sábado, 26 de agosto de 2023

Poesia: Superlua de fim de agosto

 



Superlua,

De fim de agosto.

Será sinal

De desolação?

Aposto,

Que não.

Será um espetáculo especial,

Uma ocasião,

De observação.

Se você tiver tempo,

Abra a janela

E veja.

Adivinhos medievais,

Veriam um cataclisma.

Na era da Inteligência Artificial,

E do debate mundial

Pelo clima,

Qualquer fase da lua é normal.

Românticos desavisados,

Diriam que o tempo das cruzadas,

Era o tempo das princesas apaixonadas,

Por cavaleiros de armaduras reluzentes.

Para estes românticos seriam tempos belos!

Mas os fantasmas dos prisioneiros dos castelos,

E dos camponeses que pagavam a corveia e a talha,

De mãos dadas com os estudiosos da História,

Não veem só a glória

Dos senhores feudais!

Contestariam tal versão,

Que diriam falha.

E você romântico de pé no chão,

Que prometeu uma canção,

Para a namorada,

Aproveitando a noite que parece encantada,

Não vai fazer uma canção para ela?

Ou foi só fogo de palha?

No dia em questão,

Abra a janela,

Deixe o luar entrar,

Só na manha.

Quem sabe na hora vai se inspirar?

Só não vale virar lobo e começar a uivar!

Mas não esqueça que a noite é um rio,

Que vai desaguar na manhã.

De manhã você vai trabalhar,

E a Lua não vai pagar seu salário.

Márcio José Matos Rodrigues

 

 

A canção feita para a amada para o dia de Superlua


 Meu bem,

A lua cheia veio,

Tão super.

O luar vem

E banha o seu seio,

Tão lindo.

Eu digo a você sorrindo, 

Não é noite de lua nova.

É noite cheia de sonhos!

Nosso amor se renova,

Às vezes até parece que é posto à prova.

Nesta noite de amor

E sedução,

Até eu que não sou compositor

Fiz uma canção.

Você goste ou não,

Eu fiz.

Que a Lua traga para nós a bênção

Para a gente ser muito feliz!

Márcio José Matos Rodrigues

 

  Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&sca_esv=560423374&q=imagem+de+superlua&tbm=

 

 


sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Um lindo fim de tarde

 




Todo dia,

Seu cão de guarda,

Na porta de casa lhe aguarda.

É de médio porte,

Late, late, late

Mas não morde.

Você se considera um cara de sorte,

O seu consolo,

É que o seu cachorro,

Ama você,

E ainda pula no seu colo.

Você sempre quis

Ser amado assim,

Ter um mascote!

Quando a tarde chega enfim,

Você passa na lanchonete,

E pede de imediato

Um mate,

Com limão e bem gelado,

Para a bela garçonete,

Por quem você é apaixonado

E casada com o proprietário,

Campeão de tiro ao Álvaro,

Como se lembra bem a Elis.

“Te mete!”

Você pensa então:

“Tolo,

É quem diz,

Que eu não sou feliz!”

Em um programa de auditório,

Que passa na televisão,

Pergunta o apresentador:

“Quem era a macaca do Jim das Selvas?”

Você liga e responde: “Tamba!”

Respondeu bem!

Você é o bamba!

Parabéns!

Ganhou um passeio grátis,

Com passagem só de ida,

Para a praia do Ariramba,

Para alguns a “mais querida”,

Com direito a show de samba,

Cerveja e bolo

De castanha com chocolate.

Égua! Você é mesmo feliz para caramba!

Depois de ver esta sua sorte tamanha,

Eu lhe desejo um feliz fim de tarde,

Aproveite e passe no Murubira.

A passagem de volta?

Você é um cara de sorte!

“Te vira!”

Márcio José Matos Rodrigues



Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de++fim+de+tarde&tbm=isch&ved=2ahUKEwibqIn_3PiAAxWYILkGHeA0

 




 


Uma Xícara de Chá


 


Você sonha,

Que a realidade concorde

Com o que você deseja?

No fim da tarde

Você toma uma xícara de chá.

E apesar

De não ter nada para jantar

Você se acha um lorde!

Acorde!

Tome um chá de realidade!


Márcio José Matos Rodrigues


Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&sca_esv=560172787&q=imagem+de+uma+xicara+de+ch%25C3%25A

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Já?

 






Já?

Já riu de você este ano?

Ria!

Todos nós temos enganos

E nos parecemos estranhos

A nós mesmos

Alguma vez.

Um riso pequeno,

Ou grande talvez!

Pode ser que tenha o tamanho

Da  timidez,

Ou do excesso de sensatez.

Ria por ter se sentido ingênuo,

Ou ridículo,

Atrapalhado ou engraçado.

Foi em que mês,

O fato?

Você acha chato

Lembrar?

Será só em setembro?

Aaaaaah!!!!

Então,

É premonição!

Ria por dentro,

Calado,

Ou ria de um jeito escancarado.

No seu quarto?

No meio do mato?

Só,

Ou acompanhado?

Que mal tem?

Mas não ria do pato,

Coitado,

Escalado

Para o Círio

Que logo vem.

Medo de se achar louco?

Acertei hein?!

Ria ao menos um pouco,

Por que ser tão sério?

Mergulhe neste rio,

Que não tem piranhas,

Nem jacaré.

Não é nesta hora

Para lembrar das façanhas,

Da sua vida. 

Pois é,

Ria que faz bem.

Faça um teste!

Lembre do filósofo que disse:

“Rio de todo mestre,

Que não riu de si também!”

Márcio José Matos Rodrigues



Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&sca_esv=557804163&q=desenho+de+rapaz+rindo&tbm=


domingo, 13 de agosto de 2023

A Crise no Níger

 



No dia 26 de julho aconteceu um golpe de Estado no Níger, país da África Ocidental. Foi derrubado o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum. Agora é especulado que pode haver uma intervenção militar internacional para restabelecer o governo anterior. Mas que país é o Níger? Por que foi dado esse golpe? Qual a importância dele para o cenário africano e mundial? Quais as consequências desse golpe? O que vai acontecer?

O Níger, ou República do Níger, é um país africano com área de quase  1 270 000 km² (a maior nação da África Ocidental). Mais de 75% de sua área de terra é coberta pelo Deserto do Saara, com uma população com cerca de 17 138 707 habitantes (2013), sendo a maioria islâmica. Sua  capital é  Niamei, a cidade mais populosa. Faz fronteira ao norte com a Argélia e a Líbia; a leste com o Chade; a sul com a Nigéria e Benin; e a oeste com Burquina Fasso e Mali. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é muito baixo, ficando em 189º lugar entre os países pesquisados, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A zona não desértica é atingida por secas periódicas e com risco de desertificação. A agricultura está mais concentrada no sul, onde há terras mais férteis. O país não tem litoral. A educação é precária, a pobreza é muito grande, há pouquíssima  infraestrutura. Quase não há  acesso ao nível superior de educação e a população vive em sua maior parte nas áreas rurais. 

Em 2001 a composição étnica do Níger estava disposta assim: Hauaçás (55,4%); Zarmas (21%); Tuaregues (9,3%); Fulas (8,5%); Canúris (4,7%); Tubus (0,4%) ; Árabes (0,4%); ; Gurmas (0,4%);  Outros (0,3%).

A economia é centrada na agricultura de subsistência.  A produção leiteira do país se destaca, tendo em 2019 produzido 1,4 bilhões de litros de leite de animais variados.  Há uma pequena indústria de beneficiamento  e tecelagem de algodão. O principal produto de exportação desde a década de 1970 é o urânio.  O país depende muito de ajuda econômica externa. Mas por causa dos golpes militares que tem ocorrido desde a independência, tem havido dificuldades no recebimento de ajuda.

A língua oficial é o francês. Serve como língua administrativa. Mas há outros dez idiomas nacionais reconhecidos. Cada uma destas outras línguas é a principal falada por um grupo étnico específico. As duas mais línguas mais faladas são hauçá e zarma-songai.

A forma de governo do Níger é semipresidencialista. A Assembleia Nacional exerce o Poder Legislativo. Ela propõe 3 candidatos a primeiro-ministro. O Presidente da República, eleito por sufrágio universal, escolhe um dos 3 candidatos propostos pela Assembleia para ser o primeiro-ministro. O Presidente é o chefe-de-Estado que pode dissolver a Assembleia e convocá-la de forma extraordinária. O primeiro-ministro e o Presidente exercem o poder executivo.

Em seu passado o Níger fez parte do Império Songai. Em 1896 a França o incorporou à África Ocidental Francesa. Passa a ser uma república autônoma da comunidade francesa em 1958 e em 1960 sai da comunidade. Nesse momento a grande força dominante no país é constituída por militares.

Um fato que influenciou na história do Níger como país independente foi a descoberta de urânio nos anos 70 do século XX. De início há um surto de desenvolvimento, que diminui muito quando o preço do minério cai anos depois. O processo democrático que começa em 1993 revela-se frágil. O presidente Mahamane Ousmane entra em conflito com militares por causa de atraso no pagamento de salários aos soldados e para piorar há um acirramento de conflitos étnicos. O exército e rebeldes tuaregues se enfrentam em 1993 no nordeste do Níger. O Clube de Paris reduziu para metade a dívida do país em 1994 que estava com sérias dificuldades financeiras. Em abril de 1995 foi assinado um acordo de paz entre o governo e os tuaregues. Mas em 1996 o general Barre Maïnassara lidera um golpe militar e derruba o governo e é eleito presidente por meio de eleições presidenciais, havendo protestos na capital.

Em 2010 governava o presidente Mamadou Tandja, que estava há dez anos no poder, quando o militar Salou Djibo lidera um golpe militar e derruba o presidente. Era o quarto golpe desde 1974. Tandja queria ficar mais tempo além do tempo permitido pela Constituição e foi então derrubado pelos militares.

Em 2011 foi eleito Mahamadou Issoufou, do Partido Nigerino para a Democracia e o Socialismo (PNDS). Segundo o professor do Centro de Estudos Africanos da Holanda, Klaas Walraven: "O comportamento tanto dele [Issoufou] como do seu regime em relação à oposição tem sido autoritário. A forma como ele lidou com o líder da oposição Hama Amadou caracteriza isso”. Em 2016 Issoufou foi reeleito.

Em 2015 autoridade do Níger concordaram em  receber uma ajuda econômica para não permitir a migração ilegal. Mas segundo o Relator Especial da ONU sobre os direitos humanos dos migrantes: "A falta de clareza no texto e a sua implementação repressiva - em vez de procurar a protecção dos indivíduos - resultou na criminalização de todas as migrações e levou os migrantes a esconderem-se, tornando-os mais vulneráveis a abusos e violações dos direitos humanos”.

Em 2 de abril de 2021 assumiu o governo o presidente Mohamed Bazoum . Ele venceu a eleição presidencial de 2020–21 e superou uma tentativa fracassada de golpe de Estado naquela época. Ele antes de ser presidente do Níger foi presidente do Partido Nigerino pela Democracia e Socialismo (PNDS-Tarayya). Foi  Ministro das Relações Exteriores de 1995 a 1996 e novamente de 2011 a 2015, Ministro de Estado na Presidência de 2015 a 2016 e Ministro de Estado do Interior entre 2016 e o ​​verão de 2020, quando renunciou para se concentrar em concorrer às eleições presidenciais. Bazoum é o primeiro presidente de etnia árabe (árabe de Diffa) do Níger.

Em 26 de julho deste ano forças militares derrubaram o governo do presidente Mohamed Bazoum, que foi detido.  À noite desse mesmo dia, Amadou Abdramane, alto oficial da Força Aérea, anunciou no canal de televisão estatal que o o presidente Bazoum havia sido destituído do poder e anunciou a formação de um Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria. Ele estava sentado junto a outras lideranças militares do país. O argumento apresentado por ele foi que as forças de defesa e segurança derrubaram o governo "devido à deterioração da situação de segurança e má governança”.  A Constituição do país foi anulada e foram suspensas as das instituições estatais. As fronteiras foram fechadas e foi decretado toque de recolher nacional. No dia 27 de julho foram vistos centenas de apoiadores do golpe com bandeiras russas e manifestando apoio ao Grupo Wagner, além de protestarem contra as bases dos Estados Unidos e da França.

Dessa forma foi deflagrado o quinto golpe militar desde 1960 e o primeiro desde 2010. Diante desses fatos, a  Comissão da União Africana, instituição que reúne mais de 50 países do continente, declarou  recentemente que apoiará medidas que façam o presidente deposto retornar ao poder. Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da União Africana, afirmou em comunicado oficial “forte apoio” às decisões adotadas pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) contra as “mudanças anticonstitucionais” adotadas no Níger:

O Presidente apela às autoridades militares para que detenham urgentemente a escalada das relações com a organização regional Cedeao, incluindo a cessação do sequestro contínuo do Presidente Bazoum em condições preocupantemente precárias”. Lideranças de países da África Ocidental solicitaram que seja restabelecida a ordem no Níger por meio de ação de uma força militar regional. A Cedeao já interveio na Libéria, Serra Leoa e Guiné-Bissau em outras ocasiões.

Há opiniões contrárias em países africanos em relação a uma intervenção armada no Níger. Na Argélia, seu governo se colocou contra a intervenção e na Nigéria o Senado se colocou contra a intervenção.

O presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara disse que os líderes do bloco aprovaram o envio de “uma força de prontidão” para restaurar a ordem no Níger. Mas há ainda tentativas de negociação com o líder dos militares golpistas, Abdourahamane Tiane (apoiado por dirigentes dos países africanos  Mali e Burkina Faso) para uma solução pacífica. Há uma relação desses golpes com a Rússia, que tem influenciado militarmente em países africanos por intermédio do grupo paramilitar Grupo Wagner, mais conhecido por sua atuação na guerra da Ucrânia.

O anúncio de uma intervenção no Níger contrasta com atitudes anteriores do bloco africano que não reagiu militarmente contra os golpes no Mali, Burkina Faso e Guiné.

Após o anúncio do golpe, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse, por meio de um porta-voz, que condena "veementemente a mudança inconstitucional de governo" no Níger e apela "à cessação imediata de todas as ações que atentam contra os princípios democráticos no Níger".

A Junta Militar golpista fez uma chamada aos cidadãos do Níger para defender o país de uma intervenção internacional. Mas opositores internos ao golpe se colocam a favor do presidente deposto.  A junta do novo governo ordenou a suspensão das exportações de urânio e ouro para a França. E a União Europeia anunciou a suspensão da ajuda financeira e da cooperação de segurança. O bloco europeu e os Estados Unidos não reconhecem o governo golpista. Do Mali, no oeste, ao Sudão, no leste, toda uma faixa da África é agora comandada por regimes militares.

É de se ressaltar que o golpe aconteceu na sequência de outros golpes em países próximos: Guiné , Mali e Sudão (2021) e dois em Burquina Faso (janeiro e setembro de 2022). A região passou a ser conhecida como “cinturão golpista”.

O aumento do custo de vida e a descrença no governo do Níger, considerado incompetente e afetado por corrupção são fatores que podem ter influenciado na ocorrência do golpe. O país possui grande parte de seu povo atingido pela pobreza e há guerrilhas islâmicas sob liderança da al-Qaeda, Estado Islâmico e Boko Haran. Estados Unidos e França tem bases no Níger e tem dado treinamento e apoio logístico a tropas deste país, no qual ultimamente tem crescido um sentimento contra os franceses. É de se ressaltar que o líder do golpe, Tchian, conforme relatos de analistas, estava para ser demitido de seu cargo no governo do Níger, pois o relacionamento entre o presidente e o chefe militar estava tenso.

Analistas ocidentais tem demonstrado preocupação com o golpe no Níger, um deles, Cameron Hudson, destacou a possibilidade de a luta no país contra os rebeldes islâmicos poderia ser enfraquecida e supondo que o exército nigerino estaria insatisfeito com o tipo de apoio que potências ocidentais forneceram para esta luta. Outro analista afirmou o Ocidente contava com o governo de Bazoum como um ponto de apoio na região. Flavien Baumgartner ressaltou que com o novo governo o Grupo Wagner teria influência perigosa em um país produtor de urânio. Para o analista Oluwole Ojewale, analista do Instituto de Estudos de Segurança sobre a influência francesa em países que foram parte de seu império colonial:

“Há uma sensação de que, embora a França tenha concedido a independência… eles ainda estão ligados ao cordão umbilical da França. Há um pensamento sutil de que nada acontece nos países francófonos sem a aprovação tácita da França”.

Para o analista Olayinka Ajala :

“Este último golpe de Estado tem consequências graves para o Níger e toda a região do Sahel. O Níger é um aliado sólido dos países ocidentais, especialmente França, Estados Unidos e União Europeia, na luta contra a insurgência e na redução da imigração ilegal para a Europa. Os esforços para resolver estas questões serão afetados. E os novos chefes militares vão querer usar estas questões como alavanca nas negociações e forçar a aceitação do novo regime.

Os novos governantes do Níger também poderiam colaborar com o Grupo Wagner para combater a insurgência islamita radical. O líder deste grupo já os felicitou pela tomada do poder. A influência da Rússia e de Wagner na região podem aumentar. No entanto, o Wagner foi incapaz de impedir a propagação do terrorismo no Mali e no Burkina Faso.

Finalmente, um golpe militar bem-sucedido no Níger seria um sério revés para a democracia na região e na África no seu todo. Os regimes militares da Guiné, Mali e Burkina Faso já planeiam formar uma “aliança militar”, supostamente para lutar contra a insegurança. Os líderes africanos têm de fazer muito mais para provar que trabalham em prol das populações.

Os analistas em geral destacam que a série de golpes que ocorreram recentemente naquela região da África revelam uma disputa entre nações ocidentais e a Rússia por influência no continente africano, com uma ação de movimentos contrários à França em países que foram suas colônias. Alguns desses analistas apontam que insegurança, crise econômica, questão étnica, presença de forças estrangeiras e fragilidade dos organismos regionais precipitaram o golpe de Estado no Níger que tem sido aliado do Ocidente e que ainda não dá para dizer se os militares vão negociar com os ocidentais ou se pretendem aliar-se ao grupo Wagner. Em relação à questão étnica, há uma análise de que houve desconfianças dos militares em relação ao presidente Bazoum por ele ser da minoria étnica árabe do Níger e podendo ser considerado como de origem estrangeira.

Para certos analistas não há evidências de que a Rússia instigou a rebelião no Níger, mas ela pode tirar proveito da situação. O Grupo Wagner, originário da Rússia, tem participado de lutas em países africanos dando apoio a governos golpistas e, inclusive, o chefe do grupo, Yevgeny Prigozhin comemorou quando soube do golpe no Níger e ofereceu ajuda ao país.  

Deve-se ressaltar também que o Níger é importante fornecedor de urânio para a União Europeia, produzindo cerca de 5% da oferta mundial do mineral, conforme dados da Associação Nuclear Mundial. Um dos maiores compradores de urânio do Níger é a França.

 Segundo  Sofia Pilagallo:

“O golpe militar no Níger tornou o Sahel, região na África localizada entre o deserto do Saara e a savana do Sudão, um instável aglomerado de ditaduras. A derrubada do governo marca o sétimo golpe naquela parte do continente africano desde 2020. O país era o único ainda regido por um governo democraticamente eleito(...)”. “(...) Os golpistas tomaram o poder, dissolveram a Constituição e suspenderam as instituições do país, sob a justificativa de "situação de segurança e má governança econômica social" — a mesma usada para golpes militares consumados em outros países próximos, como Mali e Burkina Fasso. Mais recentemente, os militares anunciaram também o fechamento do espaço aéreo do Níger. Mohamed Bazoum foi o primeiro presidente democraticamente eleito do país a assumir o cargo de um antecessor eleito de forma semelhante.

Segundo a professora de relações internacionais Ana Carolina Marson, da Universidade São Judas Tadeu (USTJ), a razão pela qual a África, principalmente a região do Sahel, é um tanto instável se deve ao processo de independência das potências europeias, que teve início tardiamente. Alguns países do continente foram descolonizados apenas na década de 1980. Trata-se, portanto, de nações muito novas, com governos próprios recentes.

"Esse golpe afeta de maneira muito negativa uma região já extremamente instável pelos sucessivos golpes ao longo dos anos. Muito perigoso isso que aconteceu", lamenta Ana Carolina (...)”

Sobre os interesses do governo russo  disse o  pesquisador Pavel Usov, chefe do Centro de Análise e Previsão Política da Bielorrússia:

“A União Soviética forneceu um potente apoio a diversas estruturas, partidos, organizações de países como Angola, Moçambique, Lívia, Egito. Durante a Guerra Fria, a África tornou-se um front de luta ideológica, política e geopolítica. Esses sentimentos pró-soviéticos, que hoje estão concentrados na Rússia, permaneceram fortes. Ao mesmo tempo, considerando as relações extremamente negativas em relação ao Ocidente, a partir dos traumas históricos do período colonial e do pós-colonial, a Rússia joga com isso muito ativamente, usando o sentimento de massas (...) “ É usada uma retórica que a União Soviética utilizou durante todos aqueles anos, ou seja, a libertação da opressão e exploração colonial. Não importa o que está por trás disso, o importante é o lema. E esses lemas se encaixam muito bem na visão de mundo bipolar, da percepção da realidade e entendimento do Ocidente na África”.

A partir da análise dos fatos há muito a se considerar e analisar: os interesses ocidentais em conter os grupos islâmicos terroristas na África e tentando evitar mais grandes grupos migrando deste continente para a Europa; o interesse francês na exploração de urânio do Níger, considerando a importância deste minério para sua indústria nuclear; o medo de França e Estados Unidos em ver a Rússia se tornando um polo atrator para países africanos utilizando poder econômico e seu braço armado, o Grupo Wagner; os interesses da Rússia em expandir sua esfera de influência pelo mundo; os interesses financeiros do Grupo Wagner; as questões étnicas, econômicas, sociais e políticas do Níger.

Quais as consequências de uma intervenção no Níger? Haveria condições sociais e políticas de se restabelecer o governante anterior? Uma guerra no Níger poderia atrair a ajuda de outras nações como Burkina Faso, Guiné e Mali para os militares nigerinos? E o enfraquecimento do exército nigerino regular proporcionaria a chance que grupos terroristas islâmicos ganhassem força?  A ação do Grupo Wagner não seria um tipo de intervenção militar? Talvez fosse melhor realizar novas eleições no Níger. A meu ver é preciso os países africanos procurarem se fortalecer perante nações estrangeiras, superando diferenças políticas e culturais, e juntos enfrentarem a ameaça de grupos extremistas, procurando também recorrer mais à diplomacia que à guerra para resolver questões entre Estados. Os exemplos da Síria, da Líbia, do Iemen, do Sudão e do Afeganistão estão aí para mostrar os riscos de guerras que podem levar a fragmentações territoriais entre grupos étnicos e religiosos, criando ódios entre etnias, sujeitando civis a horrores, podendo haver a existência do autoritarismo religioso como houve em partes da Síria e do Iraque por parte do Estado Islâmico. As outras nações fora da África  também precisam respeitar a autonomia deste continente. Tanto as ocidentais, como as demais.

É preciso analisar bem todo o contexto. Evitar que a situação se deteriore e fazer o possível para que se melhore as condições sociais. O mundo já vive uma crise ambiental. Urge que as nações mundiais se voltem para o objetivo de evitar precocemente a extinção da espécie humana devido às ações destrutivas do meio ambiente e ao rápido esgotamento de recursos naturais. Mais guerras trarão mais mortes, destruição e mais sofrimento e, possivelmente poderão até mesmo interferir nos esforços que estão sendo feitos nas causas ambientais, pois guerras afetam pessoas e a natureza, além de desviarem as nações do objetivo que deve ser considerado como prioritário que é de salvar a espécie humana da sua possível aniquilação daqui a poucos séculos pelo esgotamento do planeta e ao mesmo tempo procurar dar aos habitantes atuais da Terra melhores condições de vida.

 Para assistir:

Níger, a batalha pelo urânio

 https://www.youtube.com/watch?v=joZQMeLBP_A

 

 Golpe no Níger vira palco de disputa geopolítica entre Rússia e Ocidente‌

https://www.youtube.com/watch?v=Zy7zM1g-36Y&t=9s

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

 

 

Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&sca_esv=556658825&q=mapa+do+niger&tbm=isch&source=univ&fir=XEPEGia7b7_QXM%25252CCPLFq2ZhQQ_rNM%25252C_%25253B-Bzrx6gM_f1HKM%25252C_iFspEisQ8KY6M%25252C_%25253B6_kcz_0X3K7XjM%25252CawceL97bB-


segunda-feira, 7 de agosto de 2023

O compositor Uruguaio Gerardo Matos Rodriguez autor da música La cumparsita

 


 

Em 25 de abril de 1897 nasceu em Montevidéu, no Uruguai, o compositor , pianista, maestro e jornalista Gerardo Hernán "Becho" Matos Rodríguez.  Ele estudou arquitetura na Escola de Matemática de Montevidéu. Ficou famoso por ter composto o tango mais conhecido e difundido do mundo: La cumparsita. Seu pai era Emilio Matos, dono do cabaré "Moulin Rouge", em Montevidéu.

No ano de 1916, Gerardo Matos, então com 18 anos, ainda estudante de arquitetura, compôs uma marcha para um grupo da Federação de Estudantes do Uruguay, com a finalidade de desfilar no carnaval de 1917. Foi o pianista argentino Roberto Firpo, muito conhecido na época e que se apresentava no  "Cafe La Giralda" da "Plaza Independencia" de Montevidéu que foi procurado em 8 de Fevereiro de 1916 pelo amigo de Gerardo,  Manuel Barca que levou a partitura  para que fosse feito um arranjo. Foi Firmo que transformou a marcha em um tango. A música original tinha duas seções e Firmo acrescentou uma terceira tirada de seus tangos "La gaucha Manuela" e "Curda completa e mais uma parte da canção "Miserere" de Giuseppe Verdi, da ópera Il trovatore. Na mesma noite Roberto tocou “La Cumparsita” e a repetiu três vezes. Depois desse fato, Firpo gravou a canção em Novembro de 1916 para a Odeon Records: Odeon release número 483. Foram convidados outros músicos para acompanhar Firpo nessa gravação.

La cumparsita é considerado por especialistas como o o primeiro tango, por sua influência que teve nas futuras composições de tango que ainda estava se afirmando como um gênero musical. La cumparsita  significa a foliã que participa de uma comparsa. Tornou-se um dos hinos do tango. Tendo recebido uma letra feita por Pascual Contursi e Enrique Maroni, em 1924, sendo gravado por Carlos Gardel, cantor argentino que se tornou muito famoso. O tango recebeu o título de Si supieras. Porém houve um conflito judicial com Gerardo Matos Rodriguez que não tinha dado autorização para se colocar letra em seu tango. O nome original foi mantido, mas a letra acabou ficando incorporada à música.  

La cumparsita foi regravado por Gardel em 1927 e também foi gravado por Tito Schipa na década de 1930. Outros tangos compostos por Matos Rodrigues foram Che papusa oíMocositaTe fuiste ja jaLa muchacha del circo e El rosal, que foram gravados por Gardel.

Gerardo Matos foi viver em Buenos Aires e em Paris. Foi cônsul uruguaio na Alemanha e colaborador na música do filme Luces de Buenos Aires rodado em Joinville, França. O filme tinha como ator principal Carlos Gardel.

Gerardo também foi compositor para peças de teatro estreadas em Buenos Aires como El Gran Circo Rivolta, de autoria de Manuel Romero. Depois em Montevidéu Gerardo Rodrigues teve sua própria orquestra de tango por pouco tempo.

Gerardo Matos Rodriguez faleceu em 25 de abril de 1948, aos 51 anos, em Montevidéu. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Central de Montevidéu.


Sugestão para assistir:

La Cumparsita Tango - Gerardo Matos Rodriguez - Tango Dancers

 https://www.youtube.com/watch?v=NY0MLG-IrSU

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+gerardo+matos+rodriguez&tbm=isch&source=univ&fir=e7JqBIG


Diante do Tempo

 



                                                                                                       O Tempo.

O tempo não é um predador,

Ele não tem o calor

Linda dama,

Que os teus olhos transmitem,

Nem tua graça.

Ele não ama,

Não fica triste,

Nem odeia,

Não tem ideias.

Apenas passa...

Existe!

Não é ele que faz

Ou traz

Desgraça.

O que ontem viste,

Passou,

Ficou na memória.

Quem nos fala dos fatos passados

Das civilizações?

Clio,

A deusa da História.

Ah! Lindas canções,

Que falam do tempo.

Grandes nações

E impérios,

Tiveram suas glórias,

Seus ocasos.

O tempo dá seus longos passos,

É um rio

Do infinito.

Em um sonho bonito,

Viajo no tempo e no espaço,

Mas como tudo na vida

Eu passo.

Por isso te digo querida,

Há tempo de uma flor,

E o de uma tartaruga centenária.

Lembro que o poderoso Crasso,

Queria,

Ser imperador,

Para sucumbir depois em completo fracasso!

O tempo é um bebê sugador

Sugando o leite do seio da eternidade.

Se houve um grande amor,

Temos saudade,

Dos bons momentos,

Lembranças vem como um vento,

Na passagem da manhã para a tarde.

O tempo não dorme,

Não tem sentimento,

Não é por maldade

Que nos consome.

Tem fome,

Agora

E sempre.

Nos tempos de outrora,

Havia cavalos nas guerras,

Hoje há mísseis,

Drones.

Quando os tempos não foram difíceis?

Quando houve só paz entre os Homens

Na Terra?

O camponês semeia a terra,

E espera...

Põe-se o sol,

Atrás da serra,

Uma tarde se encerra.

Sou o girassol,

Que louva a beleza da rosa,

Que reina linda e majestosa,

Exalando uma fragância suave,

Gostosa.

Moça bela,

Que a temperatura não seja tão quente,

Nem a chuva tão potente.

Melhor fechar a janela!

Que a intempérie ainda que poderosa,

Seja breve.

Que haja tempo de plantar e colher,

Que a colheita seja generosa,

Que meu beijo a brisa leve.

Uma coruja pousou de repente,

Em teu colo,

Misteriosa,

Dizendo para o mundo todo,

Que não  basta lançar a semente,

É preciso também cuidar bem do solo!

A coruja não mente,

Entretanto quem for tolo,

Pensa tanto,

E não entende!

Márcio José Matos Rodrigues


 Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+um+beb%25C3%25AA+sugando+o+seio