terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O uso do etanol no Brasil

 




Muito tem sido dito no Brasil a respeito das vantagens do etanol como combustível. É conhecido também como álcool etílico ou álcool. Como combustível, o etanol é considerado por muitos como um combustível ecológico e alternativo, podendo ser usado puro ou misturado com gasolina. É assim um biocombustível de origem vegetal. A cana de açúcar é o principal meio de se obter etanol no Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, onde se utiliza mais o milho para se obtê-lo. Outros vegetais usados para a fabricação de etanol são a beterraba, a mandioca, a batata etc. Nos postos de combustíveis do Brasil há três tipos de etanol disponíveis: o etanol comum, o etanol aditivado e a gasolina misturada ao etanol. Quando se trata de gasolina misturada com etanol, o percentual deste é de 26% a cada litro. Com esta mistura busca-se uma produção de gasolina mais barata e para diminuir a poluição, porque em relação à gasolina, por exemplo, o etanol produz 25% menos gases poluentes.

Vou citar como vantagens os pontos que tem sido mencionados por alguns autores:

-Baixo custo de produção do álcool como combustível em relação à gasolina e o diesel

-O etanol é mais limpo, já que não é um combustível fóssil. A plantação de cana de açúcar também ajuda na preservação da atmosfera, pois o processo de fotossíntese absorve parte do CO2 do ar e libera ar puro.

-O etanol pode dar maior potência ao veículo. Só que, como o etanol é consumido 30% mais rápido no motor dos veículos, só vale a pena escolher o etanol quando o seu preço é, ao menos 30% em valor menor do que o custo da gasolina no posto. E o etanol puro só é recomendado para veículos adequados para este tipo de combustível ou para veículos de tecnologia flex.

-Em época de safra o etanol fica geralmente mais barato na venda ao consumidor.

-Em caso de vazamento o etanol consegue se misturar à agua, o que não acontece com a gasolina, portanto o risco de poluir cursos de água é muito mais com diesel e gasolina.

-A produção do etanol é mais fácil que de combustíveis fósseis. Com a produção do etanol são produzidos substratos como bagaço e palha da cana-de-açúcar, que produzem vapor e geram energia térmica, mecânica e elétrica.

 -A Agência Internacional de Energia diz que utilizar etanol produzido por cana-de-açúcar reduz em cerca de 89% a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa se for feita a comparação com a gasolina.

 - O petróleo não é renovável como o álcool. As reservas de petróleo irão acabar. A produção de etanol depende apenas da plantação dos vegetais que o produzem.

-O Brasil conseguiu a maior produção de etanol da História (35,6 bilhões de litros obtidos através da cana-de-açúcar e do milho).

-A geração de empregos em todas as etapas de produção, desde as áreas rurais onde há as plantações e outra vantagem é que o etanol ajuda a manter o motor do carro mais limpo por mais tempo.

Como desvantagens, os críticos dizem que o processo de etanol precisa de muita energia.  Existem leis no Brasil que especificam quais áreas podem ser destinadas à produção de etanol como forma de proteção ao meio ambiente. Assim, há uma limitação de áreas para a produção do etanol e de outras fontes de biocombustível, pois é preciso que haja terras para a produção de alimentos. A eficiência do etanol em motores de veículos é menor no frio, porque o álcool perde capacidade de combustão.  A matéria-prima (em geral a cana de açúcar, necessita de áreas muito grandes para ser cultivada, podendo causar muito desmatamento).

Há diferenças entre o etanol de milho e o da cana. Esta precisa de algumas horas de fermentação para ser obtido o etanol e o milho tem que passar por um processo químico, sendo que o milho tem maior concentração de açúcar que a cana. Uma tonelada de cana produz 89,5 litros de etanol e uma tonelada de milho produz 407 litros.

Há pesquisadores sociais que tem feito críticas fortes contra a expansão do setor de produção de etanol de uma forma que está sendo muito prejudicial ao meio ambiente como diz Wendell Ficher Teixeira Assis em seu artigo Justificações Midiáticas: As estratégias de ambientalização da produção de etanol através da publicidade: “ As dinâmicas de avanço da monocultura de cana que vem colocando em marcha a expulsão da soja e da pecuária para a fronteira agrícola forçando a ocorrência de novos desmatamentos na Amazônia, não têm sido associadas pela opinião pública à ocorrência de impactos ambientais e sociais resultantes da produção de etanol. Como ainda inexiste no imaginário coletivo uma relação estreita entre a produção de etanol e a ocorrência de impactos negativos, as peças publicitárias do setor sucroalcooleiro não têm se direcionado a responder críticas e reclamações, ao contrário disso, propõem-se a criar uma imagem enaltecedora do produto, que realça os benefícios ambientais, o desenvolvimento econômico, o avanço tecnológico e o combate ao aquecimento global. A ambientalização da produção operada por meio da publicidade reforça, assim, a imagem de vida, sustentabilidade, inteligência, modernidade e consciência ambiental associada ao uso e fabricação do etanol, ao mesmo tempo em que dificulta o florescimento de críticas e obnubila os questionamentos formulados pelos movimentos sociais.”

Também diz o mesmo autor: 

“...Ao associar o etanol à redução de gases de efeito estufa o setor sucroalcooleiro fortalece a ambientalização da produção, ao mesmo tempo em que invisibiliza a existência de conflitos ambientais e territoriais desencadeados pelo avanço da monocultura de cana”. E também em outro trecho do artigo: “... uma das estratégias do agronegócio brasileiro tem sido a disseminação de uma visão triunfalista que articulada a uma imagem hiperbolizada do potencial agrícola nacional forma um cenário no qual a terra aparece como bem ilimitado e permanentemente disponível.

Há dezenas de pontos críticos na produção dos combustíveis ditos “ecologicamente e politicamente corretos”. Centenas de milhões de hectares de terras férteis têm sido e serão destinados à produção da biomassa, milhões de produtores rurais do campo são expulsos de suas terras de origem, a poluição da água e do meio, os problemas de saúde com a chuva de fuligem resultante da queima da palha de cana, a diminuição da diversidade social e biológica por conta do cultivo da cana, a potencial contaminação dos ecossistemas vizinhos por organismos geneticamente modificados, as condições de trabalho degradante dos camponeses, proletários, migrantes e sub-proletariados que trabalham na produção da biomassa.”

 Considerando-se o que determinados autores tem dito sobre o etanol, é preciso que se analise bem a questão, observando-se não somente pelo lado dos fatores energéticos e econômicos, como também envolvendo os aspectos humanistas e ambientais. Ver até que até ponto deve-se considerar que o etanol é uma das saídas para a questão energética do país, no que a produção e o uso dele está colaborando e no que pode ser prejudicial ao meio ambiente e às relações sociais no campo. Decerto há muitas opiniões a respeito do uso do etanol. É necessário verificar de forma bem crítica toda a questão da produção e do uso do etanol no Brasil, pois ao se elegê-lo simplesmente como uma das maiores soluções energéticas limpas, sem uma análise mais ampla,  pode-se estar muitas vezes negligenciando os possíveis danos que podem ser causados. E a produção do biodiesel, outro biocombustível,  também tem que ser avaliada considerando-se as questões do meio-ambiente de uma forma abrangente.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura:

https://www.google.com/search?q=imagem+de+etanol&sxsrf=ALeKk02LWzWPUd4HSo9PPVgL0xkwVX_LlA:1608680478220&tbm=isch&source


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