segunda-feira, 26 de julho de 2021

O escritor , poeta e filósofo Thoreau

 









O escritor, poeta, naturalista, agrimensor, professor, historiador e filósofo Henry David Thoreau nasceu em 12 de julho de 1817 em Concord, nos Estados Unidos. Sua família era de origem francesa e protestante.  Sua filosofia teve influência em pensamentos de personalidades históricas como Gandhi, Tolstoy e Martin Luther King. Sua obra mais conhecida é Walden, ou A Vida nos Bosques e também destacou-se por seu ensaio A Desobediência Civil . Estava ligado aos estilos naturalista, simbolista, romântico e defendia ideias abolicionistas.  São mais de 20 volumes os livros, ensaios, artigos e poesias dele. Escreveu sobre história natural e filosofia, sendo um precursor do movimento ambientalista. Ele se interessava por sobrevivência diante de contextos hostis, mudança histórica e decadência natural, buscava descobrir as verdadeiras necessidades essenciais da vida. Atacou as leis contra as fugas de escravos e defendeu o abolicionista John Brown.

Apesar de ter sido considerado por alguns estudiosos como anarquista individualista, o pensamento de Thoreau está relacionado muito mais à busca de melhorias no governo, tendo dito: "Não peço, imediatamente por nenhum governo, mas imediatamente desejo um governo melhor”. Mas também afirmou: 'O melhor governo é o que não governa. Quando os homens estiverem devidamente preparados, terão esse governo”. Thoreau, seu amigo Emerson e os transcendentalistas acreditavam na bondade básica do indivíduo.

Thoreau era filho de um pequeno fabricante de lápis e sua mãe contratava pensionistas. Em 1837 o escritor se formou na Universidade de Harvard, em Literatura Clássica e Línguas, tendo sido amigo do pensador transcendental Ralph Waldo Emerson. O reformismo de Thoreau partia não da coletividade e sim do indivíduo, sendo um defensor de uma vida em sintonia com a natureza. Ficou transtornado com a morte de seu irmão John em 1842. Escreveu o livro de diário A Week on the Concord and Merrimack Rivers e essa era também uma forma de procurar superar a tristeza pela perda do irmão e ao mesmo tempo manter viva a memória sobre ele. Usou o simbolismo do rio como componente de renascimento e continuidade, uma representação existente nas filosofias do Ocidente e do Oriente. Foi professor de Liceu em Concord, fez viagens pelas florestas de Maine e da praia de Cape Co. Como professor não concordava com qualquer tipo de violência, não aceitava o uso de violência nas escolas e defendia um aprendizado com alegria e harmonia. Por ter essas ideias pediu demissão do Liceu de Concord porque se recusava a usar a palmatória e não queria deixar de ter um comportamento liberal como professor. Fundou uma escola particular e com seu irmão John faziam excursões de campo com os alunos para aprenderem sobre ciências naturais. A escola fechou quando o irmão de Thoreau morreu.

Para procurar viver uma vida simples e como desejo de ficar livre das obrigações e constrangimentos que a sociedade causa, em 1845 foi morar em uma pequena cabana feita por ele mesmo nas proximidades do lago Walden em Massachusetts. Assim ele escreveu à vontade e observava a natureza e em 1847 ele deixou essa cabana e foi morar junto com a família de seu amigo Ralph Waldo Emerson em Concord.

Thoreau se colocou contra a guerra contra o México, tendo se recusado em 1846 a pagar um imposto para financiar essa guerra. Ele considerou o imposto injusto e imoral, contrário às ideias de liberdade e igualdade. Disse sobre a questão: “Todos os homens reconhecem o direito de revolução; isto é, o direito de recusar obediência ao governo, e de resistir a ele, quando sua tirania ou sua ineficiência são grandes e intoleráveis”. Por sua recusa ele foi preso por uma noite e solto na manhã seguinte porque uma tia pagou o imposto no lugar dele. Ele afirmou que no caso de um governo que defende o aprisionamento moral,  o lugar de um homem honesto seria a prisão. Sobre a guerra contra o México ele disse: “O governo em si, que é apenas o modo que o povo escolheu para executar sua vontade, está igualmente sujeito ao abuso e à perversão antes que o povo possa agir por meio dele. Prova disso é a atual guerra mexicana, obra de relativamente poucos indivíduos que usam o governo permanente como seu instrumento, pois, desde o princípio, o povo não teria consentido semelhante iniciativa.”

Foi em 1849 que ele publicou Desobediência Civil (contra os maus governos e defendendo uma forma de combate às tiranias) e em 1854 publicou Walden, ou Life in the Woods, a respeito de sua experiência ao viver perto do lago Walden. Ele escrevia a favor das vantagens da vida natural e livre e associava natureza com liberdade, sendo influenciado por Rosseuau e textos orientais. Ele disse: "Quero dizer uma palavra em defesa do ambiente natural e da liberdade absoluta. Uma declaração extrema pois já há muitos defensores da civilização". E sobre os pássaros fez o seguinte comentário: "Tornei-me vizinho dos pássaros, não por ter aprisionado um, mas por ter me engaiolado perto deles". Era um crítico da sociedade de consumo e cético em relação ao progresso tecnológico. Criticava o Estado dizendo que os indivíduos tem de exercer seu próprio julgamento e não servirem como máquinas ou bonecos ao Estado. Thoreau não participou de eleições e nem de partidos políticos ou movimentos organizados. Sua ação contra o Estado era como escritor e recusando a contribuir financeiramente com ele. Ele pregava uma ação necessária perante situações em que não havia alternativa senão resistir, uma ação não violenta, que muitos ano depois Gandhi e Martin Luther King iriam seguir em seus movimentos. Para Thoreau os homens não tem que compactuar com o mal  e tem de criticar as práticas injustas.

Thoreau criticou os privilégios dos mais ricos e suas relações com o Estado e também fez críticas aos que só pensam em bens materiais e se desligam dos valores espirituais e éticos. Disse a respeito: “...Falando em termos gerais, quanto mais dinheiro, menos virtude (...); ao passo que a única nova questão que ele se coloca é a difícil e supérflua de saber como gastar o dinheiro. Assim, seu terreno moral é tirado de sob seus pés.” Ele era a favor de uma vida de abnegação e simplicidade para que se conseguir uma melhor compreensão da existência e do mundo, tendo dito: ''Simplicidade, simplicidade, simplicidade! Digo: Ocupai-vos de dois ou três afazeres, e não de cem ou mil; contai meia dúzia em vez de um milhão e tomai nota das receitas e despesas na ponta do polegar... Simplificar, simplificar. Em vez de três refeições por dia, se preciso for, comer apenas uma; em vez de cem pratos, cinco; e reduzir proporcionalmente as outras coisas...

Thoreau morreu de tuberculose em 6 de maio de 1862, aos 44 anos, em Concord.


Frases de Thoreau

“A bondade é o único investimento que nunca vai à falência.”

“É tão difícil observar-se a si mesmo quanto olhar para trás sem se voltar.”

“Muitos sabem ganhar dinheiro, mas poucos sabem como gastá-lo.”

“Se um homem marcha com um passo diferente do dos seus companheiros, é porque ouve outro tambor.”

“Para cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal, há apenas um atacando as raízes.”

“Quem mata o tempo injuria a eternidade.”

“Se você já construiu castelos no ar, não tenha vergonha deles. Estão onde devem estar. Agora, dê-lhes alicerces.”

“Os homens hão-de aprender que a política não é amoral e que se ocupa apenas do que é oportuno.”

“São precisas duas pessoas para falar a verdade, uma para falar, e outra para ouvir.”

“Uma grande verdade, mesmo mal sugerida, comove-nos mais do que uma verdade medíocre completamente exprimida.”

“Se és escritor, escreve como se tivesses os dias contados, porque, na verdade, eles estão-no quase todos.”

“Muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro.”

“Nada é tão útil ao homem como a resolução de não ter pressa.”

“Nunca é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos.”

“Siga confiante na direção dos seus sonhos. Viva a vida que imaginar.”

“É a obra de arte que mais se aproxima da vida.”

“Os livros são o tesouro precioso do mundo e a digna herança das gerações e nações.”

“Os homens, em sua maioria, aprendem a ler para satisfazer uma mesquinha conveniência, assim como aprendem a calcular a fim de organizarem sua contabilidade e não serem enganados no comércio, mas sabem pouco ou nada a respeito da leitura como um nobre exercício intelectual.”

“Nem todos os livros são tão tediosos quanto seus leitores.”

“Não nasci para ser forçado a nada. Respirarei a meu próprio modo.”

“Dá teu voto inteiro, não uma simples tira de papel, mas toda tua influência.”

“Se uma planta não consegue viver de acordo com sua natureza, ela morre, assim também um homem.”

“Fazer todos os dias um bom dia, essa é a mais elevada das artes.”

“Não basta ser ocupado. A pergunta é: estamos ocupados com o quê?”

“Fui para os bosques viver de livre vontade. Para sugar todo o tutano da vida. Para aniquilar tudo o que não era vida e para quando morrer, não descobrir que não vivi.”

“Por que vivemos com tanta pressa, esbanjando a vida? Decidimos morrer de fome antes de sentir fome.”

“Muito melhor seria sentar ao ar livre, pois a poeira não se acumula sobre a grama, a não ser nos trechos em que os homens arrancaram-na do solo.”

“Viva cada estação enquanto elas duram, respire o ar, beba a bebida, saboreie a fruta, e deixe-se levar pelas influências de cada uma.”

A aptidão que leva os homens a construírem casas, é semelhante a que leva os pássaros a construírem seus ninhos. Se os homens construíssem suas residências com as próprias mãos, e arranjassem alimento para si e a família de maneira bastante simples e honesta, quem sabe não desenvolveriam a faculdade poética e épica, cantando como fazem todos os pássaros quando assumem um compromisso dessa natureza? Mas ai de nós! Agimos como Chopins e Cucos, que põe ovos em ninhos feitos por outros pássaros e cujas melodias não alegram o viajante...”

“Um grão de ouro é capaz de dourar uma grande superfície, mas não tão grande como um grão de sabedoria.”

“O dinheiro não é necessário para comprar uma única necessidade da alma.”

 “Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade. Sentei-me a uma mesa onde a comida era fina, os vinhos abundantes e o serviço impecável, mas onde faltavam sinceridade e verdade, e com fome me fui embora do inóspito recinto. A hospitalidade era fria como os sorvetes. Pensei que nem havia necessidade de gelo para conservá-los. Gabaram-me a idade do vinho e a fama da safra, mas eu pensava num vinho muito mais velho, mais novo e mais puro, de uma safra mais gloriosa, que eles não tinham e nem sequer podiam comprar."

"O estilo, a casa com o terreno em volta e o «entretenimento» não representam nada para mim. Visitei o rei, mas ele deixou-me à espera no vestíbulo, comportando-se como um homem incapaz de hospitalidade. Na minha vizinhança havia um homem que morava no oco de uma árvore e cujas maneiras eram régias. Teria feito bem melhor visitando-o a ele.
Até quando nos sentaremos nós nos nossos alpendres a praticar virtudes ociosas e bolorentas, que qualquer trabalho tornaria descabidas? É como se alguém começasse o dia com paciência, contratasse alguém para lhe sachar as batatas, e de tarde saísse para praticar a mansidão e a caridade cristãs com bondade premeditada!”

“A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos.”

“A grande maioria dos homens leva uma vida de calado desespero. O que se chama resignação é desespero confirmado. Da cidade desesperada você vai para o campo desesperado, e tem de se consolar com a coragem das martas e dos ratos almiscarados. Um desespero estereotipado, mas inconsciente, se esconde mesmo sob os chamados jogos e prazeres da humanidade. Não há diversão neles, pois esta vem depois da obrigação. Mas uma característica da sabedoria é não fazer coisas desesperadas.”

 “Desconheço fato mais encorajador que a habilidade inquestionável do homem para melhorar sua vida através do esforço consciente”.

“Um retorno à bondade realizado diariamente ao hálito tranquilo e benéfico da manhã faz com que, em respeito ao amor à vida e o ódio ao vício, a pessoa se aproxime um pouco da natureza primitiva do homem, como os brotos da floresta que foi derrubada. De modo semelhante, o mal que a pessoa faz ao longo de um dia impede que os germes das virtudes que começaram a brotar se desenvolvam e os destrói.”

“Riqueza é a capacidade de experimentar a vida plenamente.”

“O que consegues quando atinges os teus objetivos não é tão importante como o que te tornas ao atingi-los.”

“Por mais que admiremos as ocasionais explorações de eloquência de um orador, as mais nobres palavras escritas situam-se normalmente tão além ou acima da fugaz língua falada quanto o firmamento com suas estrelas encontra-se além das nuvens. Há estrelas, e aqueles que podem lê-las.”

“Procure saber o que as coisas realmente são, não simplesmente o que parecem ser.”

“A vida que os homens louvam e consideram bem-sucedida é apenas um tipo de vida. Por que havemos de exaltar só um tipo de vida em detrimento dos demais?”

“Quanto à roupa, para chegar logo à parte prática da questão, talvez sejamos movidos, na hora de providenciá-la, mais pelo amor à novidade e pela preocupação com a opinião dos outros do que por uma verdadeira utilidade.”

“Você deve viver no presente, lance-se em cada onda, encontre a sua eternidade em cada momento.”

“Não seja demasiado moralista. Você pode se privar de muita vida assim. Procure mais que a moralidade. Não seja simplesmente bom, seja bom para alguma coisa.”

“O maior elogio que já me foi dado, foi quando alguém me perguntou o que eu pensava e prestou atenção na minha resposta.”

“Nada faz a terra parecer tão espaçosa como ter amigos à distância, eles criam as latitudes e longitudes.”

“Os homens se transformaram nos instrumentos de seus instrumentos.”

“Por fecharem os olhos e dormirem, por consentirem em ser enganados pelas aparências, os homens em toda parte estabelecem e confirmam suas vidas diárias de rotina e hábito em cima de fundações puramente ilusórias.”

“Na maioria das vezes somos mais solitários quando circulamos entre os homens do que quando permanecemos em nosso quarto.”


Poemas de Thoreau:

 

 

Névoa

Nuvem, âncora baixa,
Ar da Terra Nova,
Cabeça da nascente e nascente dos rios,
Pano de orvalho, armarinho de sono,
E guardanapo espalhado pelas Fadas;
Prado à deriva no ar,
Onde linhas de violetas florescem e rejuvenescem,
E em cujo labirinto pantanoso
se ouvem os foles do amargo e a garça caminha;
Espírito do lago e dos mares e rios,
Levando apenas o perfume e a essência
Das ervas curativas apenas para os campos dos homens!

 

Eu sou o sol do outono

Às vezes, um mortal sente a natureza em si
mesmo.Ele não é seu pai, mas sua mãe se move
dentro dele, e ele se torna imperecível com sua
imortalidade. De vez em quando, ela afirma ter
parentesco conosco, e algumas células sanguíneas
em suas veias vão roubar as nossas.

Eu sou o sol outonal,
Com os vendavais de outono minha corrida corre;
Quando a avelã derramará suas flores,
Ou a uva amadurecerá sob meus galhos?
Quando a colheita ou o fim da lua do caçador
Transforme minha meia-noite em meio-dia?
Eu sou tudo que está murcho e amarelo,
E eu adoço meu coração.
O mastro está caindo em minha floresta, O
inverno espreita em meus humores,
E o farfalhar da folha seca
É a canção da minha dor ...

Raleigh

A lua é uma estrela cheia de raios inalterados
Eles se acumulam no céu oriental,
Não destinada a essas noites curtas para sempre,
Mas ela brilha constantemente.

Ela não enfraquece, mas, para minha fortuna, Aquela
cujos raios não abençoam,
Meu caminho rebelde declina rapidamente,
No entanto , ela não brilha menos.

E se ela brilhar fracamente aqui,
e sua luz empalidecer,
No entanto , todos os dias em sua própria esfera
Ela possui a noite.

Todas as coisas estão em andamento

Todas as coisas estão em andamento
No terreno terreno,
Os espíritos e os elementos
Têm suas quedas.

Noite e dia, ano após ano,
Alto e baixo, perto e longe
Esses são nossos próprios aspectos,
Esses são nossos próprios arrependimentos.

Os deuses da terra,
Que permanecem para sempre,
Eu os vejo em promontórios distantes,
Espalhando-se em ambos os lados;

Eu ouço os sons de uma doce noite
De seu terreno indestrutível;
Enganando-me apenas com o tempo,
Leve-me ao seu clima.

O Atraso do poeta

Em vão vejo melhorar a manhã,
Em vão vejo o brilho do oeste,
Que ociosamente olha para outros céus,
Imaginando a vida de outras maneiras.

No meio de tanta riqueza sem limites,
Ainda estou sozinho e pobre por dentro,
Os pássaros cantaram seu verão,
Mas ainda minha primavera não começou.

Devo esperar pelo vento de outono,
Forçado a buscar um dia mais pacífico,
e não deixar ninhos estranhos para trás,
Não há florestas ainda ecoando em meu verso?

Natureza

Oh Nature! Eu não aspiro
Ser o mais alto em seu coro, -
Ser um meteoro no céu,
Ou o cometa que pode vaguear alto;
Apenas um zéfiro que pode atacar
Entre os juncos rio abaixo;
Dê-me seu lugar mais íntimo
Onde minha linha etérea corre.

Em algo para se retirar, em uma campina sem uma audiência
Deixe-me suspirar em um junco,
Ou na floresta, em um burburinho de folhas,
Sussurre na quietude do crepúsculo:
Ainda algum trabalho, eu tenho que fazer, -
Só, vai fique perto de você!

Porque eu preferiria ser seu filho
E discípulo, na floresta selvagem,
Do que ser o rei dos homens em outro lugar,
E o mais cuidadoso e soberano dos escravos
Para ter um momento de sua aurora,
Do que compartilhar, um ano de desespero na cidade.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

 Figura: https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03s1pbqJhkcwHtSTKHMOTe_MWQMVg:1627353643748&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+Thoreau&sa=X

 


O escritor inglês Aldous Huxley autor do livro "Admirável Mundo Novo"

 





 

O escritor modernista inglês Aldous Huxley, que destacou-se por obras de ficção científica, nasceu em 26 de julho de 1894 em Godalming, Surrey, na Inglaterra. Sua obra principal foi Admirável Mundo Novo. Além de romances, escreveu também ensaios, contos, poesias, literatura de viagem e roteiros de filmes. Foi indicado por sete vezes ao Prêmio Nobel de Literatura. Era humanista e pacifista. Tinha interesses no misticismo filosófico e no universalismo. Em sua obra Admirável Mundo Novo, publicado em 1932, ele apresentou sua visão de distopia e na obra Island, mostrou sua visão de utopia.

Entre os ancestrais de Aldous, seu avô, Thomas Henry Huxley, foi um grande biólogo e defensor da teoria evolucionista de Darwin. A tia pelo lado materno, Humphrey Ward, era romancista. Havia outros membros da família ligados à literatura.

Aldous viveu em Godalming até 1908, ano da morte de sua mãe. Começou a estudar na Eton College, porém em 1910 foi obrigado a deixar o colégio por causa de ceratite, uma doença que atingiu seus olhos. Recuperou parte de sua visão e se formou em Inglês em 1916, pela Universidade de Oxford, porém não tinha visão suficiente para ser aceito pelo exército britânico que lutava na Primeira Guerra Mundial. Conheceu em Oxford os escritores Lytton Strachey e Bertrand Russell e ficou amigo de D. H. Lawrence. No período entre 1919 e 1921 o escritor participou da equipe de trabalho da revista Athenaeum.

Lançou em 1921 uma série de romances e novelas: "Crome Yellow". Na década de 1920 viveu durante alguns anos na Itália governada pelo líder fascista Mussolini. Essa experiência de vida inspirou o autor em criações de sistemas autoritários em obra suas. Em 1919 Huxley casou-se com a belga Maria Nys e com ela teve um filho, Matthew Huxley, que veio a ser escritor, antropólogo e epidemologista.

Huxley levou 4 meses para escrever Admirável Mundo Novo em 1931. Com esse livro o autor demonstrava sua preocupação com a liberdade individual diante de Estados altamente controladores. Em 1937 o escritor mudou-se com a sua esposa e filho para Los Angeles. Em 1938 passou a trabalhar para o cinema em Hollywood. São dessa fase os romances Também o Cisne Morre (1939), O Tempo Pode Parar (1944), O Macaco e a Essência (1948). Tornou-se amigo de Jiddu Krishnamurti e os dois fizeram um intercâmbio que durou muitos anos. O escritor também fez parte do círculo hindu Swami Prabhavananda. É desse tempo o livro A Filosofia Perene sobre ideias espirituais. Nessa obra o autor diz que há realidades além dos “cinco sentidos”. Segundo Christopher Isherwood, Huxley ganhou mais de 3000 dólares por semana como roteirista, dinheiro usado para ajudar escritores e artistas judeus irem da Alemanha dominada pelos nazistas para os Estados Unidos.

Em 1938 ele foi contratado pela Metro-Goldwyn-Mayer para trabalhar no filme Madame Curie. Huxley trabalhou em outros filmes também como Orgulho e Preconceito (1940) e  Jane Eyre (1944). A esposa de Huxley morreu em 1955 de câncer e em 1956 casou-se com a escritora, violinista e psicoterapeuta italiana Laura Archera, que escreveu tempos depois This Timeless Moment, uma biografia sobre Huxley.

Huxley escreveu As portas da percepção (1954)em relação às suas experiências com mescalina iniciadas em 1953. Tal livro teve influência na cultura hippie. Embora ele tenha feito experimentos com LSD, não era participante do movimento hippie, pois o escritor tinha ideias e hábitos diferentes. O que ele procurava era abordar a questão dos psicoativos ligada à antropologia e à filosofia.

Mesmo tendo sido diagnosticado com câncer de laringe em 1960, Huxley continuou escrevendo, ainda que com a saúde fragilizada. Ele escreveu o romance A Ilha e foi professor no Centro Médico São Francisco da Universiade da Califórnia e no Instituto Esalen, lecionando sobre as potencialidades humanas. Ele foi um dos principais fundadores da escola Happy Valley School (depois chamada de Besant Hill School of Happy Valley).  Em 1962 a Real Sociedade de Literatura o homenageou com o título de “Companheiro de Literatura”.

Huxley veio a falecer em 22 de novembro de 1963, com 69 anos, devido ao agravamento do câncer, já estando sem poder falar. Suas cinzas foram enterradas no jazigo de família no cemitério de Watts, na vila de Compton, na Inglaterra. Entre suas principais obras podem ser citadas: Admirável Mundo NovoO Macaco e a EssênciaA IlhaAs Portas da PercepçãoA Situação Humana.

Algumas características das obras de Huxley: fluxo de consciência, linguagem experimental, realidade absurda, impressionismo, caráter antiacadêmico, fragmentação, pessimismo, sátira, enredo distópico.

Na sua obra Admirável mundo novo, há um futuro distópico e as pessoas são controladas socialmente em um meio muito avançado cientificamente e tecnologicamente. Há uma alienação social com o uso de uma droga chamada “soma”. O industrial Henry Ford é adorado e há um Estado Mundial, não havendo mais as famílias nucleares. Os seres humanos nesta sociedade são gerados artificialmente no Centro de Incubação e Condicionamento. No processo de desenvolvimento destas pessoas é determinada a camada social e há um condicionamento para cada um agir conforme seu grupo social. O grupo dominante (os Alfa) é constituído pelos intelectuais e os outros grupo são considerados inferiores, sendo a casta mais baixa os Ípsilons, que só se dedicam a trabalhos manuais. Há um local onde há seres humanos considerados “selvagens” e onde não passaram por condicionamento. Lá há um filho de dois habitantes do mundo considerado “civilizado”, Tomakin e Linda. Ela tinha caído de uma elevação e passou a viver na reserva dos “selvagens” onde deu à luz a seu filho John, que depois, já adulto, foi levado para a “civilização”, onde passa a questionar e criticar o modelo desta sociedade. Huxley pretendeu com essa obra fazer um alerta para potenciais perigos que existem na sociedade com seus avanços científicos que podem ser utilizados para dominar as pessoas.

Segundo a autora Dilva Frazão:

“Aldous Huxley (1894-1963) foi um escritor inglês, autor do clássico da literatura “Admirável Mundo Novo”. Suas meditações em torno das experiências com drogas alucinógenas foram relatadas no livro “As Portas da Percepção”.

Aldous Leonard Huxley nasceu em Godalming, Inglaterra, no dia 26 de julho de 1894. Filho de um professor e escritor e neto de um famoso naturalista, Huxley cresceu em um ambiente cercado de vasta elite intelectual. Estudou no Eton College, mas foi obrigado a abandonar os estudos por causa de uma doença nos olhos que o deixou quase cego (...)”

E ainda a mesma autora:

“(...) Suas primeiras publicações foram coletâneas de poemas, entre eles “The Burning Wheel” (1916) e “Jonah” (1917). Atuou como jornalista para a revista Athenaeum e como crítico de teatro para a Westminster Gazzette. Publicou sua primeira prosa “limbo” (1920) e sua primeira novela “Crome Yellow” (1921), onde faz uma crítica severa aos ambientes intelectuais.

Aldous Huxley fez várias viagens para manter contato com a intelectualidade europeia. Esteve em Paris e em seguida residiu na Itália, época em que escreveu “Point Counter Point” (1928) na qual mostra sua solidez intelectual e as técnicas modernas da arte da novela. Em 1932 publicou seu livro mais importante e que o tornaria mais conhecido “Admirável Mundo Novo”, onde alia sátira e ficção, de caráter visionário e pessimista de uma sociedade regida por um sistema de castas. Em 1936 publicou “Eyeless in Gaza”, de caráter autobiográfico.

Em 1937, Aldous Huxley mudou-se para os Estados Unidos, esteve na Califórnia e no ano seguinte foi para Hollywood, onde passou a escrever roteiros para o cinema. Em seguida, começou a época mística de sua carreira. Em 1941 aproximou-se da literatura religiosa da Índia e manteve contato com a “Vedanta Society” de Los Angeles. Publicou “The Art of Seeing” (1942) e “Time Must Have a Stop” (1944), este inspirado no Livro Tibetano dos Mortos. Em 1946 pulicou uma coletânea comentada de textos místicos, “La Philosophia Eternelle” (A Filosofia Perene), onde busca um substrato comum de várias perspectivas individualistas (...)”.

 

Frases de Aldous Huxley

 “Aprender pouco é algo perigoso.”

 “O homem tem vivido demasiadamente no planeta à moda de um parasita que se sustenta daquele a quem infesta.”

“Se queremos ser bem tratados pela natureza, temos de tratar bem a natureza.”

 “O nacionalismo usa todos os recursos da educação para criar uma lealdade artificial.”

“Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música.”

“Experiência não é o que acontece com um homem; é o que um homem faz com o que lhe acontece.”

“O degrau da escada não foi inventado para repousar, mas apenas para sustentar o pé o tempo necessário para que o homem coloque o outro pé um pouco mais alto.”

“Os fatos não deixam de existir só porque são ignorados.”

“O silêncio está tão repleto de sabedoria e de espírito em potência como o mármore não talhado é rico em escultura.”

“Conhecimento não é aquilo que você sabe, mas o que você faz com aquilo que você sabe.”

“Os homens são animais muito estranhos: uma mistura do nervosismo de um cavalo, da teimosia de uma mula e da malícia de um camelo.”

“Dá tanto trabalho escrever um livro mau como um bom; ele brota com igual sinceridade da alma do autor.”

“Os fatos são como os bonecos dos ventríloquos. Sentados no joelho de um homem sábio articularão palavras de sabedoria; noutros joelhos, não dirão nada ou dirão disparates, ou comprazer-se-ão em puro diabolismo.”

“As paródias e as caricaturas são as formas mais agudas de crítica.”

“Os provérbios são sempre chavões até você experimentar a verdade contida neles.”

“As palavras nos permitiram elevar-nos acima dos animais, mas também é pelas palavras que não raro descemos ao nível de seres demoníacos.”

“Convenientemente aplicada a qualquer situação, o amor vence sempre. É um fato que se verifica empiricamente. O amor é a melhor política. A melhor não só para os que são amados, mas também para quem ama. Pois o amor é um potencial de energia"

“Devemos o progresso aos insatisfeitos.”

“As únicas pessoas completamente constantes são os mortos.”

“Se considerais ter agido mal, arrependei-vos, corrigi os vossos erros na medida do possível e tentai conduzir-vos melhor na próxima vez. E não vos entregueis, sob nenhum pretexto, à meditação melancólica das vossas faltas. Rebolar no lodo não é, com certeza, a melhor maneira de alguém se lavar.”

“Se apenas soubesse quem realmente sou, deixaria de me comportar como penso ser. E se parasse de me comportar com penso ser, saberia quem sou.”

“O bem da humanidade deve consistir em que cada um goze o máximo de felicidade que possa, sem diminuir a felicidade dos outros.”

“Uma verdade sem interesse pode ser eclipsada por uma mentira emocionante.”

“Reprimido, o impulso transborda, e a inundação é sentimento; a inundação é paixão; a inundação é loucura até: tudo depende da força da corrente, da altura e da resistência do dique.”

“Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros, mas sempre e em quaisquer circunstâncias existimos a sós. (...) Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados numa única auto-transcendência; debalde. Cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a viver e gozar em solidão.”

“As palavras podem ser como os raios-x, se as usarmos adequadamente: penetram em tudo. A gente lê e é transpassado.”

"A felicidade não é atingida pela busca consciente de felicidade; ela é geralmente um subproduto de outras atividades."

“A verdade é grande, mas maior ainda, do ponto de vista prático, é o silêncio sobre a verdade.”

“⁠Todo homem que sabe ler tem o poder de engrandecer a si mesmo, de multiplicar a forma como existe, de tornar sua vida plena, significante e interessante.”

“As palavras formam os fios com os quais tecemos nossas experiências.”

“Não basta que as frases sejam boas, seria preciso que o que delas se fizesse também fosse bom.”

“Mas é que, quando não se conhece a História, os fatos relativos ao passado, em geral, parecem mesmo incríveis.”

“"Seriedade mal aplicada - eis a origem de alguns de nossos erros mais fatais. Só devemos levar a sério o que merece ser levado a sério. E, no plano estritamente humano, nada merece ser levado a sério, a não ser os sofrimentos que os homens afligem a si mesmos pelos seus crimes e loucuras."

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura: 

https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk02wJb6rVQ5Pgk8W1jKeShilxLL76Q:1627312025197&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+aldous+huxley&sa


terça-feira, 20 de julho de 2021

O médico e pesquisador Carlos Chagas

 






Em 9 de julho de 1879, na Fazenda Bom Retiro, cidade de Oliveira, em Minas Gerais, nasceu o biólogo, médico, infectologista, cientista, bacteriologista e sanitarista Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas, que atuou na medicina e como pesquisador. Seus pais eram o cafeicultor José Justiniano Chagas e Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas. O pai morreu quando Carlos tinha quatro anos. Teve quatro irmãos, sendo que um de seus irmãos morreu com três anos de idade. Após certo tempo, Carlos, a mãe e os irmãos vão morar na Fazenda Boa Vista, nas proximidades da cidade mineira de Juiz de Fora. Um tio materno de Carlos era médico e o trabalho desse tio influenciou Carlos a seguir a Medicina.

Estudou por pouco tempo no Colégio São Luís, dirigido por jesuítas, em Itu, na província de São Paulo. A mãe queria que ele fosse engenheiro e após terminar o curso secundário ele entrou no curso preparatório para a Escola de Minas de Ouro Preto, mas Carlos passou a levar uma vida boêmia, adoecendo em 1896, sendo reprovado nos exames. Foi recuperar sua saúde em sua cidade de origem e seu tio médico o apoiou em sua aspiração na área médica e a mãe de Carlos foi enfim convencida de que seu filho poderia ser médico. Carlos então foi para São Paulo, certificando-se em sua preparação para poder frequentar o curso de medicina, no qual ingressou em 1897, na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro. Estava havendo  nessa faculdade um processo de renovação, pois nessa instituição haviam sido adquiridas as teses de Louis Pasteur, o que proporcionou uma influência grande das ideias desse pesquisador.

Carlos Chagas foi bastante influenciado pelos seus professores Miguel Couto, na área da clínica médica moderna e Francisco Fajardo na área do estudo das doenças tropicais, como a malária. Ao concluir seu curso de medicina em 1902, tinha ainda de elaborar sua tese e levou uma carta de seu professor Miguel Couto ao Instituto Soroterápico Federal (que em 1908 veio a se chamar Instituto Oswaldo Cruz) para o médico e pesquisador Oswaldo Cruz, que se tornou um valioso orientador e um amigo. A tese de Carlos Chagas, concluída em março de 1903, foi a respeito do  ciclo evolutivo da malária na corrente sanguínea. A tese se chamava "Estudo Hematológico do Impaludismo”.

Oswaldo Cruz incumbiu Carlos Chagas de controlar a malária em Itatinga, no interior de São Paulo. A ação de Chagas foi bem sucedida e seus procedimentos foram depois utilizados em outras campanhas pelo Brasil. Essa prática de Chagas no combate à malária, com medidas preventivas, serviu de base para outros países no combate à doença.

Carlos Chagas foi trabalhar em Niteroi, em 1904, no Hospital de Jurujuba e no mesmo ano montou seu laboratório na cidade do Rio de Janeiro e casou-se com Irís Lobo, tendo com ela dois filhos, Evandro e Carlos, que também seguiriam a carreira médica. Em março de 1906 foi trabalhar no Instituto Oswaldo Cruz e organizou a pedido da diretoria desse instituto o saneamento da Baixada Fluminense.

Em 1907 foi trabalhar em uma campanha contra a malária na cidade de Lassance, em Minas gerais, onde instalou um laboratório em um vagão de trem (trabalhando lá por dois anos). Suas pesquisas na área possibilitaram que descobrisse o protozoário causador da tripanossomíase americana, conhecida como Doença de Chagas. Esse organismo foi chamado por ele de Trypanosoma cruzi (nome dado em homenagem ao seu amigo Oswaldo Cruz). Também Chagas descobriu a evolução da doença nos seres humanos e como eles a pegavam por meio dos insetos chamados popularmente de barbeiros. Recebeu prêmios de instituições de vários países, por exemplo, membro honorário da Academia Brasileira de Medicina e doutor honoris causa da Universidade de Harvard e da Universidade de Paris. Outro destaque foi o seu trabalho no combate às doenças venéreas e à leptospirose.

Chagas participou de estudos no período de 1912 a 1913, realizados pelo Instituto Oswaldo Cruz na Amazônia, para verificar condições de salubridade, pois o governo federal queria ver condições para melhor explorar os recursos naturais da região. Chagas fez visitas a ribeirinhos dos rios Solimões, Negro e Purus para  analisar a realidade dessas pessoas em relação à moradia, abastecimento de água, esgoto, alimentação e assistência médica. Também foram feitas análises sobre a questão de epidemias (com destaque para a malária) na região. Amostras de plantas medicinais também foram recolhidas. Os resultados da expedição científica foram expostos em uma conferência no Rio de Janeiro e foi escrito um relatório por Oswaldo Cruz para o Ministério da Agricultura. Esses resultados científicos serviram para mostrar a situação de abandono daquelas populações e serviu de alerta para a importância do saneamento no interior do Brasil e sobre a necessidade na melhoria de serviços de saúde pública.

Com a morte de Oswaldo Cruz, Chagas em fevereiro de 1917  foi nomeado para a direção do Instituto Oswaldo Cruz e  seguiu o modelo já implantado por Cruz, com semelhanças com o Instituto Pasteur, da França, com autonomia administrativa e financeira. Procurou aperfeiçoar a relação entre pesquisa, ensino e a fabricação de produtos medicinais.

Na época da Gripe Espanhola, que chegou ao Brasil em 1918, o presidente da República convidou Chagas para o combate à doença na cidade do Rio de Janeiro. Na ocasião, Chagas, sua esposa e filhos tinham pegado a doença. Ele criou um serviço especial de atendimento à população e também cinco hospitais emergenciais, realizando publicações de alertas à população.

Em 1918 Chagas criou o Hospital Oswaldo Cruz, que se tornou um centro de estudos para pesquisadores e que em 1942 passou a ser chamado de Hospital Evandro Chagas. Graças a Carlos Chagas foram criadas no Instituto Oswaldo Cruz seções científicas independentes, por área de conhecimento (seções de Química Aplicada,  Bacteriologia, Micologia, Zoologia, Anatomia, Protozoologia e Fisiologia). Nos anos de 1920 o Instituto passou a ter a responsabilidade de verificar o controle de qualidade dos produtos utilizados na Medicina brasileira. A vacina contra a varíola passou a ser feita no Instituto.

Chagas criou o Serviço de Serviço de Enfermagem Sanitária, com apoio da Fundação Rockefeller e em 1923 foi criada a Escola de Enfermagem Anna Nery, começando o ensino profissionalizante de Enfermagem no Brasil. Os alunos desse curso também passavam pelo Hospital São Francisco de Assis, fundado por Chagas. 

Carlos Chagas foi o representante do Brasil no Comitê de Higiene da Liga da Nações, associação sediada em Genebra e que antecedeu a Organização Mundial de Saúde (OMS). Chagas era um defensor da proximidade entre o ensino e a pesquisa e também do estudo de doenças tropicais e a luta contra os problemas de saúde pública no Brasil como a malária e a Doença de Chagas. Em 1925 ele criou  a especialização em Higiene e Saúde Pública e a cadeira de Doenças Tropicais na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

Em 8 de novembro de 1934, Carlos Chagas morreu na cidade do Rio de Janeiro, aos 55 anos, vítima de um infarto.

Segundo a autora Dilva Frazão:

“(...) Em 1907, Carlos Chagas foi designado para a chefia de uma comissão designada para combater uma epidemia de malária que se espalhava entre os trabalhadores que instalavam uma linha de trem na cidade de Lassance, em Minas Gerais.

Durante dois anos trabalhando em um pequeno laboratório instalado em um vagão de trem, em 1909, as pesquisas de Carlos Chagas tomaram novo rumo, pois na região, muitas pessoas morriam de uma doença desconhecida e, depois de uma autópsia, descobriu grandes lesões no músculo cardíaco da uma vítima.

Pouco depois, descobriu um inseto chamado barbeiro que tinha o hábito de picar o rosto e chupar o sangue das pessoas. Ao examinar o inseto, encontrou em seu intestino uma nova espécie de protozoário flagelado, que mais tarde chamou de Trypanosoma cruzi (em homenagem a Osvaldo Cruz).

No dia 22 de abril de 1909, a descoberta da doença, que depois receberia o nome de Chagas, foi publicada na Revista Brasil-Médico. Em agosto desse mesmo ano, Carlos Chagas publicou o primeiro volume da revista do Instituto Osvaldo Cruz, um estudo completo sobre a doença de Chagas e o ciclo evolutivo do protozoário causador da doença.

Estudo Epidemiológico na Amazônia

Entre 1911 e 1912, Carlos Chagas realizou um estudo epidemiológico completo em 52 cidades do vale amazônico, região assolada por grandes epidemias, principalmente da malária. Em seu relatório, Carlos Chagas se mostrou indignado com a situação de pobreza da região.

Gripe Espanhola

A gripe espanhola chegou ao Rio de Janeiro em 1918, um ano após a morte de Osvaldo Cruz e de Carlos Chagas ter assumido a direção do Instituto Manguinhos. Em dois meses, a gripe matou 15 mil pessoas na cidade.

Carlos Chagas foi chamado para chefiar a campanha contra a epidemia. Em uma semana, ele instalou hospitais improvisados e laboratórios de emergência e, mobilizou a parte ativa da população. No final do ano, a epidemia havia sido debelada.

Diretor de Saúde Pública

Em 1919, Carlos Chagas foi nomeado pelo presidente da República, Epitácio Pessoa, para dirigir o Departamento Nacional de Saúde Pública. Nesse período, realizou reformas no serviço de profilaxia rural, instalou inspetorias especializadas no combate à tuberculose, à sífilis e a lepra.

Com o apoio da Fundação Rockefeller, Carlos Chagas criou o serviço de Enfermagem Sanitária e, em 1923 criou a Escola de Enfermagem Anna Neri, introduzindo o ensino de enfermagem no Brasil. Carlos Chagas deixou o Departamento Nacional em 1926, mas permaneceu dirigindo Manguinhos (...)”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


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