quarta-feira, 9 de junho de 2021

O poeta português Luiz Vaz de Camões

 


                                                        

 

 

Em 10 de junho de 1580 morria em Lisboa o poeta português Luiz Vaz de Camões. A data de 10 de junho é considerada o Dia de Camões. Camões foi um poeta nacional de Portugal, um dos grandes poetas da tradição literária ocidental e uma figura de enorme destaque na literatura de língua portuguesa. Ele nasceu provavelmente em Lisboa em 1524 em data ignorada. Foi filho único. O seu pai era Simão Vaz de Camões, que foi membro da Marinha Real e comerciante. A mãe era Dona Ana de Sá e Macedo, vinda de uma família fidalga de Santarém. É provável que o tio de Luiz, que tinha seguido um caminho voltado para as Letras e da religião, tenha protegido o sobrinho e o mandado para Coimbra aos 12 ou 13 anos para que lá estudasse. O jovem Luiz recebeu uma educação clássica, com ênfase no latim e com conhecimentos de literatura e história antiga e de sua época.

A época de Camões era a fase final do chamado Renascimento Cultural. Os valores do Renascimento estavam ligados ao humanismo, à razão, aos conhecimentos científicos e com inspirações dos autores renascentistas em obras da Antiguidade Clássica. No tempo que Camões escrevia existiam já inovações tecnológicas ligadas à navegação. Politicamente despontavam nações absolutistas, economicamente a burguesia mercantil se fortalecia e a Igreja Católica implementava suas medidas de reação à Reforma Protestante, com ações rígidas da Inquisição inclusive em relação à literatura. As características dessa época influenciaram nas artes e essa fase cultural foi definida como maneirista. Na poesia camoniana as principais características são: o desconcerto do mundo; a inconstância; eo sofrimento amoroso.

Em relação a Portugal, a partir da metade do século XV o país se projetava como potência comercial e naval e as artes se desenvolviam. Essa situação propiciou o aparecimento de um orgulho nacional e à euforia pela expansão marítima. Assim surgem os primeiros escritores a falar das glórias portuguesas como João de Barros, com sua novela de cavalaria A Crónica do Imperador Clarimundo (1520) e depois Antônio Ferreira, como inspirador de uma geração classicista para escrever sobre as façanhas da nação portuguesa. A vida de Camões coincide com essa fase expansionista do século XVI que ele glorificou nos Lusíadas e quando ele morre já estava chegando ao fim esse período, pois a Espanha passou a dominar Portugal na chamada União Ibérica.

Existem estudiosos que afirmam que Camões descendia pelo lado paterno de Vasco Pires de Camões, que foi soldado, fidalgo e um trovador galego que foi para Portugal em 1370, tendo sido agraciado com vários benefícios pelo rei. As poesias de Vasco Camões eram nacionalistas e deram uma contribuição para a formação de um estillo de trovas nacional.  O filho de Vasco Pires era Antão Vaz de Camões, que serviu como militar na região do Mar Vermelho e tendo se casado com Dona Guiomar da Gama, que tinha laços de parentesco com Vasco da Gama.

Há possiblidade de Camões ter estudado na Universidade de Coimbra, mas não há uma comprovação documental. A família dele não tinha muito recursos, mas era nobre, o que possivelmente deu uma abertura para que ele fosse um frequentador da corte do rei Dom João III. De início foi um poeta lírico e teve envolvimentos amorosos com damas nobres e plebeias, levando vida boêmia. Uma de suas paíxões pode ter sido a irmã do rei, o que não foi bem visto e ele foi punido com um tempo na prisão.

Foi por conta própria para a África como militar, talvez por causa de uma desilusão amorosa que pode ter sido Catarina de Ataíde. Em combate naval perdeu um dos olhos. No seu regresso a Portugal foi preso por causa de um atrito com um servo do Paço que ficou ferido. Recebeu o perdão e partiu para o Oriente, na nau São Bento, pertencente à frota de Fernão Álvares Cabral. Passou por dificuldades, tendo sido preso e sido um combatente a serviço dasforças portuguesas. Em 1556 esteve em Goa, na Índia, que tinha como governante o português Dom Francisco Barreto, para quem Camões compôs o Auto de Filomeno .Depois de ano em serviço militar, em seu retorno para Portugal, houve momentos muito difíceis conforme o relato de seu amigo Diogo do Couto. Esse amigo fez o seguinte registro:

"Em Moçambique achamos aquele Príncipe dos Poetas de seu tempo, meu matalote e amigo Luís de Camões, tão pobre que comia de amigos, e, para se embarcar para o reino, lhe ajuntamos toda a roupa que houve mister, e não faltou quem lhe desse de comer. E aquele inverno que esteve em Moçambique, acabando de aperfeiçoar as suas Lusíadas para as imprimir, foi escrevendo muito em um livro, que intitulava Parnaso de Luís de Camões, livro de muita erudição, doutrina e filosofia, o qual lhe juntaram (roubaram). E nunca pude saber, no reino dele, por muito que inquiri. E foi furto notável.

Foi nessa época em que Camões esteve como militar no Oriente que ele escreveu Os Lusíadas e ao voltar para Portugal publicou sua obra. Por seus serviços à Coroa chegou a receber uma modesta pensão. Porém a pensão estava limitada a um período de três anos, podendo ser renovada e o pagamento não foi pago de forma regular, tendo o poeta ficado em certas vezes em difíceis condições financeiras.

A obra lírica de Camões foi reunida numa coletânea chamada Rimas. Também ele deixou três obras de teatro cômico. O poeta queixava-se de injustiças que teria sofrido e reclamava da pouca atenção dada a sua obra. No entanto, depois que morreu não custou muito para que sua poesia fosse valorizada e com um padrão estético ótimo, sendo elogiada por pessoas importantes da literatura europeia, passando a influenciar futuros poetas em Portugal e outros países. A figura de Camões está ligada á identidade portuguesa, sendo uma referência na literatura para os países de língua portuguesa. Foi traduzido para diversas línguas e tornou-se objeto para estudos especializados em literatura, havendo, por exemplo, muitos elogios como também variadas críticas de estudiosos à obra Os Lusíadas

Em 1977, quando já tinham se passado três anos depois da Revolução de Abril, houve a associação de Camões às comunidades portuguesas de além-mar e o dia da morte do poeta tornou-se o "Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”..

A autora Iolanda Ramos afirmou:

"O nome do poeta surge como um símbolo da união do mundo lusófono. Nesta medida, ganha lugar de destaque a acção exercida pelo Instituto Camões que, em Portugal tal como no estrangeiro, mantém vivo o nome desta figura ímpar e sublinha o elo que a une a outras personalidades nossas contemporâneas. O simples vínculo do nome de Camões a autores consagrados da língua portuguesa, como Miguel Torga, Vergílio Ferreira, José Saramago, Eduardo Lourença e Sophia de Mello Breyner Andresen incentiva, por sua vez, os mais curiosos a informarem-se sobre o poeta que dá nome ao Prémio (Prémio Camões) outorgado todos os anos desde 1989".

Segundo a autora Dilva Frazão:

“(...) Luís de Camões viveu sua infância na época das grandes descobertas marítimas e também no início do Classicismo em Portugal. Foi aluno do colégio do convento de Santa Maria. Tornando-se um profundo conhecedor de história, geografia e literatura.

Em 1537, D. João III transferiu a Universidade de Lisboa para Coimbra. Camões iniciou o curso de Teologia, mas levava uma vida irrequieta, desordeira, além da fama de conquistador, mostrando pouca vocação para a Igreja.

Em 1544, com 20 anos, deixou as aulas de teologia e ingressou no curso de filosofia. Já era conhecido como poeta. Nessa época, compôs uma elegia à Paixão de Cristo, que ofereceu a seu tio. Seus versos revelam que ele estudou os clássicos da Antiguidade e os humanistas italianos.

Em 1544, com 20 anos, encontra-se com D. Catarina de Ataíde, dama da rainha D. Catarina da Áustria, esposa de D. João III e, desse encontro nasce uma ardente paixão, mais tarde imortalizada pelo poeta, que se referia à dama do paço, com o anagrama “Natércia”.

Nessa época, a intelectualidade nacional era incentivada, sobressaindo-se escritores, pensadores e poetas, como Sá de Miranda e o próprio Camões (...)”.

E ainda a mesma autora:

“(...) Na capital, os versos do poeta eram apreciados pelas damas da corte. Era perseguido por outros poetas, sendo vítima de muitas intrigas para desprestigiá-lo e afastá-lo da corte. Para fugir das perseguições, em 1547, Camões resolve embarcar, como soldado, para a África. Serviu dois anos em Ceuta. Combateu contra os mouros e durante uma briga perdeu o olho direito.

Em 1549, Luís de Camões retorna para Lisboa e entrega-se a uma vida desregrada. Em 1553, envolve-se em novo incidente, ferindo um empregado do paço. Foi preso e permaneceu um ano encarcerado.

Nessa época, inspirado nas conquistas ultramarinas, nas viagens por mares desconhecidos, na descoberta de novas terras e no encontro com costumes diferentes, escreve o primeiro canto de sua imortal poesia épica, Os Lusíadas.

Posto em Liberdade, em 1554, Camões embarca para as Índias. Esteve em Goa, e toma parte de várias outras expedições militares.

É nomeado provedor em Macau, na China e durante sua estada aí, escreveu mais 6 contos de seu poema épico. Em 1556, parte novamente para Goa, mas sua embarcação naufraga na foz do rio Nekong.

Camões consegue se salvar nadando, levando consigo os originais dos Lusíadas. Chegando a Goa, é preso novamente em consequência de novas intrigas. Ali recebeu a notícia da morte prematura de D. Catarina de Ataíde (...)”

Segundo a professora licenciada em Letras Daniela Diana:

“(...) Camões faleceu dia 10 de junho de 1580 em Lisboa, provavelmente vítima de peste. No final da sua vida, passou por grandes problemas financeiros morrendo pobre e infeliz, uma vez que não teve o reconhecimento que merecia.

O Dia de Portugal é celebrado em 10 de junho em comemoração à data de sua morte.

Características e obras de Camões

Camões escreveu poesias, epopeias e obras de dramaturgia. Foi assim que tornou-se um poeta múltiplo, sofisticado e ao mesmo tempo, popular.

Decerto que ele possuía grande habilidade poética, na qual soube explorar com muita criatividade as mais diferentes formas de composição.

Foi um dos maiores poetas do Renascimento, mas às vezes se inspirou em canções ou trovas populares escrevendo poesias que lembram várias canções medievais.

Seus versos revelam que estudou os clássicos da Antiguidade e os humanistas italianos.

Suas obras de maior destaque são:

  • El-Rei Seleuco (1545), peça de teatro;
  • Filodemo (1556), comédia de moralidade;
  • Os Lusíadas (1572), grande poema épico;
  • Anfitriões (1587), comédia escrita em forma de auto;
  • Rimas (1595), coletânea de sua obra lírica;

Os Lusíadas: a grande obra de Luís de Camões

A poesia épica “Os Lusíadas”, publicada em 1572, celebra os feitos marítimos e guerreiros de Portugal. Destacam-se as conquistas ultramarinas, as viagens por mares desconhecidos, a descoberta de novas terras, o encontro com povos e costumes diferentes.

Tomando como assunto central a viagem de Vasco da Gama às Índias, Camões fez do navegador uma espécie de símbolo da coletividade lusitana. Ele exaltou a glória das novas conquistas e as proezas dos navegadores portugueses.

Isso permitiu comparar os feitos dos portugueses com as façanhas dos lendários heróis dos poemas de Homero (Odisseia e a Ilíada) e de Virgílio (Eneida).

Camões usou os modelos clássicos para cantar os acontecimentos do seu tempo, que ao contrário dos antigos, eram reais e não fictícios. Camões faz algumas entidades mitológicas participarem da ação.

Assim, coube a Vênus o papel de protetora dos portugueses. Ela os defende do deus Baco que quer destruir a frota de Vasco da Gama.

No final do poema, os navegantes são levados à ilha dos Amores, onde são recompensados de seus esforços por sedutoras ninfas (...)”.

 

Poesias de Camões

“Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”

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“Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.”

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“Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce, e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos Deuses, odioso.

Se males faz Amor em mim se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.”

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“Ah! Fortuna cruel! Ah! duros Fados!
Quão asinha em meu dano vos mudastes!
Passou o tempo que me descansastes,
Agora descansais com meus cuidados.

Deixastes-me sentir os bens passados,
Para mor dor da dor que me ordenastes;
Então numa hora juntos mos levastes,
Deixando em seu lugar males dobrados.

Ah! quanto melhor fora não vos ver,
Gostos, que assim passais tão de corrida,
Que fico duvidoso se vos vi:

Sem vós já me não fica que perder,
Se não se for esta cansada vida,
Que por mor perda minha não perdi.”

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“As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram”

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“Inclinei por um pouco a majestade
Que nesse tenro gesto vos contemplo,
Que já se mostra qual na inteira idade,
Quando subindo ireis ao eterno templo;
Os olhos da real benignidade
Ponde no chão: vereis um novo exemplo
De amor dos pátrios feitos valorosos,
Em versos divulgado numerosos.”

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Frases de Camões

O fraco rei faz fraca a forte gente.”

Ah o amor... que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê.”

Coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las.”

Jamais haverá ano novo se continuar a copiar os erros dos anos velhos.”

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades.”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 


Figura:

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