhos de Thomas também iriam trilhar o caminho que ele escolheu, afastado dos negócios e com mais relação com a literatura.

Na sua obra A Montanha Mágica, Thomas relata a realidade da Europa ao começar a Primeira Guerra Mundial. Além de romances, escrevia também ensaios, escritos políticos, novelas e contos. Agia ao escrever como um psicólogo com análise penetrante, fazendo descrições minuciosas e analisando particularidades.

 

Segundo a professora Dilma Frazão:

 

“ (...) Durante a Primeira Guerra, Thomas Mann ficou do lado daqueles que defendiam o nacionalismo alemão, mas o militarismo cruel que se instalou no país abalou profundamente suas convicções.

Em 1924 publicou “A Montanha Mágica”, onde manifestou sua nova concepção quando defende os ideais democráticos de uma Europa esfacelada pela Primeira Guerra Mundial.

Em 1929, Thomas Mann teve seu prestígio fortalecido ao receber o Prêmio Nobel de Literatura.

Opositor do nazismo, depois da ascensão de Hitler ao poder, Thomas Mann deixa a Alemanha em 1933 e se exila em Küsnacht, na Suíça.

Em 1936, o nome de Thomas e de sua família é relacionado entre os expatriados, perdendo a nacionalidade alemã.

Thomas permaneceu na Suíça até 1938, quando seguiu para os Estados Unidos. Seis anos depois adquiriu a nacionalidade norte-americana, embora tenha feito várias viagens à Europa.

Em 1947 publicou Doutor Fausto, uma exploração psicológica e moral das circunstâncias que tornaram possível o nazismo, por meio da história de um músico que vende a alma ao diabo.

Baseados nas obras de Thomas Mann, foram lançados os filmes: Morte em Veneza (1971) e Fausto (2011).

Thomas Mann faleceu em Kilchberg, próximo a Zurique, na Suíça, no dia 12 de agosto de 1955.

Obras de Thomas Mann: Buddenbrooks (1901); TonioKröger (1903);Sua Alteza Real (1909);A Morte em Veneza (1912); Ensaios Sobre Friedrich II, rei da Prússia (1915);Considerações de Um Apolítico (1918);The GermanRepublic (1922);A Montanha Mágica (1924);DisorderandEarlySorrow (1926);Freud (1929);Mário e o Mágico (1930);Goethe (1932);Wagner (1933);José e Seus Irmãos (1933-1943);As Histórias de Jacó (1933);O Jovem José (1934);José no Egito (1936);José, o Provedor (1943);Das Problem der Freiheit (1937);Lotte in Weimar or The BelovedReturns (1939);As Cabeças Trocadas (1940);Doutor Fausto (1947);Der Erwählte (1951);Confissões do Impostor Félix Krull (1922/1954).”

Frases

"A glória em vida é algo problemático: é aconselhável não se deixar deslumbrar por ela, muito menos estimular."

 "A solidão mostra o original, a beleza ousada e surpreendente, a poesia. Mas a solidão também mostra o avesso, o desproporcionado, o absurdo e o ilícito."

 A felicidade do escritor é o pensamento que consegue transformar-se completamente em sentimento, é o sentimento que consegue transformar-se completamente em pensamento.

"Aquilo a que chamamos felicidade consiste na harmonia e na serenidade, na consciência de uma finalidade, numa orientação positiva, convencida e decidida do espírito, ou seja na paz da alma." 

"Certamente é bom que o mundo conheça apenas a obra bela e não as suas origens nem as condições em que foi gerada; pois o conhecimento das fontes de onde provém a inspiração para o artista causaria frequentemente perturbação e espanto, neutralizando assim os efeitos da excelência."

"Para o desesperado, a partida não parece menos impossível do que o retorno."

 "O escritor é um homem que mais do que qualquer outro tem dificuldade para escrever."

"Há pessoas as quais não é fácil conviver, mas que jamais se podem abandonar."

"Um professor é a personificada consciência do aluno; confirma-o nas suas dúvidas; explica-lhe o motivo de sua insatisfação e lhe estimula a vontade de melhorar."

“No mais profundo de si mesmo, um artista é sempre um aventureiro.”

“Que é o tempo? Um mistério: é imaterial e – onipotente. É uma condição do mundo exterior; é um movimento ligado e mesclado à existência dos corpos no espaço e à sua marcha.”

“As observações e as vivências do solitário calado são ao mesmo tempo mais difusas e intensas do que as dos seres sociáveis, seus pensamentos, mais graves, mais fantasiosos e sempre marcados por um laivo de tristeza.”

A música desperta o tempo; desperta a nós, para tirarmos do tempo um gozo mais refinado; desperta... e portanto é moral. A arte é moral na medida em que desperta.”

 “A nossa morte é assunto dos sobreviventes, mais do que de nós próprios.”

“O que se chama tédio é, na realidade, antes uma brevidade mórbida do tempo, provocada pela monotonia.”

“Todo caminho que trilhamos pela primeira vez é muito mais longo do que o mesmo caminho quando já o conhecemos.”

“Quando se presta atenção ao tempo, ele passa muito devagar.”

“Só o amor, e não a razão, é mais forte do que a morte.”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: 

https://www.google.com/search?q=imagem+de+Thomas+Mann&sxsrf=ALeKk036jk79kgEW8kX4e_dxkTZ777O76Q:1622777854486&tbm=isch&source=iu


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