Em 27 de junho de 1908 nasceu em
Cordisburgo, em Minas Gerais, o escritor, novelista, médico e diplomata João
Guimarães Rosa. Ele escrevia romances, contos e poesias. Pertenceu aos movimento
literários Modernista, Regionalismo Universalista, Pós-modernismo e
ao Romance Regionalista. Sua grande obra foi Grande Sertão Veredas, romance
chamado pelo autor como uma "autobiografia irracional”. Foi considerado o
maior escritor brasileiro do século XX. Seus contos e romances estão ligados em
grande parte ao considerado sertão do Brasil. Em obras suas percebe-se as
inovações de linguagem, com os falares populares e regionais. Em 6 de agosto de
1963 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Foi indicado ao Prêmio
Nobel de Literatura em 1967, o mesmo ano em que morreu.
Seu pai foi Florduardo
Pinto Rosa ("Flor") e sua mãe foi Francisca Guimarães Rosa
("Chiquitita"). Guimarães Rosa foi o primeiro dos seis filhos do
casal. Quando criança iniciou seus estudos de vários idiomas, a começar pelo
francês. Em uma entrevista quando já adulto ele disse que falava português,
alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto e um pouco de russo. E
que sabia ler sueco, holandês, latim e grego.
Na
sua infância, Guimarães foi morar com os avós, em Belo Horizonte. Lá terminou o
curso primário. Em São João del-Rei começou a estudar no curso secundário que
veio a terminar em Belo Horizonte para onde tinha voltado. Quem patrocinava
seus estudos era um tio que era um fazendeiro com muitos recursos. Com 16 anos,
em 1925, Guimarães Rosa matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade
de Minas Gerais. Sua primeira esposa foi Lígia Cabral Pena, que tinha 16 anos.
O casamento foi em 1930. Com ela Guimarães teve duas filhas. No mesmo ano
formou-se como médico e passou a trabalhar em Itaguara, que era distrito de
Itáuna. A sua permanência por dois anos no interior de Minas proporcionou ao
autor o contato com as características do sertão que vieram lhe dar base para
se inspirar em obras suas.
Durante
a Revolução Constitucionalista de 1932 Guimarães Rosa foi médico voluntário na
Força Pública, sendo enviado para o setor do Túnel em Passa Quatro (MG) e na
ocasião conheceu o médico chefe do Hospital de Sangue, o futuro presidente
Juscelino Kubitschek. Entrou depois como médico concursado como médico na Força
Pública. Foi para Barbacena em 1933 como Oficial Médico do 9º Batalhão de
Infantaria. Fez concurso e foi aprovado no concurso para diplomata e foi
trabalhar na Europa e países da América Latina. Em 1929 houve sua primeira
publicação, o conto "O mistério de Highmore Hall”, que foi publicado na revista O
Cruzeiro. Em 1936 sua obra inédita, a coletânea de versos Magma,
recebeu o Prêmio Academia Brasileira de Letras, obra elogiada pelo poeta
Guilherme de Almeida.
De
1938 a 1942 trabalhou como consul-adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha.
Na época conheceu e veio a casar com Aracy de Carvalho, funcionária do
Itamaraty, que ajudou judeus a fugir para o Brasil emitindo vistos. Ela, pelo
seu humanismo, recebeu posteriormente o reconhecimento do Estado de Israel.
Em sua carreira
diplomática, Guimarães Rosa foi chefe de gabinete do ministro João Neves da
Fontoura (1946); primeiro-secretário e conselheiro de embaixada em Paris
(1948-51); secretário da Delegação do Brasil à Conferência da Paz, em Paris
(1948); representante do Brasil na Sessão Extraordinária da Conferência da
UNESCO, em Paris (1948); delegado do Brasil à IV Sessão da Conferência Geral da
UNESCO, em Paris (1949). Quando voltou ao Brasil em 1951, foi nomeado de novo
chefe de gabinete do ministro João Neves da Fontoura; depois chefe da Divisão
de Orçamento (1953) e promovido a ministro de primeira classe. Assumiu em 1962
a chefia do Serviço de Demarcação de Fronteiras.
Como escritor, em
1946 foi publicado o livro de contos Sagarana, que lhe deu destaque
no cenário da literatura brasileira, tendo a obra uma linguagem inovadora, com
uma simbologia rica de seus contos. O regionalismo com Rosa adquiria um novo
significado e com a característica de experiência estética universal. Após uma
viagem a Mato Grosso em 1952, o autor escreveu o conto "Com o vaqueiro
Mariano", que faz parte hoje do livro póstumo Estas estórias (1969),
sob o título "Entremeio: Com o vaqueiro Mariano”. Por meio desta excursão
a Mato Grosso Guimarães se inspirou para criar os cenários, personagens e as
historias que seriam vistos em Grande sertão: Veredas, publicado em
1956, o único romance escrito por ele e publicado em várias línguas. Também de
1956 é o ciclo novelesco Corpo de baile.
Em
1963, Guimarães Rosa, na sua segunda tentativa, conseguiu ser eleito para a
Academia Brasileira de Letras. Em 1967 decidiu assumir a cadeira na Academia e
afirmou, como uma despedida: "…a gente morre é para provar que
viveu”. Três dias depois, em 19 de novembro, ele faleceu, na cidade do
Rio de Janeiro, de infarto, aos 59 anos. Ele foi sepultado no panteão da
Academia Brasileira de Letras, no Cemitério de São João Batista, Rio de
Janeiro.
Guimarães
Rosa ganhou os prêmios: Prêmio da Academia Brasileira de Letras conferido a sua obra Magma;
Prêmio Filipe d'Oliveira pelo livro Sagarana (1946); Grande Sertão
Veredas recebeu: o Prêmio Machado de Assis, do Instituto
Nacional do Livro, o Prêmio Carmen Dolores Barbosa (1956) e o Prêmio Paula
Brito (1957). E pela obra Primeiras estórias, recebeu
o Prêmio do PEN Clube do Brasil (1963).
Segundo a professora
licenciada em Letras Daniela Diana:
“ (...) Guimarães Rosa foi Patrono da cadeira nº 2 na Academia
Brasileira de Letras, tomando posse três dias antes de morrer, no dia 16 de
novembro de 1967.
No seu discurso de posse, curiosamente, suas palavras destacam o tema da
morte:
“Mas - o que é um pormenor de ausência. Faz diferença? “Choras os que
não devias chorar. O homem desperto nem pelos mortos nem pelos vivos se
enluta" - Krishna instrui Arjuna, no Bhágavad Gita. A gente morre é para
provar que viveu. Só o epitáfio é fórmula lapidar. (...) Alegremo-nos,
suspensas ingentes lâmpadas. E: “Sobe a luz sobre o justo e dá-se ao teso
coração alegria!” - desfere então o salmo. As pessoas não morrem, ficam
encantadas.”
No auge da carreira de escritor e diplomata, Guimarães Rosa, com apenas
59 anos, faleceu na cidade do Rio de Janeiro, dia 19 de novembro de 1967,
vítima de infarto.
Guimarães Rosa escreveu contos, novelas, romances. Muitas de suas obras foram ambientadas pelo sertão brasileiro, com ênfase nos temas nacionais, marcadas pelo regionalismo e mediadas por uma linguagem inovadora (invenções linguísticas, arcaísmo, palavras populares e neologismos).
Rosa foi um estudioso da cultura popular brasileira. Sua obra que merece
maior destaque e por ter sido a mais premiada, é "Grande Sertão:
Veredas," publicada em 1956 e traduzida para diversas línguas.
Sobre seus escritos, o próprio autor afirma:
“Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas,
um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os
grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são
muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o
sofrimento dos homens.”
Algumas Obras:Magma (1936); Sagarana (1946); Com
o Vaqueiro Mariano (1947); Corpo de Baile (1956)
dividida em três novelas: “Manuelzão e Miguilim”, “No
Urubuquaquá, no Pinhém” e “Noites do sertão”; Grande
Sertão: Veredas (1956); Primeiras Estórias (1962); Campo
Geral (1964);Noites do Sertão (1965).”
Frases de Guimarães Rosa:
“Mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando.”
“Quando eu morrer, que me enterrem na beira do chapadão, contente com minha terra, cansado de tanta guerra, crescido de coração.”
“Ah, acho que não queria mesmo nada, de tanto que eu queria só tudo. Uma
coisa, a coisa, esta coisa: eu somente queria era - ficar sendo!”
“Viver é um descuido prosseguido. Mas quem é que sabe como? Viver...o
senhor já sabe: viver é etcetera...”
“É
preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter
amado.”
“Se todo animal
inspira ternura, o que houve, então, com os homens?”
“Eu quase
que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa.”
“Digo: o real não
está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da
travessia.”
“O mundo é
mágico.
As pessoas não morrem, ficam
encantadas.”
“O correr da
vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.”
“Deus nos
dá pessoas e coisas,
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...
Essa... a alegria."
“Saudade é ser,
depois de ter.”
”Sempre que se
começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de
certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando,
mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal,
carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce
primeiro; brota é depois.”
“A gente carece
de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar ter.
Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que
essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da
gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é.”
“Tudo, aliás, é
a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando
nada acontece há um milagre que não estamos vendo.”
“Só se pode
viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente
tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.”
“Tem
horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente
data. O senhor mesmo sabe.”
“Viver é muito
perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia
perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difícil não
é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que
quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.”
“Os outros têm
uma espécie de cachorro farejador, dentro de cada um, eles mesmos não sabem.
Isso feito um cachorro, que eles têm dentro deles, é que fareja, todo o tempo,
se a gente por dentro da gente está mole, está sujo ou está ruim, ou errado...
As pessoas, mesmas, não sabem. Mas, então, elas ficam assim com uma precisão de
judiar com a gente...”
"Mãe, o que é que é o mar,
Mãe?" Mar era longe, muito longe dali, espécie duma lagoa enorme, um mundo
d´água sem fim, Mãe mesma nunca tinha avistado o mar, suspirava. "Pois,
Mãe, então mar é o que a gente tem saudade?"
“O
amor? Pássaro que põe ovos de ferro.”
“Na própria
precisão com que outras passagens lembradas se oferecem, de entre impressões
confusas, talvez se agite a maligna astúcia da porção escura de nós mesmos, que
tenta incompreensivelmente enganar-nos, ou, pelo menos, retardar que
prescrutemos qualquer verdade.”
“O passado é que veio até mim, como uma nuvem, vem para ser reconhecido; apenas
não estou sabendo decifrá-lo.”
“No que vagueia
os olhos, contudo, surpreende-se-lhe o imanecer da bem-aventura, transordinária
benignidade, o bom fantástico.”
“As coisas
mudam no devagar depressa dos tempos.”
Algumas poesias de Guimarães Rosa
“Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme.
Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d'água,
nos grotões fundos
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir...
Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem
e adormece.
Até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes...
Mas nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono...”
“Soneto da saudade
Quando sentires a saudade retroar
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
E ternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!
Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas...
E a te expressar que este amor em nós ungindo
Suportará toda distância sem problemas...
Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve
Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,
Como uma gota de orvalho indo ao chão.
Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos,
Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...
Nem a distância apaga a chama da paixão.”
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Figura:
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