domingo, 19 de junho de 2022

O músico, cantor e compositor João Gilberto

 








Em 10 de junho de 1931, em Juazeiro, sertão da Bahia, às margens do rio São Francisco, nascia o cantor, compositor e violonista João Gilberto Pereira de Oliveira, um dos grandes nomes da música brasileira, que críticos musicais consideram como um autor genial e como um artista que revolucionou a música brasileira ao criar a “bossa nova”. Também cantores brasileiros foram influenciados pelo jeito suave de cantar dele. A Revista Rolling Stone Brasil o considerou um dos 30 maiores ícones brasileiros da guitarra e do violão e, após Tom Jobim, o segundo maior artista brasileiro de todos os tempos. João Gilberto levou a música popular brasileira a países como os Estados Unidos, Japão e outros da Europa, tendo sido um dos músicos mais influentes no jazzamericano do século XX.

O pai de João Gilberto era Joviniano Domingos de Oliveira, comerciante bem sucedido e sua mãe era Martinha do Prado Pereira de Oliveira. Quando criança João era conhecido como Joãozinho da Patu. Ele viveu em Juazeiro até 1942, ano em que foi estudar na capital de Sergipe, Aracaju e nessa cidade passou a tocar na banda da escola.  Voltou a sua cidade natal em 1946 e nessa ocasião teve a oportunidade de escutar nos alto-falantes da cidade os famosos Dorival Caymmi, Carmen Miranda, Duke Ellington, Tommy Dorsey e Charles Trenet. O pai de João também proporcionou mais contatos com a música, pois tocava cavaquinho e saxofone, como também era um apoiador financeiro da Banda de Música 22 de Março. Foi por esses tempos que João formava conjuntos vocais junto com colegas de escola. Desde a infância mostrava ter um ouvido privilegiado para a música e ganhou de seu pai seu primeiro violão, aos 14 anos. Formou em Juazeiro o conjunto vocal Enamorados do Ritmo. Tinha como seu maio ídolo o cantor Orlando Silva. Em 1947 foi morar em Salvador. Lá ficou por três anos e se dedicou exclusivamente à musica, tendo iniciado aos 18 anos sua carreira artística na Rádio Sociedade da Bahia.

Em 1950, João Gilberto foi para a cidade do Rio de Janeiro, tendo sido convidado para fazer parte do conjunto vocal Garotos da Lua. Conseguiu em 1951 se destacar na rádio. O conjunto gravou dois discos de 78 rpm. Porém, devidos a atrasos, foi mandado embora do grupo. Em 1952 ele gravou um disco solo para a gravadora Copacabana, havendo nessa época uma semelhança entre o canto de João (que cantou sem violão) e o de Orlando Silva. Mas o disco não teve sucesso. Por sugestão de Lúcio Alves, João Gilberto gravou “Um minuto só”, uma versão de Haroldo Barbosa para “Just one more chance”. A namorada de João era a futura cantora Sylvia Telles. E em 1953 em parceria com Russo do Pandeiro e com a voz de Marisa Gata Mansa foi gravada em 1953. Por esse tempo João gravou alguns jingles no estúdio de Russo do Pandeiro. Por exemplo, esse para a Toddy: "Eu era um garoto magricelo/ Muito feio e amarelo.// Toddy todo dia ele tomou/ Engordou e melhorou/ Forte ficou.// As garotas agora me chamam bonitão/ No esporte eu sou campeão". Também tocava em festa da sociedade, ganhando pouco.

Tendo conhecido em 1954 Carlos Machado, conhecido como o Rei da Noite, João participou com ele na boate Casablanca do show Esta Vida é um Carnaval. Também participaram Grande Otelo, Ataulfo Alves e outros artistas.   O público gostou e foi muito elogiado pela crítica o espetáculo. No mesmo ano João fez parte do conjunto Quitandinha Serenaders. Por um curto tempo também integrou o conjunto Anjos do Inferno.

Em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 1955, João Gilberto conheceu o compositor, pianista, violinista, professor, musicólogo Armando Albuquerque . Aramando era amigo de Radamés Gnatalli que ensinou aspectos relacionados à música para João, que meses depois foi morar com sua irmã Dadainha em Diamantina, Monas Gerais. Foi nessa época que João, em seus estudos musicais desenvolveu uma nova técnica de cantar. Depois de Diamantina ele foi para Juazeiro, ficando lá dois meses com familiares. Nesse tempo ele compôs “Bim Bom” e considerou que tinha encontrado a batida que estava querendo.

João foi para o Rio de Janeiro, em 1957, com 26 anos, depois de ter passado alguns dias em Salvador.   No Rio João mostrou sua batida para outros músicos. Quando apresentou “Bim Bom”para Roberto Menescal que gostou muito do que ouviu e apresentou a nova batida para artistas como Ronaldo Bôscoli e também no apartamento de Nara Leão. Tendo se apresentado na casa de Chico Pereira, que gravou a apresentação e que possibilitou que João conhecesse Tom Jobim, que na época estava trabalhando na gravadora Odeon. Tom ficou impressionado com a forma de tocar violão de João e percebeu que poderia se modernizar o samba por meio da simplificação do ritmo e adicionando novas harmonias, havendo mais liberdade para os arranjos. Tom então mostrou a João a composição Chega de Saudade, que tinha feito com o poeta Vinicius de Moraes. Cada vez mais João ficava conhecido no ambiente musical da cidade do Rio de Janeiro, tocando com Severino Filho e Badeco, Chaim e João Donato, com os quais fez a música Minha Saudade. Também João apresentou-se com frequência na boate do hotel Plaza, junto com Milton Banana, que adaptou sua bateria ao tipo de tocar música de João Gilberto. Um frequentador do local era Tom Jobim.

Em 1958 houve fatos muito importantes que influenciariam a música brasileira. Em julho a cantora Elisete Cardoso lançou o LP Canção do Amor Demais, com músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Nas faixas Chega de Saudade e Outra Vez João Gilberto acompanhava Elisete ao violão. Foram as primeiras gravações em disco da “batida da bossa nova”. Com o apoio de Tom Jobim, Dorival Caymi e Aloysio de Oliveira, João lançou um disco gravado na Odeon, de 78 rpm com as músicas “Chega de saudade” e “Bim Bom”, com a participação da orquestra de Milton Banana e arranjos de Tom Jobim. Foi esse disco que inaugurou o gênero da bossa nova, tornando-se um sucesso comercial, com uma alta vendagem e chegando ao primeiro lugar nas rádios. Uma inovação nesse disco foi o uso de dois gravadores por João, um para ele e outro para o seu violão. A partir daí, ele foi convidado a participar de programas nas rádios e na TV, dando entrevistas e fazendo shows.

Outro disco de 78 rpm foi lançado por João em 1959, com a música “Desafinado” (de Tom Jobim e Newton Mendonça) e Hô-bá-lá-lá (de João Gilberto). Mais outro disco no mesmo ano foi lançado por João: o LP “Chega de Saudade”.

O LP Chega de Saudade foi um marco na música popular brasileira e tornou a nova batida de violão uma moda entre universitários e secundaristas e influenciou gerações de jovens que decidiram se tornar músicos. Entre os que foram influenciados podem ser citados: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Edu Lobo, Francis Hime, Roberto Carlos, Paulinho da Viola etc. O estilo de João era revolucionário, porém não houve um total rompimento com a música do passado, pois  gravou composições antigas de Ary Barroso, Dorival Caymmi e Orlando Silva. João renovou velhas canções. Na canção Chega de Saudade, que era originalmente um chorinho, foi transformada em um tipo de samba, no qual o violão não era acompanhamento, pois dividia o primeiro plano com a voz.

Em 1959 João participou da gravação do disco 78 rpm de Luiz Claúdio, com acompanhamento de violão, na primeira gravação da canção de Tom Jobim chamada Este Seu Olhar, de Tom Jobim, que fez o arranjo e tocou piano. Para o filme Orfeu de Carnaval João gravou três canções, lançadas em um compacto duplo. A gravadora era a Odeon. Nessa época João esteve na boate Meia Noite, do hotel Copacabana Palace e no Country Club, no Rio de Janeiro. A batida de João incentivou a realização de festivais de bossa nova pelo Rio

João pôde contracenar e fazer dueto com Orlando Silva no programa “Brasil 60”, na TV Excelsior. Teve um programa próprio, o Musical Três Leões, na TV Tupi, em São Paulo. Ele participou do show de inauguração da TV Excelsior. Os músicos novos que entraram no movimento da bossa nova imitavam o modo de tocar e cantar de João. Ele fez apresentações em Minas Gerais, Salvador, Rio de Janeiro e fez um jingle para a multinacional Lever, atual Unilever.

João Gilberto gravou segundo LP em 1960 chamado O Amor, o Sorriso e a Flor. Esse disco chegou em 1962 aos Estados Unidos. Nesse LP havia a inovação de trazer na contracapa as letras das músicas. Como destaque nesse disco entre as canções, havia a composição Samba de Uma Nota Só, de Tom Jobim e Newton Mendonça. Essa música representava uma síntese da bossa nova nos elementos fundamentais letra, melodia, ritmo e harmonia.

O terceiro álbum de João Gilberto foi gravado em 1961. O LP foi gravado em duas fases: a primeira com Walter Wanderley e seu conjunto e a segunda com orquestra e regência de Tom Jobim. Velhos sambas vinham alterados, rítimica e harmonicamente, soando como novos sambas. Um efeito usado por João foi o rubato. Nesse efeito são apressadas ou encurtadas frases, cantando em tempo ligeiramente diferente do acompanhamento, tirando algum tempo das notas, para depois aguardar com o violão e seguir normalmente. Foi o primeiro disco em que João gravou só ele e o violão. No mesmo ano da gravação desse disco ele realizou apresentações em São Paulo. Na Universidade Mackenzie se apresentou para 1500 pessoas e lotou tanto o teatro do clube Harmonia como o do clube Pinheiros.

A cantora Lena Horne cantou “Bin Bom”em português no Copacabana Palace e declarou ser uma admiradora de João Gilberto. Também o o discjockey Felix Grant tocou por vários dias os discos de João na rádio WMAL, de Washington. Isso influenciou artistas de jazz dos Estados Unidos e chamou a atenção para a música brasileira. Em 1962 o jornalista Joaquín Segura, da revista Life en Español, escreveu sobrea bossa nova de João Gilberto, destacando viagens ao Brasil de astros do jazz como Dizzy Gillespie, Charlie Byrd e Herbie Mann e que ao retornarem procuraram imitar o jeito de tocar violão e a voz de João Gilberto. Nessa época na França chegaram as canções Bim bom, Ho Ba La La e Um Abraço no Bonfá de João Gilberto e ele se apresentava no Uruguai e na Argentina. 

João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Os Cariocas, Milton Banana e Otávio Bailly, se apresentaram no mesmo palco, sob direção de Aloysio de Oliveira. Foi uma temporada de um mês. O público era formado por pessoas da alta sociedade carioca e dos círculos de artistas. Foi um show histórico, chamado O Encontro, realizado em 1962 no restaurante Au Bon Gourmet, em Copacabana. Grandes sucessos da bossa nova foram apresentados como Só Danço Samba, Samba da Bênção, O Astronauta, Samba do Avião e Garota de Ipanema.

Na sua vida particular, o primeiro casamento de João Gilberto foi com a talentosa cantora Astrud Evangelina Weinert, que passou a ser conhecida como Astrud Gilberto. Os dois se conheceram por meio de Nara Leão. O casal teve o filho João Marcelo, nascido em 1960.

João Gilberto esteve nos Estados Unidos em 1962 participando de um concerto no Carnegie Hall, em Nova York. O objetivo foi promover a bossa nova nos estados Unidos. Também participaram Tom Jobim, Luiz Bonfá, Agostinho dos Santos, Carlos Lyra, Sérgio Mendes etc. João Gilberto e Tom Jobim se apresentaram em novembro desse ano, com a presença de estrelas da música dos Estados Unidos como Tony Benner, Dizzy Gillespie, Milles Davis e outros. Houve uma grande cobertura da imprensa e até uma rádio transmitiu para Moscou. Uma emissora de Tv dos Estados Unidos filmou o show. A mídia desse país elogiou muito o desempenho de João Gilberto, que cantou em português. João fez outras apresentações em Nova York e Washington. Ele a partir de então passou a divulgar a bossa nova em diversos países.

No filme Seara Vermelha, lançado no Brasil, incluiu na trilha sonora uma composição chamada Lamento da Morte de Dalva na Beira do Rio São Francisco dos anos 1950 de autoria de João com parceria de Jorge Amado.

João Gilberto, o músico norte-americano Stan Getz, Astrud Gilberto, Tom Jobim, Milton Banana e Tião Neto, se uniram para gravar o disco Getz/Gilberto nos dias 18 e 19 de março de 1963, na A&R Studios, em Nova York.  Nessa época João foi homenageado por jazzistas e o cantor Jon Hendricks gravou o disco Salud! João Gilberto – Originator of the Bossa Nova.O disco de João com Getz concorreu em nove categorias e venceu 4 prêmios Grammy. Foi descrito elogiosamente nos Estados Unidos como bossa nova verdadeira e foi best-seller durante anos, tanto nos Estados Unidos como em outros países pelo mundo. Na Itália chegou a atingir as paradas de sucesso . É considerado na atualidade um clássico da discografia mundial. Influenciou gerações de jazzistas.

João Gilberto, João Donato, Tião Neto e Milton Banana foram para a Europa e se apresentaram na Itália (Roma, Viareggio). João passou a ter problemas na mão direita e o grupo encerrou as apresentações. Em Paris ele se tratou com um acupunturista. Estava separado de Astrud e conheceu nessa cidade a então estudante conhecida como Miúcha.

João foi para Nova York e tratou a sua mão com médicos dos Estados Unidos e fez tratamentos de fisioterapia. Depois apresentou-se no Carnegie Hall com Stan Getz e surgiria então o disco número 2 deles. Também João se apresentou em clubes de Nova York e em cidades como Washington, Boston e Los Angeles e na Califórnia. Em 1965 João e Miúcha se casaram. Fez um tratamento médico para a voz. Apresentou-se em 1966 no programa O fino da Bossa, na Tv Record. Nesse ano nasceu em Nova York a sua filha Isabel, conhecida depois como Bebel Gilberto. João participou em 1967 de um programa de TV alemão e fez apresentações em 1967 e 1968 em Nova York e Los Angeles e Washington.

No México, em 1969, João participou de festivais de jazz em Guadalajara, Guanajuato, Cidade do México e Puebla. Nesse ano, passou a morar na Cidade do México. Nesse país, recebeu o prêmio Troféu Chimal. Lançou o disco Em Mexico, em 1970, com boleros como "Besame Mucho" e "Farolito" e com arranjos de Oscar Castro Neves.

No Brasil, em 1971, João gravou um especial na Tv Tupi com Caetano Veloso e Gal Costa. Em 1972 voltou a residir em Nova York. De novo apresentou-se com Stan Getz, dessa vez no Rainbow Grill. João em 1973 lançou o álbum João Gilberto, conhecido como o álbum branco. Lançou o álbum The Best ofTwo Worlds, com Stan Getz e participação de Miúcha no ano de 1976Em1977 foi lançado o álbum Amoroso. O álbum virou um clássico. Fez uma temporada de shows em Nova York, com muito sucesso e uma das presentes foi Jacqueline Onassis. Também se apresentou em São Francisco e Los Angeles. Em 1978 participou de um especial para uma Tv holandesa e no Brasil se apresentou no Teatro Castro Alves em Salvador e no Teatro Municipal de São Paulo. Em Nova York apresentou-se no Carnagie Hall com Charlie Byrd e Stan Getz no Newport Festival.

No ano de 1980 João Gilberto gravou ao vivo no Teatro Fênix, do Rio de Janeiro, para a Série Grandes Nomes um especial para a Tv Globo. O Nome do programa era João Gilberto Prado Pereira de Oliveira. O especial virou disco. Houve a participação de Rita Lee. Nesse ano João teve participação especial no disco de Miúcha. Com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia. João gravou o disco Brasil, em 1981. E gravou "Brazil com S” uma participação especial em um disco de Rita Lee . Na época gravou em especial na Tv Bandeirantes chamado "João Gilberto: A arte e o ofício de cantar”, com a participação de Ney Mato Grosso e fez concertos no Teatro Castro Alves. João se apresentou no Festival de Águas Claras em 1983, em São Paulo e em Roma fez concerto para o festival Festival Bahia de Todos os Sambas. Em Lisboa ele se apresentou no Coliseu dos Recreios, em 1984 e em 1985 na Suiça,  no 19° Festival de Jazz de Montreux. Em 1986, para integrar a trilha sonora da novela Hipertensão, João gravou a música Me Chama, de Lobão, que adorou a forma como João executou a música, embora de início tenha ficado aborrecido porque João tirou o verso "nem sempre se vê mágica no absurdo". Em 1987 João recebeu do Tribunal Superior do Trabalho a Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, no grau de comendador. Também em 1987 houve uma questão judicial entre João Gilberto e a EMI, que tinha ficado com o acervo musical da Odeon. A EMI tinha lançado sem permissão uma coletânea e João acusou a gravadora de adulterar a sonoridade das gravações e alteração a ordem das faixas. Essa disputa judicial durou muitos anos.

No fim dos anos de 1980 João foi indicado em 1989 ao Grammy na categoria Melhor Performance Vocal de Jazz, pelo disco "Live in Montreux". Em 1990 gravou uma participação no disco de Maria Bethania. Nos Estados Unidos nesse ano foi lançado o CD The legendary João Gilberto. Em 1991 houve o lançamento do CD João. Foi gravado somente com voz e violão. Havia a gravação de músicas em outras línguas: inglês e francês. No videoclipe Sampa, de Caetano Veloso, João Gilberto participou da gravação. Para a Brahma João gravou o jingle chamado Bossa Nova nº 1. Em 1992 ele se apresentou no aniversário da cidade de São Paulo com Caetano Veloso, Paulinho da Viola e Rita Lee, no Parque Ibirapuera. E no mesmo ano se apresentou com Tom Jobim no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e foi convidado de Tom show dele no Palace, de São Paulo. João em 1993 fez um show em Salvador com a participação de Gal Costa e Maria Bethânia. Em 1994 apresentou-se em São Paulo, no Palace e para um especial da Tv Cultura sobre João Gilberto. Em 1995 com outros artistas brasileiros participou de uma homenagem a Tom Jobim em Nova York. Nos anos de 1996, 1997 e 1998 participou do Festival de Jazz de Umbria, em Perugia, Itália, fez um especial para a Tv Bandeirantes, apresentou-se em Buenos Aires e no Carnegie Hall, nos Estados Unidos. Também fez shows na Itália. Em 1999 apresentou-se com Caetano Veloso em Buenos Aires e fez um show inaugurando o Credicard Hall, em São Paulo. Mas os problemas no som neste show causaram reclamações de João. 

Em 2000 foi lançado por João Gilberto o disco João Voz e Violão. Por esse disco João recebeu em 2001 um Grammy, na categoria Melhor Álbum de World Music. João gostou muito desse disco, no qual se ouve o arranhar das cordas do violão, a percussão sutil da pronúncia dos fonemas e a controladíssima respiração. Novas harmonias foram apresentadas para Desafinado e Chega de Saudade.

No início dos anos 2000 João apresentou-se em Paris, sendo muito elogiado e agradou muito o público ao tocar Que Reste-t-il de nos Amours. Ele sabia como tocar as pessoas que o assistiam em apresentações pelos países que ia, como no Brasil, em São Paulo, quando tocava Saudosa Maloca e em Portugal quando tocou Casa Portuguesa. Quando houve a 22ª edição do Festival Internacional de Jazz de Montreal, no Canadá, João se apresentou. Recebeu a Ordem de Rio Branco, no grau de comendador, do Itamaraty. Lançou em 2002 o CD “Live at Umbria Jazz, com gravação de 1996. Na Itália em 2003 , recebeu o Premio della Critica Heineken. Em 2003 fez shows no Japão. Foi muito aplaudido. Em 2003 João teve mais uma filha, com sua nova esposa, Claudia Faissol. Em 2004 fez mais um turnê pelo Japão. No show em Osaka recebeu trinta e oito minutos de aplausos ininterruptos. Em 2005 o Ministério da Cultura do Brasil homenageou João com Ordem do Mérito Cultural. Em 2006 João fez a sua última turnê ao Japão. Ele homenageou o país com a composição "Je Vous Aime, Japão". Foi escolhido em 2007 pela revista Down Beat como um dos melhores cantores de jazz e em 2009 a mesma revista o elegeu como um dos 75 melhores guitarristas da história do jazz. No aniversário da bossa nova em 2008 ele se apresentou em São Paulo, no Rio, Salvador e no Carnegie Hall.

Em 6 de julho de 2019, com 88 anos, João Gilberto morreu em sua casa na cidade do Rio de Janeiro. O corpo foi sepultado em Niteroi, no Cemitério Parque da Colina.

Citação:

“Este ícone do movimento que se tornou conhecido como Bossa Nova nasceu João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira, no dia 10 de junho de 1931, em Juazeiro, na Bahia. Quando ainda tinha 14 anos, ganhou um presente que definiria sua vida, um violão. Ele se tornou sua mais cara obsessão, da qual nunca se libertou, para a sorte dos amantes deste ritmo brasileiro que marcou o universo musical dos anos 50 e até hoje é um símbolo do país, conhecido e respeitado internacionalmente.

Ele cresceu ouvindo Duke Ellington, Tommy Dorsey, Dorival Caymmi e Dalva de Oliveira, no seio de uma família de músicos amadores. Na sua adolescência integrou o grupo Enamorados do Ritmo. Com apenas 18 anos, agora na cidade de Salvador, tornou-se crooner da Rádio Sociedade da Bahia. No início da década de 50, porém, tomou uma decisão crucial, mudar-se para o Rio de Janeiro.

Na Cidade Maravilhosa ele alcançou um certo êxito como cantor do Garotos da Lua, que se apresentava na Rádio Tupi. Seu temperamento rebelde não lhe permitiu continuar por muito tempo neste conjunto, do qual foi expulso por falta de disciplina. Mas, antes do período em que mergulharia no trabalho individual, gravou com este grupo dois discos.

João alimentava sem cessar a idéia fixa que lhe trouxera ao Rio de Janeiro, gerar um meio original e revolucionário de se exprimir com seu violão. Assim, exilou-se do ambiente carioca entre 1955 e 1957, com o objetivo de estudar e desenvolver uma técnica diferente. Desta forma, chegou ao estilo desejado, voltando para o Rio de Janeiro com a Bossa Nova em sua bagagem, gravada em um disco de 78 rotações por minuto. Agora João Gilberto estava pronto para subverter os rumos da música brasileira (...)”

Infoescola-biografias-João Gilberto

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura:

https://www.google.com/search?q=imagem+de+jo%C3%A3o+gilberto&sxsrf=ALiCzsaIMnvVsPkSo5BZouWlvqB8kZZRjA:1655653037294&tbm=isch&source=

 


sexta-feira, 10 de junho de 2022

Os comediantes Irmãos Marx

 




Estava assistindo alguns vídeos em um dia desses sobre um grupo de comediantes dos Estados Unidos que ficaram famosos em especial nas primeiras cinco décadas do século XX, os irmãos Marx. E aí me veio a ideia de escrever sobre eles, que eram artistas de teatro e depois passaram a atuar em filmes de cinema e na televisão. Os irmãos Marx eram: Leonard Marx (adotou o nome artístico Chico), nascido em 22 de março de 1887 e que faleceu em 11 de outubro de 1961; Adolph Arthur Marx( adotou o nome artístico  Harpo), nascido em 23 de novembro de 1888 e que faleceu em 28 de setembro de 1964; Julius Henry Marx ( adotou o nome artístico Groucho), que nasceu em 2 de outubro de 1890 e faleceu em 19 de agosto de 1977;  Milton Marx (que adotou o nome artístico Gummo), nascido em 23 de outubro de 1893 e faleceu em 21 de abril de 1977; Herbert Marx (nome artístico Zeppo), nascido em 25 de fevereiro de 1901 e faleceu em 30 de novembro de 1979). Houve um irmão deles que morreu ainda bebê, Manfred, nascido em janeiro de 1886 e faleceu em 17 de julho de 1886.

Os irmãos Marx desde a infância já mostravam que tinham talento musical desde crianças. Eles nasceram em Nova Iorque, eram filhos de imigrantes judeus. O pai deles era Samuel "Frenchie" Marx, cujo nome de origem era Simon Marrix, que tinha vindo da França, região da Alsácia. A mãe era Minnie Schoenberg, que nasceu em Dornum , uma cidade da Alemanha.

Em relação aos talentos artísticos, os irmãos se destacaram em tocar instrumentos. Harpo aprendeu a tocar diversos instrumentos, como a harpa, que tocou frequentemente em filmes. Chico tocava muito bem piano. Groucho era bom no violão.

O tio dos irmãos Marx, Al Shean, atuava no chamado teatro vaudeville, que era um gênero de divertimento de variedades que existia em países como Estados Unidos e Canadá desde os anos 1880 até o começo dos anos 1930. Os irmãos passaram a trabalhar nesse tipo de atração artística. Além dos irmãos Marx outros artistas famosos começaram suas carreiras no vaudeville como Charles Chaplin, Bob Hope, Abot e Costello, Will Rogers, Mae West etc.

Em 1905 Groucho estreou como cantor. Em 1907 foi formado o trio The Three Nightingales (rouxinóis), com Groucho, Gummo e Mabel O'Donnell. Em 1908 a eles se juntou Harpo. Em 1910 a mãe dos irmãos e uma tia também entraram nesse grupo que passou a se chamar The Six Mascots. Depois de um episódio em um teatro do Texas em que Groucho fez uma tirada cômica ocasional, a plateia achou muita graça e os familiares dele acharam que existia um potencial cômico para o grupo. A partir de então começou a haver uma mistura de canto com comédia. Havia uma sala de aula em que Groucho era o professor e os outros participavam como alunos (Opa! Será que isso lembra alguma coisa aqui no Brasil muito tempo depois na televisão?)

Os Estados Unidos entraram na Primeira Guerra Mundial e Gummo foi lutar como soldado.  Nos anos finais de vaudeville, até a Broadway e depois nos filmes na Paramount Zeppo o substituiria.

Os irmãos passaram a chamar seu grupo de The Four Marx Brothers, destacando-se no seu tipo de comédia e se dedicaram a formar seus personagens. Groucho iniciou o uso de um bigode pintado; Harpo interpretava um personagem mudo, excêntrico, com uma peruca loura, usando buzina de bicicleta e se comunicando por gestos e assobios; Chico passou a falar com sotaque italiano, usava um chapéu estilo tirolesa e roupas velhas, era o muitas vezes o parceiro preferido de Harpo.

Eles se tornaram famosos e passaram a ser um dos grupos teatrais favoritos nos Estados Unidos. Eles tinham um forte e inteligente senso de humor, faziam sátiras com instituições, com destaque para as graças em relação à alta sociedade e ironizando a hipocrisia das pessoas. Chico exercia a gerência e Groucho era o diretor criativo e assim eles ficaram muito conhecidos na Broadway.

No início dos anos 30 os filmes falados começaram sua disseminação e foi nesse contexto que os irmãos Marx assinaram contrato com a empresa de cinema Paramount para fazer filmes. Em 1932 estrearam um filme que se tornou muito popular e até ganhou uma capa na revista TimeHorse Feathers (no Brasil, Os Reis da Pelota). Eles satirizavam nesse filme o sistema universitário americano. Esse. Em 1933 os irmãos fizeram o último filme na Paramount: DuckSoup (no Brasil: Diabo a Quatro), cujo diretor era Diabo a Quatro. Críticos consideram esse filme o melhor dos irmãos. É o único a constar na lista do American Film Institute dos filmes do século. Esse filme foi o último de Zeppo.

Após a saída de Zeppo, os outros três irmãos foram para a Metro Goldwyn Mayer (MGM), acatando a sugestão do produtor Irving Thalberg mudaram a forma de agir nos próximos filmes. Que passariam a ter comédia, romantismo e números musicais não-cômicos. Nesse tipo de forma os cinco primeiros são muito elogiados como geniais. Os dois filmes que foram feitos com Thalberg (que morreu em 1937) foram A Night at the Opera (1935), que teve grande sucesso e A Day at the Races (1937). A outra empresa cinematográfica que os irmãos trabalharam por pouco tempo foi a RKO, na qual fizeram em 1938 o filme Room Service. Fizeram ainda mais três filmes na MGMAt the Circus (1939), Go West (1940) e The Big Store (1941). Chico era o empresário do grupo, tinha mania de jogar, com vários casos amorosos e contraía dívidas. Para pagar essas dívidas os Irmãos Marx fizeram A Night in Casablanca (1946) e Love Happy (1949), que foram produzidos pela United Artists.

Nos anos de 1950 os três irmãos trabalharam juntos em cenas diferentes, em um filme que a crítica não considerou bom: The Story of Mankind, de 1957. Em 1959 houve o especial de televisão, The Incredible Jewel Robbery. Às vezes Chico e Harpo faziam algumas aparições em teatros.

Groucho Marx foi apresentador de 1947 até parte dos anos de 1960, no programa You Betyour Life. Ele escreveu os livros autobiográficos: Grouchoand Me (1959) e Memoirsof a Mangy Lover (1964).

Os Irmãos Marx ainda vivos em 1977 colocaram seus nomes na Calçada da Fama.

Segundo Paulo Emílio Guardado (em maio de 2019):

“(...) O grupo começou sua carreira cinematográfica fechando um contrato de quatro filmes com a Paramount. Entre 1929 e 1933, eles lançariam um filme por ano. Começando com No Hotel da Fuzarca (The Coconauts, 1929), um dos primeiros filmes da era do cinema falado.

Com um humor completamente anárquico e nonsense, cada um dos quatro artistas desenvolvia suas características mais particulares. Vamos começar pelo líder do grupo: Groucho Marx. Mesmo que você nunca tenha ouvido falar dos Irmãos Marx, tenho certeza que o rosto dele você já viu. Seu tradicional charuto na boca acompanhado pelos óculos e o forte bigode (para tristeza de muitos, um truque feito com pintura capilar) seguem icônicos até hoje. Mas a aparência não era tudo, Groucho se destacava pelo sarcasmo e humor ácido que tornaram muitas de suas frases memoráveis. “Nunca frequento um clube que me aceite como sócio”, “O matrimônio é a principal causa do divórcio”, “Nunca esqueço um rosto, mas no seu caso vou abrir uma exceção”, e a minha favorita: “Se você não gosta dos meus princípios, eu tenho outros”.

Também não podemos deixar de comentar que ele se destacaria como uma das primeiras personalidades da história do cinema a aperfeiçoar a técnica teatral de quebra da quarta parede, artimanha muito utilizada até hoje. Em quase todos os 13 filmes do grupo, Groucho se vira para a câmera e fala com o público, geralmente fazendo alguma piada. Um desses momentos que mais me arrancou risos foi no filme Um Dia No Circo, de 1939, em que Groucho precisa pegar um envelope com dinheiro das mãos de uma mulher que imediatamente o esconde em seu sutiã. O bigodudo, então, se vira para a câmera e diz: “Preciso arrumar um jeito de pegar este envelope sem ter problemas com a censura”.

Harpo era o mais aloprado do grupo, com sua típica peruca loura (sim, era uma peruca), caretas e gestos. Usando um humor excêntrico, interpretava sempre um personagem que não falava. Aliás, um fato curioso é que há raríssimos registros da voz do ator. Ele nunca falou uma única palavra no cinema ou na televisão durante toda a sua carreira, fazendo com que muitos acreditem até hoje que o ator era verdadeiramente mudo. Mas mesmo não falando, seu personagem é, para muitos, o melhor da trupe. Ele se comunicava através da postura corporal, assobios, trejeitos e – claro – de sua tradicional buzina de bolso, sempre acionada na presença de uma bela mulher.

O apelido Harpo não veio à toa, Adolph Marx – podemos entender por que ele preferiu mudar de nome – era um grande tocador de harpa. Em todos os filmes do grupo havia um momento especial para que pudesse tocar o instrumento.

Chico, por sua vez, se caracterizava como um típico trambiqueiro. Com seu falso sotaque italiano, roupas velhas e chapéu estilo tirolesa, ele ficou marcado como o grande parceiro de Harpo, tendo uma habilidade única em compreender o que seu irmão dizia por gestos e assobios. Enquanto um tocava a harpa, o outro tocava com categoria o piano. Chico também era o empresário do grupo, e um dos principais responsáveis por uma negociação bem proveitosa para os Irmãos Marx (volto a falar do assunto em seguida).

E por fim, Zeppo. O galã. Sua aparência sempre o colocava no papel do mocinho e todo o clichê que isso envolvia. Logicamente era um papel secundário, sua função no grupo era serum escada, o ator que dá a deixa para que o comediante principal faça sua piada. Talvez por conta disso que o rapaz deixaria o grupo em 1933, depois de filmarem o último filme com a Paramount, Diabo a Quatro (Duck Soup).

A saída de Zeppo foi um divisor de águas na carreira dos Irmãos Marx. O próximo passo seria dado com imensa participação de Chico, que jogava cartas todas as noites com o produtor Irving Thalberg e jogou na mesa a possibilidade da MGM fazer um contrato com ele e seus irmãos. Thalberg marcou uma reunião com o grupo e os deixou esperando por um dia inteiro na sala de espera para, no fim, pedir que eles voltassem no outro dia.

Os três retornaram e, novamente, esperam Thalberg por horas e horas. Cansado, Groucho conseguiu enquadrar o produtor: “Senhor Thalberg, se pedir para virmos aqui à meia noite, estaremos aqui à meia noite. Mas se nos chamar, por favor nos atenda. Ou não trabalharemos com o senhor”.

Aquilo foi um choque, obviamente. Thalberg nunca havia sido abordado daquela maneira. No dia seguinte, ele atendeu o grupo pontualmente às 11h, como combinado, mas voltou a entrar e sair da sala quando bem entendia. Fez isso repetidas vezes. Mas na quarta escapada, os Irmãos Marx pegaram um imenso armário de arquivos e bloquearam a entrada. Só permitiram que ele entrasse às 17h. Quando entrou, viu o grupo assando batatas em uma lareira que tinha na sala. Detalhe: completamente nus.

Depois dessa brincadeira sútil, Thalberg nunca mais deixou os Irmãos Marx esperando. Os dois filmes produzidos por ele são provavelmente os mais engraçados do grupo. Uma Noite Na Ópera (A Night At The Opera), de 1935, o primeiro filme sem Zeppo e o primeiro de Allan Jones, seu substituto. E Um Dia Nas Corridas (A Day at the Races), de 1937, também com Allan Jones fazendo o papel do galã. Este último é o mais longo e mais completo filme dos irmãos, que conseguem explorar todas as suas habilidades durante a trama. É a minha recomendação certeira para quem quer se iniciar no mundo dos Marx.

Entretanto, neste mesmo filme, o grupo sofreria uma perda considerável. Irving Thalberg viria a falecer de uma pneumonia antes mesmo da conclusão de Um Dia Nas Corridas. Para muitos, isso marcou o fim da nova trajetória dos Irmãos Marx. Eu devo discordar. A nova fase do grupo, mesmo desfalcado, só estava começando.

Com a MGM, a trupe se atentava em fazer filmes ligeiramente diferentes, focando não só na comédia escrachada, mas também em conflitos românticos e histórias mais desenvolvidas. Essa, digamos, maturidade, não mudou a forma como faziam humor, ainda anárquica e poderosa.

Tanto na fase com a Paramount quanto com a MGM, podemos citar uma peça importantíssima na carreira dos Marx: a atriz Margaret Dumont. Fazia sempre o papel da senhora inocente, ingênua e muito rica, que acabava se envolvendo com os personagens de Groucho – interessado, claro, na grana da coitada. Dumont chegou a fazer 7 filmes com o grupo, dois a mais que o próprio Zeppo, o que lhe gerou o apelido de “Quinto Irmão Marx”.

A filmografia dos Marx não seria lá muito extensa, com apenas 13 filmes. O último deles, Loucos de Amor, além de um dos mais fracos, sequer mostra os três irmãos juntos em cena. Entretanto, os outros 12 se tornaram clássicos e obras primas da comédia, citados em diversos outros filmes e séries até os dias de hoje.

Destaques para os filmes No Tempo do Onça (Go West), de 1940, com o trio se aventurando no Faroeste Americano, A Grande Loja (The Big Store), do ano seguinte, em que Harpo e Chico dividem um teclado de piano tocando “Mamãe eu Quero”, grande sucesso brasileiro da época, e Uma Noite em Casablanca(A Night In Casablanca), de 1946, penúltimo filme dos Marx e, nas palavras do próprio Groucho: “O filme que me fez ver que eu não era mais um rapaz”.

Neste longa, os Irmãos Marx fazem uma sátira do clássico Casablanca, de 1941, estrelado por Humphrey Bogart. A Warner Brothers ameaçou processar o grupo, alegando que o título era um plágio de seu filme. Groucho, sempre inteligente, respondeu à empresa com uma carta um tanto irónica: “Querida Warner Brothers. Se vocês prestarem atenção, verão que a única semelhança entre os filmes Casablanca Uma Noite em Casablanca está na palavra Casablanca. De resto, tudo é diferente, o roteiro, os atores, tudo. Vocês se incomodaram tanto assim só com a palavra Casablanca? Não sabia que ela pertencia a vocês. E finalmente, vocês usaram o nome Warner Brothers, sendo que nós já éramos os Marx Brothers há muito mais tempo, e não falamos nada”.

O primeiro dos Irmãos Marx a nos deixar seria o mais velho, Chico, em 1961. Harpo morreria três anos depois, e Groucho nos deixaria no dia 2 de outubro de 1977, aos 86 anos, vítima de uma pneumonia. Sua morte foi injustamente pouco noticiada na época, só pelo fato de que três dias antes havia falecido um tal de Elvis Presley. Gummo havia falecido meses antes em 21 de abril de 1977, e há quem diga que Groucho, hospitalizado, morreu sem saber da partida do irmão mais novo. Zeppo seria o último a seguir para o plano de cima, em 1979, aos 78 anos. Ele também morreria rico, entretanto não por causa do cinema, mas sim de seus negócios no ramo da engenharia.

Possivelmente os Irmãos Marx foram menos famosos que comediantes como Charles Chaplin ou o Gordo e o Magro. Mas ainda assim, foram responsáveis por inovar a comédia a um novo nível, numa época em que não era tão comum desrespeitar as regras. Ao assistir qualquer filme do grupo, não recomendo a ninguém fazer uma detalhada análise cinematográfica, já que em muitos a história a ser contada é o menos importante. O que importa é o jeito de fazer humor, seja nos diálogos ou na graça corporal que marcou o grupo(...)”.

 

Frases de Groucho Marx:

“Acho que a televisão é muito educativa. Todas as vezes que alguém liga o aparelho, vou para a outra sala e leio um livro.”

“As noivas modernas preferem conservar os buquês e jogar seus maridos fora.”

“- Vamos descobrir um tesouro naquela casa?
- Mas não há nenhuma casa...
- Então vamos construí-la !”

“Eu nunca me esqueço de um rosto, mas, no seu caso, ficarei feliz em abrir uma exceção.”

“Se acredito na vida após a morte? Não sei nem se acredito na vida antes da morte! Acho que acredito na morte durante a vida.”

“Estes são os meus princípios. Se você não gosta deles, eu tenho outros.”

"Eu pretendo viver para sempre, ou morrer tentando."

"Um brinde a nossas esposas e namoradas: que elas nunca se encontrem!"

"Eu não sou vegetariano, mas como animais que são".

“O matrimônio é a principal causa do divórcio.”

"Inclua-me fora disso."

"Por que eu deveria me importar com a posteridade? Ela nunca fez nada por mim."

"Do momento em que peguei seu livro até o que larguei, eu não consegui parar de rir. Um dia, eu pretendo lê-lo".

“Egoísta é toda pessoa que pensa mais nela do que em mim.”

“Apenas um entre mil é um líder de outros homens – os outros 999 seguem suas mulheres.”

“Disseram que dei vexame bebendo champagne no sapato de Sophia Lorem. Não é verdade. Derramei quase metade porque ela se recusava a tirar o maldito pé do sapato.”

"Eu não posso dizer que não discordo com você."

“O problema de não fazer nada é você nunca saber quando acabou.”

“Fale quando estiver com raiva e você fará o melhor discurso do qual se arrependerá.”

“O riso é uma coisa séria demais.”

“Se o dinheiro não pode comprar a felicidade, ele certamente deixa você escolher sua própria forma de miséria.”

“Eu, e não os acontecimentos, tenho o poder de me fazer sentir feliz ou infeliz hoje. Eu posso escolher como é que quero estar. O ontem está morto, o amanhã ainda não chegou. Eu tenho apenas este dia, o de hoje, e vou ser feliz enquanto ele decorrer.”

“O humor é a razão enlouquecida.”

“Muita gente parece não perceber que a primeira coisa que desaparece quando estão transformando um país num estado totalitário é a comédia.”

“Morrer, minha querida?
Esta será a última coisa que farei!”

Sugestão de vídeo:

Os Irmãos Marx - A Invenção da Comédia Falada

https://www.youtube.com/watch?v=KsQNk2CxmoM

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura:

https://www.google.com/search?q=imagens+irm%C3%A3os+marx&sxsrf=ALiCzsbV2wgvINRnCvPeVMc6b4k-gyfl8A:1654896005084&tbm=isch&source=

 

terça-feira, 7 de junho de 2022

O cientista escocês James Clark Maxwell

 




James Clark Maxwell foi um importante físico que nasceu em 13 de junho de 1831 em Edimburgo, na Escócia. Ele foi um fantástico teórico do século XIX, conseguindo complementar o cientista Faraday, que era um ótimo experimentalista. Ele foi muito religioso, uma pessoa tímida, com forte senso de humor e com simplicidade. Tinha uma intuição física muito boa e usou modelos visuais e matemáticos com brilhantismo, exerceu uma imaginação criadora. Maxwell com sua síntese no eletromagnetismo, por meio de suas equações de campo, contribuiu de uma forma que pode ser comparada aos feitos de Newton e Einstein na mecânica.

Aos 15 anos, por intermédio  da Royal Society de Edimburgo, ele publicou seu primeiro trabalho científico chamado "Descrição das Curvas Elípticas".  Entrou na Universidade de Edimburgo em 1847, lá ficando por três anos e depois foi estudar matemática no Trinity College, em Cambridge. Em 1849 começou a pesquisar sobre visão a cores em 1849 e por meio dessa pesquisa demonstrou como todas as cores podem ser obtidas a partir das cores primárias, vermelho, verde e azul.

Escreveu, em 1855, o artigo "Sobre as Linhas de Força de Faraday”, o qual tratava de eletricidade e magnetismo, tomando com base trabalhos de Michael Faraday. Em 1858 casou-se com Katherine Dewar e em 1860 passou a ser professor do King's College,na Universidade de Londres, tendo sido nessa instituição o primeiro cientista a usar a teoria das probabilidades no estudo das propriedades dos gases. Na época escreveu também um artigo sobre os anéis de Saturno. Foi eleito em 1861 para a  Real Society de Londres.

Em 1865 o pai de Maxwell faleceu. Eles eram muito ligados, pois o pai o tinha criado desde a morte da mãe quando James tinha somente 8 anos. De volta à Escócia, Maxwell entra como professor de Filosofia Natural na Universidade de Aberdeen. Nesse tempo ele estudou a teoria dos campos magnéticos e produziu a primeira fotografia colorida. Apresentou na Real Society um trabalho sobre as propriedades dos gases em 1866.

Em 1871 veio a se tornar o primeiro professor de física experimental da Universidade de Cambridge, tendo construído o Laboratório Cavendish. Maxwell faleceu em 5 de novembro de 1879. É considerado um formidável cientista do século XIX, com trabalho que fez a relação entre o eletromagnetismo e a luz. 

Segundo Domiciano Marques, graduado em Física:

“Maxwell demonstrou, usando a analogia das oscilações dos campos elétrico e magnético com as oscilações de um fluido, que essas oscilações poderiam se propagar da mesma forma que as ondas mecânicas. Maxwell imaginou que essas ondas se propagariam em um meio que chamou de éter, um meio invisível que envolveria todos os objetos.

A ideia da existência do éter perdurou até o estabelecimento da Teoria da Relatividade, na segunda década do século XX. Usando as propriedades dos campos elétrico e magnético, conhecidas na época, Maxwell calculou a velocidade de propagação dessas ondas, obtendo o valor de 3x108 m/s, que reconheceu como sendo o valor da velocidade da luz. Tomando como referência essa descoberta, ele propôs que a luz visível deveria ser uma onda eletromagnética.

Maxwell, no ano de 1864, juntou, ou melhor, unificou e generalizou as Leis de Coulomb, Ampère, Faraday e Lenz, enunciando o que hoje conhecemos como as Leis de Maxwell. De uma forma simplificada, elas diziam que:

- A força entre cargas pontuais é diretamente proporcional ao produto das cargas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre elas (Lei de Coulomb).

- Não existem monopolos magnéticos.

- Um campo elétrico variável ou uma corrente elétrica podem criar um campo magnético.

O trabalho de Maxwell não foi bem aceito pela comunidade científica da época. Não havia comprovação experimental da relação entre luz e fenômenos elétricos e magnéticos. Quando morreu, não houve homenagens a ele. Somente os cientistas de visão, como Hertz, reconheceram de imediato a importância das suas descobertas.

A comprovação experimental da existência de ondas eletromagnéticas fora do espectro visível só ocorreu em 1888, quase dez anos após a morte de Maxwell. Como dito, coube ao físico alemão Heinrich Hertz demonstrar, de forma indiscutível, a existência dessas ondas. As contribuições de Maxwell o colocaram como um dos maiores cientistas de todos os tempos(...).”

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Márcio José Matos Rodrigues- Professor de História.

 Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+James+Clerk+Maxwell&sxsrf=ALiCzsaSG5QUDi5XanaDKvtd7KFuruWkKA



quarta-feira, 1 de junho de 2022

Armas nucleares táticas

 




Neste artigo vou tratar sobre armas nucleares táticas. As armas nucleares táticas ou armas nucleares de uso tático em relação às estratégicas possuem pequeno poder explosivo, em geral uma força de 0,5 a 5 kilotons para atingir alvos específicos. Por exemplo, tropas, grupos de blindados, bases militares, navios ou mesmo porta-aviões. Estas armas utilizam o poder de destruição e calor ou o pulso eletromagnético, que são as principais formas de energia liberada pelo artefato explosivo. As armas táticas podem ser minas terrestres, projéteis de artilharia, cargas de profundidade e torpedos.

Um exemplo de arma nuclear tática lançada por artilharia, em 1953, na operação Upshot-Knothole Grable foi o canhão M65, arma que ficou conhecida como "canhão atômico". Uma importante característica destas armas é que, mesmo com poder explosivo menor, elas tem efeito radioativo, o que cria uma dificuldade para o uso. As armas táticas tem como objetivo ataques com alcance menor e podem ser lançadas do ar, mar e terra. Embora haja países que nomeiam armas de curto alcance como estratégicas, ao invés de táticas, tais armas, na maior parte dos casos, são menores que armas nucleares estratégicas se for considerada a carga útil e são criadas para acertar alvos menores ou para se fazer ataques diretos em campo de batalha.

O objetivo de se usar armas nucleares táticas seria atingir forças armadas inimigas. Para não ser necessário utilizar uma arma tática mais destrutiva, que possa afetar também a fonte lançadora, o ideal é que o alvo esteja mais perto da base que está lançando para que se use uma bomba de potencial menor.

Entre as armas táticas há as ogivas de cargas de profundidade nucleares, para serem usadas contra submarinos que estejam a uma profundidade grande. Durante a Guerra das Malvinas o governo argentino acusou a Inglaterra de usar cargas de profundidade nucleares. Mas o governo inglês negou, afirmando que possuía tais cargas na guerra, porém não as tendo utilizado. Tanto Estados Unidos como a União Soviética tinham mísseis ar-ar com ogivas nucleares quando existia a Guerra Fria. O possível uso dessas armas seria a destruição de aviões bombardeiros nucleares do adversário. Em 19 de Julho de 1957, na Operação Plumbbob, houve teste do míssil ar-ar nuclear AIR-2-Genie. Esse míssil foi o primeiro do tipo ar-ar com carga nuclear lançado de um avião F-89J sobre o deserto de Nevada, a uma altitude de cerca de 4,5 Km. Depois também os caça-bombardeiros F-101 B e F-106 A da Força Aérea dos Estados Unidos passaram a carregar esse tipo de míssil, cujo objetivo era causar danos ou mesmo destruir bombardeiros estratégicos voando muito alto. Esse bombardeiros seriam atingidos por pulso eletromagnético (PEM) com o uso do míssil. O PEM era mais eficaz que a onda de choque da explosão da bomba em situação de ar rarefeito.

Hoje em dia não há necessidade de se usar armas nucleares táticas para se produzir pulsos eletromagnéticos ou grande quantidade de calor e pressão porque já existem armas convencionais que causam o mesmo efeito, como as bombas de pulso eletromagnético ou bombas de energia direta. Um exemplo é o JSOW, arma que produz uma descarga eletromagnética com microondas direcionadas, podendo danificar equipamentos eletrônicos, de computação ou comunicação em pequenas áreas.

Em termos de destruição, armas táticas podem ser substituídas por bombas termobáricas, com poder de destruição de 1kiloton. Estados Unidos e Rússia afirmam ter armas termobáricas com poder destrutivo entre 5 e 11 kilotons. Os Estados Unidos já usaram esta arma no Afeganistão e no Iraque. A Rússia utilizou na Chechênia.

O surgimento das armas nucleares está ligado aos grandes investimentos de Estados Unidos e União Soviética nos anos de 1940, quando começou a Guerra Fria e até os anos 80 o poder de destruição da bomba que destruiu Hiroshima já tinha sido superado em milhares de vezes. Essa situação gerou o potencial de destruição mútua garantida (MAD), o que provocou o temor de uma guerra nuclear com uso de armas de alta destruição. Assim, nesse contexto, a OTAN, diante da enorme quantidade de tropas da União Soviética no Pacto de Varsóvia, começou a implantar armas nucleares de curto alcance para impedir um ataque grande de forças terrestres soviéticas.

No início da Guerra Fria houve a implantação da "Atomic Annie”, uma das primeiras armas nucleares táticas colocadas na Europa, que se caracterizava por ser uma grande peça de artilharia que em 1950 tinha a capacidade de disparar a uma distância de 29 km uma ogiva nuclear de 15 quilotons (o mesmo poder de destruição da bomba de Hiroshima). Uma arma nuclear tática da época foi a Davy Crockett, com alcance de quatro quilômetros. Depois essas armas saíram de circulação e os Estados Unidos colocaram ogivas nucleares em foguetes de curto alcance. Mesmo um artefato de 0,3 quilotons causaria danos terríveis, mesmo em escala menor.

Nos Estados Unidos e na Rússia as armas nucleares táticas formam aproximadamente de 30 a 40% dos arsenais nucleares desses países e em outros países o percentual é maior.  As armas nucleares táticas não são direcionadas para uma destruição nuclear ou radioativa em massa. Já foram feitos acordos entre a Rússia e os Estados Unidos para limitar o poder e tamanho de armas nucleares táticas, ainda que este tipo de armas não tenha uma regulação como foi feita com as estratégicas. Segundo Nikolai Sokov, no The James Martin Center:

“Seu tamanho pequeno, vulnerabilidade ao roubo e percepção de usabilidade tornam a existência de ANTs em arsenais nacionais um risco para a segurança global. E a nova percepção da usabilidade de armas nucleares na Rússia e nos Estados Unidos, embora por razões diferentes, pode criar um precedente perigoso para outros países”

Atualmente, em relação à guerra na Ucrânia, o governo dos Estados Unidos mandou formar uma equipe especial para informar à OTAN sobre como agir em caso de haver por parte da Rússia o uso de qualquer arma nuclear tática para ataque às forças ucranianas. Tem havido uma desconfiança por parte de líderes ocidentais de que Putin pode ordenar o uso de armas nucleares táticas, pois o presidente russo disse ter mandado seus generais: “colocar as forças de dissuasão do exército russo em alerta especial de combate”. William Burns da CIA comentou que: “É possível que o presidente Putin e os líderes russos entrem em desespero levando em conta os contratempos que sofreram até agora do ponto de vista militar”.  Mas ele também reconheceu “não ter encontrado fatos concretos (...) ". 

Devemos torcer para que em nenhum conflito sejam utilizadas armas nucleares táticas, pois embora sejam menos destruidoras que as armas nucleares estratégicas, são armas atômicas que além do potencial de destruição, também estão ligadas à radioatividade que é espalhada, embora em um sentido muito mais limitado que as armas nucleares estratégicas e o uso pode acender o perigo de uso de mais armas nucleares em uma escala que pode ser muito perigosa.

Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 


 

 Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALiCzsZnV-2-92NFL-iwXVPfyqm233-JGQ:1654141380687&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+armas+nucleares+t%C3%A1ticas