domingo, 3 de janeiro de 2021

O poeta e dramaturgo T. S. Elliot

 


No dia 4 de janeiro de 1965 falecia com 76 anos, devido a um efisema pulmonar, o poeta, ensaísta, crítico literário e dramaturgo inglês Thomas Stearns Elliot, ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1948 e considerado um dos representantes mais importantes do modernismo literário. Sua poesia tem muitas referências em relação a mitos, cultura e poesia da Índia antiga, tendo uma ligação à questão existencial do Homem moderno em um mundo perturbado, havendo recorrência nessa poesia ao Humanismo, com bases no cristianismo.  Recebeu influências da poesia francesa, em especial de Charles Baudelaire. Era uma pessoa divertida com os amigos e sabia jogar cartas muito bem.

 

A obra de destaque de Elliot foi “A Terra Devastada”, poema dedicado ao também poeta Ezra Pound, que teve muita influência na carreira literária de Eliot. O poema expressava as desilusões da geração que sobreviveu à Primeira Guerra Mundial, mostrando a imagem de um mundo onde a morte é onipresente e misturou estilos como o simbolismo francês, obras de metafísicos ingleses e de Dante Alighieri.

 

Seus pais eram o empresário Henry Ware Eliot e Charlotte Chauncey Stearns, descendente de uma família aristocrática mercantil de Boston, uma mulher com uma educação refinada.  Tendo sido o sexto dos filhos sobreviventes de seus pais, nasceu em 26 de setembro de 1888, em Saint Louis, Missouri, nos Estados Unidos. Estudou primeiramente na Academia Smith e depois estudou na Academia Milton, em Massachussets. 

 

Elliot diplomou-se em Filosofia e Letras na Universidade de Harvard, na cidade de Boston. Nessa instituição de ensino participou ativamente da revista universitária The Harvard Advocate. Também estudou nas universidades de Sorbonne (França) e Marburg (Alemanha). Descendente de ingleses que se estabeleceram no século XVIII na Nova Inglaterra (EUA), foi morar em Londres em 1914, lá passou a lecionar e  conheceu o poeta Ezra Pound. Trabalhou no departamento de estrangeiros do Lloyds Banking Group,de 1917 a 1925 e ingressou na editora Faber e Faber, onde ficou muitos anos. Foi editor assistente do periódico Egoist, de 1917 a 1919 e colaborou com outros meios jornalísticos como o The Athenaeum. Em 1915 casou-se com a inglesa Vivienne Haigh-Wood

Durante a década de 1920, ele passou um tempo em Paris. Seu primeiro poema foi “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock” sob a direção editora de seu amigo Pound, em 1915, publicado em 1917. Fundou a revista Criterion em 1922, que teve impacto na cultura dos anos 20 e 30 do século XX. Em 1927 tornou-se cidadão britânico. Estudou sânscrito e religiões orientais.

Eliot foi crítico literário bem sucedido, em especial com a coletânea de ensaios “O Bosque Sagrado”. Outra obra em que se destacou foi “Homenagem a John Dryden “. Declarou-se ser um monarquista, anglo-católico e um classicista na literatura.

No teatro produziu o coro da peça “A Rocha”, em 1934; “O Assassinato na Catedral, em 1935; “A Reunião de Família”, em 1939, entre outras produções. Foi muito bem avaliada a sua obra “Quatro Quartetos”, devido a riqueza de imagens e técnica muito bem feita dos versos. Recebeu em 1950 o prêmio    Tony Award de Melhor Libreto de Musical ( Elliot recebeu 4 vezes este prêmio em sua vida) . Em 1957 casou-se pela segunda vez com Valerie Fletcher, sua secretária na Faber & Faber. Foi considerado uma celebridade. Uma palestra dele na Universidade de Minnesota em 1956 teve cerca de 14 mil espectadores. Infelizmente houve alguns fatos deploráveis em sua biografia, como a demonstração de alguns traços de antissemitismo e nunca tendo visitado sua primeira esposa (de quem já estava separado) em um hospital psiquiátrico nos anos que ela lá esteve antes de morrer.

 

Tendo fumado muito por décadas, faleceu devido a um efisema pulmonar e foi enterrado na Inglaterra, na Igreja de Saint Michel, em Somerset.

 

Segundo Benedito Nunes: “O poeta crítico e o crítico poeta se juntam em T. S. Eliot, para quem a poesia tem uma dupla tarefa: aperfeiçoar a língua e mobilizar o pensamento para o mito, a religião e a filosofia. Disso resulta uma unidade múltipla: combinação do antigo e do novo, fragmentarismo das imagens (instantâneo de algo complexo que se desenrola temporalmente) e convergência dramática de vozes literárias do passado num sujeito silente. É o que vemos em A terra desolada (1922), o mais assombroso poema da literatura moderna, segundo Otto Maria Carpeaux, e nos Quatro quartetos (1943), suas obras mais conhecidas. Ambas podem ser ditas culturais e de conteúdo místico. Ambas revelam uma unidade temporal centrada na duração, no instante (“cada instante é uma nova e chocante / avaliação de tudo o que temos sido”, ele escreve nos Quartetos), mas voltada para a eternidade, como a forma de um vaso chinês “que ainda se move / perpetuamente em seu repouso”. Numa época marcada pela incerteza do homem quanto ao destino do seu impulso religioso e pela ressurgência de crenças antigas como o ioga, o ocultismo e a teosofia sob a crosta dos hábitos urbanos, Eliot junta platonismo, cristianismo, hinduísmo e taoísmo numa nova religiosidade sincrética, a memória da História servindo para a libertação do passado e do futuro. O homem está no mundo para purgar-se das desventuras históricas a caminho de uma Redenção que lhe foi prometida. Pensamento religioso, portanto, que interroga a História através da poesia.”

 

 

Frases de Elliot:

“É assim que o mundo termina, não com um estrondo, mas com uma choradeira.”

“Apenas se constrói com solidez sobre o passado”

 “A raça humana / Não pode suportar muita realidade.”

 “Só os que se arriscam a ir longe demais são capazes de descobrir o quão longe se pode ir.”

 “Ah, minha alma, prepare-se para encontrar Aquele que sabe fazer perguntas.”

  "Entre o desejo e o espasmo, entre a potência e a existência, entre a essência e a descendência, tomba a sombra. Esta é a maneira que o mundo acaba."

 “As palavras do ano passado pertencem à linguagem do ano passado
E as palavras do próximo ano aguardam outra voz.”

 “Percorrer muitas estradas, voltar para casa, e olhar tudo como se fosse a primeira vez”

 

 Alguns poemas de T. Elliot:

 

Manhã à Janela

Há um tinir de louças de café
Nas cozinhas que os porões abrigam,
E ao longo das bordas pisoteadas da rua
Penso nas almas úmidas das domésticas
Brotando melancólicas nos portões das áreas de serviço.
As ondas castanhas da neblina me arremessam
Retorcidas faces do fundo da rua,
E arrancam de uma passante com saias enlameadas
Um sorriso sem destino que no ar vacila
E se dissipa rente ao nível dos telhados.

 

 O Nome dos Gatos

Dar nome aos gatos é um assunto traiçoeiro,

E não um jogo que entretenha os indolentes;

Pode julgar-me louco como o chapeleiro,

Mas a um gato se dá TRÊS NOMES DIFERENTES.

Primeiro, o nome por que o chamam diariamente,

Como Pedro, Augusto, Belarmino ou Tomás

Como Victor ou Jonas, Jorge ou Clemente

– Enfim nomes discretos e bastante usuais.

Há mesmo os que supomos soar com som mais brando,

Uns para damas, outro para cavalheiros,

Como Platão, Admetus, Electra, Demétrio

Mas são todos discretos e assaz corriqueiros

Mas a um gato cabe dar um nome especial

Um que lhe seja próprio e menos correntio:

Se não como manter a cauda em vertical,

Distender os bigodes e afagar o brio?

Dos nomes desta espécie é bem restrito o quorum,

Como Quaxo, Munkunstrap ou Coricopato,

Como Bombalurina, ou mesmo Jellylorum…

Nomes que nunca pertencem a mais de um gato.

Mas, acima e além, há um nome que ainda resta,

Este de que jamais ninguém cogitaria,

O nome que nenhuma ciência exata atesta

SOMENTE O GATO SABE, mas nunca o pronuncia.

Se um gato surpreenderes com ar meditabundo,

Saibas a origem do deleite que o consome:

Sua mente se entrega ao êxtase profundo

De pensar, de pensar, de pensar em seu nome:

Seu inefável afável

Inefanefável

Abismal, inviolável e singelo Nome.

 

 

 Prelúdios

A tarde de inverno vai baixando
Com um cheiro de bifes nos cruzamentos.
Seis horas.
O fim queimado de dias nevoentos.
E agora uns chuvarais lestos
Prendem os horrendos restos
De folhas secas que envolvem nossos pés
E jornais nos espaços vagos;
As batidas dos chuvaréis
Nas chaminés e nos olhos-mágicos quebrados,
E numa esquina de corcéis
Uma montaria solitária bafeja, trota e avança.
E a lâmpada suas luzes lança.

   II

A manhã toma consciência
Das vertigens do cheiro de cerveja
Que vem da rua de serragem batida
Com as pegadas de todos os pés enlameados
Até as primeiras cafeterias.

Junto dos outros mascarados
É que o tempo recomeça,
Pensa-se que todas essas mãos
São, numa centena de quartos mobiliados,
Emergentes tons sombrios.

     III

Um cobertor da cama agitaste,
Caíste de costas, e aguardaste;
Adormeceste, e observaste a noite que revelava
Um milhar de imagens sórdidas
Do que tua alma foi formada;
Contra o teto eram arremessadas.
E quando todo mundo retornou
E entre as venezianas deslizou a claridade,
E você ouviu os pardais nas calhas da cidade,
Tiveste uma visão da rua
Como se frases por ela fossem compreendidas;
Sentado numa parte da cama, onde
Curvastes papéis que teu cabelo esconde,
Ou agarraste dos pés a amarela sola nua
Nas palmas de ambas as mãos encardidas.

     IV

Pelos céus a alma se estendeu dando pequeninas
Voltas que passam por trás de um muro,
Ou esmagou-a uns pés insistentes
Quando marca quatro e cinco e seis o relógio duro;
E dedos curtos preenchendo os cachimbos,
E os jornais da tarde, e as retinas
Certos de certas certezas,
A consciência de uma rua decadente
Sem paciência para apropriar-se do mundo.

Sou movido por sonhos que se curvaram
Em volta dessas imagens, e prendendo:
A noção de algo infinitamente gentil
Algo infinitamente sofrendo.

Limpe a mão sobre a boca, e ria;
O mundo gira, em órbita, como anciãs
Juntando combustível em espaços vagos.

 

Sussurros de imortalidade

 


Webster, possesso pela morte,
via, detrás da pele, os crânios;
riam sem lábios, reclinando-se
sem tórax, seres subterrâneos.
Não olhos: bulbos de narciso
pasmavam de órbitas escuras!
Sabia: a mente envolve restos
mortais com luxos e luxúrias.
Donne, posso crer, também achava
que era ao sentido que cabia
pegar, render e penetrar;
perito em mais do que a empiria,
ciente da angústia da medula,
do espasmo do esqueleto, viu
que, no contato dado à carne,
nada se aplacava o osso febril.
* * *
Grishkin é bela: sublinhados,
seus olhos russos são enfáticos;
sem sutiã, seu busto amigo
promete júbilos pneumáticos.
O jaguar brasileiro, à espreita
do mico lépido, o avassala
com eflúvio sutil de gato;
Grishkin possui um quarto-e-sala;
O nédio jaguar brasileiro,
em sua sombra arbórea, não
destila odor forte e felino
como o de Grishkin num salão.
Mesmo abstrações rondam seu charme.
Entre ossos secos, todavia,
meus iguais, rastejando, aquecem
a nossa vã filosofia.

 

Rapsódia sobre uma noite de vento

Meia-noite.
Uma síntese lunar captura
Todas as fases da rua,
Sussurrantes sortilégios lunares
Dissolvem os planos da memória
E todas as suas límpidas tramas,
Divisões e precisos mecanismos.
Cada lampião que ultrapasso
Pulsa como um tambor fatídico,
E através das lacunas do escuro
A meia-noite golpeia a memória
Como um louco brande um gerânio morto.

Uma e meia,
O lampião cuspia,
O lampião resmungava,
O lampião dizia: “Olha aquela mulher
Ao teu encontro hesitante à luz da porta
Que a recorta como um riso escarninho.
Repara-lhe a barra do vestido
Rasgada e suja de areia,
E o canto de seu olho que se arqueia
Como um grampo retorcido.”

A memória expele e disseca
Um turbilhão de coisas tortas;
Um ramo tortuoso sobre a praia
Polidamente carcomido e cinzelado
Como se o mundo erguesse à superfície
O segredo de seu esqueleto,
Rígido e alvadio.
A mola espatifada no pátio de uma fábrica,
A ferrugem que se aferra à forma
Que a força deixou tensa e enrodilhada
E pronta a abocanhar com uma dentada.

Duas e meia,
O lampião dizia:
“Observa o gato que na calha se adelgaça,
Espicha a sua língua e saboreia
Um naco rançoso de manteiga.”
Tal a mão do menino, automática,
Surripiou e embolsou um brinquedo
Que ao longo do cais deslizava.
Eu nada podia ver atrás dos olhos do menino.
Tenho visto pela rua olhos que tentam
Emergir por entre iluminadas persianas,
E certa tarde um caranguejo vi na lama,
Um velho caranguejo em sua carcaça calcária
A agarrar-se à ponta do graveto que eu sustinha.

Três e meia,
O lampião cuspia,
O lampião no escuro resmungava,
O lampião zumbia:
“Olha a lua,
La lune ne garde aucune rancune.
Pisca um olho tímido,
Sorri pelas esquinas.
Alisa os cabelos de gramínea.
A lua perdeu a memória.
Bexigas descoradas ulceram-lhe a face.
Suas mãos retorcem uma rosa de papel
Que recende a pó e água-de-colônia.
Ela está só, em companhia
De todos os antigos eflúvios noturnos
Que lhe cruzam e entrecruzam o cérebro.”
Aflora a reminiscência
De secos gerânios pálidos
E de poeira nas frinchas,
Aroma de castanhas pela rua,
E odor de fêmea nas alcovas clandestinas,
E de cigarros pelos corredores
E de coquetéis nos bares.

O lampião disse:
“Quatro horas,
Eis o número sobre a porta.
Memória!
Tens a chave,
A luminária alastra um círculo na escada.
Sobe.
A cama é franca; a escova de dentes na parede pende,
Põe teus sapatos junto à porta, dorme, para a vida te talha.

O último talho da navalha.

.

 

 A TERRA DESOLADA (trecho)

 

 O enterro dos mortos

 Abril é o mais cruel dos meses, germina

 Lilases da terra morta, mistura

 Memória e desejo, aviva

 Agônicas raízes com a chuva da primavera.

 O inverno nos agasalhava, envolvendo

 A terra em neve deslembrada, nutrindo

 Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.

 O verão; nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee

 Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos

 E ao sol caminhamos pelas aléias de Hofgarten,

 Tomamos café, e por uma hora conversamos.

 Big gar keine Russin, stamm' aus Litauen, echt deutsch.

 Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,

Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.

 E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,

 Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.

 Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.

 Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.

 Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham

 Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,

 Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces

 Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,

 E as árvores mortas já não mais te abrigam, nem te consola o canto dos grilos,

 E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas

 Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.

 (Chega-te à sombra desta rocha escarlate),

 E vou mostrar-te algo distinto

 De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece

 Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;

 Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.

 Frisch weht er Wind

 Der Heimat zu

 Mein Irisch Kind,

 Wo weilest du?

 ''Um ano faz agora que os primeiros jacintos me deste;

 Chamavam-me a menina dos jacintos."

 - Mas ao voltarmos, tarde, do Jardim dos Jacintos,

 Teus braços cheios de jacintos e teus cabelos úmidos, não pude

 Falar, e meus olhos se enevoaram, eu não sabia

 Se vivo ou morto estava, e tudo ignorava

 Perplexo ante o coração da luz, o silêncio.

 Oed' und leer das Meer.

 Madame Sosostris, célebre vidente,

 Contraiu incurável resfriado; ainda assim,

 É conhecida como a mulher mais sábia da Europa,

 

Com seu trêfego baralho. Esta aqui, disse ela,

 É tua carta, a do Marinheiro Fenício Afogado.

 (Estas são as pérolas que foram seus olhos. Olha!)

 Eis aqui Beladona, a Madona dos Rochedos,

 A Senhora das Situações.

 Aqui está o homem dos três bastões, e aqui a Roda da Fortuna,

 E aqui se vê o mercador zarolho, e esta carta,

 Que em branco vês, é algo que ele às costas leva,

 Mas que a mim proibiram-me de ver. Não acho

 O Enforcado. Receia morte por água.

 Vejo multidões que em círculos perambulam.

 Obrigada. Se encontrares, querido, a Senhora Equitone,

 Diz-lhe que eu mesma lhe entrego o horóscopo:

 Todo o cuidado é pouco nestes dias.

 Cidade irreal,

 Sob a fulva neblina de uma aurora de inverno,

 Fluía a multidão pela Ponte de Londres, eram tantos,

 Jamais pensei que a morte a tantos destruíra.

 Breves e entrecortados, os suspiros exalavam,

 E cada homem fincava o olhar adiante de seus pés.

 Galgava a colina e percorria a King William Street,

 Até onde Saint Mary Woolnoth marcava as horas

 Com um dobre surdo ao fim da nona badalada.

 Vi alguém que conhecia, e o fiz parar, aos gritos: "Stetson,

 Tu que estiveste comigo nas galeras de Mylae!

 O cadáver que plantaste ano passado em teu jardim

 Já começou a brotar? Dará flores este ano?

 Ou foi a imprevista geada que o perturbou em seu leito?

 Conserva o Cão à distância, esse amigo do homem,

 Ou ele virá com suas unhas outra vez desenterrá-lo!

 Tu! Hypocrite lecteur! - mon semblable -, mon frère

 

 

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Márcio José Matos Rodrigues

Figura: https://www.gettyimages.pt/detail/fotografia-de-not%C3%ADcias/portrait-of-anglo-american-nobel-prize-winning-fotografia-de-not%C3%ADcias


sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

O escritor francês Albert Camus

 




Em 4 de janeiro de 1960 morria, em Villeblevin (França), aos 46 anos, em um acidente automobilístico, o escritor franco-argelino Albert Camus, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1957. Além de escritor foi filósofo, dramaturgo, jornalista e ensaísta. Ele esteve ligado às correntes:  Absurdismo, Existencialismo e Anarquismo. Entre seus principais trabalhos podem ser citados O EstrangeiroA PesteO Mito de Sisifo e o Homem Revoltado. Foi participante da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial e protestou contra a dominação colonial francesa na Argélia, tomando posição defensiva quanto aos exilados antifascistas espanhois e sendo contrário ao stalinismo. Entre suas obras encontram-se peças de teatro, novelas, poemas, filmes e ensaios. Ele desenvolveu um humanismo com base na consciência do absurdo da condição humana, como também considerou a revolta como uma resposta a esse absurdo. Agindo motivado por tal revolta, encontra-se o sentido do mundo e da existência. Foi amigo de Sartre, mas teve discordâncias em relação a certas ideias desse filósofo que envolviam o existencialismo e o marxismo.

Camus nasceu em 7 de novembro de 1913, em Mondovi (atualmente Dréan), Argélia. Era filho de Lucien Auguste Camus, francês nascido na Argélia e Catherine Hélène Sintès, também nascida na Argélia. O pai de Albert Camus morreu na Primeira Guerra Mundial em 1914. Com a morte do pai a mãe mudou-se para Argel, na Argélia. Albert teve uma infância ligada à pobreza, mas segundo ele relatou depois, não foi infeliz nessa fase de sua vida, que tinha uma relação com a natureza. Ele tinha um irmão mais velho.

Incentivado por um professor da escola primária Camus  prosseguiu os estudos e foi para uma escola secundária. Ele ficou em dúvida na época se devia ir para essa escola, pois sabia que sua família era pobre, podendo ter mais condições se ele trabalhasse em vez de estudar. A mãe lavava roupa para ajudar no sustento e o tio trabalhava em uma oficina. Camus se não tivesse escolhido ir se aprofundar nos estudos possivelmente teria ido trabalhar com esse tio.

Na escola secundária para onde foi estudar Camus sentia ainda as dificuldades financeiras da família e quase abandonou os estudos. Um outro professor, Jean Grenier, o apoiou para que seguisse em frente e conseguisse se graduar em Filosofia. Os professores que lhe deram maior estímulo a estudar foram lembrados por ele em obras posteriores que ele escreveu. A sua dissertação de mestrado foi baseada em neoplatonismo e a sua tese de doutoramento teve como base Santo Agostinho.

Camus trabalhou como jornalista no jornal Alger Republicain, que ajudou a fundar.  Depois na Segunda Guerra Mundial e até 1947 colaborou na França com o jornal Combat. Também houve colaborações para o jornal Paris-Soir. 

Quando completou seu doutorado, ficou impossibilitado de se tornar um professor porque teve problemas sérios de saúde, devido à tuberculose. A doença e a possibilidade de morrer devido a ela influenciaram no desenvolvimento de obras suas. Também a doença impediu que ele continuasse a ser goleiro de futebol da seleção universitária. A respeito do futebol Camus disse certa vez em uma entrevista quando o entrevistador lhe perguntou sobre a importância do futebol na vida do escritor: "O que eu sei sobre a moral e as obrigações de um homem devo ao tempo em que joguei futebol…"

Os primeiro livros publicados de Camus foram: "O Avesso e o Direito" e "Bodas em Tipasa". Em 1939 ele foi da Argélia para a França. Sua mudança foi principalmente por causa de atritos com autoridades francesas na Argélia, pois o escritor tinha feito críticas ao tipo de tratamento dado por franceses aos árabes na Argélia. Nessa época Camus era vinculado ao Partido Comunista francês, do qual  depois se desligou. Com a eclosão da guerra a esposa e os filhos de Camus ficaram na Argélia e ele em Paris, trabalhando como jornalista. Por casua da pressão nazista, acaba indo para a região da França controlada pelo regime de Vichy, um governo francês colaboracionista dos alemães. Nessa região ele se torna membro do Núcleo de Resistência conhecido como Combat, que tinha um jornal com o mesmo nome. Também nessa época, além do jornalismo ele se dedicou ao teatro. E em 1942 ele conheceu o filósofo Jean Paul Sartre. Após a guerra tornaram-se amigos. Mas em 1952 a amizade terminou devido a a um desentendimento entre os dois por causa de críticas de Camus ao comunismo soviético, defendido por Sartre.

 Camus adorava o futebol. Quando esteve no Brasil, em agosto de 1949, ficou impressionado pela paixão dos brasileiros pelo futebol. Nessa ocasião teve contatos com intelectuais brasileiros como Oswald de Andrade e Manuel Bandeira. Camus pasou pelas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Olinda, Porto Alegre e Salvador. A experiência no Brasil deixou influências em algumas obras do escritor. O Brasil teve lugar de destaque nas lembranças de seu Diário de Viagem, junto com anotações sobre viagens aos Estados Unidos, ao Canadá, para a Argentina, o Uruguai e o Chile.

Havia a proximidade de pensamento entre Camus e autores anteriores como Franz Kafka e Dostoiévsky a respeito de angústias da sociedade, com dilemas e conflitos. Também outros autores tem ligação ao movimento que envolve   arte, teatro, literatura, filosofia, movimento que é conhecido como a estética do absurdo e que tem também outros autores ligados ao mesmo (Samuel Beckett e Eugene Ionesco).

Ao morrer, em janeiro de 1960, Camus tinha em sua maleta o manuscrito de O Primeiro Homem, um romance autobiográfico, que em anotação do autor havia a observação de que deveria ser inacabado. A mãe do escritor morreu no mesmo ano. Ele não queria ter feito a viagem de carro com seu editor Michel Gallimard e sim de trem, porém o editor preferiu que fossem de carro. Além do escritor e do editor (que faleceram devido ao acidente) estavam no automóvel a esposa e a filha do editor. Houve revelações do escritor tcheco Jan Zabrana, publicadas em diário de forma póstuma, cinquenta anos depois da morte de Camus, fazendo a suposição de que a morte dele não tinha sido por mero acidente e sim por causa um plano soviético de eliminar o escritor francês que estava fazendo oposição ao tipo de política que era praticada na União Soviética, em especial à intervenção desse país na Hungria em 1956.

Segundo Fernando Luis Schuler:  “Camus viveu o lado obscuro do século XX. Século da “peste”, do medo, da submissão do homem ao absurdo da ideologia. A grande guerra, a ocupação da França o engajamento na resistência, a guerra de independência na Argélia, sua terra natal e de formação. Após o fim da guerra, foi um dos poucos intelectuais franceses a tomar plena consciência – e a tratar disso com coragem – do horror soviético, dos campos de concentração, do absurdo totalitário.” E ainda o mesmo autor: “O desassossego que sempre acompanhou Camus não se restringia ao contexto histórico em que viveu. Seu tema é existencial. A solidão. Sua própria. “Se eles não querem que eu lute”, escreveu, em 1939, logo depois de ser impedido de servir na guerra, em função da tuberculose crônica, “é porque meu destino é sempre ser deixado de lado.” O desconforto, a inadequação. Camus declarou certa vez que passara a vida com uma estranha sensação de que era culpado de alguma coisa. A desconfiança crônica com a qualidade de sua literatura. O casamento desapaixonado com Francine. O fastio com a vida intelectual parisiense. A sedução da fuga para as “cidades sem passado”. E o tédio das conferências. Uma delas, em Porto Alegre, numa noite fria, agosto de 1949, durante uma turnê pelo Cone Sul. Recebido com uma fala curta e elogiosa de Erico Verissimo, anotou em seu diário: “Essas ilhotas de civilização são frequentemente horrendas”.

Sobre a obra de Camus A Peste escreveu o doutor em letras Raphael Luiz de Araújo em 8 de março de 2020:

“Na atual conjectura, não é uma má ideia se ter por perto o clássico “A peste” (1947), do escritor franco-argelino Albert Camus. Por conta do aumento de casos de covid-19, a crônica teve suas vendas dobradas na França neste início de ano e foi alçada a terceiro livro mais vendido na Itália— juntamente com a retomada das vendas de “Ensaio sobre a cegueira” (1995), que chegou a quinto mais vendido no país.

 Para quem não a conhece, trata-se da história de uma epidemia que dizima grande parte da população da cidade de Orã, na Argélia. Em meio a um surto que expulsa ratos dos esgotos e gera pilhas de cadáveres humanos, transformando a vida de pessoas em dados estatísticos, o doutor Rieux tenta combater a morte com o que faz de melhor: curar um doente por vez.

Nestes últimos dias, alguns veículos da mídia internacional têm relembrado da obra como um tipo de antídoto, não só para o coronavírus, mas para a negligência de parte da administração da saúde pública em países atingidos, para as fake news que circulam e para o medo por parte da população que pode chegar à xenofobia, como é possível ler no The Jerusalem Post do dia 20 de fevereiro.

 Aqui no Brasil, além de opor-se a uma eventual histeria por conta da doença, Camus também pode nos inspirar a lidar com mazelas que ultrapassam essa questão. Sua obra põe em evidência os princípios da sabedoria e da coragem como formas de lidar com os excessos das nossas patologias histórico-estruturais.

O autor nos faz perceber que certos discursos políticos autoritários, assim como os micro-organismos causadores das doenças, são abstrações niilistas que nos dispersam e aniquilam.

A obra foi fundamentada em estudos do escritor sobre epidemias que atingiram a Europa, o Oriente Médio e a própria Argélia em diferentes momentos históricos, além de nutrir-se bastante da estrutura e do embate entre homem e natureza de “Moby Dick” (1851). Quando de sua publicação, “A peste” serviu como analogia para a ocupação alemã em Paris durante a Segunda Guerra, trazendo a violência absurda e arbitrária para o cotidiano das pessoas. A epígrafe emprestada de Daniel Defoe — “É tão válido representar um modo de aprisionamento por outro quanto representar qualquer coisa que de fato existe por alguma coisa que não existe” — conecta o confinamento do livro ao mal da “maladie” (“doença” em francês) que ameaçava o leitor na época.

 Mais tarde, em carta a Roland Barthes de 1955, como lembra artigo do Le Monde, de 3 de março, Camus afirma que a obra descreve “a luta da resistência europeia contra o nazismo. A prova disso é que mesmo esse inimigo não sendo nomeado, todo mundo o reconheceu em todos os países da Europa”. Assim, como um bom clássico, o livro volta a ser atual e traz uma mensagem de alerta ante os regimes totalitários sempre à espreita, afinal, “o bacilo da peste não dorme nem desaparece nunca”.

Não é à toa que “A peste” foi agrupada com outras obras de Camus no que ele denominou de Ciclo de Prometeu — o titã cuja revolta contra os deuses consiste em transmitir a sabedoria do fogo aos mortais. Em meio à desproporção entre o que esperamos dos governos e eventuais atitudes com consequências atrozes para o meio ambiente e para os grupos mais frágeis ao redor do mundo, é preciso se manter lúcido.” E ainda outro trecho do texto do articulista: “Também em contraposição às reações xenofóbicas ao vírus, Camus valoriza a união dos combatentes. Em uma cidade monótona, repleta de homens em quarentena, que tiveram que se separar de esposas e filhos, as palavras se tornam raras e sem sentido. A memória de momentos felizes se faz nebulosa. O elo entre os habitantes é ameaçado, pois a constante lamúria perde sua força. Como resposta, a amizade do doutor Rieux com o viajante Tarrou expõe o entendimento de que ambos compartilham de uma condição comum naquele universo. O amor “philia”, de amizade, constante e consciente, é uma força que se opõe ao flagelo e ao mal que nos atingem todos os dias. O amor, aliás, é o princípio e o fim da revolta camusiana, que deve arder sem jamais perder sua ternura (...)”

 

Frases de Camus:  


“Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela.”

“Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade.”

“A imaginação oferece às pessoas consolação por aquilo que não podem ser e humor por aquilo que efetivamente são.”

“Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro.”

“O homem tem duas faces: não pode amar ninguém, se não se amar a si próprio.”

“O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites.”

“Se o homem falhar em conciliar a justiça e a liberdade, então falha em tudo.”

“Não quero ser um gênio... Já tenho problemas suficientes ao tentar ser um homem.”

“O homem não é nada em si mesmo. Não passa de uma probabilidade infinita. Mas ele é o responsável infinito dessa probabilidade.”

Respiro a única felicidade que sou capaz - uma consciência atenciosa e cordial. Passeio o dia todo(...) cada ser que encontro, cada cheiro dessa rua, tudo é pretexto para amar sem medida. Jovens mulheres supervisionam uma colônia de férias, a trombeta do vendedor de sorvetes, as barracas de frutas, melancias vermelhas com caroços negros, uvas translúcidas e meladas - tantos apoios para quem não sabe ser só. Mas a flauta ácida e terna das cigarras, o perfume de águas e de estrelas que se encontram nas noites de setembro, os caminhos aromáticos entre as árvores de pistache e os juncos. tantos sinais de amor para quem é forçado a ser só.”

“Caminhamos ao encontro do amor e do desejo. Não buscamos lições, nem a amarga filosofia que se exige da grandeza. Além do sol, dos beijos e dos perfumes selvagens, tudo o mais nos parece fútil. Quanto a mim, não procuro estar sozinho nesse lugar. Muitas vezes estive aqui com aqueles que amava, e discernia em seus traços o claro sorriso que neles tomava a face do amor. Deixo a outros a ordem e a medida. Domina-me por completo a grande libertinagem da natureza e do mar.”

"Mas do amor só conheço a mistura de desejo,
ternura e entendimento que me liga a determinado ser."

“A vida é a soma das suas escolhas.”

“Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de fazer.”

“E no meio de um inverno eu finalmente 
aprendi que havia dentro de mim 
um verão invencível.”

 “Nada é mais depreciável que o respeito baseado no medo.”

“Não existe pátria para quem desespera e, quanto a mim, sei que o mar me precede e me segue, e minha loucura está sempre pronta. Aqueles que se amam e são separados podem viver sua dor, mas isso não é desespero: eles sabem que o amor existe. Eis porque sofro, de olhos secos, este exílio. Espero ainda. Um dia chega, enfim...”

“Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. - Acho que tudo está bem-, diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo está perdido, que nem tudo foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto das dores Inúteis. Faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe.”

“Já se disse que as grandes ideias vêm ao mundo mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com atenção, escutaremos, em meio ao estrépito de impérios e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança. Alguns dirão que tal esperança, jaz numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revivificada, alimentada por milhões de indivíduos solitários, cujos atos e trabalho, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história. Como resultado, brilha por um breve momento a verdade, sempre ameaçada, de que cada e todo homem, sobre a base de seus próprios sofrimentos e alegrias, constrói para todos.”

“Compreender e sentir são inseparáveis.”

 “Mas os meus escritos são as minhas horas de felicidade. Mesmo naquilo que eles tiverem de cruel. Preciso escrever assim como preciso de respirar, porque o corpo me exige.”

“Outono é outra primavera, cada folha uma flor.”

“Não há grandes dores, nem grandes arrependimentos, nem grandes recordações. Tudo se esquece, até mesmo os grandes amores. É o que há de triste e ao mesmo tempo de exaltante na vida. Há apenas uma certa maneira de ver as coisas, e ela surge de vez em quando. É por isso que, apesar de tudo, é bom ter tido um grande amor, uma paixão infeliz na vida. Isso constitui pelo menos um álibi para os desesperos sem razão que se apoderam de nós.”

“A primeira coisa que um bom cientista faz quando está diante de uma descoberta importante e tentar provar que ela esta errada."

“Amo ou venero poucas pessoas. Por todo o resto, tenho vergonha de minha indiferença. Mas aqueles que amo, nada jamais conseguirá fazer com que eu deixe de amá-los, nem eu próprio e principalmente nem eles mesmos.”

“No meio do inverno, aprendi que existia em mim um invencível verão.”

“...Compreendi que agir, amar, sofrer, tudo isso é, na verdade, viver, mas é viver na medida em que se é lúcido e se aceita o destino, como o reflexo único de um arco-íris de alegrias e de paixões, que é igual para todos.”

“Assim como não concebia uma felicidade sobre-humana, também não conseguia conceber uma eternidade além da curva dos dias. A felicidade era humana e a eternidade quotidiana. Tudo resumia em saber humilhar-se, harmonizar o coração ao ritmo dos dias, em vez de obrigá-los a seguir a curva de nossa esperança. Da mesma forma que é necessário, em arte, saber parar, pois chega sempre um momento em que uma escultura não deve ser mais tocada, e que, para isso, a vontade da inteligência serve melhor ao artista do que os mais amplos recursos da clarividência, assim também é necessário um mínimo de inteligência para se conseguir uma existência feliz. E quem não a tiver, tem de conquistá-la.”

“Ela refletia tudo sem nunca refletir, e que, com tanto silêncio e sombra, conseguia ficar à altura de qualquer luz.”

“Como deve ser duro viver somente com o que se sabe e que se tem lembrança, privado do que se espera.”

“Uma imprensa livre pode, é claro, ser boa ou ruim, mas, certamente sem liberdade, a imprensa sempre será ruim.”

“O que era necessário era reconhecer claramente o que devia ser reconhecido, expulsar, enfim, as sombras inúteis, tomar as medidas que convinham.”

“Não é, pois, necessário precisar a maneira como se ama entre nós. Os homens e as mulheres ou se devoram rapidamente no chamado ato do amor, ou se entregam a um longo hábito entre dois. Também isso não é original. (...) por falta de tempo e de reflexão, é-se obrigado a amar sem o saber.”

“Mas os dias passam-se sem dificuldades desde que se tenham criado hábitos. Sob este aspecto, sem dúvida, a vida não é muito emocionante. Mas, ao menos, não se conhece entre nós a desordem.”

“E está justamente aí o gênio: a inteligência que conhece suas fronteiras.”

“O homem cotidiano não gosta de demorar. Pelo contrário, tudo o apressa. Ao mesmo tempo, porém, nada lhe interessa além de si mesmo, principalmente aquilo que poderia ser.”

"Impacientes do presente, inimigos do passado e privados do futuro, parecíamo-nos assim bastante com aqueles que a justiça ou o ódio humanos fazem viver atrás das grades".

"Um homem se julga sempre pelo equilíbrio que obtém entre as necessidades de seu corpo e as exigências de seu espírito".

''O homem não é inteiramente culpado, não foi ele que começou a história; nem completamente inocente, já que ele a continua.''

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Márcio José Matos Rodrigues

 

Figura:

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