quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O filme Amsterdam e a tentativa de golpe contra o presidente Franklin Roosevelt



No dia 10 de outubro fui ao cinema terminar de ver o filme Amsterdam. Eu tinha ido antes no dia 7 e vi quase todo, por volta de 90%, mas houve falta de energia em todo o shopping e eu decidi que queria ver o fim do filme e o cinema me ressarciu o ingresso. Pois bem, vamos ao filme e à trama que faz parte dele, envolvendo uma tentativa de golpe fascista contra o presidente Franklin Roosevelt.

Segundo o diretor David O. Russel, citado na revista Isto é, numero 2750: “Amizade e amor são a essência do filme. O pacto que os personagens fazem para cuidar um do outro é o pilar da trama”. No filme há a presença de ótimos atores e atrizes como: Robert De Niro, Christian Bale, Chris Rock, Rami Malek, Margot Robbie, Anya Taylor-Joy e John David Washington e tem com base a amizade de três personagens principais: o oficial médico e depois somente médico Burt (Bale); o soldado e depois advogado Harold (John David Washington) e a enfermeira de guerra Valerie (Margot Robbie), pertencente a uma família rica nos Estados Unidos. Eles se tornam amigos no ambiente do fim da I Guerra Mundial, em 1918 e passaram um tempo em uma vida boêmia em Amsterdam, Holanda. Burt permanece no grupo até a sua decisão em retornar para ficar com sua esposa, oriunda de uma tradicional família de Nova York. Pouco depois Valerie vai embora misteriosamente.

No filme há o envolvimento de Burt e Harold em uma investigação sobre a morte de um general que tinha comandado o regimento deles na I Guerra Mundial e a filha desse general, que tinha contratado os dois, também é morta de forma trágica, com a dupla sendo acusada de ter causado essa morte. Os assassinatos do general e de sua filha estão relacionados à uma conspiração de poderosos empresários dos Estados Unidos para derrubar o presidente eleito Franklin Roosevelt. E o restante do filme se desenvolve mostrando como os três amigos e outros que os ajudam lidam com essa investigação, lidando com perigos e contando com o apoio de um general aposentado, que liderou tropas na Primeira Guerra Mundial e em outros conflitos. Esse general conhece um segredo que o outro general assassinado tinha lhe contado e que estava ligado ao ditador fascista Mussolini: o atropelamento de um menino, fato menosprezado pelo ditador.

De todos os personagens do filme, um se baseia em um personagem que de fato existiu e que, como aconteceu no filme, denunciou o complô para instalar uma ditadura fascista nos Estados Unidos. O diretor David Russell tomou como base esses fatos para criar a historia de Amsterdam, incluindo a relação entre os três amigos. O general do filme convidado a participar da trama dos conspiradores, Gil Dillenbeck (De Niro) , na verdade é um personagem baseado no general Smedley Butler. Mas quem foi esse general?

O major-general dos fuzileiros navais dos Estados Unidos, Smedley Darlington Butler, nasceu em 30 de julho de 1881, em West Chester e faleceu em 21 de junho de 1940, na Filadélfia. Ele participou de intervenções armadas em outras nações, tendo depois se tornado um crítico dessas intervenções. Foi o fuzileiro naval (chamado nos Estados Unidos de marine) mais condecorado de seu país até a data de sua morte. Em seu tempo de quase 34 anos como oficial dos marines ele participou de ações nas Filipinas, China, América Central, México, Caribe e na França durante a I Guerra Mundial.

Quando deixou de ser um militar da ativa, o general Smedley Butler criticou o aventureirismo militar dos Estados Unidos. Publicou em 1935 o seu livro War is a Racket ("A Guerra É Uma Extorsão”). Nessa obra ele descreveu a questão militar-industrial que estava relacionada a diversas intervenções militares. Também foi orador em reuniões de veteranos de guerra e eventos pacifistas na década de 1930. Disse ele:

“Passei 33 anos e quatro meses no serviço ativo, como membro da mais ágil força militar do meu país - o Corpo de Fuzileiros Navais. Servi em todos os postos, desde segundo-tenente a general. E, durante tal período, passei a maior parte de meu tempo como guarda-costas de alta classe, para os homens de negócios, para Wall Street e para os banqueiros. Em suma, fui um quadrilheiro, um gangster para o capitalismo. Foi assim que ajudei a transformar o México, especialmente Tampico, em lugar seguro para os interesses petrolíferos americanos, em 1914. Ajudei a fazer de Cuba e Haiti lugares decentes para que os rapazes do National City Bank pudessem recolher os lucros. Eu ajudei a estuprar meia dúzia de repúblicas da América Central em prol dos lucros de Wall Street [...] Ajudei a "limpar" a Nicarágua para os interesses da casa bancária internacional dos Brown Brothers, em 1909-1912. Trouxe a luz à República Dominicana para os interesses açucareiros norte-americanos em 1916. Ajudei a fazer de Honduras um lugar "adequado às companhias frutíferas americanas, em 1903. Na China, em 1927, ajudei a fazer com que a Standard Oil continuasse a agir sem ser molestada. Durante todos esses anos, eu tinha, como diriam os rapazes do gatilho, uma boa quadrilha. Fui recompensado com honrarias, medalhas, promoções. Voltando os olhos ao passado, acho que poderia dar a Al Capone algumas sugestões. O melhor que ele podia fazer era operar em três distritos urbanos. Nós, os fuzileiros navais, operávamos em três continentes.”

Os fatos históricos relacionados ao filme, o complô contra Roosevelt, foi chamado na época Business Plot (“Complô dos Empresários”). No filme o general fictício Gil Dillenbeck denuncia toda a trama de grandes  empresários simpáticos a Hitler e a Mussolini em uma reunião de veteranos, com seu discurso transmitido pelo rádio. Mas o personagem real, o general Butler denunciou em 1933 ao Congresso a conspiração. Ele contou que altos industriais planejavam destituir o presidente Roosevelt e tinham-no convidado para liderar um exército com 500 mil soldados. Nesse golpe Roosevelt seria assassinado e seria instalado um regime fascista. Entre os industriais citados pelo general estavam a família Du Pont, investidores de Wall Street, dirigentes da Standart Oil, da General Motors, Chase National Bank, Goodyear etc. Os acusados, de tão poderosos que eram, não foram punidos e a mídia não deu importância ao caso, dando a entender que o general estava mentindo. Mas foi constatado pela comissão do Congresso que Butler falava a verdade e a conspiração existiu. O golpe então fracassou.

Outra questão, o atropelamento da criança realmente existiu, como mencionado no filme e na realidade foi o general Butler quem mencionou o acontecido. Em 1931 ele foi submetido a uma corte marcial, sendo acusado de ter ofendido Mussolini, pois contou em uma entrevista que Benito Mussolini teria atropelado uma criança com seu carro. O presidente Hoover, atendendo uma reclamação do ditador fascista, ordenou a corte marcial contra Butler, que de início foi preso, mas acabou inocentado.

O filme Amsterdam, ao abordar a questão da tentativa de golpe da extrema direita nos Estados Unidos não faz apenas uma menção ao passado, como também um alerta ao presente. Não se deve esquecer por exemplo, no próprio Brasil, a investigação da Polícia Federal a respeito de uma possível trama de altos empresários caso o candidato deles não seja eleito.

 Sobre esta questão cito a seguir um trecho da notícia publicada no portal Yahoo! Notícias :

“Empresários bolsonaristas defendem golpe caso Lula ganhe eleição, diz site

 Redação Notícias

17 de agosto de 2022

Empresários que apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL) estão defendendo abertamente um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

(PT) vença as eleições de outubro. A informação foi divulgada na tarde desta quarta-feira (17) pelo jornalista Guilherme Amado, do portal Metrópoles.

 O grupo de WhatsApp chamado “Empresários % Política” está sendo acompanhado há meses pela coluna.

De acordo com o jornalista, além da defesa explícita de um golpe por parte de alguns integrantes do grupo, constam também na troca de mensagens ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal), ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e a quaisquer pessoas ou instituições contrárias ao atual chefe do Executivo (...)”

Segundo o site, um empresário teria dito:

“Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, publicou o empresário no grupo.”

Encerrando, vou citar um trecho do artigo publicado na revista Isto é sobre o filme Amsterdam:

“Essa divertida produção de época recria com perfeição o clima dos EUA durante a Segunda Guerra, antes de o país entrar para valer no conflito. Inspirado em um caso real, revela a estratégia de um grupo de banqueiros e magnatas norte-americanos que agiram na surdina para se aproximar de Adolph Hitler e faturar negócios com a Alemanha. Para isso, buscam o apoio de um respeitado militar, papel de Robert de Niro. O general Gil Dillenberg, seu personagem, foi inspirado em Smedley Butler, cuja ação ajudou a mudar o rumo da Humanidade (...)”

Sugestão de vídeos:

 

A Trama Para Derrubar o Franklin Roosevelt

https://www.youtube.com/watch?v=StFUOSy6ViM

 

Amsterdam | Trailer Oficial Legendado

https://www.youtube.com/watch?v=RLBuMdYN4Ds

 ______________________________________

Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História 


Figura:

https://www.google.com/search?q=imagem+do+cartaz+do+filme+amsterdam&sxsrf=ALiCzsYLReWCnt9-4BaC5xMnlH1 

                


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