segunda-feira, 29 de novembro de 2021

História do milho

 




O meu último artigo de novembro de 2021 é sobre o milho. O milho é um cereal que é cultivado em muitos lugares do mundo e pode ser usado como alimento para os seres humanos ou como ração para animais. Pertence ao grupo dos angiospermas (que produz as sementes no fruto). Antes se pensava que o milho tinha como antecessor o teosinto. Mas os cientistas Magelsdort e Reeves fizeram estudos e apresentaram provas de que o teosinto é resultado de uma hibridação do milho.

Sobre a origem do milho, surgiu provavelmente no México, pois a domesticação do milho começou há milhares de anos, entre 7500 a 12.000 anos atrás na parte central do México. A origem da palavra milho vem do latim vulgar milium, originando-se o termo no numeral mil, por causa da considerável quantidade de grãos em uma espiga. Na língua castelhana é chamado mijo e na língua portuguesa foi chamado de milhete ou painço.  Também para o milho há o termo maís que se originou na língua dos Tainos da ilha de Hispaniola, o que levou ao termo em língua portuguesa maisena, que vem do milho. No século XVIII o milho tinha as denominações milho zaburromilho grandemilho graúdomilho maísmilhãomilho grosso e milho de maçaroca. No Brasil os indígenas de língua tupi chamavam o milho como avatiauatiabati etc.

O milho em estado puro ou como ingrediente de outros produtos destaca-se como fonte energética, sua casca é rica em fibras e o grão possui carboidratos, proteínas e vitaminas do complexo B. Possui também quantidades consideráveis de açúcares e gorduras. Hoje em dia há muita mecanização no cultivo do milho. Ele tem um alto potencial produtivo, tendo tido uma produção mundial de 817 milhões de toneladas em 2009. Os Estados Unidos são atualmente o maior produtor do mundo, com quase 50% da produção mundial. Também se destacam como grandes produtores: A China, a Índia, o Brasil, a França, a Indonésia e a África do Sul.

A estudiosa Mary Poll, em uma publicação na revista Proceedings of the National Academy of Scienes, disse que datam de há 7300 anos os primeiros registros do cultivo do milho, encontrados em ilhas pequenas no litoral do México. Na caverna Guila Naquitz, no Vale de Oaxaca, foram encontrados vestígios arqueológicos de milho, por volta de 6250 anos atrás. O nome de origem indígena caribenha queria dizer “sustento da vida”. Civilizações importantes da América como Olmecas, Maias, Astecas e Incas utilizaram o milho como alimento básico. Tais povos faziam homenagem ao milho em suas artes e religiões.  Para Astecas, Toltecas e Maias foi o deus Quetzalcóatl que originou os homens e o milho para alimentá-los. Determinadas variedades selvagens de milho foram transformadas progressivamente em plantas cultivadas devido a processos de mutação e seleção natural em conjunto com os indígenas americanos.

Segundo Scheryem Plantas úteis para o homem: “(...) As autoridades não estão de acordo quanto ao lugar de origem do milho, no entanto a maioria coincidem em que se estende desde o centro dos Andes, no noroeste da América do Sul, e por acaso (mais tarde), desde o outro centro, ao norte da América Central e México. Há outra teoria sobre a possibilidade de que o milho possa ter cruzado o Pacífico tropical, desde a área de Burma, com os navegadores, para começar a sua carreira espetacular desde a costa Peruana. É possível que nunca saibamos como foram os verdadeiros começos desta importante gramínea, mas desde os tempos históricos que a vemos progredir rapidamente até aos nossos dias, em que o mundo depende de muitos milhões de toneladas de um cereal que não pode existir sem ser cultivado.»

Os indígenas americanos plantavam milho em montes por meio de um sistema complexo. De início havia uma variação de espécies de milho, mas depois passou a ser plantada uma única espécie. A partir da chegada dos europeus no final do século XV, omilho passou a ser plantado em outros locais fora da América. Na América do Sul ainda há muito plantio no sistema tradicional chamado no Brasil de roça. No Brasil o consumo do milho é significativo, porém é menor que o que existe no México e em países caribenhos.

Povos indígenas da América criaram lendas sobre como o milho passou a fazer ser um alimento para eles. Para povos mexicanos antigos antes da época atual houve quatro épocas anteriores. Segundo essas crenças, o fim da cada uma dessas quatro era marcado por cataclismas. Quando começava uma nova época havia uma evolução dos seres vivos, comparando-se a época anterior. O deus Quetzalcóatl, ajudado por larvas e abelhas, conseguiu roubar os ossos de gerações passadas que estavam na Terra dos Mortos, que era vigiada por Mictlantecuhtli, o Senhor dos Mortos. Quetzalcóatl então teria sido ajudado pela deusa da fertilidade chamada Quilaztli, moendo os ossos, colocando-os numa taça e cobrindo-os com o sangramento de partes de seu corpo. Surgem assim Oxomoco e Cipactónal, que seriam o Adão e a Eva para esses povos americanos. Era preciso haver um bom alimento para eles. E foi assim que a formiga negra, conhecedora da existência do milho, ajudou Quetzalcóatl a encontra-lo.

Povos antigos do México consumiam o Atolli (espécie de mingau) que era feito principalmente de milho. Havia o xocoatolli, um mingau de milho que era alimento do povo Quaquata, do México.  Era feito com milho vermelho da região. Quando os europeus chegaram na América, o milho era cultivado em uma extensão da América do Norte até a América do Sul. Os nativos da América do Norte e os dos Andes utilizavam o milho como cereal. Os indígenas que viviam em áreas de florestas usavam o milho para consumo imediato. Era o milho verde que era cozido ou assado. Havia também em áreas da América do Sul e Antilhas a farinha de milho e a bebida fermentada chicha . Milho era para muitos povos americanos associado à vida. Além de ser comido por diversos desses povos cozido e assado, também era moído, fazendo-se bolos e pães, assim como o milho foi usado para fazer pipoca.

Entre os usos do milho por indígenas brasileiros, pode-se citar os Caiabi, na região do atual Mato Grosso. Eles preparavam um mingau de milho, no qual os grãos tinham sido pilados, peneirados e se cozia a farinha com mandioca-doce, com acréscimo de amendoim torrado e moído. Também esse povo fazia um mingau com farinha de milho seco, cozida por bastante tempo na água e ao esfriar se colocava batata-doce. Faziam também mingaus de milho verde e farinhas de milho verde e do seco. A de milho seco tinha o acréscimo de amendoim torrado e pilado, como também farinha de mandioca, sendo uma farinha consumida com peixe ou carne de caça.

Os indígenas do litoral paranaense usavam a quirera (milho moído), a pamonha e a pipoca, todos derivados do milho. No Pará os Arawé consumiam muito o milho, especialmente como farinha de milho, paçoca, cauim, mingau de milho verde e mingau doce. Para esse povo a roça de milho era mais importante que a de mandioca. Também no Pará, os Paranakã comiam milho assado e os Xicrim consumiam um mingau de milho parecido com a pamonha, como também milho torrado com banana, peixe ou carne. Os Guarani que viviam em São Paulo comiam milho assado ou cozido e também como bolo.

Indígenas venezuelanos utilizavam o milho na alimentação e também como isca para pegar macacos . Os macacos iam roubar as espigas de milho, alguns eram atingidos por flechas e serviam de comida para os indígenas.

Índios norte-americanos usavam como uma parte de sua alimentação o milho, o feijão e a abóbora. Havia tribos do Canadá que cultivavam mais de quinze espécies de milho e com esse eram preparadosbolinhos, pães, sopas. Ao milho também eram adicionados feijões, carne, farelo de girassol, nozes. Havia também o pão de milho, feito com milho moido , feijão e nozes secas. Outra comida desse povo era um cozido feito com milho e feijão.

Existiam festas dos indígenas norte-americanos no início da colheita do milho. Tais festas duravam vários dias. Os Creek consideravam o início do amadurecimento do milho como o início do Ano Novo. Os Hurons faziam um tipo de canjica e tribos do sudoeste do Canadá faziam uma farinha grossa de grãos de milhos torrados e moídos, que muitas vezes era misturada com ervas e temperos. Essa farinha era o pinole. Havia tribos dos Iroqueses que cozinhavam o milho com carne, feijão e vegetais. Os Pueblos faziam um tipo de tortilha de farinha de milho, cinza de madeira e água. Uma tribo do nordeste dos atuais Estados Unidos, os Wampanoag, cultivavam tipos diferentes de milho: o negro, o branco, o amarelo, o azul, o bege, o esverdeado etc. Esse povo também aproveitava, além do grão para alimento, a palha, que era usada para fazer cestos, esteiras, bonecas e o sabugo era usado como dardo de jogos, chocalho e combustível. Diversas outras tribos da América do Norte utilizavam o milho de diferentes formas.

Na Europa, o milho do tipo que os indígenas americanos conheciam, não existia antes das grandes navegações que começaram no final do século XV. Mas na Antiguidade havia, segundo alguns autores antigos como Plínio, o Velho, um milho miúdo (milium) e o milhete (panicum) que eram consumidos entre os etruscos. Na Idade Média também havia menções ao milhete e ao milho miúdo. Foi a partir de Colombo, quando participantes da expedição dele em Cuba conheceram o milho, que este chegou à Europa. Historiadores de renome chamaram as Américas de Civilização do Milho. Na Europa o milho rapidamente começou a se espalhar. Os portugueses o levaram para ser cultivado na África. Posteriormente os europeus o introduziram na Ásia.

Na Idade Moderna o milho foi de início consumido entre as pessoas mais humildes. Os nobres e a burguesia tinham discriminação em relação ao milho, encarando-o como ração para animais. Somente décadas após o milho já estar sendo consumido pelos mais pobres é que a elite europeia também passou a usar o milho para consumo próprio. Os pobres usavam o milho em especial como farinha para sopas, papas e guisados. Mas na Itália o milho superou o uso dos antigos milhete e milho miúdo e foi introduzido na culinária italiana, surgindo a polenta. Já os franceses aderiram ao consumo do milho vindo da América a partir do século XVII e criaram uma iguaria chamada de milhade ou millase. O uso cada vez maior do milho e da batata nos séculos XVIII e XIX contribuiu para um aumento da produção de alimentos para centros urbanos da Europa que ficavam cada vez mais povoados, principalmente após as revoluções burguesas.

No Brasil o milho antes da chegada dos portugueses já era muito usado como alimento por povos nativos, embora o principal uso da maioria dessas populações fosse a mandioca. Não demorou muito para que os portugueses começassem a usar o milho na alimentação para animais e depois também para consumo humano. Segundo Câmara Cascudo, já no século XVII: “o milho dava bolos, havendo ovos, leite, açúcar e a mão da mulher portuguesa para a invenção”.  O milho no Brasil passou a ser usado em sobremesas e com a influência italiana, surgem as polentas. Atualmente há muitos usos para o milho no Brasil e em outros países, sendo usado em diversos pratos e também há o óleo de milho, a farinha de milho, o xarope de milho, bebidas destiladas etc.

Uma discussão do mundo de hoje diz respeito ao milho transgênico. A variedade RR GA21, que é tolerante ao herbicida glifosato, é a variedade de milho geneticamente modificado mais conhecida. É muito usada nos Estados Unidos. Outras empresas que usam milho transgênico são a Syngenta, a BASF, a Bayer e a Dupont. Em 1999 o governo brasileiro autorizou a empresa Novartis a realizar testes no país com a variedade de milho transgênico BT, resistente a insetos. Tem havido em certas partes do mundo um aumento considerável na produção do milho transgênico. Nos Estados Unidos mais de 70% do milho semeado é transgênico. Há críticos que se opõem ao milho transgênico. Um dos argumentos de quem defende o milho transgênico é o aumento médio de produtividade e também dizem que o milho que existe atualmente  tem sido modificado no decorrer dos últimos séculos, pois o milho original dos indígenas tinha espigas pequenas, com grãos faltando e muito suscetível a doenças e pragas. Os críticos não consideram seguro para o consumo de seres humanos e para o meio ambiente o milho que passou por modificação genética, pois o milho geneticamente modificado recebeu DNAs de um ou mais seres que naturalmente não se cruzariam e segundo esses críticos, pode haver sim danos à saúde (como alergias, riscos de câncer etc) e interferências nocivas à natureza, pois pode haver contaminação, por exemplo, de variedades tradicionais por elementos transgênicos.

Atualmente também outro uso do milho tem sido a produção de etanol, principalmente nos Estados Unidos. Segundo estudiosos, em comparação com a cana de açúcar, o milho produz mais etanol, porém é preciso uma área maior para o plantio.

 “A Lenda Do Milho

Há muito tempo, muito antes do homem branco tocar os pés no novo mundo, em uma selva da América do Sul, havia uma tribo indígena que estava passando por muitas dificuldades.

Não havia alimentos, e na mata começaram a sumir os animais. Nos rios e nas lagoas, dificilmente se via a o movimento de um peixe.

Na mata não haviam mais frutas, nem por lá apareciam caças de grande porte: onças, capivaras, antas, veados ou tamanduás.

No ar do entardecer, já não se ouvia o chamado dos macucos e dos jacus, pois as fruteiras já tinham secado.

Os índios, que ainda não cultivavam nada, estavam atravessando um tempo de sofrimento.

Nas tabas tinha desaparecido a alegria, fruto da fartura de outros tempos e em suas ocas, os índios não eram menos tristes.

Os velhos, desconsolados, passavam o dia dormindo nas esteiras e redes, à espera de que o Grande Espírito  lhes mandasse um pouco de mel.

As mulheres da tribo formavam roda no terreiro e lamentavam a pobreza em que viviam.

Os curumins cochilavam por aqui e ali, tristinhos, de barriga vazia.

E os varões da tribo, não sabendo mais o que fazer, batiam pernas pelas matas, onde já não armavam mais os laços, mundéus e outras armadilhas. E eles se perguntavam:

— Armá-las para quê?

Os rastros de caça, o tempo havia desmanchado todos, pois estes datavam de outras luas, de outros tempos mais felizes.

Tabajara era um velho índio muito bondoso e querido pelo seu povo, era o Cacique da tribo, e estava preocupado e sofrendo com tudo que estava acontecendo.

O velho Cacique, orou ao grande espirito e pediu uma iluminação e que sua vida fosse seu sacrifício para livrar seu povo de tanto sofrimento, e em um sonho o grande espirito lhe mostrou como deveria fazer para que a tribo fosse libertada do mau que à assolava.

Tabajara ao despertar de seu sono reuniu os homens de sua tribo e disse que sua morte estava próxima, e completou dizendo aos presentes:

— Não chorem minha morte, alegrem-se, enterrem meu corpo numa cova bem rasa. Cubram-me com palha seca e pouca terra. Esperem vir o sol e a chuva, e três dias depois, surgirá de minha cova uma planta bem viçosa, que após algum tempo produzirá muitas sementes. Quando virem a planta crescer e as lindas espigas aparecerem, não as comam, guardem-nas e plantem as suas sementes. Será o alimento para toda tribo sempre.

A saúde do Chefe índio estava fragilizada pela idade e pela escassez vivida por todos, não tardou o que ele previu, e pós a morte de Tabajara, seu povo fez conforme ele havia determinado.

Sobre a cova do velho guerreiro, surgiu uma linda planta com belas espigas cheias de grãos dourados e suas folhas compridas lembravam a lança do Cacique Tabajara

Sua flor vistosa parecia o cocar do chefe índio e a tribo descobriu que sua espiga era um delicioso alimento.

Os índios ficaram contentes e agradecidos ao grande espirito, então a tribo passou a cultivar o milho com muito carinho e prosperaram, a caça, a pesca e as frutas voltaram a ser abundante nas matas. E assim surgiu o milho, diz a lenda.”

https://www.espacoeducar.net/2014/08/folclore-atividade-lenda-do-milho-com.html

Adaptação: André Souza

 

 

A Festa do milho

O sertanejo festeja
A grande festa do milho
Alegre igual á mamãe
Que ver voltar o seu filho
Em março queima o roçado
A dezenove ele planta

A terra já está molhada
Ligeiro o milho levanta
Dá uma limpa em abril
Em maio solta o pendão
Já todo embonecado
Prontinho para São João

No dia de Santo Antônio
Já tem fogueira queimando
O milho já está maduro
Na palha vai se assando
No São João e São Pedro

A festa de maior brilho
Porque pamonha e canjica
Completam a festa do milho

Luiz Gonzaga

https://www.letras.mus.br/luiz-gonzaga/1560731/

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura:https://www.google.com/search?q=imagem+de+milho&sxsrf=AOaemvLujZMok3vjeAv6npdn-XaQI6HUoA:1638243018172&tbm=isch&source


quarta-feira, 24 de novembro de 2021

O escritor russo Dostoiévkski

 





Em 11 de novembro de 1821 nasceu em Moscou, no Império Russo, o escritor, tradutor, filósofo e jornalista russo Fiódor Mikhailovitch Dostoiévkski. Foi um grande romancista, pensador e investigador da psiquê humana.  Influenciou diretamente a Literatura, a Teologia e a Psicologia. Foram produzidas obras de cinema com base em trabalhos literários dele. Ele influenciou filósofos como Nietzsche, Camus e Sartre. Na literatura influenciou autores como James Joyce, André Gide e William Faulkner.

Foi considerado precursor dos movimentos nietzscheanismo, psicanálise, expressionismo, surrealismo e existencialismo. Suas obras apresentam as seguintes características: crítica sociopolítica; análise psicológica; monólogo interior; conservadorismo; prolixidade; caráter descritivista; personagens marginalizados; nacionalismo; ausência de idealizações; profundidade filosófica.

Formou-se em engenheiro e depois se voltou para seus trabalhos como escritor, tendo escrito romances, contos, novelas, memórias, material jornalístico e críticas. Teve também suas próprias revistas nas quais foi editor e foi ativista político. Nas suas obras literárias escreveu sobre o sofrimento e a culpa, a questão da escolha, o cristianismo, o racionalisno, o niilismo, assassinato, pobreza, violência, altruísmo etc. Também analisou em suas obras certos transtornos mentais e sua relação com o isolamento, a humilhação, o sadismo e o masoquismo. Seus escritos foram chamados de romances filosóficos e romances psicológicos.

O primeiro romance de Dostoiévski, Gente Pobre, foi elogiado por Vissarion Belinski, crítico russo de literatura. Mas esse mesmo crítico não gostou do segundo livro do autor, O Duplo. Outros críticos também fizeram observações negativas na época em relação a essa obra, que é hoje em dia muito famosa e foi reinterpretada literária e cinematograficamente. Tais críticas naquele momento foram prejudiciais à imagem do escritor, que esteve em uma prisão da Sibéria, acusado de tramar contra o czar. Quando saiu da prisão Dostoiévski escreveu a obra semi-biográfica Recordações da Casa dos Mortos, sobre o tempo que passou na prisão. Outras obras de sucesso do autor foram Crime e CastigoO Idiota e Os Demônios e sua maior obra foi escrita em seus últimos anos de vida: Os Irmãos Karamazov.

Os pais de Fiódor Dostoiévski eram Mikhail Dostoiévski e Maria Dostoiévskaia. Os pais dele não eram de classe rica. O pai era médico militar, de personalidade autoritária e exigente. A mãe era dona de casa. Os pais dele tinham certas dificuldades financeiras e o pai possuía um passado ligado a algumas tradições aristocráticas, embora ele tenha se desligado de tais tradições. Desde a infância Fiódor e seus irmãos estudavam literatura e a área de humanidades, como também foram criados no cristianismo ortodoxo. A mãe de Dostoiévski morreu em 1836 de tuberculose, o que influenciou o pai ao alcoolismo e aumentou seu jeito rígido. O pai de Dostoiévski pode ter sido assassinado em junho de 1839 por empregados seus em sua propriedade rural, mas não se tem certeza até hoje sobre isso.

Dostoiévski estudou na Academia Militar de Engenharia de São Petersburgo e além de estudar assuntos militares e sobre engenharia realizou estudos sobre obras de autores como Victor Hugo, Balzac, George Sand e Eugene Sue. Também leu obras do poeta romântico alemão Friedrich Schiller, obras que o influenciaram. 

Dostoiévski a partir de agosto de 1841 passou a morar com amigos e com o irmão Andei. Nesse tempo escreveu partes de duas peças românticas, mas das não se tem nenhum vestígio hoje em dia. Em 1843 ele se formou como engenheiro. Seu romance epistolar Gente Pobre foi bem aceito pela crítica literária. Foi publicado em 1846 no Almanaque de Petesburgo. O crítico russo Belinski revelou na época que Dostoiévski era a mais nova revelação do cenário literário do país. Para ele esse romance escrito por Dostoiévski era a primeira tentativa do gênero realista na Rússia.  Outras obras dessa época foram O Duplo; os contos Senhor Prokhartchin ,Romance em Nove Cartas , Polzunkov , A Senhoria, Coração Fraco, O Ladrão HonestoUma Árvore de Natal e uma BodaA mulher alheia e o marido debaixo da camaNoites BrancasNetochka Nezvanova. Todas essas obras tiveram críticas negativas de especialistas literários russos. 

Após terminar o curso de Engenharia, Dostoiévski esteve em contato comgrupos de intelectuais russos, entre eles o Círculo Petrashevski (voltado à discussão sobre literatura e humanidades) e o Círculo Palm-Durov (no qual participavam revolucionários). Por sua participação no Círculo Petrashevski, Dostoiévsk foi preso e enviado para a Sibéria. Ele foi detido na noite de 22 a 23 de abril de 1849 como conspirador. Havia na Rússia todo um rigor relacionado a organizações clandestinas depois da eclosão das revoluções de 1848 na Europa. O grupo Petrashevski não foi considerado revolucionário pelas autoridades, mas havia membros do mesmo que eram visados como sendo revolucionários, como Dostoiévsk. O escritor passou oito meses preso na Fortaleza de São Pedro e São Paulo. Somente um obra sobrou das que ele escreveu na época: O Pequeno Heroi. Houve uma investigação ordenada pelo czar e 28 acusados foram julgados por um tribunal civil e militar. Apesar de condenado a ser fuzilado, Dostoiévski e outros investigados pegaram penas menores. O escritor foi condenado a oito anos de trabalhos forçados, pena reduzida para quatro anos seguida por outra pena de serviço militar. Mas ele e outros prisioneiros foram levados a um lugar onde seriam executados. Antes da ordem de fuzilamento uma ordem do czar chegou dizendo que a pena seria convertida em trabalhos forçados. O escritor foi mandado para a Sibéria. Nessa época ele sofreu seu primeiro ataque de epilepsia. Em livros seus há personagens que são atingidos por essa doença. 

Foi somente em 1854 que o autor deixou a Sibéria e passou a cumprir pena de serviço militar. Ele foi cumprir pena no exército russo no Sétimo Batalhão do Corpo Militar da Sibéria. Por esses tempos o escritor se apaixonou por Maria Dmitriévna, que era casada, mãe de um filho e que sofria de tuberculose. Maria mudou para outra cidade e se correspondia com Dostoiévski. Em 1855 o marido dela morreu e em 7 de fevereiro de 1857 ela e Dostoiévski se casaram. Ele teve um crise de epilepsia na noite de núpcias.

No início de 1859 Dostoiévski foi dispensado do exército para tratamento de sáude. Como ele estava proibido de morar em São Petersburgo e em Moscou, foi para Tver. Dostoiévski antes da condenação acreditava ingenuamente que podia liderar os servos como um igual. Vendo que não conseguia ser considerado igual por eles, passou a ter repulsa pelos mesmos no período que esteve preso e em um momento posterior passou a ter fé na moral dos servos, cristãos ortodoxos, acreditando que eles eram seres humanos capazes de infinito amor e de infinito mal. Foi uma conversão dele em um sentido existencial e religioso.

Entre 1857 e 1859 Dostoiévski escreveu dois contos cômicos: O Sonho do Tio e Aldeia de Stiepantchikov e Seus Habitantes. Em dezembro de 1859 conseguiu voltar para São Petersburgo com sua esposa e o enteado. Não tinha mais os contatos culturais de antes. Mas na ocasião não fazia mais oposição ao czar, pois o czar que estava no poder, Alexandre II, se propunha a libertar os servos, medida que o escritor e outros membros dos círculos intelectuais russos eram favoráveis. Também sua inclinação religiosa passou a leva-lo para uma posição simpática ao czar. A libertação dos servos ocorreu em fevereiro de 1861, porém os servos não ficaram bem de vida.

Dostoiévski publicou a obra Recordações da Casa dos Mortos após sua volta à São Petersburgo. Foi uma obra autobiográfica que teve muito sucesso e que foi baseada nas experiências dele como prisioneiro. Tolstoi, outro grande escritor russo, considerou essa obra de Dostoiévski como o melhor livro da literatura moderna. Um capítulo esquecido foi encontrado em 1922 nos arquivos do governo russo. No capítulo havia algo diferente em relação às obras anteriores do autor, que seria um dos temas de outras obras grandiosas dele: a liberdade humana como bem supremo.

Mikhail, o irmão mais velho de Dostoiévski, publicou com sucesso a revista literária Tempo, na qual ele e Dostoiévski eram editores. A proposta política da revista era a fusão de ocidentalismo com eslavofilia. Assim representava um novo movimento na literatura russa: o Potchvennichestvo. Outros mebros importantes além de Dostoiévski eram Strakhov e Grigoriev. Nesse movimento existia a crença de que os escritores deveriam se importar de imediato com a síntese cultural pacífica entre os chamados “bem educados” e a massa (maioria do povo) na Rússia. Nessa revista Dostoiévski também publicou traduções, resenhas, comentários e alguns estudos. Um desses estudos foi sobre o escritor norte-americano Edgar Alan Poe.

Outra obra de Dostoiévski foi o romance em folhetim Humilhados e Ofendidos, seu primeiro romance após a sua chegada da Sibéria. Foi uma obra de sucesso. O romance foi publicado por partes na revista Tempo a partir de 1861. O autor passou desde essa obra a usar a dramatização da contraposição entre liberdade e racionalidade em suas obras. Foi nesse tempo que ele começou a frequentar o grupo voltado para a literatura que promovia encontros na casa de Miliukov, um ex-membro do grupo Palm-Durov.

Dostoiévski em junho de 1862 viajou para a Alemanha, Bélgica, França e Inglaterra. Foi nesse período que estava viajando que ele se viciou no jogo de roleta, jogo no qual passou a se envolver durante suas viagens. Quando voltou dessas visitas a esses países citados ele publicou Uma Historia Desagradável , no fim do ano de 1862. Sua última obra de destaque publicada na Tempo foi Notas de Inverno sobre Impressões de Verão, sobre sua viagem ao ocidente europeu. Nesse mesmo ano o escritor se apaixonou por Paulina Súslova, de 16 anos. Mas quando sua esposa morreu e ele a pediu em casamento, ela recusou.

O governo russo cessou a sua autorização para a revista Tempo funcionar em maio de 1863. Diante dessa situação, Dostoiévski e seu irmão fundaram uma nova revista: a Época. A linha editorial dessa revista era a mesma da anterior. Nessa revista Dostoiévski publicou Notas do Subterrâneo. Essa obra foi o início das chamadas grandes obras do autor. Na obra havia a mensagem de que deve haver a liberdade humana como uma necessidade. Quando escreveu essa obra, o escritor estava passando por um momento de angústia, por causa da doença de sua esposa Maria Dmitrievna. Ela morreu em abril de 1864. Em julho desse mesmo ano, Milkhail, irmão de Dostoiévski, faleceu. Nessa época ele escreveu o conto O Crocodilo (inacabado) e também alguns artigos. Em março de 1865 a revista Época fechou por dificuldades financeiras.

Com a morte de sua primeira esposa e de seu irmão, Dostoiévski se isola. Não publica mais revistas e não participa mais de movimentos literários. Dedica-se a partir de então só a escrever seus romances. Mas suas dívidas e seu vício em jogos lhe trouxeram angústia. Nesse tempo de isolamento ele escreveu outras grandes obras: Crime e CastigoO Idiota e os Demônios. Obras menores também foram escritas: O Jogador e O Eterno Marido. Em Crime e Castigo, seus dois primeiros capítulos foram publicados na revista O Mensageiro Russo. Dostoiévski teve tensões com seus editores que faziam pressão, solicitando correções nos textos e queriam apressá-lo. O autor teve de contratar uma estenógrafa, que foi Anna Grigorievna Snitkina, depois chamada Anna Dostoiévskaia, quando eles se casaram, em 1867. O casal viajou pela Europa a partir de abril de 1867 e ficou morando por quatro anos em outros países, tendo morado em Dresden, Genebra, Vevey, Milão,Florença e de novo em Dresden. O vício em jogo fez o escritor perder muito dinheiro nesses anos. Nesse período o casal teve uma filha que morreu com alguns meses de idade. As crises de epilepsia foram um transtorno na vida do escritor.

Entre janeiro de 1868 e dezembro de 1869 Dostoiévski publicou na revista O mensageiro russo sua grande obra O Idiota. Ele se concentrou bastante para escrever sobre o principal personagem, o Príncipe Mitchkin.  O autor escreveuessa obra com base em um tipo “Dom Quixote”, relacionado ao ideal cristão de Dostoiévski . No início de 1870 foi publicado o conto O Eterno Marido pela revista russa Dawn. O conto foi considerado “o mais bem acabado conto de Dostoiévski". O autor tinha planos de publicar uma obra imensa chamada A vida de um grande pecador. As notas do autor sobre essa obra deram origem a outras obras: Os DemôniosO Adolescente e Os Irmãos Karamazov.

A segunda filha de Dostoiévski nasceu em 26 de setembro de 1870. Nessa época o casal voltou para a Rússia. Em 16 de julho de 1871 nasceu o terceiro filho. A família se muda em 1872 para Staraia em busca de melhores condições para que as crianças fossem cuidadas. Dostoiévski se tornou editor em janeiro de 1873 da revista O cidadão. Na revista o escritor tinha a coluna Diário de um escritor. No início de 1874 Dostoiévski ficou doente do pulmão. Viajou então para a Alemanha em busca de tratamento. Na sua coluna o escritor fazia uma síntese das posições políticas daqueles tempos por meio da representação em personagens criados por Dostoiévski. Foi desse tempo que ele publicou o conto Bobok.

A última parte de O Adolescente foi publicada em 1875 na revista Notas da Pátria. A crítica literária não avaliou positivamente a obra. E nesse mesmo ano nasceu o quarto filho de Dostoiévski. Em setembro de 1875 o autor e sua família retornam para São Petersburgo. Lá ele volta a publicar sua coluna Diário de um escritor (1876 a 1877). A fama do escritor era alta na época. Em 1876 publica O Mujique Marei e Uma Criatura Gentil. Em 1877 publicou O Sonho de um Homem Ridículo. Em fevereiro de 1878 o escritor passou a ser (a convite do czar) uma espécie de tutor para os filhos Sergei e Paulo do czar. Em maio de 1878 um dos filhos de Dostoiévski morre.

 Em dezembro de 1879 foi publicada em dois volumes a obra Os Irmãos Karamazov. Em agosto de 1880 Dostoiévski voltou a publicar Diário de um escritor. Em 3 de fevereiro de 1880, foi eleito vice-presidente da Sociedade Eslava Benevolente. Na inauguração do monumento a Alexandre Pùshkin, entre 5 e 9 de junho de 1880, o escritor fez um discurso a respeito do papel da Rússia no mundo. Ele foi muito aplaudido. Mas houve críticos que não apreciaram o discurso. As críticas abalaram a saúde do escritor que não estava boa. Em 9 de fevereiro de 1881 ele veio a falecer devido a uma hemorragia pulmonar. Uma grande multidão seguiu o cortejo fúnebre.

Há  várias estátuas sobre o escritor , selos e moedas em sua homenagem e em São Petesburgo é celebrado o "Dia Dostoiévski”.

Segundo a autora Dilva Frazão:

“Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal.

Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser humano (...)”.

E ainda a mesma autora:

Em 1847, Fiódor Dostoiévski envolve-se na conspiração do revolucionário Mikhail Petrashevsky no combate ao regime de Nicolau I. É preso e condenado à morte, mas no último momento, teve a sua pena comutada em deportação.

Passou cinco anos na Sibéria, sujeito ao regime de trabalhos forçados na companhia de criminosos comuns. Passou mais cinco anos como soldado raso em um batalhão siberiano, para cumprir o restante da pena. Nessa época, casa-se com Maria Issáievna.

Anistiado em novembro de 1859, Dostoiévski​​​​​​​ volta para São Petersburgo totalmente transformado pela dura experiência. As recordações da vida no cárcere são descritas nos livros Memórias da Casa dos Mortos (1861) e Memórias do Subsolo (1864).

Em 1866 publica a obra Crime e Castigo, seu primeiro grande romance, que narra a história do estudante Raskólnikov, paupérrimo, que resolve matar uma miserável para salvar a si e sua família, mas logo se vê obrigado a matar outra pessoa, inocente, e sai sem ter roubado nada.

O jovem passa a viver da culpa pelo ato cometido. Suas conversas com o comissário de polícia destroem seus nervos. Por fim, confessa o crime a uma prostituta que lhe mostra o caminho do arrependimento e do Evangelho. A obra é uma grande reflexão existencial sobre como o ser humano se relaciona com as questões divinas.

Os Demônios, publicado em 1871, é um grande romance político, uma caricatura dos círculos de conspiradores, revolucionários, anarquistas, niilistas e ateus, que o escritor conhecia tão bem a partir da experiência própria e que ele denuncia por quererem destruir a Rússia e a Igreja Ortodoxa.

A obra foi alvo de ataques da imprensa, chegando a ser posta em dúvida o equilíbrio mental do autor.

Os Irmãos Karamázov​​​​​​​ (1880) foi a última obra de Dostoiévski e é considerada a sua obra-prima. O romance é uma verdadeira teia de personagens e a obra é permeada pelo discurso indireto, com livres reflexões do próprio autor sobre os personagens.

Mais uma vez o crime é o tema central. Uma tragédia se abate sobre a família quando o velho Fiódor ​​​​​​​Karamázov é assassinado por um dos seus filhos.

Houve quem visse na trama uma alegoria da vida intelectual russa. O velho Karamázov​​​​​​​, por exemplo, é a personificação de todos os pecados exuberantes e brutais da Rússia.

Fiódor Dostoiévski era um escritor profundamente religioso, seus romances não só abordavam questões existenciais, culpas, suicídio e estados patológicos, como tinha predileção pelo fantástico, pela sátira e pela comédia.

O escritor também não hesitava em lidar com as grandes questões políticas e religiosas.”

 

Frases de Fiódor Dostoiévski

 

 “O mais inteligente, a meu ver, é aquele que ao menos uma vez por mês se chama de imbecil.”

 “A coisa ficou tão confusa que não se pode mais distinguir o imbecil do inteligente.”

  "Depois de um fracasso, os planos melhor elaborados parecem absurdos".

 "O homem teme a morte porque ama a vida".

 "O segredo da existência humana não está apenas em viver, mas também em saber para que se vive".

“ A iniciativa deve partir dos homens de talento".

 "A pobreza e a miséria formam o artista".

 “Devemos amar mais a vida do que o sentido da vida.”

 “Tudo tem uma linha e cruzá-la é perigoso; uma vez cruzada, é impossível voltar atrás.”

 “Parar de ler livros é parar de pensar.”

 “Liberdade não é conter-se, é saber se controlar.”

 “Em um coração que ama de verdade, ou o ciúme mata o amor, ou o amor mata o ciúme.”

 “Um escritor cujas obras não fizeram sucesso, facilmente se transforma em um crítico ácido; como um vinho ruim e sem sabor que se transforma em vinagre.”

 “Quero poder falar de tudo com pelo menos uma pessoa, até comigo mesmo.”

 “Às vezes, se fala na brutalidade animal do ser humano, mas isso é incrivelmente injusto e insultante para as feras; um animal nunca poderia ser tão cruel como o ser humano, tão artisticamente cruel.”

 “Os adultos não sabem que uma criança pode dar um conselho extremamente importante até em um assunto super complicado.”

 “Não encha a sua memória com rancores para que não falte espaço para os momentos bonitos.”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura:https://www.google.com/search?sxsrf=AOaemvKrBUvhlroDG6P_REU1Z8qwDtWD6g:1637807838039&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+dostoievski&fir=V

domingo, 21 de novembro de 2021

História da Batata

 




                                       Pintura de Van Gogh: Os comedores de batatas



Retorno com este artigo a história sobre alimentos. O alimento da vez é a batata!

A batata é uma dicotiledônea. Pertence à família Solanaceae, do gênero Solanum, que contém mais de 2000 espécies.  É rica em carboidratos, sais minerais, vitamina C e  quantidades pequenas de vitaminas do complexo B.

A origem da batata (Solanumtuberosum L.) está nos Andes, na América do Sul. A batata é um tubérculo cultivado há milhares de anos. Os vestígios mais conhecidos estão relacionados a aproximadamente 8000 a . C, na região hoje correspondente ao Peru.  Há possibilidade de que o primeiro cultivo ter sido antes disso, podendo ter sido há mais de 10 mil anos. Na Antiguidade o cultivo da batata pode ter englobado territórios dos atuais países Venezuela, Chile e Argentina.  Os achados arqueológicos mais antigos de batata, assim como de batata doce cultivadas foram descobertos nas cavernas de Três Ventanas, no atual Peru, a 2800 metros de altitude, a 65 Km a sudeste de Lima. Também na cerâmica, geralmente na forma de vasos, pôde ser detectada a influência da batata, como por exemplo na Civilização de Nasca, no período entre 300 a . C e 800 d. C .

Uma espécie selvagem de batata, que não foi cultivada, foi consumida em parte do sul do Chile, em aproximadamente 13.000 a .C . Essa espécie, é a mais antiga conhecida que foi consumida por seres humanos. Pode ter sido aí o berço da batata. Nos Andes atuais há as maiores variações genéticas de espécies de batatas, com centenas de espécies selvagens e mais de 400 variedades de batatas cultivadas por indígenas. Os povos antes dos incas tiveram na batata a sua principal fonte de energia. Essa importância da batata também foi para o Império Inca e para os conquistadores espanhois. Os povos indígenas dos Andes consumiam as batatas de vários modos, como batatas amassadas, assadas, ou cozidas. Um dos pratos envolvia batatas que eram fervidas, descascadas, cortadas em pedaços, depois fermentadas, moídas em uma polpa, embebidas e filtradas em um amido chamado almidón de papa. O que dava mais sustento ao povo andino era ochuño: as batatas congelavam à noite e descongeladas pela manhã e assim amoleciam, quando então se tirava a água da batata. Com esse novo produto eram preparados guisados e também era adicionado a ensopados. O chuño pode ser guardado durante anos sem precisar de refrigeração, o que facilita a alimentação em períodos difíceis, como por exemplo quando as colheitas são fracas. Outra vantagem do chuño também possui a vantagem de ser mais facilmente transportado, fatorque era aproveitado por exércitos do Império Inca. Os espanhois o utilizaram como alimento para os trabalhadores das minas de prata. Mas no início do século XVI os europeus na América do Sul não queriam consumir as batatas. Os espanhois consideravam a batata como alimento para os nativos, especialmente os que desenvolviam atividades mais pesadas.

Com a chegada dos espanhóis à América do Sul, a batata foi para a Europa na segunda metade do século XVI. Pode ter começado essa entrada em terras europeias em dois países: a Espanha e depois nas Ilhas Britânicas. Foi encontrada em 28 de novembro de 1567 a primeira menção escrita à batata, em um recibo de entrega, entre Las Palmas e Antuérpia. A batata foi introduzida nas Ilhas Canárias por volta de 1562.

O cronista espanhol Juan de Castellanos relatou nas suas Elegias (1601) relatou como as batatas passaram a ser conhecidas pelos europeus em 1537. Ele disse que elas eram chamadas como turmas (trufas) e cultivadas pelos índios Moscas na região de Neiva (na Colombia). Tal fato se deu durante a expedição de Gonzalo Jimenez de Quesada que começou em 1535. Foi por meio dessa expedição que foi fundada a cidade de Bogotá, em 1538. Na Espanha a batata foi chamada de patata, diferente da batata-doce, que ficou lá conhecida como batata.

Em 1573 é que aconteceu o primeiro registro das batatas em território continental espanhol. O Hospital das Cinco Chagas de Sevilha relatou um uso de batatas como curativo. Podem ter começado a ser cultivadas pero de Sevilha aproximadamente em 1570. Mas eram rejeitadas para consumo humano e consideradas como adequadas só para engordar porcos. Batatas eram nesse tempo rotuladas como “flatulentas, indigestas, debilitantes, doentias...”

Foi em um hospital em Sevilha, em 1573, que a batata foi comida pela primeira vez na Europa. No final do século XVI já havia batatas na França, passando a ser cultivada no Franco-Condado, nos Vosgues da Lorena e na Alsácia.  Nesse século, pescadores bascos da Espanha usavam batatas como reserva alimentar em viagens e levaram o tubérculo para a Irlanda. O botânico CarolusClusius relatou que batatas já eram bastante utilizadas no norte da Itália para alimentar animais e também como alimento para as pessoas. O rei da Espanha Felipe II enviou batatas que tinham vindo do Peru para o papa e esse enviou para o embaixador papal na Holanda e Clusius recebeu batatas do embaixador, plantando-as em Viena,Frankfurt e Leyden.

Os exércitos espanhóis na Europa passaram a ser abastecidos com batatas e depois camponeses foram também se habituando a cultivá-las. No norte da Europa o cultivo de batatas de início era em pequenos lotes de hortas e as batatas não eram cultivadas em larga escala devido às regras de que apenas grãos fossem cultivados em campos abertos. E houve também preconceito por pessoas que achavam que a batata fosse venenosa.

A batata foi cada vez mais assumindo um lugar de importância como cultura básica no norte da Europa. Mas foi mesmo a partir dos anos 1770, com a fome que atingiu territórios europeus; a mudança de políticas de governo europeus; e a alteração do clima que afetou outros tipos de cultivo, que a batata passou a ser mais aceita. A batata só passou a ser mais cultivada em Portugal no século XVIII, em especial em Trás-os-Montes, depois indo para outras regiões como o Minho e o vale do Sado. O cultivo e o consumo da batata se generalizam na população na metade do século XIX, primeiramente entre os camponeses e só bem depois para camadas mais altas.

Houve um estudo detalhado sobre a batata pelo médico francês Antoine Parmentier e no seu "Exame químico das batatas”( Paris, 1774), mostrou que a batata tem muito valor nutricional. O rei Luís XVI da França mandou cultivar um batatal em Neuilly-sur-Seine e sua esposa Maria Antonieta chegou até a usar um ornamento feito com flores de batata em um baile.  Mesmo com os estudos de Parmentier e incentivos governamentais franceses para se cultivar batatas, havia preconceitos contra as batatas.

Diderot não se entusiasmou pela batata e na Enciclopédia explica erroneamente que a batata tinha vindo da Virgínia, na América do Norte (como tinha dito o inglês John Gerard), ainda que naturalistas desse século soubessem que a batata tinha vindo dos Andes. A batata não era ainda um alimento básico. Há o uso de batatas entre soldados franceses de Napoleão I e até na mesa do imperador, mas não há um uso generalizado no exército francês, tendo sido dito que "Um exército de comedores de batata nunca será capaz de vencer um exército de comedores de trigo". Mas em 1815 a safra anual de batata da França subiu para 21 milhões de hectolitros e para 117 milhões em 1840, o que permitiu um crescimento considerável da população francesa.

Produtos agrícolas como o nabo e a rutabaga foram em grande parte substituídos pela batata no século XIX, o século que viu a batata ser elevada como alimento mais importante que em relação a outros alimentos se destacava por ter uma menor taxa de deterioração, por ter um volume que facilmente causava a saciação da fome e preço mais baixo. O cultivo da batata foi sendo disseminado pela Europa, sendo na época um alimento de importância até a metade do século XIX, como por exemplo na Irlanda.

No Império Russo as batatas passaram a ser conhecidas por volta de 1800, mas no começo de seu cultivo ficaram restritas a hortas. No entanto, problemas sérios aconteceram com a produção de cereais em 1838-1839 e os camponeses e grandes proprietários do centro e do norte da Rússia se convenceram a plantar mais batatas em seus campos. As batatas forneciam muito mais calorias que os grãos e na Europa Oriental as batatas passaram a ser mais consumidas, sendo as batatas cozidas ou assadas mais baratas que o pão de centeio, sem precisar de moinho e com grande valor nutritivo. Mas os grãos não deixaram de ser produzidos, pois eram mais fáceis de transportar, armazenar e vender.

Na Prússia, uma nação germânica, o rei Frederico, o Grande, foi um grande incentivador do uso de batatas como alimento, mas de início houve resistência dos agricultores.  Ele emitiu em 24 de março de 1756 proclamação oficial obrigando ao cultivo de batata. Foi chamado de “rei da batata”. Durante a Guerra dos Sete Anos(1756-1763), soldados austríacos que lutaram na Prússia ao verem a importância da batata para o povo desse país começaram a defender seu cultivo quando voltaram da guerra.

A Guerra da Sucessão Bávara (1778-1779),entre austríacos e uma liga alemã, ficou conhecida como Guerra da Batata. Houve uma lenda dizendo que os exércitos que batalhavam usavam batatas no lugar das balas de canhão. Uma outra explicação, que deve ter sido  a origem real do nome popular dessa guerra, é que os combates se deram em época de colheita de batatas.

Com a batata puderam os trabalhadores das indústrias ter um alimento econômico e diário, sendo assim um fator fundamental para a Revolução Industrial. Era uma fonte barata de calorias e fácil para trabalhadores cultivarem batatas em quintais. As batatas se popularizaram no norte da Inglaterra, proporcionando um aumento da população e, consequentemente, mais operários. O estudioso Friedrich Engels disse certa vez que a batata, por ter um "papel historicamente revolucionário" era igual ao ferro.

Na Irlanda do século XIX, inclusa no Império Britânico, houve um grande aumento do cultivo da batata. As batatas eram cultivadas em pequenas parcelas de terras alugadas de ricos proprietários por camponeses pobres. Os proprietários donos das terras tinham interesse em produzir cerais ou gado e os camponeses pobres precisavam das batatas para sobreviver. Várias vezes as batatas, quando produzidas em boa quantidade, eram utilizadas também para alimentar porcos que poderiam ser vendidos por esses camponeses no mercado. Porém houve um sério problema, o tipo de cultura de batatas dos irlandeses era muito sensível a doenças. Foi assim que ainda no início do século uma praga conhecida como HERB-1começou a se expandir em cultivos nas Américas. Quando a doença chegou na Europa nos anos de   1840 , ela foi mais prejudicial às plantações porque a diversidade genética era muito menor. Países europeus que cultivavam batatas foram prejudicados e na Irlanda os danos foram terríveis porque os camponeses pobres dependiam muito das batatas. A desgraça foi maior no lado ocidental da Irlanda quando a praga chegou em 1845 e a cultura predominante entre os mais pobres era de batatas. Foi a época da Grande Fome. Grande parte da população irlandesa morreu ou emigrou, em especial para os Estados Unidos.

Na China a batata foi introduzida no final da dinastia Ming no século XVII. De início era um produto fino para consumo da família imperial. Depois houve um aumento nas plantações no século XVIII na dinastia Qing e foi difundido seu consumo para a população.

Na Índia, na costa, a batata foi introduzida por portugueses no século XVII e os britânicos mais tarde  as cultivaram em Bengala. No século XIX as batatas chegaram ao Tibete.

Nos Estados Unidos o cultivo de batatas se desenvolve graças a imigrantes escoceses e irlandeses no início do século XVIII e a partir de então começou a se expandir o cultivo pelo país.

Nos dias atuais o cultivo da batata já acontece em muitos países do mundo, sendo alimento diário de uma parte significativa da população mundial. Em 2017 a produção da batata no mundo chegou a mais de 388 milhões de toneladas, com a China e a Índia respondendo por cerca de um terço de toda essa produção.  Em 2007 a China destacou-se pela produção de 72 milhões de batatas e hoje em dia constitui-se no país que mais produz batatas. Considerando-se a produção por cabeça, o país que mais produz é a Bielorússia, com 835,6 kg por habitante por ano e os bielorussos são os líderes mundiais no consumo de batatas. Em 2007 cada pessoa na Bielorússia consumiu quase um quilo de batatas por dia.

No Peru se comemora o Dia da batata em 30 de maio.

Sugestão de vídeo: 

https://g1.globo.com/pr/parana/caminhos-do-campo/noticia/2021/02/07/da-cordilheira-dos-andes-a-inglaterra-conheca-a-historia-da-batata.ghtml

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.


Figuras:

https://www.google.com/search?q=imagem+de+batatas&sxsrf=AOaemvI4bd9m9B43gR0x3SYpGX-Cx-dvkQ:1637537057738&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=QAS6lrlZfeM_

https://www.google.com/search?sxsrf=AOaemvJcLtyEwBblEuz_Xk4BkNMy9Xvqog:1637536965651&source=univ&tbm=isch&q=imagem+da+pintura+de+van+gogh+os+comedores+de+batatas&fir=aL7Iayl19q

 


terça-feira, 16 de novembro de 2021

O cientista, astrônomo e escritor Carl Sagan

 




Em 9 de novembro de 1934 nascia no Brooklyn, em Nova York, nos Estados Unidos o cientista, astrônomo, físico, biólogo, astrofísico, cosmólogo, romancista, escritor de obras de ficção científica, divulgador científico, naturalista, roteirista, professor universitário, apresentador de televisão e ativista Carl Edward Sagan. Ele foi autor de mais de 600 publicações científica, como também de mais de vinte livros de ciência e ficção científica. Ele era de uma família de judeus ucranianos. Foi casado com Lynn Margulis, de 1957 a 1965 (com quem teve 2 filhos); Linda Salzman, de 1968 a 1981 (com quem teve um filho) e Ann Druyan, de 1981 até o ano da morte do cientista, 1996 (com quem teve dois filhos). Como cientista era um defensor árduo do método científico e também do ceticismo. Entre suas principais obras se destacam: The Demon-Haunted WorldPale Blue DotCosmosContact,Broca's Brain: Reflections on the Romance of Science.

Carl Sagan por meio do projeto SETI se envolveu na busca por inteligência extraterrestre. Foram enviadas mensagens em sondas espaciais para que possíveis civilizações extraterrestres soubessem a respeito da existência humana. Estudando a atmosfera de Vênus, foi um dos primeiros a estudar a questão do efeito estufa em escala planetária. Foi pioneiro na exobiologia e fundador da Sociedade Planetária. Na Universidade de Cornell foi professor e diretor do laboratório para estudos planetários. Ficou muito conhecido pela série televisiva Cosmos: Uma Viagem Pessoal.

O pai de Carl Sagan era o ucraniano Samuel Sagan, operário da indústria têxtil, que nos anos graves da Grande Depressão chegou a trabalhar como porteiro de cinema. Sua mãe era Rachel Molly Gruber, nascida em Nova York. Carl tinha uma irmã, Carol. Ao cursar o ensino fundamental ele já demonstrava ser muito curioso a respeito da natureza e com cinco anos ia sozinho à biblioteca para aprender sobre as estrelas.Em 1951 terminou, na Rahway High School, em Nova Jérsei, o ensino secundário. Seu pai fazia parte de um grupo de judeus reformistas (mais liberal que outros ramos do judaísmo) e, segundo Carl, não era muito religioso. Sua mãe era mais participativa no mesmo grupo religioso. 

Para um biógrafo que escreveu sobre Carl Sagan, a personalidade dele foi formada pelas suas relações próximas com os pais, que por vezes eram muito diferentes um do outro. A mãe tinha conhecido uma pobreza aguda na infância e que teve ambições intelectuais frustradas por condições pessoais e familiares que atingiram sua vida. Ela possivelmente projetou em seu adorado filho Carl certos sonhos que ela mesma não conseguiu realizar. Pelo lado do pai, conforme esse biógrafo, Carl admirava seu pai, um fugitivo europeu, que ajudava pessoas pobres e procurava ser um mediador nas relações que chegavam a ser tensas entre patrões e operários na indústria têxtil de Nova York. Os pais incentivaram o interesse do menino Carl por assuntos da ciência. Eles lhe compravam jogos de química e livros. Ele foi se interessando principalmente pelo espaço, em especial quando passou a ler histórias de ficção científica.

Sagan certa vez disse sobre a influência dos pais sobre ele:

“Meus pais não eram cientistas. Eles não sabiam quase nada sobre ciência. Mas ao me introduzirem simultaneamente ao ceticismo e ao saber, ensinaram-me os dois modos de pensamento coexistentes e essenciais para o método científico”.

Uma das lembranças que Carl Sagan citava de sua infância foi quando seus pais o levaram para a Feira Mundial de 1939, em Nova York. Ele ficou impressionado pelas exposições da feira, como a tecnologia que iria substituir o rádio: a televisão. Sobre isso ele escreveu:

“Claramente, o homem realizou maravilhas de um modo que eu nunca tinha imaginado. Como poderia um tom tornar-se uma imagem e luz tornar-se um ruído?”

Um evento muito divulgado na Feira em 1939 chamou também a atenção de Carl Sagan: o enterro de uma cápsula do tempo. Essa capsula do tempo continha lembranças dos anos 30 para serem recuperadas por humanos em um outro milênio. Já adulto, Carl com outros cientistas iriam criar cápsulas do tempo para irem para o espaço: a placa Pioneer e o Voyager Golden Record.

Seus pais durante a Segunda Guerra Mundial ficaram preocupados com o que estava acontecendo com os judeus na Europa. O menino Carl no entanto não conhecia bem o que estava acontecendo naquele continente. A mãe dele não queria que ele ficasse afetado emocionalmente pelo que ocorria no Holocausto. Em seu livro The Demon-Haunted World     ( O Mundo Assombrado pelos Demônios), Carl incluiu lembranças desses tempos, relatando que ao mesmo tempo que sua família estava aflita, procurava poupa-lo para que não perdesse seu otimismo.

Carl relatou sobre uma experiência que teve na infância quando esteve na biblioteca:

"Fui para o bibliotecário e pedi um livro sobre as estrelas... E a resposta foi impressionante. A resposta era que o Sol também era uma estrela, só que muito próxima. Logo, as estrelas eram outros sóis, mas estavam tão distantes que eram apenas pequenos pontos de luz para nós... A escala do universo de repente se abriu para mim. Era um tipo de experiência religiosa. Houve uma magnificência para ela, uma grandeza, uma escala que nunca me deixou. Nunca me deixará...”.

Também Carl Sagan escreveu sobre uma visita ao Museu Americano de História Natural e ao Planetário Hayden, em Nova York, quando ele tinha aproximadamente sete anos de idade:

"Eu era fascinado por representações realistas de animais e seus habitats em todo o mundo. Pinguins no gelo antártico mal iluminado; uma família de gorilas, com o macho tamborilando no peito; um urso-cinzento americano de pé em suas patas traseiras, com seus dez ou doze pés de altura, fitando-me direto no olho.

Segundo Ray Spangenburg, que escreveu sobre Karl Sagan:

“Nestes primeiros anos, Sagan tentou compreender os mistérios dos planetas, e isto tornou-se uma "força motriz em sua vida, uma faísca contínua para seu intelecto e uma busca pelo saber que jamais seria esquecida”.

Em 1954 Carl Sagan formou-se em artes na Universidade de Chicago e em 1955, com honras especiais, em ciências. Nessa Universidade ele tinha participado da Sociedade Astrônomica Ryerson. Em 1956 ele obteve mestrado em física e em 1960 o doutorado em astronomia e astrofísica. Carl também trabalhou com o geneticista Herman Joseph Muller. De 1960 a 1962, Carl foi pesquisador bolsista na Universidade da Califórnia, em Berkeley. E esteve trabalhando no Observatório Astrofísico Smithsonian em Cambridge, Massachusetts no período de 1962 a 1968. Também lecionou e pesquisou na Universidade Harvard até 1968. Nesse ano foi para a Universidade Cornell, em Ithaca, no estado de Nova York, na qual veio a ser nomeado professor titular e diretor do laboratório de estudos planetários em 1971.  Foi diretor associado ao Centro de Radiofísica e Investigação Espacial de Cornell, de 1972 a 1981. Até 1996 ele foi responsável por um curso de pensamento crítico na referida Universidade.

Em relação ao programa espacial dos Estados Unidos, Sagan teve grande participação, tendo sido desde os anos de 1950 um assessor da NASA e deu instruções aos astronautas antes de irem para a Lua. Outra participação dele foi no envio de naves espaciais robóticas de exploração do Sistema Solar, preparando experimentos para diversas expedições. Ele teve a ideia de colocar uma mensagem universal em sondas que fossem além do nosso sistema solar. Tal mensagem tinha de ser potencialmente compreensível por uma inteligência fora da Terra que a encontrasse.  Em 1972 foi mandada a primeira mensagem física ao espaço exterior. Era uma placa anodizada que foi junto com a sonda Pioneer 10. A Pioneer 11, lançada em 1973 levou uma cópia da placa. Nas sondas espaciais Voyager, em 1977, havia uma mensagem mais elaborada desenvolvida por Sagan: o Disco de Ouro da Voyager. Ele preferia que se continuassem as missões robóticas do que o financiamento de sistemas de transporte espacial ou de estações espaciais.

Nos anos 60 Sagan publicou um artigo, que depois foi divulgado em um livro chamado Planetas. Nesse artigo, baseado nas emissões de rádio que vinham de Vênus, ele dizia que esse planeta era seco e muito quente, com uma temperatura superficial próxima de 500º C, indo contra outros cientistas que tinham outra opinião mais branda em relação ao planeta.

Segan participou como cientista visitante na NASA em missões do programa Mariner a Vênus. A sonda Mariner2, em 1962, fez confirmações do que ele havia dito a respeito das condições da superfície do planeta. Também Sagan lançou a hipótese de que a lua Titã, de Saturno, poderia ter oceanos de compostos líquidos em sua superfície e que uma das luas de Júpiter, Europa, poderia ter oceanos subterrâneos de água. Essa lua, segundo ele, poderia dar condições para a existência de formas de vida. A sonda Galileu (que foi projetada com a participação de Sagan) confirmou depois a hipótese dele sobre o oceano subterrâneo de Europa. O astrônomo explicou que a névoa de cor vermelha de Titã é porque existem moléculas orgânicas complexas em uma chuva constante. Ele ajudou no entendimento sobre as atmosferas de Vênus e Júpiter e sobre certas características de Marte. Fez uma comparação entre a situação na Terra, com o aquecimento global, com a evolução natural de Vênus que o levou a uma extrema temperatura que não permite a existência de vida.

Sagan fez pesquisas sobre a possibilidade de vida extraterreste como a demonstração experimental da produção de aminoácidos por radiação e a partir de reações químicas básicas. Em 1994, por suas “distintas contribuições para a aplicação da ciência e para o bem-estar da humanidade” recebeu a Medalha Bem-Estar Público, que se trata da maior condecoração da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.

Sagan tinha habilidade para transmitir suas ideias e isso facilitou para que muitas pessoas compreendessem o cosmos. Ele, ao mesmo tempo que enfatizava o valor dos seres humanos, destacava a insignificância da Terra em relação ao Universo. Na série Cosmos (1980) ele foi apresentador, coautor e coprodutor, em conjunto com Ann Druyan, sua esposa na época e Steven Soter. A série, transmitida para mais de 60 países, assistida por mais de 600 milhões de pessoas, ganhou o Prêmio Emmy e o Prêmio Peabody , teve 13 episódios, foi produzida pela PBS e abrangia vários temas científicos. 

Sagan sugeriu a utilização de radiotelescópios na procura por sinais de formas de vida extraterrestre potencialmente inteligentes. Ele defendia a busca dos cientistas por vida fora da Terra e em 1982 publicou na revista Science em defesa do projeto SETI uma petição de cerca de 70 cientistas, entre eles sete ganhadores do Prêmio Nobel. Sagan e o Dr. Frank Drake prepararam a mensagem de Arecibo, uma sequência de sinais enviada em 1974 em direção ao espaço por meio do radiotelescópio de Arecibo. O objetivo era informar para possíveis extraterrestres a existência do planeta Terra.

Sobre a questão de alienígenas saberem da existência de nós terrestres, recordo que Stephen Hawking disse nos anos 2000 que há riscos na procura de vida inteligente extraterrestre, pois, segundo ele, uma civilização muito mais adiantada que a nossa pode nos ver como seres inferiores desprezíveis. Disse ele: “Se for o caso, eles nos verão como seres tão valiosos como as bactérias são para nós”. Outro cientista, Neil de Grasse Tyson concordou com Hawking fazendo a seguinte comparação entre os níveis de inteligência entre nós terrestres e uma civilização muito mais adiantada: “Uma mente tão brilhante quanto a de Stephen pode ser equivalente a de um bebê alienígena”. Para Hawking foi um erro a emissão de sons e sinais para tentar localizar vida extraterrestre, o que revela nossa localização. Hawking estava certo? Sagan teria sido ingênuo ou otimista demais? Mas à medida que desenvolvia suas pesquisas Sagan pareceu demonstrar menos fé em visitas  alienígenas ao planeta Terra.

Continuando sobre Sagan, ele foi editor da revista Icarus, para pesquisadores sobre planetas. Ele foi um dos fundadores da Sociedade Planetária, que é o maior grupo existente no mundo sobre pesquisa espacial, tendo mais de cem mil integrantes em cerca de 149 países. Ele foi membro do Conselho de Administração do Instituto SETI, Presidente da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronômica Americana, Presidente da Seção de Planetologia da União Geofísica Americana e Presidente da Seção de Astronomia da Associação Americana para o Avanço da Ciência.

Durante a Guerra Fria, Sagan procurou alertar a população sobre os terríveis efeitos de um guerra nuclear. Ele inclusive foi um dos autores do artigo científico que previa por meio de hipótese, a respeito da ocorrência de um inverno nuclear após uma guerra com uso de armas atômicas. Ele também foi coautor do livro O Inverno Nuclear: O mundo após uma guerra nuclear.

O livro Pálido Ponto Azul, escrito por Sagan em 1994, entrou na lista do The New York Times dos mais vendidos de janeiro em 1995. Nesse mês e ano ele participou do programa de Charlie Rose, na PBS. Sagan combatia o que ele considerava ser pseudociência e era a favor do ceticismo científico.

No seu livro Pálido Ponto Azul, a respeito da Terra, Sagan escreveu:

“Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos que já ouvimos falar, todo ser humano que já existiu, viveram suas vidas. O agregado de nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e saqueador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e plebeu, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, cada criança esperançosa, inventores e exploradores, cada educador, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali, em um grão de poeira suspenso num raio de sol.

A Terra é um cenário muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, em sua glória e triunfo, eles pudessem se tornar os mestres momentâneos de uma fração desse ponto. Pense nas infindáveis crueldades infligidas pelos habitantes de um canto deste pixel aos quase indistinguíveis habitantes de algum outro canto. Quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matarem e o quão fervorosamente eles se odeiam.

Nossas atitudes, nossa imaginária auto-importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, é desafiada por este pálido ponto de luz.

O nosso planeta é um espécime solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade - em toda essa vastidão -, não há nenhum indício de que a ajuda possa vir de outro lugar para nos salvar de nós mesmos.

A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que abriga a vida. Não há mais algum - pelo menos no futuro próximo -, para onde a nossa espécie possa emigrar. Visitar, pode. Assentar-se, ainda não. Gostando ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.

Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de humildade e construção de caráter. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o pálido ponto azul, o único lar que nós conhecemos.”

Carl Sagan acreditava na existência de um grande número de civilizações extraterrestres, considerando a equação de Drake*. Diante da falta de evidências de que tais civilizações existam e mais o paradoxo de Fermi, poderia haver assim a tendência das civilizações tecnológicas a se autodestruírem, levando ao último termo da equação de Drake. A partir daí Sagan mostrou-se interessado em identificar e divulgar os vários modos em que poderia haver a destruição da Humanidade, com a esperança de evitar tal destruição e também permitir que os humanos possam viajar pelo espaço.

Sagan pediu demissão de seu posto de conselheiro científico do Conselho Científico da Força Aérea Americana e a partir de 1981, ano de seu casamento com a escritora Ann Druyan, ele aumentou seu ativismo político, principalmente contra a corrida armamentista, que se tornou em destaque no governo Reagan.

Sagan se colocou contra a Inciativa Estratégica de Defesa anunciada por Reagan, que estava relacionado a um sistema amplo de defesa contra ataques por mísseis nucleares, que ficou popularmente conhecido como o Programa Guerra nas Estrelas. Sagan dizia que era impossível um sistema desses poder ter toda a eficácia planejada e que tal projeto poria em risco o equilíbrio nuclear entre Estados Unidos e União Soviética. Quando o governo Reagan se recusou em 1985 a aceitar uma paralisação dos testes nucleares proposta pelo presidente soviético Gorbachev, houve protestos em 1986 e 1987 em um local de testes nucleares em Nevada. Sagan estava nesses protestos e foi preso junto com outros manifestantes.

Sagan não se dizia ateu, ele dizia: “Eu sou agnóstico”. Ele afirmava que era difícil provar ou refutar a ideia de um criador do Universo. Ele escreveu algumas vezes sobre o que pensava sobre a existência de Deus. Em uma dessas vezes ele disse sobre Deus:

“Algumas pessoas acreditam que Deus é um enorme homem de pele clara com uma longa barba branca, sentado em um trono em algum lugar lá em cima no céu, ocupado na contagem da queda de cada pardal. Outros – como Baruch Spinoza e Albert Einstein – consideraram Deus como essencialmente a soma do total das leis da física que descrevem o Universo. Eu não conheço nenhuma evidência convincente para a existência de um patriarca antropomórfico controlando o destino da humanidade a partir de algum ponto celestial escondido, porém seria uma insanidade negar a existência das leis da física.”

Sagan foi consultor no filme 2001: Uma Odisseia no espaço, de 1968. Ele acreditava que a imaginação é um dos motores fundamentais do conhecimento humano. Pensar cientificamente para ele era algo como fazer interrogações de modo metódico sobre diversos aspectos da natureza. Sobre OVNIs, Sagan acreditava que os cientistas deveriam estudar o fenômeno. Ele escrevia sobre o que percebia como falsas lógicas ou experiências sobre os discos voadores. Ele foi membro do Comitê Ad Hoc para a revisão do Projeto Blue Rock, de responsabilidade da força aérea dos Estados Unidos para investigar o fenômeno OVNI

Sagan escreveu em uma de suas últimas obras que considerava a probabilidade de que naves espaciais extraterrestres visitem a Terra ser muito pequena. Ele no entanto defendia que os arquivos que existiam sobre OVNIs deveriam ser postos à disposição para conhecimento geral e não ficassem inacessíveis pelo governo.

Aos 60 anos Sagan foi diagnosticado com mielodisplasia. Ele passou por três transplantes de medula óssea. Com 62 anos de idade, em 20 de dezembro de 1996, ele morreu de pneumonia no Centro de Pesquisas do Câncer Fred Hutchinson de Seattle, Washington. Foi sepultado no Lake ViewCemetery, em Ihaca, Nova York. Em vida ele recebeu muitas premiações como cientista: Miller ResearchFellows (1960); Prêmio Klumpke-Roberts;de 1974; Prêmio Joseph Priestley, de 1975, por "distintas contribuições para o bem-estar da humanidade"; Prêmio do Projeto Apollo concedido pela NASA.;Medalha da NASA por Excepcionais Feitos Científicos; Medalha da NASA por Serviço Público de Destaque. (1977); Prémio Pulitzer de Não Ficção Geral de 1978, por seu livro Os Dragões do Éden; Prêmio de Astronáutica John F. Kennedy da Sociedade Astronáutica Americana; Medalha Konstantin Tsiolkovsky concedida pela Federação Cosmonáutica Soviética; Prêmio Peabody de 1980 pela série Cosmose vários outrosTambém recebeu premiações póstumas.

Na primeira edição em língua inglesa do livro de divulgação científica Uma Breve História do Tempo, do físico britânico Stephen Hawking, a introdução foi escrita por Carl Segan. 

O lugar de aterrisagem da nave não tripulada Mars Pathfinder foi rebatizado como Carl Sagan Memorial Station, em 5 de julho de 1997. La existe uma frase de Segan: “Seja por qualquer razão que eu esteja em Marte, estou encantado de estar aqui, e eu desejaria estar aqui com vocês.” Também levam o nome dos astrônomo o asteroide Sagan do cinturão de asteroides 2709 e a cratera marciana Sagan.

O Ames Research Center da NASA em 9 de novembro de 2001, no 67º aniversário de Carl Segan dedicou ao cientista o Carl Sagan Center for theStudyof Life in the Cosmos. Daniel Goldin, representando a NASA disse na ocasião: “Carl foi um incrível visionário, e agora seu legado poderá ser preservado e ampliado por um laboratório de pesquisa e capacitação do século XXI dedicado a melhorar nossa compreensão da vida no universo e para jamais perder a causa da exploração espacial”.

Diversas organizações defensoras do humanismo e do secularismo a partir de 2009 começaram a promover o Carl Sagan's Day em 9 de novembro, dia de aniversário do cientista. Na celebração do dia todo ano são organizados eventos de astronomia, palestras, feiras de ciência etc.

Poundstone, autor de "Carl Sagan: A Life in the Cosmos" disse sobre o cientista:"Ele trabalhou arduamente pelos seus alunos, arranjou-lhes empregos, preocupou-se com a sua educação, muitos deles estão agora muito bem colocados". E ainda o mesmo autor:

"Ele trabalhou arduamente, 18 horas por dia. Ele tinha uma paixão enorme pelo seu trabalho".

"Ele foi feito para a televisão, isso é certo, e ele parecia tão relaxado e normal nas suas calças de ganga ao contrário dos restantes cientistas. Mas havia muito mais que lhe estava destinado.”

“Como cientista, Sagan fez deixou uma marca real na ciência planetária no início de 1970 como professor jovem de Harvard", num momento em que a ciência planetária estava um pouco estagnada"

Frases de Carl Sagan:

"A ciência é mais do que um corpo de conhecimento. É uma maneira de pensar, uma forma de ceticismo que interroga o universo com uma fina compreensão da falibilidade humana"

"Em algum lugar, algo incrível está esperando para ser descoberto."

"Cada um de nós é, sob uma perspectiva cósmica, precioso. Se um humano discorda de você, deixe-o viver. Em cem bilhões de galáxias, você não vai achar outro como ele."

"O universo não parece ser nem benevolente nem hostil, apenas indiferente."

"Se você quiser fazer uma torta de maçã do nada, você precisa, primeiro, inventar o universo."

"A falta de evidência não é uma evidência da ausência."

"O cérebro é como um músculo. Quando está sendo usado, nos sentimos muito bem. O entendimento é prazeroso."

"Somos os representantes do cosmos. Somos um exemplo do que o hidrogênio pode fazer com 15 bilhões de anos de evolução cósmica."

"Quando você faz uma descoberta – mesmo se você for a última pessoa na Terra a ver a luz – você jamais vai se esquecer."

"Nenhum outro planeta no sistema solar é uma boa casa para os seres humanos; temos esse mundo ou nada. Essa é uma percepção muito poderosa."

Temos um grande problema se não entendermos o planeta que queremos salvar."

"Afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias."

"Mesmo as estrelas, que parecem tão numerosas, são como areia, são como poeira – ou menos que poeira – na enormidade do espaço."

"O limite entre o espaço e a Terra é puramente arbitrário. E eu provavelmente sempre estarei interessado nesse planeta – é o meu favorito."

"Somos feitos de poeira de estrelas. Nós somos uma maneira de o cosmos se autoconhecer."

"A imaginação muitas vezes nos leva a mundos que nunca sequer existiram. Mas sem ela não vamos a lugar algum."

"A ciência não é somente compatível com a espiritualidade; ela é uma fonte profunda de espiritualidade."

"Para pequenas criaturas como nós, a vastidão é suportável somente através do amor."

"Somos como borboletas que voam por um dia e acham que é para sempre."

 

Observações: 

*A Equação de Drake é um argumento probabilístico usado para estimar o número de civilizações extraterrestres ativas em nossa galáxia Via Láctea com as quais poderíamos ter chances de estabelecer comunicação. (Wikipédia)

*O paradoxo de Fermi diz respeito a uma indagação feita pelo físico italiano Enrico Fermi (1901-1954) enquanto debatia à mesa com colegas, no ano de 1950. O paradoxo trata da discrepância entre a grande probabilidade de existir vida em outros planetas (em virtude do enorme número de planetas no Universo) e o fato de que jamais fomos capazes de detectar qualquer sinal de vida fora da Terra.


Sugestões de vídeos

Quarta dimensão explicada por Carl Sagan

https://www.youtube.com/watch?v=WMZNLy0hGEI

 

Possibilidade de Civilizações Extraterrestres (em português)

https://www.youtube.com/watch?v=jSBR13D2fsw

  

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura:

https://www.google.com/search?q=imagem+de+carl+sagan&sxsrf=AOaemvKD-Rj-GY6-nex-4j6RCRcKQmGyPQ:1637105707091&tbm=isch&source=