segunda-feira, 6 de março de 2023

A astrônoma e astrofísica Cecilia Payne-Gaposchkin

 



Em 10 de maio de 1900 nasceu em Wendover, Buckinghamshire, Inglaterra, a astrônoma, professora universitária e astrofísica Cecilia Payne-Gaposchkin. Era filha de Emma Leonora Helena (nascida Pertz) e Edward John Payne (advogado, historiador e músico). Antes dela se pensava que o o Sol possuísse uma composição semelhante à da Terra. Ela mostrou que é composto primariamente de hidrogênio. Sua mãe tinha vindo de uma família da Prússia (um dos Estados alemães que formaram a Alemanha) e dois dos tios dela eram pessoas de destaque: o historiador Georg Heinrich Pertz e o escritor James John Garth Wilkinson. Ela tinha dois irmãos. Aos quatro anos de idade Cecília perdeu seu pai e sua mãe teve de sustentar a família.

Cecília fez seus primeiros estudos na St.Paul's Girls' School e em 1919 foi estudar no Newnham College, Universidade de Cambridge, onde de início estudou botânica, física e química. Nessa instituição ela se interessou por astronomia após ter assistido uma palestra do cientista Arthur Eddington a respeito do eclipse solar de 29 de maio de 1919 e suas observações com a finalidade de observar e fotografar as estrelas próximas do eclipse para testar a teoria geral da relatividade de Einstein. Embora tenha terminado seu curso universitário, não pôde receber seu diploma por ser mulher. Esse tipo de discriminação por Cambridge foi até 1948. Diante dessa realidade, ela só poderia ser professora. Decidiu ir para os Estados Unidos e se mudou para lá em 1923 após ter conhecido Harlow Shapley, diretor do Harvard College Observatory. Havia um projeto que encorajava mulheres a estudar no observatório. Cecília foi a segunda estudante nesse projeto (tornou-se cidadã dos Estados Unidos em 1931) e Adelaide Ames foi a primeira.

Em 1933, quando Cecília estava viajando pela Europa, ela conheceu o físico russo Sergei I. Gaposchkin, na Alemanha. Por meio de auxílio dela, ele pôde obter um visto para os Estados Unidos. E em 1934 os dois casaram-se, vindo a ter três filhos.

Cecília seguiu carreira acadêmica em Harvard, continuando a ser uma cientista ativa e foi-lhe outorgado o título oficial de "astrônoma” em 1938. Foi a primeira mulher a ser professora associada em Harvard a partir de 1956. Ela se tornou a primeira pessoa a ter o título de doutora em astronomia pela instituição Radcliffe College (que hoje em dia é parte da Universidade de Harvad) em 1925. A tese de Cecília foi: "Atmosferas estelares, uma contribuição para o estudo da observação da temperatura alta nas camadas revertidas de estrelas". Essa tese foi considerada pelos astrônomos Otto Struve e Velta Zebergs como "indubitavelmente a tese de doutoramento mais brilhante jamais escrita em astronomia”.

Cecília aplicou a teoria da ionização desenvolvida pelo físico Meghnad Saha, relacionando a classificação estelar das estrelas às suas temperaturas absolutas. Ela pôde provar que não eram as diferentes quantidades de elementos que causava a grande variação na linha espectral e sim por causa das diferentes diferentes quantidades de ionização a diferentes temperaturas. Segundo sua pesquisa, o silício, o carbono e outros metais comuns vistos no espectro do Sol existem mais ou menos nas mesmas quantidades na Terra, confirmando o que a ciência já dizia, destacando porém que o hélio e, em especial, o hidrogênio, estão em quantidade muito maior. Segundo a sua tese, o hidrogênio é o elemento que existe mais abundantemente no universo e que é o principal componente na formação das estrelas. O astrônomo Henry Norris Russell, a princípio duvidava da afirmação de Cecília por meio da pesquisa dela de que a composição do Sol era  predominantemente de hidrogênio, diferente da composição química de nosso planeta. Mas ele comprovou que Cecília estava certa após ter chegado à mesma conclusão por métodos diferentes e publicou os resultados dessa pesquisa. Embora Cecília tenha sido a primeira a descobrir, percebe-se que várias vezes há referências a Russel como descobridor.

Além das descobertas mencionadas em sua tese de doutorado, Cecília estudou estrelas de alta luminosidade para entender a estrutura da Via Láctea e posteriormente fez estudos sobre estrelas com magnitude superior a dez. Fez aproximadamente 1 250 000 observações com seus assistentes sobre estrelas variáveis e estudou as Nuvens de Magalhães, com mais dois milhões de observações de estrelas variáveis. As observações e análises que ela e seu marido fizeram sobre estrelas variáveis serviu de base para estudos que foram feitos por outros cientistas sobre as mesmas. De 1927 a 1938 ela era só assistente técnica de Shapley, sem ter um cargo oficial. A situação dela só melhorou quando recebeu o título de astrônoma em 1938 e depois foi mudado o título para Astrônoma Phillips, a pedido dela, que se tornou membro em 1943 da American Academy of Arts and Sciences.

Em 1956 Cecília passou a ser a primeira mulher a ser promovida a professora integral na Harvard Faculty of Arts and Sciences. Foi também a a primeira mulher a liderar um departamento em Harvard, no Departamento de Astronomia. Ela teve alunos que se destacaram na astronomia. Em 1966 recebeu o título de professora emérita em Harvard, ano em que se aposentou, continuando a pesquisar como integrante da equipe de astrônomos no Smithsonian Astrophysical Observatory. O trabalho de Cecília Payne em uma comunidade científica com predomínio masculino inspirou outras mulheres no campo da ciência, como no caso da astrofísica Joan Feyman, que foi influenciada pela pesquisa de Cecília publicada em um livro de astronomia.

Cecília morreu de câncer aos 79 anos, no dia 7 de dezembro de 1979.

Segundo artigo da BBC em 16/04/2019:

“Cecilia Payne-Gaposchkin foi uma das grandes astrônomas da história.

Ela tinha apenas 25 anos quando chegou a uma conclusão que mudaria para sempre a forma que observamos o universo. Cecilia Payne-Gaposchkin foi uma das grandes astrônomas da história e a primeira a dizer do que eram feitas as estrelas.

Apesar disso, sua carreira nunca foi fácil. Teve de enfrentar o ambiente machista que dominava a ciência e o ensino na época (...)”.

Amy Davy, curadora do museu de ciências de Londres disse sobre Cecília Payne:

"Sua carreira é uma lembrança de que a razão por que não havia mais mulheres cientistas na história não se devia à falta de talento ou de paixão, mas sim à misogenia sistemática da sociedade".

Disse também Amy:

"O trabalho de Cecilia Payne-Gaposchkin foi inegavelmente importante para nossa compreensão das estrelas e da astronomia. Porém, devido ao seu gênero, teve que trabalhar muito mais para lutar pelo reconhecimento que merecia".

Conselho de Cecília Payne para jovens mulheres quando se tornou chefe do Departamento de Astronomia de Harvard : “Não siga uma carreira científica por fama ou dinheiro… Siga a carreira científica só se nada mais trouxer satisfação, porque ‘nada mais’ é provavelmente o que você vai receber. Sua recompensa é a ampliação do horizonte na medida em que você escala. E, se você conseguir essa recompensa, não vai querer nenhuma outra.”

_______________________________________

Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 


Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=AJOqlzVTYXdIfcybH8I_nExnxu0ILjp-8Q:1678155457301&q=imagens+de+Cecilia+Payne-Gaposchkin&tbm=





 

 

 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário