terça-feira, 6 de setembro de 2022

Artigo: A História das Bandas de Música no Brasil

 



A História das Bandas de Música no Brasil

As bandas de música em muitas cidades brasileiras há tantos anos tem proporcionado momentos de paz e alegria para milhões de pessoas de todas as idades. Pensando na importância desses grupos musicais para a realidade cultural brasileira e para o bem estar de tanta gente eu resolvi escrever este artigo no meu blog.

Como surgiram as bandas de música?

A origem das bandas está ligada à formação de grupos musicais informais ligados à atividade militar, como os grupos musicais ambulantes no Egito Antigo, em Roma, no Oriente Médio Inclusive há a descrição bíblica no Antigo Testamento sobre a tomada de Jericó, com a presença de um grupo musical.

Para alguns pesquisadores, banda é o feminino de bando, palavra do latim que significa bandeira. Os grupos musicais marchavam junto com destacamentos militares.

Os Janízaros, grupo militar especial do Império Turco Otomano, organizaram a mais antiga banda de música que possuía oficialmente essa função. Durante uma invasão ao Império Austríaco, alemães imitaram o estilo da banda turca. Depois foi a vez da França ter bandas de música no seu exército. Mais tarde, a banda como um grupo com instrumentos de percussão e sopro, com uma estrutura semelhante à que existe na atualidade, surgiu na Itália. Tais grupos na Europa ficaram ligados aos corpos militares e marchavam à frente das tropas com a bandeira com a bandeira nacional.

Há uma versão de alguns historiadores que defende que o termo “Banda de Música” está relacionado com bandos alegres de músicos que surgiram após a queda da Bastilha, adquirindo popularidade e passando a ser as bandas de música.

No Brasil, as bandas surgem no Rio de Janeiro, no século XVIII e eram formadas por barbeiros (muitos deles escravos), que tocavam fandangos, dobrados e quadrilhas em festas religiosas e profanas. Depois, em 1831, são criadas as primeiras Bandas de Música da Guarda Nacional e elas irão passar a atuar em diversas cidades brasileiras.

Na verdade, existia no Brasil uma tradição musical desde os tempos de colônia. Graças às bandas, foi estimulada a criação musical no país, com a revelação de músicos e maestros.

A vinda da família real para o Brasil em 1808, teve relação com as bandas de música. Havia uma banda entre os que acompanharam Dom João na sua fuga ao Brasil. A influência religiosa se fez presente, pois Portugal sendo católico, havia música de raiz religiosa com estilos como AntífonaTe DeumLadainha e outros. Na época era forte a influência do barroco na música.  E a música popular estava ligada aos degredados, aventureiros,  pessoal de rua etc.

Destacaram-se no século XIX as Bandas Militares em Pernambuco, que se apresentavam em desfiles e festas religiosas. A Banda do 4º Batalhão de Caçadores, a Banda da Guarda Nacional (as mais antigas) e a da Brigada Militar, que foi criada em 1878, são bandas que merecem ser lembradas. Na segunda metade do século XIX e início do XX as bandas se espalharam no território brasileiro.

As bandas tem funções artísticas, culturais e contribuem para a questão da cidadania e para uma interação social em muitas comunidades no Brasil. Anacleto de Medeiros fundou em 1896 a mais famosa de todas as Bandas de Música: a do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. No decorrer do século XX as Bandas de Música tornam-se uma das mais populares manifestações da cultura nacional. Assim, apresentações passam a ser feitas em coretos onde bandinhas tocavam. E muitas dessas bandas viravam orgulho para as populações dessas localidades. Músicos amadores, profissionais, eruditos e populares são assim formados como por exemplo: Patápio Silva, Anacleto de Medeiros e Altamiro Carrilho etc. Com as bandas foram criados chorinhos, marchas, dobrados etc.

Durante o Segundo Império, existiram cidades com mais de uma banda de música, com ligações aos partidos políticos daqueles tempos e à realidade sócio- econômica. Parte dessas bandas permaneceu e outra parte extinguiu-se, algumas sendo recriadas e outras se fundiram com outras bandas. 

Houve na República uma multiplicação das bandas, tendo surgido bandas estudantis de música em educandários, como a banda criada em 1896 no Colégio Salesiano do Sagrado Coração em Recife. Depois outras instituições de ensino pelo Brasil foram criando suas bandas.

Com a expansão da indústria cultural, houve na década de 1970 o risco de desaparecimento de muitas bandas. Assim, como forma de incentivo, em 1976 foi criada pela FUNARTE o Projeto Bandas de Música, com a realização por meio da Coordenação de Bandas de Música.

Segundo a pesquisadora Manuela Areias Costa em Música e história: um estudo sobre as bandas de música civis e suas apropriações militares (2011):
“Pretendemos neste artigo, fazer uma discussão a respeito das bandas civis no Brasil e suas apropriações militares, calcada na pesquisa empírica em torno das referidas bandas do município de Mariana. Para tanto, consideramos que o ambiente musical das bandas é marcado por elementos de uma prática cultural que remonta à tradição, mas permeado pelas apropriações de novos discursos, costumes e representações. Sendo assim, as bandas civis de caráter moderno no Brasil, rearticularam o legado musical das corporações musicais de períodos anteriores, a partir de apropriações  de elementos militares. Conforme a tese de Binder, várias evidências nos levam a crer que as bandas militares atuaram como fatores simbólicos e instrumentais para a difusão da banda de música civil. Segundo o autor, a multiplicação de conjuntos e a atuação contínua em ocasiões festivas ajudaram a criar um ethos militar: características militares que passaram a serem associadas às bandas de música em geral, e como consequência, às bandas de música civis foram reproduzindo alguns elementos típicos de conjuntos militares (BINDER, 2006: 126).

Em consonância com essa ideia, entendemos que o modelo de banda militar constituiu como parâmetro para a formação e a sistematização de Liras e Orfeões civis, segundo as especificidades de cada momento e região do país (DELLA MONICA, 1975; FIGUEIREDO,1923;CAMPOS,1933).

Desse modo, tentaremos demonstrar que as bandas civis oitocentistas se apropriaram de elementos típicos de bandas de corporações militares. Talvez um dos sinais mais visíveis desta apropriação está nos uniformes, instrumentos e repertórios utilizados pelas bandas civis. Seus uniformes lembram as fardas militares, a instrumentação se associa aos instrumentos utilizados pelas bandas militares, pois possuem a capacidade de projeção em ambientes abertos e podem ser tocados por músicos em movimento, e seu repertório é marcado por marchas (...)”

E ainda a mesma autora:

“(...) As bandas constituíram-se, muitas vezes, como uma das únicas manifestações culturais das pequenas cidades interioranas. Podem ser pequenas ou grandes e em diversos estilos, como de fanfarra, marcial, de coreto, entre outros. Independente da classificação, elas estão presentes nos momentos sociais mais importantes da cidade, sejam civis ou religiosos. Conforme Maria de Fátima Granja, estas reúnem várias gerações de famílias, fornecendo músicos para as grandes cidades. Revelam-se, frequentemente, como um centro de disputas sociais e políticas na comunidade e, ao mesmo tempo, promovem momentos de integração social pela magia e pelo prazer que proporcionam, expressão de um ritual coletivo, manifesto por personagens, gestos, vestimentas e outros símbolos (GRANJA, 1984: 10). Enquanto fenômeno cultural, as bandas nos oferecem todo um discurso simbólico construído por uma realidade social.

Em relação à relevância das bandas de música brasileiras, fruto de uma tradição que vem desde os tempos remotos do Brasil colonial, as bandas de música atuaram como celeiro de inúmeros gêneros musicais (entre eles, gêneros populares como a polca, a mazurca, a quadrilha e o maxixe). Tais bandas exerceram um papel de suma importância no processo cultural da sociedade brasileira, criando desta maneira, espaços de sociabilidade.

Além disso, as bandas também contribuíram para o aprendizado musical, revelando grandes maestros, compositores e instrumentistas (..)”

 Sugestão para escutar:

Projeto Bandas de Música da Funarte

https://www.youtube.com/watch?v=rwbFMJtzQeY

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 Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

 Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALiCzsYObD8UdIuCY1q8vc6I--xkwsQe9g:1662496710849&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+bandas+de+musica+no+interior+do+Brasil


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