sábado, 26 de junho de 2021

Poesia : Sol democrático

 



 




 

Sol democrático

 

Um novo dia,

Acordei cedo,

Para ver o sol,

Em sua exuberância,

Que ilumina sem ganância,

Sem ideologia,

Numa natural democracia,

O Pedro,

A Carol

E a Maria.

A vida como os filmes,

Tem seu enredo.

Aproveitemos a manhã com alegria!

Márcio José Matos Rodrigues

 


Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+sol&sxsrf=ALeKk00nNbwKHg327ELV-Yf9YXTBR-2W6Q:1624720053715&tbm=isch&source=iu&ictx=

 


segunda-feira, 21 de junho de 2021

O escritor francês Saint-Exupéry

 








     

Em 29 de junho de 1900 nascia em Lyon, na França o famoso escritor Antoine Jean Batiste Marie Roger Foscolombe de Saint-Exupéry, mais conhecido como Antoine de Saint-Exupéry. Além de escritor foi também ilustrador e piloto. Ganhou os prêmios Femina (1931) e o Grande Prêmio de Romance da Academia Francesa (1939). Ele era o terceiro filho do conde Jean Saint-Exupéry e da condessa Marie Foscolombe. Sua mãe o incentivou a escrever contos e prosas.

Entre 1909 e 1914 estudou no colégio jesuíta de Notre-Dame, em Mans. Em 1914, com a guerra mundial atingindo a França,ele e seu irmão François transferem-se para a Suiça, para estudarem no colégio dos Marianista.  Tenta anos depois entrar na Escola naval, mas não é aprovado.

Apaixonou-se por aviação quando fez um passeio de avião com um amigo. Em abril de 1921 começa a servir no Segundo Regimento de Aviação de Estrasburgo, na França. Em 1922,com seu brevê de piloto, já é um piloto militar, com o posto de subtenente da reserva. Com a recomendação de um amigo entra na Sociedade Latécoere de Aviação em 1926, passando a ser piloto de linha, com voos entre Toulouse, Casablanca e Dacar. Marroquinos islâmicos lhe chamaram de senhor das areias, quando ele chefiou um posto no norte da África, no Cabo Juby, tendo ficado nessa região por 18 meses. Nessa época escreveu o romance “Correio do Sul” e negociava com tribos do deserto a libertação de pilotos que tinham feito pousos forçados ou sofrido acidentes na área e estavam presos.

Saint-Exupéry esteve por volta de 25 meses na América do Norte e depois voltou para a Europa e se integrou às Forças Francesas Livres em um esquadrão do Mediterrâneo para lutar junto aos Aliados contra os alemães. Ele estava já com 43 anos, sendo mais velho que a maioria dos pilotos. Tinha dores porque tinha muitas fraturas. Ele passou a pilotar um avião do tipo P-38 Lightning.

Em 1944 Saint-Exupéry foi enviado para obter informações a respeito dos movimentos das forças alemães na região do Vale do Ródano. O sul da França seria invadido pouco tempo depois pelos Aliados. Assim, ele saiu em 31 de julho de 1944 com seu avião de uma base aérea na Córsega, mas não voltou da missão. Tempos depois um piloto alemão disse que tinha abatido o avião do escritor e lamentou a morte dele. Uma pulseira com o nome do escritor foi encontrada por um pescador francês em 1998. Os restos do avião do autor francês só foram encontrados em 2004 a poucos quilômetros da costa de Marselha. O corpo do escritor nunca foi encontrado. 

Durante sua vida Saint-Exupéry escreveu artigos para revistas e jornais franceses e de outros países, sobre assuntos como a guerra civil espanhola e a ocupação alemã da França. Suas obras continham aspectos ligados à aviação e à guerra. No Brasil o livro O Pequeno Príncipe (1943) é o livro mais lido do autor, obra que vendeu dezenas de milhões de exemplares em muitos países, sendo traduzido para mais de 180 línguas. Mas o escritor não pôde ver o sucesso que teve com a obra, pois morreu cerca de um ano depois da publicação de seu livro, que tem personagens cheios de simbolismos. O livro busca uma reflexão dos leitores sobre a vida adulta, os valores e a criança que ainda há em cada adulto.

Além do Pequeno Príncipe há outras obras do autor: O aviador (1926); Correio do Sul (1929); Voo Noturno (1931); Terra dos Homens (1939); Piloto de Guerra (1942); Carta a um refém (1943/1944); Cidadela, obra póstuma. (1948).

Segundo a autora Dilva Frazão: “Antoine-Marie-Roger de Saint-Exupéry nasceu em Lyon (França), no dia 29 de junho de 1900. Era o terceiro filho do conde Saint-Exupéry e da condessa Marie Fascolombe, família aristocrática empobrecida. Estudou no colégio jesuíta Notre Dame de Saint Croix e no colégio dos Marianistas, em Friburgo, na Suíça.

Ajudou a implantar rotas de correio aéreo na África, América do Sul e Atlântico Sul, além de ter sido pioneiro nos voos Paris - Saigon e Nova Iorque - Terra do Fogo. Nessa época, publicou Correio do Sul (1929).

Na década de 30, Exupéry trabalhou como piloto de provas para a Air-France e repórter do Paris- Soir. Em 1931, publicou Voo Noturno, onde exaltou os primeiros pilotos comerciais que enfrentavam a morte no cumprimento do dever. Registrou suas próprias aventuras em “Terra dos Homens” (1939).

Com a invasão dos nazistas na França, Exupéry fugiu para os Estados Unidos. Nesse período, escreveu Carta a Um Refém (1943) e incentivado por editores americanos, que viram sua habilidade como desenhista amador, a fazer uma obra para crianças. Até ali, seus livros falavam de sua paixão profissional: a aviação. 

Em 1943, Antoine de Saint-Exupéry escreveu seu livro mais importante O Pequeno Príncipe (1943), uma fábula infantil para adultos, cuja obra é rica em simbolismo, com personagens como a serpente, a rosa, o adulto solitário e a raposa.

O personagem principal do livro vivia sozinho num planeta pequeno, onde existiam três vulcões, dois ativos e um já extinto. Outro personagem representativo é a rosa, cujo orgulho, levou o pequeno príncipe a uma viagem pela terra.

Na viagem, encontrou outros personagens que o levaram ao desvendamento do sentido da vida. (...)”

 

Algumas frases de Saint-Exupéry:

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".

“Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”

“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”

“A Terra ensina-nos mais acerca de nós próprios do que todos os livros. Porque ela nos resiste.”

“Se a vida não tem preço, nós comportamo-nos sempre como se alguma coisa ultrapassasse, em valor, a vida humana... Mas o quê?”

“O verdadeiro homem mede a sua força quando se defronta com o obstáculo.”

“Não há uma fatalidade exterior. Mas existe uma fatalidade interior: há sempre um minuto em que nos descobrimos vulneráveis; então, os erros atraem-nos como uma vertigem.”

“Sacrifício não significa nem amputação nem penitência. (...) Ele é uma oferta de nós próprios ao Ser a que recorremos.”

“Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.”

“A verdade não é, de modo algum, aquilo que se demonstra, mas aquilo que se simplifica.”

“Também somos ricos das nossas misérias.”

“O que nos salva é dar um passo e outro ainda.”

“Apenas se vê bem com o coração, pois nas horas graves os olhos ficam cegos.”

“Há vitórias que exaltam, outras que corrompem; derrotas que matam, outras que despertam.”

“As pessoas crescidas têm sempre necessidade de explicações... Nunca compreendem nada sozinhas e é fatigante para as crianças estarem sempre a dar explicações.”

“Ser homem é ser responsável. É sentir que colabora na construção do mundo.”

“Num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo.”

“Na vida, não existem soluções. Existem forças em marcha: é preciso criá-las e, então, a elas seguem-se as soluções.”

“É o mesmo sol que derrete a cera e seca a argila.”

“Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.”

“A gente só conhece bem as coisas que cativou.”

 “Fiz mal em envelhecer. Foi uma pena. Eu era tão feliz quando criança...”

“Sou um pouco de todos que conheci, um pouco dos lugares que fui, um pouco das saudades que deixei e sou muito das coisas que gostei.”

“Os homens cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim e não encontram o que procuram. E, no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa.”

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...”

“O futuro não é um lugar onde estamos indo, mas um lugar que estamos criando. O caminho para ele não é encontrado, mas construído e o ato de fazê-lo muda tanto o realizador quando o destino.”

“Preparar o futuro significa fundamentar o presente.”

“É tão misterioso o país das lágrimas”

“A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar.”

 “Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é única no mundo.”

“É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar.”

“Minha vida é monótona. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente de outros...”

“Um monte de pedras deixa de ser um monte de pedras no momento em que um único homem o contempla, nascendo dentro dele a imagem de uma catedral.”

“Em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos.”

“Ainda que seus passos pareçam inúteis; vá abrindo caminhos como a água que desce cantando da montanha. Outros te seguirão...”

“Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.”

“Uma pessoa para compreender tem de se transformar.”

“Assentei o amor pelos meus nessa dádiva de sangue, assim como a mãe assenta o seu amor no leite que dá. É aí que reside o mistério. É preciso começar pelo sacrifício para alicerçar o amor.”

“Todas as grandes personagens começaram por serem crianças, mas poucas se recordam disso.”

“Se queres compreender o significado de 'felicidade', deves primeiro entendê-la como recompensa e não como fim.”

“O Amor é a única coisa que cresce à medida que se reparte.”

“Ninguém te sacudiu pelos ombros quando ainda era tempo. Agora, a argila de que és feitos já secou e endureceu e nada mais poderá despertar em ti o místico adormecido ou o poeta ou o astrônomo que talvez te habitassem.”

"A vida não é tudo que ela pode nos dar, mas sim tudo o que podemos dar por ela."

“É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.”

“A linguagem é uma fonte de mal-entendidos.”

“Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porém, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita.”

“Eu conheço um planeta onde há um homem vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu: "Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!" e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo!”

“E eu compreendi que não podia suportar a ideia de nunca mais escutar esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.”

“Na minha civilização, aquele que é diferente de mim não me empobrece; me enriquece.”

“Se você quer construir um navio, não chame as pessoas para juntar madeira ou atribua-lhes tarefas e trabalho, mas sim ensine-os a desejar a infinita imensidão do oceano.”

“Tu não compras nem a alegria, nem a saúde, nem o amor verdadeiro.”

“A verdadeira felicidade vem da alegria de atos bem feitos, do sabor de criar coisas renovadas.”

“Escrevo deitado e as linhas ficam tortas, como se eu tivesse bebido. Só bebi um pouco de tristeza.”

“Se o escultor despreza a argila, terá de modelar o vento. Se o teu amor despreza os sinais do amor a pretexto de atingir a essência, o teu amor não passa de palavreado.”

"Você não se sente sozinha aqui no deserto?” "No meio da multidão também nos sentimos sozinhos."

 “Não existe nada igual ao sabor do pão partilhado.”

“Quem luta com a única esperança de recolher bens materiais, efetivamente não recolhe nada que valha a pena viver (...) Que são os cem anos de história da máquina comparados com os cem mil anos de história do homem?”

“A imagem pode ser a mesma que cada um ama à sua maneira.”

“É certo que, quanto mais rude é o trabalho em que te consomes, em nome do amor, mais ele te exalta. Quanto mais te dás, mais cresces.”

"É loucura odiar todas as rosas porque uma te espetou. Entregar todos os teus sonhos porque um deles não se realizou."

“Quem tem a capacidade de sonhar não foge do real mas complementa-o de uma forma diferente .”

“A inteligência apenas vale ao serviço do amor.”

“Mesmo os nossos fracassos são uma parte de nossos pertences.”

“Nenhum incidente isolado pode despertar dentro de nós um estranho totalmente desconhecido. Viver é nascer lentamente.”

 “A idade do homem é algo impressionante. É um resumo de sua vida: a maturidade é alcançada lentamente e sobre muitos obstáculos, doenças curadas, perdas, desesperanças superadas e riscos assumidos inconscientemente; a maturidade formada por tantos desejos, esperanças, remorsos, coisas esquecidas, amores. A idade do homem representa uma carga preciosa de experiências e memórias.”

 

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Márcio José Matos Rodrigues


sábado, 19 de junho de 2021

João Cândido, o Líder da Revolta da Chibata

 











Em 24 de junho de 1880 nascia na fazenda Coxilha Bonita, no vilarejo Dom Feliciano, um distrito de Encruzilhada, na então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, hoje em dia o Estado do Rio Grande do Sul, o futuro marinheiro João Cândido Felisberto, líder da chamada Revolta da Chibata. Ele era filho dos ex-escravos João Felisberto e Inácia Cândido Felisberto.

João Cândido em 1894 apresentou-se, com treze anos, na Companhia de Artífices Militares e Menores Aprendizes no Arsenal de Guerra, que ficava em Porto Alegre, encaminhado com um recomendação do capitão-de fragata Alexandrino de Alencar. Em 1895 João foi transferido para a Escola de Aprendizes Marinheiros de Porto Alegre e em dezembro desse ano já era grumete da Marinha do Brasil, passando a servir na cidade do Rio de Janeiro. João disse  em uma entrevista para a Gazeta de Notícias de 31 de dezembro de 1912 que foi soldado do general Pinheiro Machado na Revolução Federalista em 1893.

João Cândido viajou como marinheiro por diversos países durante seus 15 anos de serviço na Marinha de Guerra. Em parte dessas viagens ele estava em processo de instrução, primeiro recebia as instruções e depois passando-as para marinheiros mais novos. Em 1909 foi para a Grã-Bretanha onde estavam sendo construídos navios de guerra para a Marinha do Brasil. Quando esteve lá soube que marinheiros russos tinham, em 1905, se rebelado para reivindicar melhores condições de trabalho e alimentação. Era elogiado por oficiais por sua conduta e querido por companheiros de farda, sendo o marinheiro mais experiente.

As razões para a revolta que aconteceria estavam ligadas ao uso da chibata como castigo na Marinha brasileira. O governo republicano em um de seus primeiro atos em 16 de novembro de 1889, por meio de um decreto de Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente da república, tinha extinto essa forma de punição. Mas oficiais da Marinha continuavam a aplicar o castigo. Na época cerca de 90% dos marinheiros brasileiros eram negros ou mestiços e muitas vezes estavam descontentes com o soldo, a má alimentação e os castigos corporais.  

Em 1893 tinha existido um caso de revolta em um navio contra a grande quantidade de castigos físicos que eram utilizados pelo comandante. A exigência dos revoltosos era a troca desse oficial. Havia oficiais da Marinha que iam além do que era estabelecido no regimento da Marinha, que estabelecia a criação de Companhias Correcionais que poderiam em certos casos indicar o uso de até 25 chibatadas como castigo.

Os marinheiros brasileiros que foram acompanhar a construção de dois encouraçados e um cruzador que seriam vendidos para o Brasil já se organizavam para formas de luta contra o uso da chibata na Marinha de Guerra. Em 1910 as eleições presidencais foram vencidas pelo marechal Hermes da Fonseca. Os marinheiros nesse ano tentaram pacificamente enviar para o governo brasileiro propostas para acabar com os castigos físicos, sem serem atendidos em sua solicitação. Diante da recusa do governo, os marinheiros decidiram por uma revolta marcada para o dia 25 de novembro de 1910. Mas a 21 de novembro desse ano o marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes foi punido com 250 chibatadas, aplicadas na presença dos demais marinheiros do Encouraçado Minas Gerais. Com esse fato, a revolta foi antecipada para 22 de novembro. Nesse dia o capitão João Batista das Neves iria dormir fora do navio e os marinheiros aproveitariam para se armarem e tomarem conta do Minas Gerais, nau capitânia da esquadra, e depois de outros navios que estavam no Rio de Janeiro. Mesmo o capitão tendo voltado mais cedo, a revolta acabou eclodindo.

No início do conflito o comandante, dois oficiais e três marinheiros morrem. Houve outras mortes em mais dois navios. O chefe das reuniões conspiratórias que planejaram a revolta era Vitalino José Ferreira, mas como comandante da esquadra revoltada João Cândido foi escolhido pelos marinheiros. Os dois navios mais poderosos da Marinha estavam sob controle dos rebeldes, os encouraçados Minas Gerais e São Paulo.  

João Cândido manda parar as mortes nos navios e envia radiogramas dizendo que deveriam parar os castigos corporais na Marinha de Guerra. A imprensa o chamou de Almirante Negro. Os navios Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro apontaram seus canhões para a cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil. Os marinheiros mandaram a seguinte mensagem para o presidente Hermes da Fonseca: "Nós, marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podemos mais suportar a escravidão na Marinha brasileira”. O governo federal se comprometeu a acabar com o uso da chibata como castigo e disse que ia conceder anistia aos marinheiros que tinha se revoltado. Quando os marinheiros foram desarmados, o governo decretou em 28 de novembro a expulsão de marinheiros que, segundo ele, representassem risco, ato que representava uma quebra de compromisso com a anistia que tinha sido aprovada em 25 de novembro pelo Senado da República e sancionada pelo presidente Hermes.

Após a notícia dessa decisão do governo acabando com a anistia, houve boatos de que o Exército tomaria medidas contra os marinheiros. Então houve um motim dos fuzileiros navais na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em 9 de Dezembro de 1910. Na ilha estavam presos dezenas de marinheiros que participaram da revolta anterior. Essa segunda revolta tinha sido motivada pelos boatos de que o Exército atacaria o batalhão naval como vingança por causa da Revolta da Chibata. Os fuzileiros foram logo derrotados após violento bombardeio. O presidente Hermes da Fonseca conseguiu do Senado a aprovação de estado de sítio e João Cândido, apesar de declarar sua lealdade ao governo, foi preso junto com centenas de marinheiros, muitos deles mortos ou expulsos da Marinha. Noventa e seis foram enviados ao Acre para trabalhos nos seringais. João Cândido foi expulso da Marinha. Inicialmente ficou preso no quartel do Exército e em 24 de dezembro foi deslocado para a Ilha das Cobras, na qual 16 de seus 17 companheiros de cela foram assassinados por asfixia com cal. E em abril de 1911 enviaram João Cândido como louco para o Hospital dos Alienados. Considerado com boa saúde mental no hospital, foi enviado novamente pelo governo para a Ilha das Cobras. Em 1912 foi solto, após ter sido absolvido das acusações. O defensor que lutou pela causa dele foi o rábula Evaristo de Moraes, contratado pela Ordem Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

 

Não foi permitido a João Cândido trabalhar como marinheiro em qualquer navio e ele teve que trabalhar como estivador e descarregando peixes no centro do Rio de Janeiro. Em 1928 sua segunda esposa suicidou-se, o que o deixou muito triste. Em 1930 o prenderam de novo acusando-o de subversão. Em 1933 aderiu ao Integralismo, movimento ultranacionalista brasileiro. Soube em 1953 que o navio Minas Gerais seria vendido como sucata para a Itália. Ele pegou uma canoa e foi até o navio ancorado e deu um beijo de despedida nele. Até o fim da vida a Marinha o discriminou e já em fim da vida foi para o município de São João de Meriti e passou a frequentar a Igreja Metodista. Morreu pobre, de câncer, aos 89 anos de idade, em 6 de dezembro de 1969.  

Há um monumento em homenagem a João Cândido na Praça XV, no Rio de Janeiro. Em 1959 o livro "A Revolta da Chibata", de Edmar Morel, começou a resgatar a memória jornalística sobre ele. Nos anos 70 do século XX foi feito o samba "O mestre-sala dos mares” pelos compositores João Bosco e Aldir Blanc. Em 2003 foi lançado o curta-metragem "Memórias da Chibata”. E em 24 de julho de 2008 publicou-se no Diário Oficial da União a Lei Nº 11.756, concedendo anistia a João.

 

Segundo o autor Alcy Cheuiche, em seu livro João Cândido, o Almirante Negro (2010):

"Fisicamente, João Cândido era um gigante, mas nunca abusou de sua superioridade física. Hábil no uso das palavras, sempre cumpria o que prometera, ao contrário do presidente que, logo que recuperou os navios, traiu os compromissos assumidos”.

O jornalista Fernando Granato, autor dos livros O Negro da Chibata (2000) e João Cândido (2010), da coleção Retratos do Brasil Negro assim disse de João Cândido:

"De origem muito pobre, João Cândido não estudou. Mas tinha uma sabedoria e um espírito de liderança que permitiram que se destacasse na Marinha. Aprendia tudo de olhar".

Disse o filho de João Cândido, Adalberto Cândido, o Candinho:

"Embora nunca tenha sido castigado na Marinha, meu pai não aceitava que os companheiros fossem torturados. Não foi um ato de heroísmo o que ele fez. Foi um ato de humanidade”.  

Em 1934 um humorista dessa época, Apparício Torelly, conhecido como o Barão de Itararé, começou a escrever sobre a vida de João Cândido em jornal com o título A Insurreição dos Marinheiros de 1910. Após a publicação do capítulo 10 foi sequestrado e surrado. Também Aldir Blanc ao compor o Mestre-Sala dos Mares sofreu intimidação no tempo do regime militar.

 

Para ouvir: https://www.letras.mus.br/joao-bosco/663976/

Mestre Sala Dos Mares

 Há muito tempo nas águas da Guanabara

O dragão no mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro
A quem a história nunca esqueceu

Conhecido como Navegante Negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar
Na alegria das regatas

Foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas
Jovens polacas
E por batalhões de mulatas

Rubras cascatas jorravam das costas dos santos
Entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro gritava então

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história

Não esquecemos jamais
Salve o Navegante Negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais

Mas salve
Salve o Navegante Negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+joao+candido&sxsrf=ALeKk01Schfo6u-hNBwBEcM8lqqjI6Zmjw:1624161503222&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=


Poesias com Estrelas

 







A estrela, o poeta e o astrônomo


Estrela,

Que o astrônomo vê

Em seu tormento de fogo,

Como matéria e energia.

Mas um poeta em sua inspiração,

Diria que é razão

Para nova poesia.

Nela veria,

Uma musa,

Com a luz de seu olhar

O brilho de seu sorriso

Sua alegria,

Seu mar

De fantasias.

O poeta pegaria,

Uma folha de papel

E em um lance de improviso,

Faria,

Tantos versos

Para a estrela lá no céu.

E se o poeta for também astrônomo?

O que diria?

Pela ciência vê fenômenos,

Mas cria novos universos

Em sua poesia!

Márcio José Matos Rodrigues

 

Ouvir estrelas

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.

Olavo Bilac

 

 

 Lira I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro, 
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
    Graças, Marília bela,
          Graças à minha Estrela!

Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
    Graças, Marília bela,
          Graças à minha Estrela!

Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
    Graças, Marília bela,
          Graças à minha Estrela!

Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
    Graças, Marília bela,
          Graças à minha Estrela!

Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso.
    Graças, Marília bela,
          Graças à minha Estrela!

Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:
Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
    Graças, Marília bela,
          Graças à minha Estrela!

Depois de nos ferir a mão da morte,
Ou seja neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
“Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos, que nos deram estes.”
    Graças, Marília bela,
          Graças à minha Estrela!

 Tomás Antônio Gonzaga

 

 

Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas.

Mário Quintana

 

Estrela

Todas as noites eu olho para o Céu
para admirar minha Estrela
que entre todas as estrelas
é a mais Linda,
a mais Radiante,
e a mais Encantadora

E, por apaixonado que eu seja,
dedico à ela todos os meus sentimentos
poesias e canções
e sempre adormeço com ela em meus pensamentos,
mesmo sabendo que eu não ocupo os seus pensamentos,
mesmo sabendo que ela não brilha pra mim.

Augusto Branco

 

 



Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Douglas  Malloch

 

Inscrição para um portão de cemitério

Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!

Mário Quintana

 

Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.

Antoine de Saint-Exupérry

 

A Estrela

Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.

Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

Por que da sua distância
Para a minha companhia
Não baixava aquela estrela?
Por que tão alto luzia?

E ouvi-a na sombra funda
Responder que assim fazia
Para dar uma esperança
Mais triste ao fim do meu dia.

Manuel Bandeira

 

Perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola,
a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são;
e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio,
hão de vos responder: É hora de se embriagar!
Para não serdes os martirizados escravos do Tempo,
embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas!
De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha...

Charles Baudelaire

 

Trechos do livro A Hora Da Estrela


“... o vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é resposta a meu – a meu mistério”.

“Se tivesse a tolice de se perguntar ”quem sou eu?” cairia estatelada e em cheio no chão. É que “quem sou eu?” provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto”.

“... minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite. Embora não agüente bem ouvir um assovio no escuro, e passos”.

“... quero aceitar minha liberdade sem pensar o que muitos acham: que existir é coisa de doido, caso de loucura. Porque parece. Existir não é lógico”.

“É melhor eu não falar em felicidade ou infelicidade – provoca aquela saudade desmaiada e lilás, aquele perfume de violetas, as águas geladas da maré mansa em espumas pela areia. Eu não quero provocar porque dói”.

“(Mas quem sou eu para censurar os culpados? O pior é que preciso perdoá-los. É necessário chegar a tal nada que indiferentemente se ame ou não se ame o criminoso que nos mata. Mas não estou seguro de mim mesmo: preciso amar aquele que me trucida e perguntar quem de vós me trucida. E minha vida, mais forte do que eu, responde que quer porque quer vingança e responde que devo lutar como quem se afoga, mesmo que eu morra depois. Se assim é, que assim seja”).

“... irei até onde o ar termina, irei até onde a grande ventania se solta uivando, irei até onde o vácuo faz uma curva, irei aonde meu fôlego me levar”.

Clarice Lispector

 

Nada se assemelha à alma como a abelha. Esta voa de flor para flor, aquela de estrela para estrela. A abelha traz o mel, como a alma traz a luz.

Victor Hugo

 

Além da Terra, além do Céu

Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.

Carlos Drummond de Andrade

 

 

 

Estrelas

Pela marca que nos deixa
A ausência de som que emana das estrelas
Pela falta que nos faz
A nossa própria luz a nos orientar
Doido corpo que se move
É a solidão nos bares que a gente frequenta
Pela mágica do dia
Que independeria da gente pensar
Não me fale do seu medo
Eu conheço inteira sua fantasia
E é como se fosse pouca
E a sua alegria não fosse bastar
Quando eu não estiver por perto
Cante aquela música que a gente ria
É tudo que eu cantaria
E quando eu for embora você cantará

Oswaldo Montenegro

Ouvir em:

Estrelas Oswaldo Montenegro Legendado1 - YouTube

 https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=A+aus%C3%AAncia+de+som+que+emana+das+estrelas+

 

  

Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.

Fernando Pessoa

 

Os poetas reclamam que a ciência retira a beleza das estrelas. Mas eu posso vê-las de noite no deserto, e senti-las. Vejo menos ou mais?

Richard  Feynman

 

Uma das coisas mais belas da vida é olhar para o céu, contemplar uma estrela e imaginar que muito distante existe alguém olhando para o mesmo céu, contemplando a mesma estrela e murmurando baixinho: "Que Saudade".

Bob Marley

 

Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo.

José Saramago

 

As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porém, terás estrelas como ninguém... Quero dizer: quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto... e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!

Antoine de Saint-Exupéry

 

As coisas assim a gente não perde nem abarca. Cabem é no brilho da noite. Aragem do sagrado. Absolutas estrelas.

Guimarães Rosa

 

A lua batia nas árvores, algumas nuvens erravam por entre as estrelas pálidas, o mar falava às coisas da sombra, a meia voz, a cidade dormia, do horizonte subia uma neblina, a melancolia era profunda.

Victor Hugo

 

Tenho Dó das Estrelas

Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo…
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir…

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão –
Qualquer coisa assim
Como um perdão?

Fernando Pessoa

 

Estrela do Mar

Um pequenino grão de areia
Era um eterno sonhador
Olhando o céu viu uma estrela
Imaginou coisas de amor

Passaram anos, muitos anos
Ela no céu e eleno mar
Dizem que nunca o pobrezinho
Pôde com ela encontrar

Se houve ou se não houve
Alguma coisa entre eles dois
Ninguém, pôde até hoje afirmar
O fato é que depois, muito depois
Apareceu, a estrela do mar.

 

Composição de Marino Pinto / Paulo Soledade

 

Para ouvir:

 https://www.letras.mus.br/dalva-de-oliveira/243873/

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=Maria+bhetania+cantando+estrela+do+mar

 

  

Sonhe com as estrelas,

apenas sonhe,
elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento,
ele precisa correr por toda parte,
ele tem pressa de chegar, sabe-se lá aonde.
As lágrimas?
Não as seque,
elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.
O sorriso!
Esse, você deve segurar,
não o deixe ir embora, agarre-o!
Persiga um sonho,
mas, não o deixe viver sozinho.
Alimente a sua alma com amor,
cure as suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades,
mas, não enlouqueça por elas.
Abasteça seu coração de fé,
não a perca nunca.
Alargue seu coração de esperanças,
mas, não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-as.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Circunda-se de rosas, ama, bebe e cala.
O mais é nada.

 Fernando Pessoa

  

Linda Ofélia,

Você pode duvidar
que as estrelas sejam chamas,
ou que o sol possa girar,
suspeitar da mentira na verdade...
Mas não duvide, nunca,
do amor que tenho por você
e de minha adoração!
Ah, Ofélia, sou tão ruim em rimas,
tão desajeitado com os versos
que chego a suspirar, sem imaginação!
Sou bom só no meu amor por você,
amor supremo de minha vida,
verdadeiro encanto e paixão.
Adeus.
Do seu, enquanto viver,
(Hamlet) William Shakespeare

  

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Márcio José Matos Rodrigues

  

 Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+c%C3%A9u+estrelado&sxsrf=ALeKk00B1EeHlA2SldtWaA7HavdGsyGnvw:1624113210921&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=Xwdt9bYh9qRzdM%25