quarta-feira, 7 de julho de 2021

O pensador e poeta Francesco Petrarca

 





O intelectual, pesquisador, filólogo, poeta e humanista Francesco Petrarca nasceu em 20 de julho de 1304 em Arezzo, Itália. Ele aperfeiçoou o soneto, um tipo de poema, que teve sua origem em Giacomo da Lentini e muito usado por Dante Alighieri. Petrarca é considerado o “Pai do Humanismo”. Seus poemas eram redigidos em língua italiana. Seu pai era um notário que foi exilado em Florença por um grupo político chamado Guelfos Negros, em 1302. Petrarca viveu alguns anos de sua infância na cidade de Incisa in Val d’Arno, que fica próxima à Florença. Com a instalação do papado em Avinhão, em 1309, Petrarca fica com sua família nas cidades de Avinhão e Carpentras. Ele foi estudante em Montpellier (1316-1320) e Bolonha (1320-1326). O pai queria que ele se envolvesse com os estudos de Direito, mas Petrarca tinha interesses pela escrita e Literatura Latina.

O pai de Petrarca morreu em 1326 e ele passou a trabalhar em Avinhão em empregos ligados à burocracia, tendo tempo para trabalhar em suas obras escritas. Na época ele lança Africa, sua primeira grande obra. Era um épico em latim sobre o general romano Scipio Africanus. A partir de então ele se torna uma pessoa famosa na Europa. Colecionou manuscritos latinos antigos, sendo um dos intelectuais que redescobriu o conhecimento da Grécia e Roma antigas. Retornou à tradição da laurea poetas, sendo coroado em Roma. Foi um dos participantes da primeira tradução latina de Homero. Trabalhou como embaixador, escrevia cartas e um de seus amigos mais destacados era Boccaccio. Em 1345 Petrarca descobriu uma coleção inédita de cartas de Cícero. É possível que tenha sido ele o primeiro a usar a expressão Idade das Trevas para a Idade Média.

Dizia o poeta que ele, seu irmão e dois empregados tinham chegado ao topo do Monte Ventoux, com 1909 metros. Sobre isso ele escreveu um relato fictício que foi convertido em forma de cartas para o amigo Francesco Dionigi. A data de 26 de abril de 1336, que Petrarca dizia que tinha alcançado o pico da montanha, é considerado o dia do nascimento do alpinismo e Petrarca chamado de o pai do alpinismo. Nos seus últimos anos de vida fez viagens pelo norte da Itália.

Petrarca inspirou a filosofia humanista que influenciou a Renascença. Era um estudioso da História Antiga e Literatura Antiga, estudos que ele considerava de grande valor prático e com grandeza moral. Mesmo tendo sido um cristão devoto ele não percebia que houvesse conflitos entre a realização do potencial humano e a fé religiosa. Vários conflitos internos dele e meditações mostradas em suas obras foram alvo de estudos de filósofos humanistas do Renascimento. Ele enfatizava a importância da solidão e do estudo. Líderes políticos, militares e religiosos na época do Renascimento foram influenciados pelas ideias de Petrarca, destacando que a glória pessoal tinha de se basear no exemplo clássico e na contemplação.

Estando a serviço da Igreja, não lhe foi possível casar-se, porém após sua morte foi dito que era pai de duas crianças. Em 1327, ele teve a visão de uma mulher de nome Laura, na igreja de Santa Clara de Avinhão. A mulher amada, foi homenageada nas Rime Sparse (Rimas Esparsas). Essa obra composta por 366 poemas é mais conhecida como Il Canzoniere, que foi escrito em vernáculo, que era uma linguagem de comércio. A maior parte dessa obra está em forma de soneto (317). Além dos sonetos a sequência contem 29 canzoni, 9 sestina, 4 madrigais e 7 ballate. O poeta foi morar em Pádua em 1367, passando a dedicar-se à contemplação religiosa. Fez uma doação de manuscritos para a cidade de Veneza.

Há a possibilidade de Laura ter sido, na verdade, Laura de Noves, esposa de Huges de Sade, antepassado do famoso Marquês de Sade. No entanto, Petrarca negava que tenha sido ela sua homenageada. Segundo a obra de Petrarca, Laura é muito bonita, com cabelos claros, modesta e digna. Os sentimentos do poeta foram direcionados para os seus poemas de amor, que eram exclamatórios. 

Alguns dos sonetos de Petrarca foram musicados pelo compositor romântico do século XIX, Franz Liszt. A maioria das obras do escritor e poeta foram escritos em Latim, incluindo trabalhos acadêmicos, ensaios introspectivos, cartas e poesias. Em 19 de julho de 1374, Petrarca morreu no Vêneto, Itália.

Principais obras:Triunfos, Meu livro secreto, Sobre os homens famosos, Sobre o lazer religioso, Sobre a vida solitária, Itinerário para a Terra Santa, Epístola,Odes a Laura, De África.

Segundo a professora licenciada em Letras, Daniela Diana:

“(...) Petrarca estudou línguas, literatura, gramática, retórica e dialética. Durante sua vida, obteve grande influência na sociedade a partir do momento que foi devoto da igreja, entrando para o Clero, em 1330.

 

Já reconhecido como poeta e grande intelectual da época, Petrarca recebeu o título de “Poeta Laureado” em 18 de abril de 1341. Foi amigo do poeta italiano Giovanni Boccaccio (1313-1375), que o considerava seu mestre espiritual e cultural.

 

Um fato curioso de sua vida foi quando Petrarca avista Laura, seu grande amor e musa inspiradora, na igreja de Avignon, na França.

 

Ela foi mencionada em diversas obras como “Laura de Noves”, personagem esposa de um nobre francês. Petrarca Faleceu em Arquà, Itália, em 19 de julho de 1374, vítima de malária.

 

“Petrarquismo” foi um movimento literário italiano surgido no século XV que se prolongou até o século XVII, o qual influenciou diversos escritores europeus.

Seu principal foco de estudo foi a poesia lírica de Petrarca, baseada nos temas amorosos. A poética petrarquista destacou-se como exemplo de perfeição a partir de uma linguagem simples e inovações métricas, tal qual o uso de versos hendecassílabos (verso composto de onze sílabas poéticas).

 

A obra de Petrarca é bem vasta, entretanto o humanista destacou-se na poesia, escrevendo mais de 300 sonetos. (...) “

 

 

Segundo a autora Dilva Frazão:

“Francesco Petrarca (1304-1374) foi um poeta italiano. Humanista, foi um dos precursores do Renascimento Italiano. Foi o inventor do soneto, poema com 14 versos. É também considerado o pai do Humanismo Italiano.

Francesco Petrarca nasceu em Arezzo, Itália, no dia 20 de julho de 1304. Filho de um tabelião toscano passou a infância em Avignon, na Provença, onde o papado se instalou de 1309 até o início do século XV.

Em Avignon, fez seus primeiros estudos. Em 1317 ingressou no cursou de Direito na universidade de Montpellier, que continuou em Bolonha, abandonando-o em 1326.

Com a morte do pai, tentou a vida monástica. Ao receber ordens menores, passou a contar com a proteção do cardeal Giovanni Colonna.”

E ainda:

“(...) Em 1337, Petrarca procurou um refúgio no Mont Ventoux e descobriu ali a emoção das belezas naturais, uma das bases da poesia lírica do humanismo renascentista.

Nessa época, escreveu muitas de suas “Epistolas e Metricae” (66 “cartas” em hexâmetros latinos) e várias de suas “Rime” (Poesias) inspiradas por Laura.

Amplamente reconhecido, recebeu convites de Roma e de Paris, para ser coroado como poeta. Recebeu a honraria, em Roma, no dia 8 de abril de 1341, no Capitólio.

Embora tenha trabalhado como diplomata para diversos príncipes do seu tempo, Petrarca não hesitou em apoiar a república romana de Cola de Rienzo e a unificação do país.

Em 1348, Petrarca perdeu vários amigos e a amada Laura durante o surto da peste negra. Procurou o refúgio alpino em Vaucluse, onde organizou seus poemas.

Dividiu os poemas em “In Vita de Laura” e “In Morte di Laura”, que ficaram conhecidos como “Canzoniere”.

A temática do Canzoniere vai muito além de seu amor platônico, pois delineia uma nova lírica a partir da seleção do que havia de mais refinado e vigoroso nos dois séculos anteriores.

Foi Petrarca em suas Rime, o primeiro a realizar uma poética de motivos estritamente psicológicos e vasta meditação sobre a existência terrena em seu conteúdo humano e emocional.

Em 1353, Petrarca fixou-se em Milão, onde permaneceu por mais de oito anos. Em 1361, com um surto da peste, fugiu para Pádua, depois para Veneza. Ali recebeu a visita de grandes amigos, entre os quais Boccaccio.

Em 1367 o poeta retorna para Pádua onde viveu entre a cidade e uma pequena propriedade no campo em Arquà, onde se dedicou intensamente a seus versos.

Em 1370, ele foi chamado a Roma pelo papa Urbano V, e partiu para ver o novo papado romano, mas ao passar por Ferrara, sofreu um acidente vascular.

Mesmo com sequelas, não parou de trabalhar nos poemas e na “Posteritati”, espécie de carta autobiográfica às gerações futuras.

Petrarca faleceu em Aquirà, na região de Mântua, Itália, no dia 19 de julho de 1374. Foi encontrado morto com a cabeça recostada em um volume de Virgílio.

Petrarca inspirou um movimento poético, o “Petrarquismo”, o qual conseguiu muitos adeptos entre o século XV e XVII (...)”

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Frases de Petrarca:

“As duas cartas de amor mais difíceis de escrever são a primeira e a última.”

“Cinco inimigos da paz habitam-nos - avareza, ambição, inveja, raiva e orgulho. Se conseguirmos bani-los, infalivelmente desfrutaremos a paz perpétua.” 

 "A razão fala e o sentimento morde".

 “É verdade, nós amamos a vida, não porque estamos acostumados à vida, mas porque estamos acostumados a amar. Há sempre alguma loucura no amor, mas há também sempre alguma razão na loucura.”

 “O fim louva a vida e a noite o dia.”

“O amor é a graça suprema da humanidade, o mais sagrado direito da

alma, o elo de ouro que nos une ao dever e à verdade, o princípio

redentor que reconcilia o coração para a vida, e é profético do bem

eterno.”

“Como difícil é salvar a casca da reputação das pedras da ignorância.”

“A monotonia causa o tédio e a cura é a variedade.”

“Quando a paixão entra, a razão sai.”

“O verdadeiro saber é o saber que temos de nós mesmos. De pouco

adianta conhecermos a natureza das coisas e desconhecermos a

natureza do homem.”

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Seis sonetos de Petrarca

 

III

 

Se a minha vida do áspero tormento

E tanto afã puder se defender,

Que por força da idade eu chegue a ver

Da luz do vosso olhar o embaciamento,

 

E o áureo cabelo se tornar de argento,

E os verdes véus e adornos desprender,

E o rosto, que eu adoro, empalecer,

Que em lamentar me faz medroso e lento,

 

E tanta audácia há de me dar o Amor,

Que vos direi dos martírios que guardo,

Dos anos, dias, horas o amargor.

 

Se o tempo é contra este querer em que ardo,

Que não o seja tal que à minha dor

Negue o socorro de um suspiro tardo.

 

 

VIII

 

Ó Pai, depois dos dias ociosos,

Depois das noites a velar em vão,

Com este anseio no meu coração,

Mirando os atos por meu mal viçosos,

 

Praza-te, ó lume, que a outros mais formosos

Caminhos e a mais bela ocupação

Eu me volte, fugindo à dura ação

Do inimigo e aos seus meios cavilosos.

 

Dez anos mais um hoje faz, Senhor,

Que me vi submetido à tirania

Que sobre o mais sujeito é mais feroz.

 

Piedade tem do meu não digno ardor,

Conduz meu pensamento a melhor via,

Lembra-o de que estiveste numa cruz.

 

 XXXII

 

Quanto mais perto estou do dia extremo

Que o sofrimento humano torna breve,

Mais vejo o tempo andar veloz e leve

E o que dele esperar falaz e menos.

 

E a mim me digo: Pouco ainda andaremos

De amor falando, até que como neve

Se dissolva este encargo que a alma teve,

Duro e pesado, e a paz então veremos:

 

Pois que nele cairá essa esperança

Que nos fez delirar tão longamente

E o riso, e o pranto, e o medo, e também a ira;

 

E veremos o quão frequentemente

Por coisas dúbias o ânimo se cansa

E que não raro é em vão que se suspira.

 

 

 CLXXXIX

 

Vai o meu barco, cheio só de olvido,

À meia noite, ao árduo mar, no inverno,

Entre Cila e Caríbdis; e ao governo

Vê-se o senhor, melhor: meu inimigo.

 

A cada remo um pensar atrevido

Parece rir à vaga e ao próprio averno:

Rompe as velas um vento úmido, eterno

De esperanças, desejos e gemidos.

 

Chuva de pranto, névoa de rancor

Afrouxa e banha os cabos extenuados,

De ignorância trançados e de error.

 

Foge-me o doce lume costumeiro,

Razão e engenho da onda são tragados;

E eis que do porto já me desespero.

 

 

 

 CXC

 

Uma cândida cerva me surgiu

sobre o verde gramado – os cornos de ouro –,

entre dois riachos, à sombra de um louro,

na estação fria, mal o sol se abriu.

 

Tão doce em mim tal vista se imprimiu,

que por segui-la toda lida ignoro,

como o avarento em busca de um tesouro,

tanto assim meu tormento se evadiu.

 

“Ninguém ouse tocar-me” – escrito havia

no colo, entre topázios e diamantes,

“que eu fosse livre César ordenou”.

 

Já o claro sol chegava ao meio-dia,

quando eu, de olhos absortos, ignorantes,

escorreguei para a água, e ela escapou.

 

 

 

CCXXXIV

 

Ó minha alcova, que já foste um porto

Às tempestades que cruzei diurnas,

Fonte agora de lágrimas noturnas,

Que no dia, por pejo, ocultas porto;

 

Ó leito, onde encontrei paz e conforto

De tanta mágoa, que dolentes urnas

Sobre ti verte o Amor com mãos ebúrneas,

Só para mim crueza e desconforto!

 

Porém do meu retiro e do repouso

Não fujo, mas de mim e do pensar,

Que tanta vez segui num devaneio;

 

 

E em meio ao vulgo adverso e inamistoso

(Quem diria?) refúgio vou buscar,

Tal é de ficar só o meu receio.

 

 (Traduções de Renato Suttana)

 

_______________________________

 

Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura: 

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sexta-feira, 2 de julho de 2021

O poeta brasileiro Guilherme de Almeida

 





O poeta Guilherme de Andrade de Almeida, que também foi advogado, jornalista, heraldista, crítico de cinema, ensaísta, tradutor brasileiro, membro da Academia Paulista de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Instituto de Coimbra e do Seminário de Estudos Galegos de Santiago de Compostela nasceu em 24 de julho de 1890, em Campinas, São Paulo. Seu pai era Estevam de Araújo Almeida, professor de direito e jurista e sua mãe era Angelina de Andrade. Guilherme de Almeida formou-se em Direito em 1912. Em 1916 publica com autoria conjunta com o escritor Oswald de Andrade as peças teatrais em francês Moncoeur balance Leurâme. Ele estreou na poesia em 1917 com a publicação do livro “Nós”, no qual há apenas sonetos. Guilherme de Almeida e seu irmão Tácito de Almeida tiveram participação ativa na organização da Semana de Arte Moderna de 1922. Guilherme criou em 1925 a conferência que aconteceu nas cidades de Porto Alegre, Recife e Fortaleza para difusão da poesia moderna, com o título: "Revelação do Brasil pela Poesia Moderna”.

O poema de Guilherme de Almeida com o título "A Carta Que Eu Sei de Cor”, que consta no livro "Era uma vez”, do mesmo autor, foi declamado na Faculdade de Letras de Coimbra, em 1930, na importante conferência "Poesia Moderníssima do Brasil". Guilherme também foi um dos fundadores da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na qual lecionava Ciência Política. Também foi um dos fundadores da Revista Klaxon, que buscava divulgar ideias modernistas. Ele participou do grupo verde-amarelista e foi o autor da arte da capa da citada revista e também elaborou a capa do livro "Paulicéa Desvairada”, cujo autor era Mário de Andrade. Teve significativa influência de obras dos autores Olavo Bilac e do português Antônio Nobre. O parnasianismo e o simbolismo influenciaram a poesia de Guilherme de Almeida antes de 1922.

Guilherme foi colaborador da Revista de Antropofagia e para ela escreveu poemas-piada, do tipo que fazia Oswald de Andrade. Em 1930 entrou para a Academia Brasileira de Letras, o primeiro modernista a entrar nesta instituição. E em 1958 coroado como o quarto "Príncipe dos Poetas Brasileiros”( os outros foram Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Olegário Mariano). Na sua poesia ele dominava grandemente os processos rítmicos e verbais, assim como o verso livre, utilizando os recursos da língua, a onomatopeia, as assonâncias e aliterações. Essencialmente na sua poesia há o ritmo no “sentir, no pensar, no dizer”. Destacou-se  na sua arte no verso e nesse aspecto foi considerado pelo poeta Manuel Bandeira como o maior em língua portuguesa. Também Guilherme de Almeida foi o responsável pela divulgação do poemeto japonês haikai no Brasil.

O poeta combateu na Revolução Constitucionalista de 1932, tendo sido exilado em Portugal. Escreveu o poema Nossa Bandeira, dedicado a São Paulo. Também criou a letra do Hino dos Bandeirantes, que se tornou hino oficial do Estado de São Paulo. Também foi o autor da letra do hino da Força Pública (atual Polícia Militar de São Paulo). Foi considerado "O poeta da Revolução de 32”, tendo escrito o poema Moeda Paulista e a Oração ante a última trincheira e a letra do "Hino Constitucionalista de 1932”. Também homenageou a bandeira do Estado de São Paulo com o poema Treze listras. A letra da Canção do Expedicionário, em referência aos soldados brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial, também é dele, assim como a letra do Hino da Televisão Brasileira. 

O poeta também foi desenhista amador e dedicada à heráldica, criando por exemplo o brasão das seguintes cidades: São Paulo , Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP).Foi presidente da Comissão Comemorativa do Quarto Centenário da cidade de São Paulo.Foi redator do jornal O Estado de São Paulo e do Diário de São Paulo. Foi diretor da Folha da Manhã e da Folha da Noite. Ganhou o Prêmio Jabuti de literatura em 1968.

Guilherme de Almeida faleceu em 11 de julho de 1969, aos 78 anos, em São Paulo (SP)

 

Obras:Nós (1917);A Dança das Horas (1919);Messidor (1919);Livro de Horas de Sóror Dolorosa (1920);Era Uma Vez (1922);A Flauta que Eu Perdi (Canções Gregas) (1924);Natalika, prosa (1924);A Flor que Foi um Homem (1925);Encantamento (1925);Meu (1925);Raça (1925);Simplicidade (1929); Gente de Cinema, prosa (1929);Você (1931);Carta à Minha Noiva (1931);Cartas que Eu Não Mandei (1932);O Meu Portugal, prosa (1933);Acaso (1939);Cartas do Meu Amor (1941);Poesia Vária (1947);Histórias, Talvez..., prosa (1948); O Anjo de Sal (1951);Acalanto de Bartira (1954);Camoniana (1956);Pequeno Cancioneiro(1957);Rua (1961);Cosmópolis, prosa (1962);Rosamor (1965);Os Sonetos de Guilherme de Almeida (1968)

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Algumas frases e poesias de Guilherme de Almeida:

 

 

“Indiferença

Hoje voltas-me o rosto, se ao teu lado
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto,
pudéssemos varrer nosso passado.

Passo, esquecido de te olhar - coitado!
Vai – coitada! esquecida de que existo:
Como se nunca me tivesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado!

Se, às vezes, sem querer, nos entrevemos,
se, quando passo, teu olhar me alcança,
se meus olhos te alcançam, quando vais,

Ah! Só Deus sabe e só nós dois sabemos!
Volta-nos sempre a pálida lembrança.
daqueles tempos que não voltam mais!”

 

 

“E cruzam-se as linhas

No fino tear do destino

Tuas mãos nas minhas”

 

“Neblina? Ou vidraça

Que o quente alento da gente

que olha a rua, embaça?”

 

 

 

“Olho a noite pela vidraça. Um beijo que passa acende uma estrela”

 

“Noite. Um silvo no ar.

Ninguém na estação. E o trem

passa sem parar.”

 

“Jasmineiro em flor.

Ciranda o luar na varanda

Cheiro de calor”

 

“Uma árvore nua

aponta o céu. Numa ponta

brota um fruto. A lua?”

 

 

“Por que estás assim

violeta? Que borboleta

morreu no jardim?”

 

 

“Leve escorre e agita.

A areia. Enfim, na bateia

fica uma pepita”

 

 

“O ar. A folha. A fuga.

No lago, um círculo vago

No rosto uma ruga”.

 

 

“Chuva de Primavera

 

Vê como se atraem

Nos fios os pingos frios!

E juntam-se. E caem.”

 

 

Outubro

 

Cessou o aguaceiro.

Há bolhas novas nas folhas

Do velho salgueiro”.

 

 

“Um sábio me dizia: esta existência

Não vale a angústia de viver. A ciência,

Se fóssemos eternos, num transporte

De desespero inventaria a morte

Uma célula orgânica apareceu

No infinito do tempo. E vibra e cresce

E se desdobra e estala num segundo

Homem, eis o que somos neste mundo.

 

Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver

dentro da própria morte, o encanto de morrer.

 

Um monge me dizia: ó mocidade,

És relâmpago ao pé da eternidade!

Pensa: o tempo anda sempre e não repousa;

Esta vida não vale grande coisa.

Uma mulher que chora, um berço a um anto;

O riso, às vezes, quase sempre, um pranto.

Depois o mundo, a luta que intimida

quatro círios acesos: eis a vida

 

Isto me disse o monge e eu continuei a ver

dentro da própria morte, o encanto de morrer.

 

Um pobre me dizia: para o pobre

a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre

Deus, eu não creio nesta fantasia.

Deus me deu fome e sede a cada dia
mas nunca me deu pão, nem me deu água.
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado.

 

Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.

Uma mulher me disse: vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
Sonha um lar, uma doce companheira
que queiras muito e que também te queira.
No telhado, um penacho de fumaça.
Cortinas muito brancas na vidraça
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!

 

Pela primeira vez eu comecei a ver,

dentro da própria vida, o encanto de viver.”

 

 

 

 

Quando as folhas caírem nos caminhos, 
ao sentimentalismo do sol poente, 
nós dois iremos vagarosamente, 
de braços dados, como dois velhinhos…

 E que dirá de nós toda essa gente, 

quando passarmos mudos e juntinhos? 
- "Como se amaram esses coitadinhos! 
Como ela vai, como ele vai contente!"


E por onde eu passar e tu passares, 
hão de seguir-nos todos os olhares 
e debruçar-se as flores nos barrancos…


E por nós, na tristeza do sol posto, 
hão de falar as rugas do meu rosto… 
Hão de falar os teus cabelos brancos…

 

 

Quando as folhas caírem nos caminhos, 
ao sentimentalismo do sol poente, 
nós dois iremos vagarosamente, 
de braços dados, como dois velhinhos…


E que dirá de nós toda essa gente, 
quando passarmos mudos e juntinhos? 
- "Como se amaram esses coitadinhos! 
Como ela vai, como ele vai contente!"

 

E por onde eu passar e tu passares, 
hão de seguir-nos todos os olhares 
e debruçar-se as flores nos barrancos…

 

E por nós, na tristeza do sol posto,

hão de falar as rugas do meu rosto… 

Hão de falar os teus cabelos brancos…

 

 

 

 

Soneto XXXVIII

 

Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.

Fazia, de papel, toda uma armada,
e estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino.
ao longo das sarjetas, na enxurrada...

Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são de papel, são como aqueles,

perfeitamente, exatamente iguais...
_Que meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!”

 

 

ESSA,QUE EU HEI DE AMAR...

 

Essa,que eu hei de amar perdidamente um dia,
Será tão loura,e vagarosa,e bela,
que eu pensarei que é o sol que vem,pela janela,
trazer luz e calor a esta alma escura e fria.

E,quando ela passar,tudo o que eu não sentia
da vida há de acordar no coração que vela...
E ela irá como o sol,e eu irei atrás dela
como sombra feliz...-- Tudo isso eu me dizia,

quando alguém me chamou.Olhei:um vulto louro,
e claro,e vagaroso,e belo,na luz de ouro
do poente,me dizia adeus,como um sol triste...

 E falou-me de longe:´´Eu passei a teu lado,

mas ias tão perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador,que nem sequer me viste!

 

 

"Ó namorados que passais, sonhando,
quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!


Desperta os ninhos vosso passo… E quando
pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando…


Mais cuidado! Não vá vossa alegria
afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem ver!

Poupai a ingenuidade delicada

dos que amaram sem nunca dizer nada,

dos que foram amados sem saber!”

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Márcio José Matos Rodrigues

 

 

 Figura: https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03Naty6Tc9R5pa1LS2dEtZuodV5Sw:1625252463918&source=univ&tbm=isch&q=image+de+guilherme+de+almeida+modernismo&sa=