sábado, 30 de abril de 2022

O pintor brasileiro Pedro Américo

 








Em 19 de abril de 1843, em Areia, na Província da Paraíba, nasceu o pintor, poeta, romancista, cientista, teórico de arte, ensaísta, filósofo e professor brasileiro Pedro Américo de Figueiredo e Melo. Ele uniu características neoclássicas, românticas e realistas no seu modo de pintar. A produção artística de Pedro Américo deixou obras ligadas até os dias atuais ao imaginário coletivo do país, como Fala do TronoBatalha de Avaí, Independência ou Morte! eTiradentes esquartejado, sendo expressões grandiosas do Academicismo no Brasil em seu auge. Outra parte da carreira de Pedro Américo como pintor centrou-se em temas direcionados ao oriente, como também alegóricos e bíblicos. Tais temas, apesar de bastante populares, não ficaram muito tempo em moda e os especialistas em arte da atualidade não deram atenção a essas obras e não são obras muito conhecidas. O Romantismo brasileiro presente na pintura de Pedro era o da terceira geração romântica, que não tinha mais seu caráter original, arrebatado e revolucionário e sim envolvido numa corrente mais branda e conformista, mais esteticista e sentimental, com aspectos burgueses e em parte genuinamente popular.

O pai de Pedro Américo  era Daniel Eduardo de Figueiredo, um comerciante e violinista,e sua mãe era Feliciana Cirne. O pai o estimulou, apresentando livros a respeito de artistas muito conhecidos. Na família de Pedro houve incentivos para as artes (inclusive a música) e o irmão dele foi o pintor Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo. Fez parte dos movimentos academicismo e romantismo. Destacou-se principalmente na pintura. Desde criança já mostrava talento artístico, sendo visto como um menino-prodígio.

Quando criança Pedro Américo já se destacava pelos seus desenhos e naturalista Louis Jacques Brunet visitou o menino em 1852 quando esteve no Brasil, tendo visto cópias de obras clássicas que Pedro fez. Brunet se impressionou com o talento de Pedro e o contratou como desenhista da expedição científica que Brunet liderava. Pedro Américo então passou vinte meses em uma viagem pelo Nordeste do Brasil com a expedição. Em 1854, com onze anos de idade, tendo cartas de recomendação, Pedro Américo foi admitido na Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro, mas antes ticou um tempo no Colégio Pedro II, onde estudou latim, francês, português, aritmética, desenho e música. Ele já demonstrava interesse pela pintura histórica.

Passou a cursar em 1856 o curso de Desenho Industrial da Academia Imperial, tendo conquistado 15 medalhas em desenho, geometria e modelo vivo. Recebeu nessa época o apelido de "papa-medalhas", apelido dado pelo diretor da instituição, o artista Manuel de Araújo Porto-Alegre, que influenciou na carreira de Pedro e seria seu futuro sogro. Na Academia estudou com grandes pintores e também voltou-se para a ciência e a Filosofia. Foi para a Europa estudar, com apoio financeiro do imperador. Antes de ir para o continente europeu, começou a se manifestar nele a doença chamada na época de "cólica de chumbo”, devido provavelmente à intoxicação por determinadas tintas.

Em maio de 1859 chegou em Paris e visitou museus, monumentos, palácios e galerias de arte. Nesse ano matriculou-se na Escola Nacional Superior de Belas Artes. Estou com os mestres Ingres, León Cogniet, Hippolyte Flandrin e Sebastien-Melchior Cornu. Pedro tinha assinado um contrato de bolsa o obrigando a enviar com regularidade trabalhos para o Brasil para comprovar seus progressos.

Pedro Américo estudou também no no Instituto de Física de Adolphe Ganot,  no Instituto de Física de Adolphe Ganot, no Curso de Arqueologia de Charles Ernest Beulé, tornou-se bacharel em Ciências Sociais na Sorbonne e foi um estudioso de arquitetura, teologia, literatura e filosofia, tendo assistido aulas de Victor CousinClaude Bernard e Michael Faraday no Colégio de França e no Conservatório de Artes e Ofícios. Na época ele escreveu ensaios tendo como base as relações entre a arte, a ciência e o progresso social. Assistiu algumas aulas na Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, em 1862. Adquiriu uma consciência de que o artista deveria ter uma responsabilidade civil e um compromisso político. Para ele as artes passaram a ser as realizadoras do progresso social e deveriam ter um aspecto humanista, inspirando-se em pensadores gregos e renascentistas. Entrou em contato com as vanguardas pré-modernistas, quando visitou o Salão dos Recusados, local de exposição de artistas que não estavam incluídos no meio oficial.  Ficou em situação difícil ao visitar a Escócia de barco e salvou-se de um naufrágio em 1864. Ao retornar ao Brasil nesse ano participou  de um concurso de Desenho Figurado no curso de Desenho Industrial da Academia Imperial e venceu com a obra Sócrates afastando Alcebíades dos braços do vício. No Rio de Janeiro publicou ensaios sobre estética e história da arte no Correio Mercantil.

Pedro andou em países europeus em 1865, muitas vezes à pé, indo de Paris a Estraburgo, passando por Baden, Holanda, Dinamarca. Esteve em outros lugares como Marrocos. Sicília e Argélia e aí trabalhou como desenhista do governo da França. Por esse tempo ele veio a publicar o romance Holocausto. Teve problemas financeiros, fez retratos e desenhos em cafés. Recebeu medalha de ouro na Academia Imperial pela tela A Carioca, caracterizada pela sensualidade. Defendeu em 1868 na da Universidade de Bruxelas a tese A Ciência e os Sistemas: Questões de História e Filosofia Natural. Com essa tese conseguiu  obter o grau de Doutor em Ciências Naturais e foi indicado em janeiro do ano seguinte como professor adjunto. A aprovação o levou a ganhar a Ordem do Santo Sepulcro. Pintou na época as pinturas São MarcosVisão de São Paulo e Cabeça de São Jerônimo.

Em 1869 casou com a filha do cônsul brasileiro em Lisboa Manuel de Araújo Porto-Alegre. Com sua esposa teve três filhos. Em 1870, no Rio de Janeiro, dedicou-se à pintura de telas mitológicas, históricas e retratos. Foi professor de arqueologia, história da arte e estética. Foi diretor das seções de numismática e arqueologia no Museu Imperial e Nacional, fazendo caricaturas para o jornal A Comédia Social.

Pedro Américo tinha uma personalidade difícil com características de ser orgulhoso e auto-suficiente. Aproveitando o contexto em que o Brasil tinha vencido o Paraguai na guerra e com o incentivo do imperador, ele pintou a tela Batalha do Campo Grande, destacando a monarquia e o Conde D’Eu, marido da princesa Isabel e que tinha sido o comandante das tropas brasileiras na guerra depois da saída de Caxias. Com apoio da imprensa ele conseguiu que sua tela fosse vista por milhares de pessoas. Também sua biografia foi publicada por Luís Guimarães Júnior, de forma romantizada e isso aumentou a popularidade do pintor. Tornou-se um pintor famoso no Brasil e recebeu honrarias como a Imperial Ordem da Rosa e o título de Pintor Histórico da Imperial Câmara.

Outras obras de Pedro do período foram Fala do TronoAtaque à Ilha do CarvoeiroPasso da PátriaPassagem do Chaco. Iniciou esboços para uma encomenda do governo a Batalha de Avaí, que só viria a ser concluída em 1877. Ainda não terminada, foi exposta pela primeira vez em Florença e causou impacto entre os conhecedores de arte que estavam reunidos em grande número na cidade para as comemorações do quarto centenário do nascimento de Michelângelo. Pedro Américo na ocasião fez um discurso em duas línguas na frente da estátua renascentista de David. A obra de Pedro e seu discurso o fizeram famoso na Europa. Alguns comentários de críticos no Brasil eram de que a obra da Batalha de Avaí era muito cheia de fantasia e romantismo e pouco ligada à veracidade histórica. Pedro Américo respondeu que: "Um quadro histórico deve, como síntese, ser baseado na verdade e reproduzir as faces essenciais do fato, e, como análise, (ser baseado) em um grande número de raciocínios derivados, a um tempo da ponderação das circunstâncias verossímeis e prováveis, e do conhecimento das leis e das convenções da arte”. Também Pedro chegou a ser acusado de plagiar aspectos da obra Batalha de Montebelo. Também houve comparações entre a Batalha do Avaí de Pedro Américo e a Batalha dos Guararapes, de Vitor Meireles.Essas comparações foram chamadas de Questão Artística de 1879.

Insatisfeito porque uma proposta sua foi recusada pelo governo, tentou pedir demissão da Academia Imperial, mas a demissão foi negada. Mas ele conseguiu uma licença e foi para a Europa. Passou a dedicar-se a obras de um Romantismo tardio e sentimental. Dessa época destacam-se: A Noite acompanhada dos gênios do Estudo e do AmorJoana d'Arc ouve pela primeira vez a voz que lhe prediz o seu alto destinoA rabequista árabeOs filhos de Eduardo IVDona Catarina de Ataíde e Jocabed levando Moisés até o Nilo. Uma parte dessas obras participou de salões da Academia ou foram expostas em Florença. Muitas delas foram compradas pelo governo imperial do Brasil. Visitou a França em 1885 e retornou ao Brasil. Passou a lecionar de novo história da arte, estética e arqueologia na Academia Imperial.

Em 1886 Pedro Américo publicou seu romance Amor de Esposo. Um filho seu morreu e outros ficaram enfermos. A própria saúde do pintor já estava ruim. Em 1888 pintou Independência ou Morte. Nessa obra também foi acusado de plágio em relação à tela Batalha de Friedland.

Participou da Exposição Universal de Paris em 1889. Foi elogiado por Ernest Meissonier e admitido na Academia de Belas Artes. Representou o Brasil no Congresso para a Proteção dos Monumentos Histórico e em algumas ocasiões substituiu como presidente o arquiteto Charles Garnier.

Pedro Américo era considerado um pintor talentoso pelas novas vanguardas, no entanto tornou-se um símbolo do conservadorismo, do elitismo e sem proximidade com a realidade naconal. Mesmo os modernistas querendo anular a grandeza dele, a sua qualidade de pintor o tornam um dos grandes pintores produzidos pelo Brasil e de reconhecida importância da cultura brasileira do final do século XIX.

Pecro Américo tinha um preparo intelectual refinado e com interesse em uma vasta variedade de temas. Na sua formação constavam Bacharelado em Ciências Sociais pela Sorbonne e Doutoramento em Ciências Naturais pela Universidade Livre de Bruxelas. Teve os cargos de professor de desenho estético história da arte da Academia Imperial e diretor da seção de antiguidades e numismática do Museu Imperial e Nacional. Foi deputado constituinte por Pernambuco. Escreveu obras sobre história da arte e filosofia, estética. Defendia a educação como base do progresso e considerava a arte como tendo um papel essencial na evolução da Humanidade. Pedro deixou poesias e quatro romances.

Com o início da República no Brasil, Pedro Américo de volta oa Brasil, ainda manteve grande parte de seu prestígio. Não fazia mais parte da Academia Imperial, que passava a ser a Escola Nacional de Belas Artes. Pedro pintou para o regime republicano Tiradentes esquartejadoLibertação dos escravosHonra e Pátria e Paz e Concórdia. Como deputado defendeu a criação de museus, galerias e universidades pelo país. Ele perdeu muito de seu dinheiro investido com a crise do Encilhamento. Sem recursos e doente, ele foi para Florença. Continuou pintando muito e escrevendo, sendo desse tempo os romances O Foragido em 1899, e Na Cidade Eterna em 1901.

Em 7 de outubro de 1905, em Florença, na Itália, Pedro Américo faleceu vítima da "cólica de chumbo", que seria uma intoxicação por causa das tintas que o pintor usava. O presidente Rodrigues Alves ordenou que seu corpo fosse embalsamado e trazido para o Brasil, ficando exposto no Arsenal de Guerra, no Rio de Janeiro e depois foi para a capital paraibana, onde houve homenagens. O corpo do pintor foi sepultado definitivamente  na sua cidade natal, Areia, Paraíba, em 9 de maio de 1906. A casa onde ele nasceu hoje é um museu, a Casa Museu Pedro Américo.

Obras escritas:

  • Sonetos e Rimas, c. 1854-56
  • A Reforma da Escola de Belas-Artes e a Oposição, 1863
  • Refutação à "Vida de Jesus" de Renan, 1863, perdido
  • Considerações Filosóficas sobre as Belas Artes entre os Antigos: A Arte como Princípio Educativo, 1864
  • Cartas de um Plebeu, 1864
  • Holocausto (romance), 1865
  • Compêndio de Botânica Superior, c. 1865, perdido
  • A Ciência e os Sistemas: Questões de História e Filosofia Natural, 1868
  • Hipótese Relativa ao Fenômeno Chamado Luz Zodiacal, 1869
  • Memória sobre a Conjugação da Spyrogyra quinina e Teoria da Polaridade dos Sexos, 1869
  • Discursos Acadêmicos, 1870, 1880
  • Histórico e Análise Estetigráfica do Quadro de um Episódio da Batalha de Campo Grande, 1871
  • Discurso sobre o Plágio, 1880
  • Do Ensino Livre das Ciências Naturais, 1882
  • Romance de Esposo (romance), 1886
  • O Brado do Ipiranga, 1888
  • O Foragido (romance), 1889
  • Discursos Parlamentares, 1892
  • Na Cidade Eterna - Sonho de Juventude (romance), 1901

 


 Segundo o historiador Antonio Gasparetto Júnior: 

“(...) Entre 1859 e 1864, Pedro Américo estudou na École de Beaux-Arts, em Paris. Foi discípulo de um dos mais importantes pintores do neoclassicismo francês, Ingres, e viajou por diversas capitais europeias para ampliar o conhecimento. Voltou ao Brasil e foi aprovado em concurso para ser Professor da Academia Imperial de Belas Artes. Um novo retorno à Europa lhe rendeu o título de Doutor em Ciências Naturais ao defender sua tese em Bruxelas.

Novamente no Brasil, casou-se com a filha de Manuel de Araújo Porto-alegre, Carlota de Araújo Porto-alegre, e dedicou-se ao ensino da pintura. Foi uma fase em que produziu diversas obras importantes, incluindo retratos de celebridades. A consagração veio com o quadro Batalha do Avaí, uma das obras mais importantes do nacionalismo romântico no Brasil.

Pedro Américo foi um pintor muito marcante do período imperial brasileiro, mas manteve seu prestígio com a Proclamação da República. Enquanto outros pintores de sua geração foram levados ao ostracismo, como Victor Meirelles, o talentoso pintor da Paraíba continuou produzindo importantes obras. Chegou até a ocupar o cargo de deputado no Congresso Constituinte, por Pernambuco, em 1890. Foi autor de importantes obras de arte da República também, como o quadro Tiradentes Supliciado, que se encontra no Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora (MG).

Pedro Américo foi também historiador, filósofo, escritor, romancista e poeta. Mas, sem dúvida, seu grande destaque foi como pintor. Sua obra esteve inserida na arte neoclássica, privilegiando temas históricos e personificações. Suas pinturas são fundamentais para se compreender o patriotismo criado entre os brasileiros. Pedro Américo é considerado um inovador na pintura brasileira e, pelo seu talento, recebeu variados prêmios nacionais e internacionais. Muitas de suas obras entraram para o imaginário coletivo, sendo reproduzidas em diversas ocasiões. Entre as pinturas mais importantes, além das já citadas, estão: A Batalha do Campo GrandeA Fala do TronoIndependência ou Morte e Paz e Concórdia.

Sofrendo desde a infância com beribéri, Pedro Américo praticamente ficou cego, além de empobrecido com a crise nacional no começo da República. Faleceu no dia 7 de outubro de 1905 e foi provisoriamente sepultado no Rio de Janeiro. Somente mais tarde seu corpo foi transferido para sua cidade natal, Areia.”

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Segundo a professora Dilva Frazão:

“(...)Em 1854, Pedro Américo foi para o Rio de Janeiro, estudar no Colégio Pedro II. Em 1856 ingressou na Academia Imperial de Belas Artes. Recebeu do Imperador D. Pedro II, uma bolsa para estudar na Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris, para onde foi em 1859. Foi aluno de Jean-Auguste-Dominique Ingres, um dos maiores pintores do Neoclassicismo francês.

Ainda em Paris, estudou no Instituto de Física de Adolphe Ganot, no curso de Arqueologia de Charles Ernest Beulé e bacharelou-se em Ciências Sociais na Sorbonne, com a tese “Considerações Filosóficas Sobre as Belas Artes Entre os Antigos”.

Pedro Américo retornou ao Brasil em 1864 e passou a lecionar na Escola de Belas Artes, mas logo voltou para a Europa, onde na Universidade de Bruxelas recebeu o título de Doutor em Ciências Físicas e Naturas. Além de produzir várias telas, dedicou-se à poesia, ao romance e à filosofia.

Em 1869 esteve em Portugal, onde casou-se com Carlota de Araújo Porto Alegre, filha do cônsul brasileiro em Lisboa, seu antigo professor. O casal teve três filhos. 

A Fala do Trono (1873), também conhecida como Pedro II, uma representação do imperador na Abertura da Assembleia Geral:

Fausto e Margarida (1875) – obra inspirada na peça Fausto de Goethe. Para a representação, Pedro Américo escolheu o momento da sedução de Margarida por Fausto:Fausto e Margarida (1875)

A Batalha do Avaí, um dos quadros mais famosos de Pedro Américo, encomendado pelo governo brasileiro. A obra, monumental (600 x 1.100 cm), que retrata uma batalha da Guerra do Paraguai, foi iniciada no Brasil e terminada e exposta com sucesso em Florença, em 1877:

O Grito do Ipiranga (1888) - o pintor estava em Florença, Itália, quando pintou uma de suas obras de maior destaque, Independência ou Morte mais conhecida como O Grito do Ipiranga, que foi encomendada por D. Pedro II, para fazer parte do acervo do Museu Imperial, hoje Museu Paulista.

É de Pedro Américo as telas Tiradentes Esquartejado e Paz e Concórdia:

Após a proclamação da república, Pedro Américo foi eleito deputado para a Assembleia Constituinte (1890), destacando-se pelos projetos que apresentou na área cultural.

Pedro Américo de Figueiredo Melo faleceu em Florença, Itália, no dia 7 de novembro de 1905.

Obras de Pedro Américo: Batalha do Campo Grande, 1871 (Museu Imperial do Rio);A Fala do Trono, 1873 (Museu Imperial do Rio);Fausto e Margarida, 1875 (Pinacoteca do Estado de São Paulo);Batalha do Avaí, 1877 (Museu Nacional de Belas Arte);Davi e Abisag, 1879 (Museu Nacional de Belas Artes);Moisés e Jocabed, 1884 (Museu Nacional de Belas Artes);O Grito do Ipiranga, 1888 (Museu Paulista);Libertação dos Escravos, 1889 (Palácio dos Bandeirantes);Tiradentes Esquartejado, 1893 (Museu Mariano Procópio - Minas);Paz e Concórdia, 1902 (Palácio do Itamarati).”

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Sobre a pintura Independência ou Morte de Pedro Américo:

“O quadro O grito do Ipiranga ou Independência ou morte, de Pedro Américo é uma das mais emblemáticas imagens da História do Brasil. A obra foi feita por encomenda do governo da província de São Paulo para ocupar o salão de honra do Monumento do Ipiranga, prédio que estava em construção (atual Museu Paulista/USP). Pedro Américo a executou em Florença, na Itália, onde residia então, e a concluiu em 1888. É um painel enorme, com 7,60 m x 4,51 m (sem contar a moldura), que foi chumbado na parede do museu. Hoje, com o museu em restauração, a tela não pode ser removida e, mesmo que pudesse, não passaria por nenhuma porta do lugar. A pintura de Pedro Américo faz parte da chamada escola romântica, um estilo artístico que vigorou na Europa em meados do século XIX e que teve, entre suas características, a exaltação dos sentimentos nacionalistas. Os temas históricos que glorificavam o passado nacional tornaram-se muito populares. Em suas obras, os pintores procuravam comover o espectador, exaltar a coragem, dignificar e heroicizar os personagens nacionais. Pedro Américo, que estudou e viveu na Europa na segunda metade do século XIX, já tinha executado outras pinturas no estilo nacionalista romântico como A Batalha de Campo Grande (1871), Fala do Trono (1873) e Batalha do Avaí (1874). O sucesso de O grito do Ipiranga (1888) foi seguido de muita polêmica pois a obra foi acusada de plágio da tela 1807, Friedland, de Ernest Meissonier, pintada em 1875, apesar de Pedro Américo só vir a conhecer a obra anos depois. Sendo uma pintura romântica de cunho nacionalista, O grito do Ipiranga glorifica e idealiza o passado usando, para isso, de figuras e composição de cena nem sempre fiéis à história. O próprio Sete de Setembro é hoje objeto de discussões pelos historiadores que tem refletido sobre a data como uma construção histórica. O que o quadro “O grito do Ipiranga” mostra? No centro, em posição mais elevada, está D. Pedro, príncipe regente, montado a cavalo, com uniforme de gala e erguendo a espada. A comitiva, à direita do príncipe, é formada por dez homens que erguem seus chapéus. A frente deles, trinta soldados, os Dragões da Independência, com uniforme de gala, formam um semicírculo e erguem suas espadas. Os soldados, foram pegos de surpresa pelo gesto de D. Pedro, o que se percebe pelo movimento dos animais e pelo quinto soldado (da esquerda para a direita) que se apressa para montar o cavalo. Ao fundo, à direita, outros dois soldados também estão começando a montar seus cavalos. Próximo a eles, há um civil usando cartola que ergue um guarda-chuva; segundo alguns estudiosos, seria Pedro Américo que se autorretratou no quadro. À esquerda, três figuras populares: um homem conduzindo um carro de boi carregado de toras de madeira e que olha a cena assustado (ou curioso?); atrás, um outro montado a cavalo e mais ao fundo, um negro conduzindo um jumento que segue de costas ao grupo. O riacho do Ipiranga está em primeiro plano e suas águas respingam na pata do cavalo. Um casebre, ao fundo à direita, compõe a cena reforçando o caráter rural do lugar; apelidado de “Casa do Grito”, seria um local de pouso para as tropas que viajavam naquele caminho. Comitiva de D. Pedro A comitiva, à direita do príncipe que ergue a espada, é formada por dez homens que erguem seus chapéus. Dragões da Independência À frente de D. Pedro e de sua comitiva, trinta soldados, os Dragões da Independência, com uniforme de gala, formam um semicírculo e erguem suas espadas. Pedro Américo Pedro Américo, de cartola e erguendo guarda-chuva, se autorretratou no quadro. Ao fundo, a “Casa do Grito”. Riacho do Ipiranga O riacho do Ipiranga está em primeiro plano e suas águas respingam na pata do cavalo. Elementos que não correspondem ao momento retratado Cavalos: D. Pedro e seus acompanhantes não estavam montando cavalos; na época, em viagens longas, se utilizavam jumentos e mulas, mais resistentes. Número de acompanhantes: a comitiva de D. Pedro era formada por poucos integrantes e não quarenta pessoas. Trajes: D. Pedro I e sua comitiva não viajaram com uniformes de gala que, aliás, sequer existiam na época; eles foram criados depois da independência, assim como os “Dragões”. Postura de D. Pedro: é improvável que o príncipe regente estivesse com uma aparência tão sadia e posição ereta uma vez que, naquele momento, estava sentindo fortes cólicas causadas pelo cansaço da longa viagem ou pelo jantar na noite anterior. Casa do Grito: não existia na época; o casebre retratado no quadro foi construído por volta de 1884, portanto muito tempo depois da proclamação da independência. Pedro Américo sequer tinha nascido quando aconteceu a independência, portanto, não foi testemunha do fato que só foi pintado décadas depois de ocorrido. Homem a cavalo Homem a cavalo e negro conduzindo jumento. Homem conduzindo carro de bois Homem conduzindo carro de bois carregado de toras de madeira. O quadro é uma fraude? Não, exatamente. Pedro Américo não se preocupou em fazer um retrato fiel do fato. A arte não tem compromisso de ser um retrato fidedigno e indelével da História .Trata-se de imagem idealizada que faz uma representação heroica do passado e exalta a monarquia (naquele momento, em franco declínio, às vésperas da proclamação da República). Além disso, Pedro Américo era um artista que havia tempos vivia na Europa e que, certamente, respirou as transformações tecnológicas e políticas ocorridas na segunda metade do século XIX: segunda revolução industrial com todas suas invenções, imperialismo e disputas coloniais, corrida armamentista, movimentos nacionalistas e outros. Seu quadro acabou recebendo essas influências que transparecem no caráter militarista e faustoso da composição: soldados perfilados, espadas erguidas, uniformes de gala, cavalos robustos e com belos arreios e selas – elementos que dignificam e dão imponência ao episódio retratado. O Príncipe é a figura de destaque: no centro e na parte mais elevada, ele ergue a espada passando a ideia de líder vitorioso, como se ele fosse o único responsável pela independência. É dele que parte o “grito”, praticamente uma ordem militar que é imediatamente acatada por todos que o acompanham. Aliás, o nome da tela O grito do Ipiranga já é indicativo da visão autoritária e personalista sobre o fato retratado, diferente do quadro de François-René Moreaux, A proclamação da independência, de 1844. A casa de pouso, o carroceiro e outras figuras populares fazem um tímido contraponto à atmosfera militar e ufanista do quadro. São figuras secundárias, decorativas, que assistem à cena. Não são protagonistas e, sequer partidárias. Estão inertes. A independência não mudou suas vidas, o que não deixa de ser verdade. Talvez essa seja a principal mensagem de O grito do Ipiranga. Neste sentido, o quadro não é uma fraude histórica.

https://ensinarhistoria.com.br/o-grito-do-ipiranga-uma-fraude/ - Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues



Para ver obras de Pedro Américo: https://www.wikiart.org/en/pedro-americo


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.

 

 

Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALiCzsb8HfMvwkFhxpcVgKUJ0VQKwYTzPw:1651373488819&source=univ&tbm=isch&q=imagem+do+pintor+Pedro+Am%C3%A9rico

 

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