terça-feira, 13 de julho de 2021

O pintor holandês Rembrandt

 







Em 15 de julho de 1606 nasceu em Leida, na República Unida dos Países Baixos (atualmente Países Baixos), o pintor e gravador holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn, considerado um dos grandes artistas da história da arte europeia e o de maior destaque da historia holandesa. Pertencia ao movimento estético barroco. Muitos historiadores denominaram o período em que Rembrandt deu suas contribuições à arte como o “Século de Ouro dos Paises Baixos”, que foi uma época na qual houve o auge da influência política, da ciência, do comércio e da cultura holandesa (em especial a pintura). Ele ensinou a maioria dos mais importantes pintores holandeses. O brilho de sua criatividade pode ser vista principalmente em retratos de pessoas da sua época, em autorretratos e ilustrações de cenas da Bíblia. Como tinha empatia pela condição humana, foi chamado de "um dos grandes profetas da civilização”.

Rembrandt abriu um estúdio de pintura por volta de 1624 em Leida, após ter passado seis meses de aprendizado com o famoso pintor Lastman. Nesse estúdio trabalhava também o pintor e amigo Jan Lievens. A partir de 1627 entraram alunos no estúdio, como o pintor Gerrit Dou.

O estadista Constantin Huygens, pai do matemático e físico Christian Huygens, deu apoio para Rembrandt, conseguindo para ele encomendas importantes para a elite de Haia.  Tendo se mudado para Amsterdã, que estava se desenvolvendo como novo centro comercial, no final de 1631, Rembrandt iniciou suas práticas como retratista profissional, tendo notável sucesso. Primeiro ele estabeleceu ligações com o marchand Hendrick van Uylenburg. E em 1634 ele e sua sobrinha, Saskia van Uylenburg ( filha de um advogado e prefeito da cidade de Leeuwarden), casaram-se.  Nesse ano o pintor tornou-se cidadão de Amsterdã e passou a ser um dos componentes da guilda local de pintores. Ferdinand Bol e Govert Flinck foram seus alunos, entre outros.

Quando se casou Rembrandt tinha 28 anos e Saskia tinha 21, sendo órfã. Seu dote de casamento era valioso. De início o casal morou com um primo de Rembrandt e em 1639 se mudou para um casarão em Amsterdã. O pintor tinha já uma considerável renda, mas também muitas despesas e a situação financeira foi ficando difícil para ele, ainda mais com maus investimentos . Na época ele recorreu a vizinhos judeus para pintar cenas do Velho Testamento. Na mansão de Rembrandt, ele e sua esposa realizavam reuniões sociais e sua casa tornou-se um museu de pinturas, gravuras, móveis de estilo, porcelanas finas, antiguidades e objetos raros.

Rembrandt e Saskia perderam um filho em 1635 com dois meses de idade, uma filha em 1638 após o parto e mais outra filha em 1640 com um mês de idade. Em 1641 nasceu o filho Titus, que viveu até a maioridade. Saskia morreu em 1642, talvez de tuberculose. Rembrandt fez desenhos dela em seu leito de morte. A enfermeira da esposa de Rembrandt, Geertje Dircx, tornou-se amante do pintor. Ela foi internada em um asilo de indigentes por doze anos porque Rembrandt descobriu que ela havia penhorado joias de Saskia. 

Rembrandt começou novo relacionamento no final da década de 1640, com Hendrikje Stoffels, uma empregada e com ela teve a filha Cornelia. Tendo custos além dos seus rendimentos, ele teve que fazer um acordo em 1656 nos tribunais para evitar sua falência, tendo de vender a maioria de seus quadros e a sua coleção de antiguidades. Mas as vendas não foram suficientes e ele teve em 1660 que vender sua casa, sua máquina impressora e foi para uma morada mais simples.

Em 1661 Rembrandt foi contratado para terminar os trabalhos do recém-construído paço municipal. Mas a obra chamada de A Conspiração de Claudius Civilis não foi aceita e foi devolvida ao autor. Só ficou preservada uma pequena parte dessa obra. Ele continuou a pintar retratos e outras obras sob encomenda. Em 1667 recebeu a visita do italiano Cosme III da Toscana que estava passando por Amsterdã. O filho Titus morreu em 1668, antes do pintor, que veio a falecer em 4 de outubro de 1669 em Amsterdã.

Em relação às obras, houve duas fases, na primeira havia a influência do pintor Pieter Lastman, que tinha estudado com Caravaggio em Roma. Nessa técnica há um forte contraste com a iluminação da tela, dando significativa dramaticidade às pinturas, com temática bíblica ou mitológica. Também nota-se uma movimentação dos personagens das pinturas cheia de expressões intensas, contribuindo para a dramaticidade do cenário. Havia muitos detalhes nas pinturas como vestimentas e joias. Na segunda fase, a partir de 1640, há muito uso da monocromia em tons dourados, revelando uma influência de Caravaggio que utilizou bastante a técnica chiaroscuro onde havia a justaposição intensa entre luzes e sombras, com um efeito visual de grande destaque. Em vez de movimentos repentinos e fortes há um clima mais leve, estando os personagens mais introspectivos e pensativos. A luz nessa fase passa a fazer parte do aspecto espiritual da pintura. Há uma profundidade nos quadros do autor, sensibilizando muito quem observa. Há uma proximidade da técnica do grande pintor Ticiano. O uso de camadas de tinta, com vernizes entre as camadas de tinta mais espessas permitia uma ilusão de ótica.

Os temas básicos de Rembrandt em suas pinturas eram as pinturas sacras, os autorretratos e os retratos de grupos. As sacras foram feitas durante o tempo dele como pintor como o "O retorno do filho pródigo" e “Jacó abençoa os filhos de José”( em algumas pinturas bíblicas Rembrandt colocou-se nas pinturas como um personagem na multidão). Em relação aos autorretratos, foram pintados mais de 100 durante 40 anos. Neles o autor fazia uma leitura psicológica e ele era fiel ao rosto que estava no espelho, mostrando diversos momentos, sejam de alegria ou desespero diante de sérias dificuldades. Quanto aos retratos em grupo, foram quatro, sendo dois muito famosos: A Aula de Anatomia do Dr. Tulp e A Ronda Noturna.

Além das pinturas, Rembrandt foi um gravador muito bom. Produziu suas gravuras de 1626 a 1660, ano em que teve de vender sua impressora. Ele tinha alta consideração pelas gravuras. Para ele eram uma outra forma de se expressar, muito diferente da pintura.

Segundo a autora Dilva Frazão:

“Em 1631, após a morte de seu pai, resolve instalar-se em Amsterdam. Um ano depois já era um pintor famoso, um dos mais caros e procurados da cidade. Retrata os ricos e bem sucedidos burgueses, pois era moda enfeitar as paredes com o próprio retrato. Em 1632, pinta um dos seus quadros mais famosos: A Lição de Anatomia do Doutor Tulp.

Ele foi um dos maiores pintores da Holanda no século XVII. Podemos acompanhar sua trajetória pessoal e profissional por meio dos seus inúmeros autorretratos que vão desde a juventude até a velhice, retratando-se com total sinceridade.”

Nascido em 15 de julho de 1606 Rembrandt Harmenszoon van Rijn, filho de um moleiro, viveu na cidade universitária de Leiden, uma das cidades de maior importância da Holanda naquele período. Rembrandt até chegou a matricular-se na universidade desta cidade, mas logo largou os estudos para dedicar-se a carreira de pintor. No início da sua carreira como pintor, utilizou como modelo para suas obras, moradores de rua, velhos de asilos e familiares próximos.

Aos vinte e cinco anos, ele trocou sua cidade natal por Amsterdã expandindo sua carreira de forma meteórica. Em seguida, Rembrandt casou-se com Saskia, uma jovem de família abastada, o que lhe proporcionou colecionar obras de arte. Aos trinta anos, o artista já tinha uma carreira consolidada como retratista, recebendo um grande número de encomendas. No entanto, em 1642 após a morte da sua primeira esposa que lhe deixou uma fortuna considerável, ele se endividou e anos mais tarde sua casa e sua coleção de arte foram leiloados.

Após a morte do filho Tito e da segunda esposa e já no fim da vida, Rembrandt passou a viver em extrema pobreza. Seus únicos pertences eram algumas roupas velhas e alguns materiais de pintura. Um dos seus últimos quadros retratou sua condição de pobreza (...)”

E ainda  a mesma autora:

“As pinturas de Rembrandt são caracterizadas pelo jogo de luz que trabalhava com as cores, ao representar rostos e trajes esplendorosos. Sua paleta de cor se caracterizada por tons de marrons bastante fechados, usando cores brilhantes com pouca frequência. No entanto, os tons fechados entram em contraste com os poucos tons mais brilhantes, conferindo uma luz quase ofuscante que iluminava os rostos dos modelos retratados, dando dramaticidade a cena.

Rembrandt foi autor de mais de 300 obras entre pinturas, gravuras e desenhos. Além de inúmeros autorretratos, seus trabalhos mais conhecidos são: Aula de anatomia do Dr. Tulp ; Os síndicos do grêmio de tecidos de Amsterdã ; Festa de Belsazar ; A descida da cruz; Filosofo em meditação ; São Mateus e o anjo ; Titus vestido de monje ; São Paulo; A tempestade do mar da Galileia; entre outros.”

Segunda a professora licenciada em Letras Daniela Diana:

“(...) Rembrandt foi dono de uma vasta obra que reúne mais de 300 pinturas, desenhos e gravuras. Cerca de 100 delas são autorretratos.

Com riqueza de detalhes, grande expressividade e forte dramaticidade, o estilo singular de Rembrandt foi bem aceito durante sua época.

Com intenso realismo e uma técnica refinada, ele retratou cenas religiosas, cotidianas, e ainda, temas mitológicos e algumas paisagens.

Parte de seu trabalho é notório o uso de cores frias, enquanto em outros, Rembrandt optou por usar cores fortes e vibrantes. Além disso, uma de suas técnicas de pintura estava no intenso jogo de luz e sombras característico do estilo barroco.

Interessante notar que ele utilizava muita tinta em suas obras, criando assim, um efeito de relevo. Nas gravuras, ele utilizou a técnica de água-forte, que consiste na aplicação de ácido nítrico diluído em água sobre numa chapa metálica (...)”.

 

Algumas obras:

 

 


                                                         A Ronda Noturna




                                                    Aula de anatomia do Dr Tulp



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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figuras:

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quarta-feira, 7 de julho de 2021

O pensador e poeta Francesco Petrarca

 





O intelectual, pesquisador, filólogo, poeta e humanista Francesco Petrarca nasceu em 20 de julho de 1304 em Arezzo, Itália. Ele aperfeiçoou o soneto, um tipo de poema, que teve sua origem em Giacomo da Lentini e muito usado por Dante Alighieri. Petrarca é considerado o “Pai do Humanismo”. Seus poemas eram redigidos em língua italiana. Seu pai era um notário que foi exilado em Florença por um grupo político chamado Guelfos Negros, em 1302. Petrarca viveu alguns anos de sua infância na cidade de Incisa in Val d’Arno, que fica próxima à Florença. Com a instalação do papado em Avinhão, em 1309, Petrarca fica com sua família nas cidades de Avinhão e Carpentras. Ele foi estudante em Montpellier (1316-1320) e Bolonha (1320-1326). O pai queria que ele se envolvesse com os estudos de Direito, mas Petrarca tinha interesses pela escrita e Literatura Latina.

O pai de Petrarca morreu em 1326 e ele passou a trabalhar em Avinhão em empregos ligados à burocracia, tendo tempo para trabalhar em suas obras escritas. Na época ele lança Africa, sua primeira grande obra. Era um épico em latim sobre o general romano Scipio Africanus. A partir de então ele se torna uma pessoa famosa na Europa. Colecionou manuscritos latinos antigos, sendo um dos intelectuais que redescobriu o conhecimento da Grécia e Roma antigas. Retornou à tradição da laurea poetas, sendo coroado em Roma. Foi um dos participantes da primeira tradução latina de Homero. Trabalhou como embaixador, escrevia cartas e um de seus amigos mais destacados era Boccaccio. Em 1345 Petrarca descobriu uma coleção inédita de cartas de Cícero. É possível que tenha sido ele o primeiro a usar a expressão Idade das Trevas para a Idade Média.

Dizia o poeta que ele, seu irmão e dois empregados tinham chegado ao topo do Monte Ventoux, com 1909 metros. Sobre isso ele escreveu um relato fictício que foi convertido em forma de cartas para o amigo Francesco Dionigi. A data de 26 de abril de 1336, que Petrarca dizia que tinha alcançado o pico da montanha, é considerado o dia do nascimento do alpinismo e Petrarca chamado de o pai do alpinismo. Nos seus últimos anos de vida fez viagens pelo norte da Itália.

Petrarca inspirou a filosofia humanista que influenciou a Renascença. Era um estudioso da História Antiga e Literatura Antiga, estudos que ele considerava de grande valor prático e com grandeza moral. Mesmo tendo sido um cristão devoto ele não percebia que houvesse conflitos entre a realização do potencial humano e a fé religiosa. Vários conflitos internos dele e meditações mostradas em suas obras foram alvo de estudos de filósofos humanistas do Renascimento. Ele enfatizava a importância da solidão e do estudo. Líderes políticos, militares e religiosos na época do Renascimento foram influenciados pelas ideias de Petrarca, destacando que a glória pessoal tinha de se basear no exemplo clássico e na contemplação.

Estando a serviço da Igreja, não lhe foi possível casar-se, porém após sua morte foi dito que era pai de duas crianças. Em 1327, ele teve a visão de uma mulher de nome Laura, na igreja de Santa Clara de Avinhão. A mulher amada, foi homenageada nas Rime Sparse (Rimas Esparsas). Essa obra composta por 366 poemas é mais conhecida como Il Canzoniere, que foi escrito em vernáculo, que era uma linguagem de comércio. A maior parte dessa obra está em forma de soneto (317). Além dos sonetos a sequência contem 29 canzoni, 9 sestina, 4 madrigais e 7 ballate. O poeta foi morar em Pádua em 1367, passando a dedicar-se à contemplação religiosa. Fez uma doação de manuscritos para a cidade de Veneza.

Há a possibilidade de Laura ter sido, na verdade, Laura de Noves, esposa de Huges de Sade, antepassado do famoso Marquês de Sade. No entanto, Petrarca negava que tenha sido ela sua homenageada. Segundo a obra de Petrarca, Laura é muito bonita, com cabelos claros, modesta e digna. Os sentimentos do poeta foram direcionados para os seus poemas de amor, que eram exclamatórios. 

Alguns dos sonetos de Petrarca foram musicados pelo compositor romântico do século XIX, Franz Liszt. A maioria das obras do escritor e poeta foram escritos em Latim, incluindo trabalhos acadêmicos, ensaios introspectivos, cartas e poesias. Em 19 de julho de 1374, Petrarca morreu no Vêneto, Itália.

Principais obras:Triunfos, Meu livro secreto, Sobre os homens famosos, Sobre o lazer religioso, Sobre a vida solitária, Itinerário para a Terra Santa, Epístola,Odes a Laura, De África.

Segundo a professora licenciada em Letras, Daniela Diana:

“(...) Petrarca estudou línguas, literatura, gramática, retórica e dialética. Durante sua vida, obteve grande influência na sociedade a partir do momento que foi devoto da igreja, entrando para o Clero, em 1330.

 

Já reconhecido como poeta e grande intelectual da época, Petrarca recebeu o título de “Poeta Laureado” em 18 de abril de 1341. Foi amigo do poeta italiano Giovanni Boccaccio (1313-1375), que o considerava seu mestre espiritual e cultural.

 

Um fato curioso de sua vida foi quando Petrarca avista Laura, seu grande amor e musa inspiradora, na igreja de Avignon, na França.

 

Ela foi mencionada em diversas obras como “Laura de Noves”, personagem esposa de um nobre francês. Petrarca Faleceu em Arquà, Itália, em 19 de julho de 1374, vítima de malária.

 

“Petrarquismo” foi um movimento literário italiano surgido no século XV que se prolongou até o século XVII, o qual influenciou diversos escritores europeus.

Seu principal foco de estudo foi a poesia lírica de Petrarca, baseada nos temas amorosos. A poética petrarquista destacou-se como exemplo de perfeição a partir de uma linguagem simples e inovações métricas, tal qual o uso de versos hendecassílabos (verso composto de onze sílabas poéticas).

 

A obra de Petrarca é bem vasta, entretanto o humanista destacou-se na poesia, escrevendo mais de 300 sonetos. (...) “

 

 

Segundo a autora Dilva Frazão:

“Francesco Petrarca (1304-1374) foi um poeta italiano. Humanista, foi um dos precursores do Renascimento Italiano. Foi o inventor do soneto, poema com 14 versos. É também considerado o pai do Humanismo Italiano.

Francesco Petrarca nasceu em Arezzo, Itália, no dia 20 de julho de 1304. Filho de um tabelião toscano passou a infância em Avignon, na Provença, onde o papado se instalou de 1309 até o início do século XV.

Em Avignon, fez seus primeiros estudos. Em 1317 ingressou no cursou de Direito na universidade de Montpellier, que continuou em Bolonha, abandonando-o em 1326.

Com a morte do pai, tentou a vida monástica. Ao receber ordens menores, passou a contar com a proteção do cardeal Giovanni Colonna.”

E ainda:

“(...) Em 1337, Petrarca procurou um refúgio no Mont Ventoux e descobriu ali a emoção das belezas naturais, uma das bases da poesia lírica do humanismo renascentista.

Nessa época, escreveu muitas de suas “Epistolas e Metricae” (66 “cartas” em hexâmetros latinos) e várias de suas “Rime” (Poesias) inspiradas por Laura.

Amplamente reconhecido, recebeu convites de Roma e de Paris, para ser coroado como poeta. Recebeu a honraria, em Roma, no dia 8 de abril de 1341, no Capitólio.

Embora tenha trabalhado como diplomata para diversos príncipes do seu tempo, Petrarca não hesitou em apoiar a república romana de Cola de Rienzo e a unificação do país.

Em 1348, Petrarca perdeu vários amigos e a amada Laura durante o surto da peste negra. Procurou o refúgio alpino em Vaucluse, onde organizou seus poemas.

Dividiu os poemas em “In Vita de Laura” e “In Morte di Laura”, que ficaram conhecidos como “Canzoniere”.

A temática do Canzoniere vai muito além de seu amor platônico, pois delineia uma nova lírica a partir da seleção do que havia de mais refinado e vigoroso nos dois séculos anteriores.

Foi Petrarca em suas Rime, o primeiro a realizar uma poética de motivos estritamente psicológicos e vasta meditação sobre a existência terrena em seu conteúdo humano e emocional.

Em 1353, Petrarca fixou-se em Milão, onde permaneceu por mais de oito anos. Em 1361, com um surto da peste, fugiu para Pádua, depois para Veneza. Ali recebeu a visita de grandes amigos, entre os quais Boccaccio.

Em 1367 o poeta retorna para Pádua onde viveu entre a cidade e uma pequena propriedade no campo em Arquà, onde se dedicou intensamente a seus versos.

Em 1370, ele foi chamado a Roma pelo papa Urbano V, e partiu para ver o novo papado romano, mas ao passar por Ferrara, sofreu um acidente vascular.

Mesmo com sequelas, não parou de trabalhar nos poemas e na “Posteritati”, espécie de carta autobiográfica às gerações futuras.

Petrarca faleceu em Aquirà, na região de Mântua, Itália, no dia 19 de julho de 1374. Foi encontrado morto com a cabeça recostada em um volume de Virgílio.

Petrarca inspirou um movimento poético, o “Petrarquismo”, o qual conseguiu muitos adeptos entre o século XV e XVII (...)”

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Frases de Petrarca:

“As duas cartas de amor mais difíceis de escrever são a primeira e a última.”

“Cinco inimigos da paz habitam-nos - avareza, ambição, inveja, raiva e orgulho. Se conseguirmos bani-los, infalivelmente desfrutaremos a paz perpétua.” 

 "A razão fala e o sentimento morde".

 “É verdade, nós amamos a vida, não porque estamos acostumados à vida, mas porque estamos acostumados a amar. Há sempre alguma loucura no amor, mas há também sempre alguma razão na loucura.”

 “O fim louva a vida e a noite o dia.”

“O amor é a graça suprema da humanidade, o mais sagrado direito da

alma, o elo de ouro que nos une ao dever e à verdade, o princípio

redentor que reconcilia o coração para a vida, e é profético do bem

eterno.”

“Como difícil é salvar a casca da reputação das pedras da ignorância.”

“A monotonia causa o tédio e a cura é a variedade.”

“Quando a paixão entra, a razão sai.”

“O verdadeiro saber é o saber que temos de nós mesmos. De pouco

adianta conhecermos a natureza das coisas e desconhecermos a

natureza do homem.”

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Seis sonetos de Petrarca

 

III

 

Se a minha vida do áspero tormento

E tanto afã puder se defender,

Que por força da idade eu chegue a ver

Da luz do vosso olhar o embaciamento,

 

E o áureo cabelo se tornar de argento,

E os verdes véus e adornos desprender,

E o rosto, que eu adoro, empalecer,

Que em lamentar me faz medroso e lento,

 

E tanta audácia há de me dar o Amor,

Que vos direi dos martírios que guardo,

Dos anos, dias, horas o amargor.

 

Se o tempo é contra este querer em que ardo,

Que não o seja tal que à minha dor

Negue o socorro de um suspiro tardo.

 

 

VIII

 

Ó Pai, depois dos dias ociosos,

Depois das noites a velar em vão,

Com este anseio no meu coração,

Mirando os atos por meu mal viçosos,

 

Praza-te, ó lume, que a outros mais formosos

Caminhos e a mais bela ocupação

Eu me volte, fugindo à dura ação

Do inimigo e aos seus meios cavilosos.

 

Dez anos mais um hoje faz, Senhor,

Que me vi submetido à tirania

Que sobre o mais sujeito é mais feroz.

 

Piedade tem do meu não digno ardor,

Conduz meu pensamento a melhor via,

Lembra-o de que estiveste numa cruz.

 

 XXXII

 

Quanto mais perto estou do dia extremo

Que o sofrimento humano torna breve,

Mais vejo o tempo andar veloz e leve

E o que dele esperar falaz e menos.

 

E a mim me digo: Pouco ainda andaremos

De amor falando, até que como neve

Se dissolva este encargo que a alma teve,

Duro e pesado, e a paz então veremos:

 

Pois que nele cairá essa esperança

Que nos fez delirar tão longamente

E o riso, e o pranto, e o medo, e também a ira;

 

E veremos o quão frequentemente

Por coisas dúbias o ânimo se cansa

E que não raro é em vão que se suspira.

 

 

 CLXXXIX

 

Vai o meu barco, cheio só de olvido,

À meia noite, ao árduo mar, no inverno,

Entre Cila e Caríbdis; e ao governo

Vê-se o senhor, melhor: meu inimigo.

 

A cada remo um pensar atrevido

Parece rir à vaga e ao próprio averno:

Rompe as velas um vento úmido, eterno

De esperanças, desejos e gemidos.

 

Chuva de pranto, névoa de rancor

Afrouxa e banha os cabos extenuados,

De ignorância trançados e de error.

 

Foge-me o doce lume costumeiro,

Razão e engenho da onda são tragados;

E eis que do porto já me desespero.

 

 

 

 CXC

 

Uma cândida cerva me surgiu

sobre o verde gramado – os cornos de ouro –,

entre dois riachos, à sombra de um louro,

na estação fria, mal o sol se abriu.

 

Tão doce em mim tal vista se imprimiu,

que por segui-la toda lida ignoro,

como o avarento em busca de um tesouro,

tanto assim meu tormento se evadiu.

 

“Ninguém ouse tocar-me” – escrito havia

no colo, entre topázios e diamantes,

“que eu fosse livre César ordenou”.

 

Já o claro sol chegava ao meio-dia,

quando eu, de olhos absortos, ignorantes,

escorreguei para a água, e ela escapou.

 

 

 

CCXXXIV

 

Ó minha alcova, que já foste um porto

Às tempestades que cruzei diurnas,

Fonte agora de lágrimas noturnas,

Que no dia, por pejo, ocultas porto;

 

Ó leito, onde encontrei paz e conforto

De tanta mágoa, que dolentes urnas

Sobre ti verte o Amor com mãos ebúrneas,

Só para mim crueza e desconforto!

 

Porém do meu retiro e do repouso

Não fujo, mas de mim e do pensar,

Que tanta vez segui num devaneio;

 

 

E em meio ao vulgo adverso e inamistoso

(Quem diria?) refúgio vou buscar,

Tal é de ficar só o meu receio.

 

 (Traduções de Renato Suttana)

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura: 

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