terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Homenagem ao ator Sidney Poitier

 





Em 7 de janeiro de 2022, aos 94 anos, em Los Angeles,  morreu o ator Sidney Poitier, o primeiro ator negro a ganhar um Oscar. Era um ator conhecido por ter um porte elegante, teve um passado ligado à pobreza nas Bahamas e conseguiu se destacar em tempos que os atores negros não eram valorizados e dificilmente conseguiam bons papeis. Em 1964 ele ganhou o Oscar por sua atuação em “Uma Voz na Sombras”. Nesse filme ele interpretava um trabalhador itinerante que ajudava freiras brancas a construir uma capela. Ele também ganhou o Globo de Ouro.

Ele foi o caçula de sete filhos e nasceu prematuro, em um veleiro a caminho de Miami, em 20 de fevereiro de 1927. Foi criado em Cat Island, nas Bahamas, que na época era uma colônia britânica. Os pais eram agricultores e produziam tomates. Eles viajavam frequentemente. A mãe pensou que ele não fosse sobreviver. Uma quiromante dsse para ela: "Não se preocupe com seu filho. Ele vai sobreviver". E disse ainda: “Ele andará com reis”. Aos 15 anos Poitier foi morar com seu irmão mais velho em Miami, Flórida. O pai dele o levou ao porto e deu a ele três dólares, dizendo: “cuide-se, filho.”

Poitier foi morar aos 16 anos no Harlem, em Nova York, onde lavava pratos e dormia em bancos de praça. Mentiu que era maior de idade para entrar no Exército, onde ficou um ano servindo. Anos depois foi trabalhar no American Negro Theatre, tendo sido recusado na primeira tentativa de ingresso porque não conseguia ler os roteiros. Na segunda tentativa, ele já sabendo ler, conseguiu entrar. Lá teve aulas de atuação, aprendeu a suavizar seu sotaque das Bahamas. Antes de entrar nesse grupo, ele não sabia ler e um garçom judeu idoso o ajudou a aprender a ler. Substituiu Harry Belafonte no palco, depois foi para a Broadway, sendo observado por pessoas ligadas à Hollywood. No seu primeiro filme, “O Ódio é Cego”, ele era um médico jovem que tratava de um paciente racista.

Parte dos filmes em que ele trabalhou foi sobre tensões sociais numa época marcada pelas lutas de movimentos civis por mudanças sociais nos Estados Unidos. Em 1967, no filme “No Calor da Noite”, ele fez o papel de um detetive da Filadélfia que lutava contra o preconceito em uma pequena cidade do Mississipi e no filme “Adivinhe Quem Vem para Jantar” ele era um médico que se empenhava para conquistar os pais de sua noiva. Teve papeis de importância como um reverendo em “Os Deserdados”, que era relacionado ao racismo. Foi um estudante com problemas em “Sementes de Violência” e em “Acorrentados” foi um prisioneiro fugitivo. A questão racial o impedia de desempenhar a maioria dos papeis românticos. Porém ele contribuiu para mostrar uma imagem diferenciada sobre os negros ao se destacar em papeis como médico, detetive, professor nas décadas de 1950 e 1960.

Poitier foi rotulado por brancos que o consideravam um “símbolo nobre de sua raça”. E criticado por alguns negros que achavam que ele aceitava papeis higienizados e servindo aos brancos. Ele comentou em 2000 em uma entrevista sobre essa época: “É uma responsabilidade enorme”(...) “E eu aceitei, e vivi de uma forma que mostrava como eu respeitava essa responsabilidade. Eu tinha que fazer. Para que outros viessem atrás de mim, havia certas coisas que eu tinha que fazer”. (...)“(Os negros) eram tão novos em Hollywood. Quase não havia referências para nós, exceto como personagens estereotipados e unidimensionais (...)”. “(...) Eu tinha em mente o que era esperado de mim – não apenas o que os outros negros esperavam, mas o que minha mãe e meu pai esperavam. E o que eu esperava de mim mesmo.” Ele tinha decidido a não aceitar certos tipos de papeis que iam contra seus valores ou contra a dignidade dos negros. Também na entrevista afirmou: “O racismo era horrível, mas havia outros aspectos da vida. Existem aqueles que permitem que suas vidas sejam definidas apenas pela raça. Eu corrijo qualquer um que venha até mim apenas em termos de raça.”

O talento de Poitier foi reconhecido e no fim dos anos de 1950 ele conseguia uma quantidade regular de trabalhos como ator como a peça “A Raisin in the Sun” ,em 1959, no teatro e na versão para o cinema dois anos depois. A seguir atuou em: “Uma Voz na Sombras”, “A Maior História de Todos os Tempos” e “Quando Só o Coração Vê”. Em 1963 e 1964 ele participou de movimentos pelos direitos civis.

O ano de 1967 foi muito bom para Poitier. Ele estrelou três bons filmes :“Ao Mestre com Carinho”(onde era um professor idealista em meio a adolescentes rebeldes em Londres). O filme rendeu a ele um significativo valor. O segundo filme foi “No Calor da Noite”, no qual era um detetive que teve de enfrentar um chefe de polícia branco racista e que reagia firmemente a um ato de violência de um fazendeiro racista. E o terceiro filme foi “Adivinhe Quem Vem para Jantar”, no qual seu personagem médico se empenha para convencer os pais de uma moça branca a aceitar o casamento dele com sua filha. Alguns críticos negros diziam que Poitier representava certos personagens não sexualizados e afastados da complexidade da vida do negro dos Estados Unidos. O dramaturgo negro Clifford Mason disse em uma coluna de jornal sobre o trabalho de Poitier em filmes: “um cara bom em um mundo totalmente branco, sem esposa, sem namorada, sem mulher para amar ou beijar, ajudando o homem branco a resolver seu problema de homem branco”. Poitier não gostou da crítica e foi para as Bahamas onde ficou alguns meses. Sobre isso ele comentou depois: “Eu vivi com pessoas se virando contra mim. Foi doloroso por alguns anos […] Eu fui o ator negro de maior sucesso na história do país”(...) ...“As críticas que recebi foram principalmente porque eu geralmente era o único negro no cinema. Pessoalmente, eu achava que era um passo [para frente].”

Poitier na década de 1970 direcionou suas atividades mais para a direção. Ele se uniu em trabalhos com seu amigo Belafonte. Ele dirigiu “Um por Deus, Outro pelo Diabo”. Dirigiu e co-estrelou com Bill Cosby na comédia “Aconteceu num Sábado”. Outros filmes dessa época foram: “Aconteceu Outra Vez” e “A Piece of the Action”. Filmes com elencos constituídos por grande parte de atores negros. Um grande sucesso veio com “Loucos de Dar Nó”, no qual Poitier foi diretor e teve como principais atores Richard Pryor e Gene Wilder. Em 1988 Poitier apareceu com Tom Berenger em “Atirando para Matar”. Em 1992 atuou em “Quebra de Sigilo”, com Robert Redford. E o seu último filme no cinema foi “O Chacal”, de 1997, no qual trabalharam também Bruce Willis e Richard Gere. Fez trabalhos também na televisão, tendo interpretado Nelson Mandela em duas minisséries. Em 1982, recebeu o Prêmio Cecil B. De Mille.

Em 2000 deixou o trabalho de ator e passou a escrever um livro de memórias: “A Medida de um Homem: Uma Autobiografia Espiritual”. Recebeu em 2001 um Oscar por sua contribuição ao cinema. Em 2001 o ator Denzel Washington ao receber o Oscar de melhor ator disse: “Há quarenta anos estou perseguindo Sidney. […] Sempre estarei perseguindo você, Sidney. Sempre estarei seguindo seus passos.” Em 2009 Poitier recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade das mãos do presidente Obama que disse: “Dizem que Sidney Poitier não faz filmes, ele faz marcos […] marcos de excelência artística, marcos do progresso da América.” Em 2001 a Film Society of Lincoln Center premiou Poitier. Na ocasião Quentin Tarantino falou: “Na história do cinema, houve apenas alguns atores que, uma vez que ganharam reconhecimento, sua influência mudou para sempre a forma de arte.“Há um tempo antes de sua chegada, e há um tempo depois de sua chegada. E depois de sua chegada, nada mais será o mesmo. No que diz respeito aos filmes, existia o pré-Poitier, e existe a Hollywood pós-Poitier.”

Poitier tinha dupla cidadania — norte-americano e bahamense. Foi casado duas vezes e teve seis filhas. Atuou em mais de 50 filmes, dirigiu nove e escreveu sete livros. De 1997 a 2007 foi embaixador das Bahamas no Japão. Recebeu o título de Sir em 1974.

 

Sugestão de vídeo

Ao mestre com carinho (To sir with love)

https://www.youtube.com/watch?v=2U-nM8Tp78Q

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura:

https://www.google.com/search?q=images+sidney+poitier&sxsrf=AOaemvL2odjePGQW2eqMPqceoZi1hFc98Q:1641951204073&tbm=isch&source=


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