domingo, 18 de abril de 2021

O Dia Nacional do Choro e o compositor Pixinguinha

 









No dia 23 de abril é comemorado o Dia Nacional do Choro. A data foi criada para homenagear o compositor Pixinguina, pois se acreditava que ele tinha nascido em 23 de abril de 1897. Oficialmente esta data especial foi criada oficialmente em 4 de setembro de 2000, devido a uma inciativa do bandolinista Hamilton de Holanda e seus alunos da Escola de Choro Raphael Rabello. Em 2016 foi decoberto que Pixinguinha nasceu em 4 de maio de 1897, porém foi mantido a data 23 de abril como Dia Nacional do Choro.

Foi na segunda metade do século XIX que o Choro via se afirmando no cenário musical brasileiro, destacando-se músicos como Callado, Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth. De início eram misturados elementos oriundos da música africana e da europeia, em especial a música popular portuguesa. E se chamava choro porque era resultado dos sons plangentes, graves das modulações que os violonistas tocavam partindo de passagens de polcas que lhes eram passadas por tocadores de cavaquinhos, levando a um sentimento de melancolia. As características do choro são a forma rondó, presença de compasso binário e um fraseado peculiar. Os principais instrumentos que começaram a ser utilizados quando surgiu este gênero musical eram violão, flauta, cavaquinho, que davam à música o lado mais sentimental e “choroso”. Segundo Luís da Câmara Cascudo, o choro pode ter vindo de xolo, que era um baile que reunia escravos de fazendas. E para Ary Vasconcelos poderia ser uma ligação do termo à corporação musical dos choromeleiros, que tinham atuação no tempo colonial. No começo do século XX passou também a ser cantado e ganhou novas características, como tendo um ritmo mais rápido, agitado e alegre.

O rádio e o o investimento de gravadoras possibilitaram que o choro tivesse sucesso pelo Brasil na década de 30 do século XX. O maior nome no choro na nesse século foi Pixinguinha. A partir dos anos 50 a Bossa Nova foi tomando espaço que era do choro, mas este não deixou de ser importante e em 1970 foram criados os Clubes do Choro, surgindo grupos novos de músicos dedicados a este gênero por vários lugares do Brasil.

A seguir destacarei alguns apsectos do grande compositor Pixinguinha, que foi um grande compositor brasileiro, inclusive no gênero do choro.

Pixinguinha nasceu em 1897, na cidade do Rio de Janeiro. Era compositor, maestro, flautista, saxofonista e arranjador. Considerado um dos maiores compositores da música popular brasileira e cujo nome mesmo era Alfredo da Rocha Vianna Filho. Ele se especializou nos gêneros Choro, Maxixe, Samba e Valsa. O pai de Pixinguinha era Alfredo da Rocha Vianna, que além de funcionário dos correios também era flautista, possuidor de muitas partituras de choros antigos. Pixinguinha tina dezessete irmãos. Começou seus estudos no colégio mantido pelo Mosteiro de São Bento. Ele quando pequeno escutava atento valsas, lundus e pelas polcas tocadas em serenatas que o pai promovia em casa. O apelido de “Pixinguinha” surgiu do nome oriundo de um dialeto africano que sua avó, africana de nascimento, lhe chamava, “Pizindin” (menino bom). Pixinguinha aprendeu a tocar flauta com o pai com 12 anos ele já dominava conhecimentos de teoria musical ensinados por César Borges Leitão, já tocando flauta, cavaquinho e bandolim. 

O professor Irineu de Almeida em 1911 levou Pixinguinha aos 14 anos para o grupo carnavalesco “Filhas da Jardineira” e nesse ano   Pixinguinha compôs sua primeira música, i o chorinho “Lata de Leite”. Seu irmão China possibilitou que fosse contratado pelo conjunto da “Concha”, uma casa de chope do bairro da Lapa. Pixinguinha passou assim a tocar em 1912, em cabarés na Lapa, no Rio de Janeiro. Depois veio a substituir o flautista que tocava na orquestra da sala de projeção do Cine Rio Branco. E assim começou sua carreira como músico em salas de cinema, ranchos carnavalescos , casas noturnas e no teatro de revista. Pixinguinha se juntou aos parceiros Donga e João Pernambuco, formando o grupo Caxangá e com base nesse grupo formou-se o conjunto Oito batutas.

A gravadora RCA Victor contratou Pixinguinha nos anos de 1930 como arranjador. Ele criou arranjos que ficaram famosos sendo cantados por cantores como Francisco Alves e Mário Reis. Anos depois Pixinguinha foi substituído por Radamés Gnattali. Nos anos 40 passou a tocar o saxofone tenor no regional de Benedito Lacerda. Esse pagava para Pixinguinha para aparecer como parceiro em obras registradas, que na verdade eram da autoria só de Pixinguinha.

Pixinguinha recebeu críticas de pessoas conservadoras quando compôs Carinhoso entre 1916 e 1917 e Lamentos, em 1928. As críticas diziam que ele estava sendo influenciado pelo jazz. Teve outras composições de sucesso, como "Rosa", "Vou vivendo", "Lamentos", "1 x 0", "Naquele tempo" e "Sofres porque Queres”, entre outras.

Pixinguinha foi estudante no Instituto Nacional de Música (instituição incorporada à Universidade do Brasil), atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em homenagem a Pixinguinha, foi criado em 23 de abril o Dia Nacional do Choro.

 Pixinguinha faleceu em 17 de fevereiro de 1973, aos 75 anos, na cidade do Rio de Janeiro.

História da música Carinhoso

Segundo o site   Catraca Livre de 26 de abril de 2014, atualizado em 6 de maio de 2020:

“Carinhoso” é uma das musicas mais conhecidas pelos brasileiros. E sua história tem passagens interessantes.

Para começar, surgiu como uma música instrumental: uma ‘polca lenta’. Isso foi no ano de 1917, quando Pixinguinha, então com 20 anos, a compôs. Mas, naquele tempo, as músicas deveriam ter três partes e a polca apresentava apenas duas. Então, o tema foi deixado ‘na gaveta’. Somente 11 anos depois é que foi levada ao disco pela Orquestra Típica Pixinguinha-Donga, no lado B de um 78 rotações. Em 1929 fez-se nova versão orquestral com a Orquestra Victor Brasileira. Em 1935, o bandolinista Luperce Miranda também a gravou. Nestas duas ocasiões, saiu como “Carinhos”.

 Por conta de um espetáculo que a cantora Heloisa Helena iria participar, foi pedido a João de Barro, o Braguinha, que compusesse uma letra para a ocasião, em 1936. Ele o fez de imediato e chamou a atenção do público. Porém, o cantor Orlando Silva não gostou do texto e pediu a Pedro Caetano uma alternativa. Conta-se que Aracy Cortes também criou a sua. A RCA Victor ia gravar “Carinhoso”. Todavia, o diretor do selo decidiu pela letra de Braguinha e a ofereceu a Carlos Galhardo e Chico Alves, que não se entusiasmaram. Sobrou então para Orlando Silva, ainda em ascensão, cumprir a tarefa, que tinha como outro lado a valsa “Rosa”, também de Pixinguinha em 1917, letrada por Otávio Souza. E foi um sucesso.

“Carinhoso” já extrapolou há tempos os 200 registros! E no selo original do disco de Orlando Silva é identificado como samba!”

 

Para escutar:

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=escutar+musica+carinhoso

Carinhoso (Pixinguinha/Braguinha) - YouTube

 

https://www.youtube.com/watch?v=nN4l-nBi3x

ROSA com MARISA MONTE, edição MOACIR SILVEIRA

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=RKRuJpKYEiI

Ingênuo - Pixinguinha

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+pixinguinha&sxsrf=ALeKk01SxhFfGmIBALK_VQ39c5e4HQEuEA:1618792995866&tbm=isch&source=iu&ictx=


sexta-feira, 16 de abril de 2021

O poeta brasileiro Manuel Bandeira

 








Em 19 de abril de 1886 nascia o poeta, professor de literatura, crítico literário e de arte e tradutor brasileiro Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, mais conhecido como Manuel Bandeira. Fez parte da geração de 1922 do modernismo no Brasil. Seu poema “Os Sapos” foi lido na Semana de Arte Moderna. Ele foi um poeta lírico, apesar de ter escrito uma vez: "Estou farto do lirismo comedido / Do lirismo bem comportado". Sua poesia está relacionada aos aspectos cotidiano e o universal, por vezes usando de uma abordagem de “poema-piada”. Ainda que tenha lidado com formas e inspirações consideradas pela tradição acadêmica como vulgares, utilizou de formas vindas das tradições clássicas e medievais em temas cotidianos. Alguns poemas como "Poética", do livro Libertinagem, se transformaram em manifesto da poesia moderna. Mas a origem de sua poesia está ligada ao parnasianismo.

O pai de Manuel Bandeira era o engenheiro civil do Ministério da Viação Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e a mãe era Francelina Ribeiro de Sousa Bandeira. Teve como avô paterno Antônio Herculano de Sousa Bandeira, advogado, professor da Faculdade de Direito do Recife e deputado. Dois tios, irmãos de seu pai, também foram figuras de destaque na área jurídica. O avô materno era Antônio José da Costa Ribeiro, que foi advogado e deputado.

Com a transferência do pai para o Rio de Janeiro levando sua família, Manuel passa a estudar no Colégio Dom Pedro II (chamado de Ginásio Nacional pelos primeiros republicanos). Teve professores de destaque como Silva Ramos, José Veríssimo e João Ribeiro. Concluiu o curso de Humanidades em 1903 e  vai para São Paulo em nova mudança de sua família. Nessa cidade vai estudar arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo. Porém teve de interromper o curso por causa de ter adoecido com tuberculose. Foi mandado para as cidades Campanha, Teresópolis e Petrópolis, onde poderia ter um período de repouso para tratamento. Depois seu pai financiou sua ida para a Suíça, lá ficando de junho de 1913 a outubro de 1914 no Sanatório de Clavadel. Nessa passagem por essa instituição teve como colega de sanatório o poeta Paul Eluard. Ao iniciar a Primeira Guerra Mundial precisou voltar ao Brasil. Quando chegou publica então seu primeiro livro: A Cinza das Horas(1917), com os custos que ele mesmo pagou, tendo sido publicados 200 exemplares. E em 1919 publicou outro livro: Carnaval.

Viajou em 1927 pelo Brasil, foi até Belém, com escalas em Salvador, Recife, Paraíba, Natal, Fortaleza e São Luís do Maranhão. De 1928 a 1929 ficou no Recife, trabalhando como fiscal de bancas examinadoras de preparatórios.

O poeta foi nomeado inspetor geral de ensino em 1935, no governo constitucional de Getúlio Vargas. E no ano seguinte houve a publicação da coletânea de estudos sobre sua obra "Homenagem a Manuel Bandeira", assinada por críticos renomados e assim ele teve um grande reconhecimento como escritor. Em 1938 passa a lecionar literatura no Colégio Dom Pedro II onde permaneceu como professor de 1938 a 1943. E em 1940 houve a eleição que o escolheu como novo membro da Academia Brasileira de Letras. Em 1942, começou a lecionar Literaturas Hispano-Americanas, na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, tendo se aposentado como professor dessa Faculdade em 1956. Passou a ser membro do Conselho Consultivo do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a partir de 1938.

Revelou ser um humanista como crítico de literatura e historiador literário. Obteve consagração devido ao estudo sobre as Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, pelo esboço biográfico Gonçalves Dias, como também organizou diversas antologias de poetas brasileiros e publicou o estudo Apresentação da poesia brasileira (1946).

Como tinha problema pulmonar por causa da tuberculose, o poeta sabia que tinha uma fragilidade que colocava em risco sua vida. Por esse motivo havia nele um sentimento melancólico e uma angústia, o que influenciavam em sua maneira de escrever. Sua poesia tem a ver com uma situação que mistura a sua história pessoal com o conflito estilístico que existia entre os poetas daquele tempo.

Aos 82 anos, no Rio de Janeiro, em 13 de outubro de 1968, Manuel Bandeira faleceu devido a uma hemorragia gástrica. Encontra-se sepultado no túmulo 15 do mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista.

Citação:

Segundo Daniela Diana, Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF):

“...Com uma obra recheada de lirismo poético, Bandeira foi adepto do verso livre, da língua coloquial, da irreverência e da liberdade criadora. Os principais temas explorados pelo escritor são o cotidiano e a melancolia (...)”

E ainda diz Daniela:

“...Manuel Bandeira publicou uma vasta obra até sua morte, desde contos, poesias, traduções e críticas literárias.

Junto ao movimento literário do modernismo, colaborou com publicações em algumas revistas como a klaxone a Antropofagia.

No segundo dia da Semana de Arte Moderna, seu poema Os Sapos foi lido por Ronald Carvalho.

Em sua trajetória laboral, destaca sua atuação como professor de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro II, em 1938.

Foi também professor de Literatura Hispano-Americana, de 1942 a 1956​, da Faculdade Nacional de Filosofia, onde se aposentou.

Faleceu no Rio de Janeiro, aos 82 anos, em 13 de outubro de 1968, vítima de hemorragia gástrica.

Academia Brasileira de Letras

Na Academia Brasileira de Letras (ABL), Manuel Bandeira foi o terceiro ocupante da Cadeira 24, eleito em 29 de agosto de 1940. Anteriormente, o lugar esteve ocupado pelo escritor Luís Guimarães Filho.

"A comoção com que neste momento vos agradeço a honra de me ver admitido à Casa de Machado de Assis não se inspira somente na simpatia daqueles amigos que a meu favor souberam inclinar os vossos espíritos. Inspira-se também na esfera das sombras benignas, a cujo calor de imortalidade amadurece a vocação literária." (trecho do Discurso de Posse)

Obras

Manoel Bandeira possui uma das maiores obras poéticas da moderna literatura brasileira, dentre poesias, prosas, antologias e traduções:

Poesia:

A Cinza das Horas (1917);Carnaval (1919);Libertinagem (1930);Estrela da Manhã (1936);Lira dos Cinquent'anos (1940)

Prosa: Crônica da Província do Brasil (1936);Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro (1938); Noções de História das Literaturas (1940); Autoria das Cartas Chilenas (1940); Literatura Hispano-Americana (1949);De Poetas e de Poesia - Rio de Janeiro (1954); A Flauta de Papel - Rio de Janeiro (1957);Itinerário de Pasárgada (1957); Andorinha, Andorinha (1966);

Antologia: Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica (1937); Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana (1938); Antologia dos Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos (1946);Antologia Poética (1961);Poesia do Brasil (1963);Os Reis Vagabundos e mais 50 crônicas (1966).”

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Alguns poemas:

 

Porquinho-da-Índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…

— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Os sapos (trecho do poema)

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

 

 Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

– Eu faço versos como quem morre.

 

 

Meu Quintana

Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.

Quinta-essência de cantares...
Insólitos, singulares...
Cantares? Não! Quintanares!

Quer livres, quer regulares,
Abrem sempre os teus cantares
Como flor de quintanares.

São cantigas sem esgares.
Onde as lágrimas são mares
De amor, os teus quintanares.

São feitos esses cantares
De um tudo-nada: ao falares,
Luzem estrelas luares.

São para dizer em bares
Como em mansões seculares
Quintana, os teus quintanares.

Sim, em bares, onde os pares
Se beijam sem que repares
Que são casais exemplares.

E quer no pudor dos lares.
Quer no horror dos lupanares.
Cheiram sempre os teus cantares

Ao ar dos melhores ares,
Pois são simples, invulgares.
Quintana, os teus quintanares.

Por isso peço não pares,
Quintana, nos teus cantares...
Perdão! digo quintanares.

 

 

Neologismo

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.

 

 Cantiga


Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.

Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.

Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.

(Estrela da Manhã)

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+manuel+bandeira&sxsrf=ALeKk02Km4IS-xGJbqAWQdN2BLLkj55IGA:1618625566108&tbm

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Dia internacional para reflexão do genocídio de 1994 contra os Tutsi em Ruanda

 








A data 7 de abril foi escolhida como o Dia internacional para reflexão do genocídio de 1994 contra os Tutsi em Ruanda. É uma data para se refletir sobre o terrível acontecimento que foi o massacre de cerca de 800 mil pessoas em aproximadamente 100 dias em Ruanda, um país africano. O período de tempo em que ocorreu o genocídio foi de 7 de abril  a 15 de julho de 1994. Na época do massacre, mais de 80% da população de Ruanda era constituída por hutus. As vítimas eram, em sua grande maioria, da comunidade dos tutsi, chacinadas por bandos armados hutus. Também houve pessoas da comunidade hutu, principalmente oposicionistas ao governo hutu, que foram mortos. Houve membros dos twas, outro grupo ruandês, que também foram incluídos na matança. Deve-se refletir sobre o que aconteceu, considerando a dor dos sobreviventes e a dos que perderam familiares. Também é preciso que se pense em meios para que fatos assim não voltem a ocorrer.

Antecedentes históricos:

Após a derrota alemã na I Guerra Mundial, o território onde hoje é Ruanda, que era uma colônia da Alemanha desde o fim do século XIX, passa ao controle da Bélgica. Esse país passou a favorecer os tutsi em detrimento dos hutu, acirrando conflitos entre os povos. Para estudiosos da história de Ruanda, foi o governo colonial belga que criou certas diferenças entre tutsi e hutu que antes não existiam. Os colonialistas belgas queriam com isso estabelecer uma divisão entre a população para exercer um domínio baseado em castas sociais.

Em 1959 houve um movimento hutu que destituiu a monarquia tutsi em Ruanda. Em 1960 houve a decisão dos ruandenses pela república em vez de monarquia. Em 1962, ocasião da independência em relação à Bélgica, os hutus estavam então no poder. Problemas econômicos que aconteceram em determinados períodos aumentavam as tensões. Houve um êxodo de dezenas de milhares de tutsis para países vizinhos. Nessa época um grupo de rebeldes tutsi no exílio formou uma força combatente, a Frente Patriótica Ruandesa. Essa Frente invadiu Ruanda em 1990. Houve combates entre os grupos militares dos hutu e dos tutsi até que um acordo foi estabelecido em 1993. Mas, um fato veio perturbar essa paz. Em 6 de abril de 1994 foi derrubado o avião que transportava os presidentes de Ruanda (Juvenal Habyarimana) e o da nação vizinha Burundi (Cyprien Ntaryamira). Foi aí que começou a onda de assassinatos comandada por milícias hutu, que culpavam a Frente Patriótica Ruandesa pela derrubada do avião. Mas a Frente acusou os extremistas hutus de terem derrubado o avião para terem o pretexto de começar um genocídio.

 

Os massacres (planejamento e execução)

Houve um planejamento para a realização dos massacres. Há historiadores que afirmam que pelo menos um ano antes já havia planos de se realizar o genocídio. O partido ligado ao governo, MRND, que tinha entre seus componentes pessoas da elite política hutu, tinha uma facção jovem chamada Interahamwe, que tornou-se uma milícia para realizar as matanças.  Listas com nomes de opositores e de seus familiares foram elaboradas. As armas e listas de pessoas foram entregues a grupos locais. Estações de rádio e jornais com ligação aos extremistas hutus instigavam o ódio, dizendo que se devia “eliminar as baratas” (modo como eles estavam chamando os tutsi) e nomes de pessoas a serem mortas eram lidas por meio de rádio. Na orgia de sangue que começou, até mesmo maridos hutus mataram suas mulheres tutsi e vizinhos hutu matavam seus vizinhos tutsi. A matança foi facilitada pelo fator de que na época constava nas carteiras de identificação se a pessoa era hutu ou tutsi. Houve participação de soldados, policiais e membros de milícias hutus. Muitas mortes aconteceram por golpes de facas ou facões. Fuzis também foram usados. Mulheres tutsi foram levadas aos milhares para serem abusadas por hutus. Há um cálculo de que entre 250 mil e 500 mil mulheres tenham sido violentadas. Há atualmente acusações de que alguns padres e freiras participaram da matança. Houve gangues constituídas por hutus que iam atrás de civis tutsi escondidos em igrejas e escolas para matá-los.

Apesar de existirem tropas da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Bélgica (ex- metrópole colonialista) em Ruanda, não havia uma ordem superior para interferir nos massacres. Os Estados Unidos tinham tido uma experiência ruim na Somália um ano antes e não queriam se envolver. Quando dez soldados belgas foram assassinados, a força belga se retirou junto com a maioria do contingente de soldados da ONU. O governo da França que era aliado do governo hutu, enviou soldados com o objetivo de criar uma zona que seria segura, porém não agiram com suficiente vigor para evitar mortes. O governo atual de Ruanda já fez acusações à França, dizendo que a mesma  teve sua responsabilidade na ocorrência dos massacres que aconteceram.

O fim da matança de tutsi

Com apoio do exército de Uganda, a força da milícia tutsi Frente Patriótica Ruandesa conseguiu, após combates, chegar na capital ruandesa, Kigali. Dois milhões de hutus fugiram para o Zaire (atual República Democrática do Congo), entre eles havia pessoas envolvidas no genocídio. Houve denúncias de grupos defensores dos direitos humanos de que a Frente Patriótica ao tomar o poder matou milhares de hutus na perseguição à  Interahamwe, como uma forma de vingança. No exílio milhares de refugiados morrerem de cólera. A República Democrática do Congo sofreu efeitos dos conflitos entre hutus e tutsis no seu território, sendo que em anos de conflitos, cerca de cinco milhões de pessoas morreram. O governo de Ruanda que está no poder chegou a invadir por duas vezes a República Democrática do Congo para combater milícias hutus. Grupos tutsi neste país receberam armas do governo de Ruanda para combater grupos hutus.

 

Atualidade

 

O presidente atual de Ruanda é Paul Kagame, um líder da Frente Patriótica Ruandesa. Apoiadores dele o elogiam pelo rápido crescimento econômico. Houve esforços dele em transformar Ruanda em um próspero centro tecnológico. Há críticas de opositores de que ele é um governante muito autoritário e que já teria dado ordens para executar adversários. Sobre o genocídio de 1994, houve diversos julgamentos em tribunais locais em Ruanda. Quase dois milhões de pessoas foram julgadas. Na Tanzânia, um país vizinho, houve julgamentos em um tribunal da ONU de líderes dos que executaram massacres. Não se é mais permitido pelo governo em se falar de etnia em Ruanda. O governo alega que assim se evita mais assassinatos. Porém críticos dizem é uma tentativa de se camuflar a realidade, impedindo uma verdadeira reconciliação e consideram que novos conflitos posteriormente possam acontecer. O genocídio teve efeitos duradouros e profundos em Ruanda e nos países vizinhos. Ruanda hoje em dia tem dois feriados em relação ao genocídio. O regime atual ruandense proíbe que se negue o genocidio ou se tente fazer um revisionismo histórico  sobre ele. 


Citação

 

 

“Diferença entre hutus e tutsis

 

A diferença mais significativa entre hutus e tutsis não tem a ver com características físicas ou linguísticas. A questão se relaciona com atividades econômicas e a divisão de poder.

Tradicionalmente, os hutus eram agricultores, enquanto os tutsis, se dedicavam à criação de gado, e neste sentido, os tutsis eram mais ricos que os hutus.

Igualmente, as posições mais altas dentro do reino ruandês estavam destinadas aos tutsis, embora os hutus pudessem participar como conselheiros.

Esta divisão étnica, contudo, não era impedimento para que as pessoas de ambas as etnias se casassem ou servissem o Exército juntas.

A partir de 1916, a Bélgica dominou Ruanda e, a fim de melhor controlar a população, os belgas se aproveitaram da natural divisão étnica que existia no local.

Os tutsis representavam 14% da população ruandesa, enquanto os hutus, 84%; e o restante eram composto por diversas etnias como a twa.

Na década de 20 do século XX, existiam várias teorias raciais na Europa, que buscavam provar a supremacia das raças. Com esta ideia, os belgas introduziram um novo conceito em Ruanda: havia características físicas nos tutsis que os faziam mais capazes intelectual e fisicamente que os hutus.

Portanto, aos tutsis foi dado o direito de ir à escola e ocupar cargos importantes do governo colonial, enquanto os hutus eram marginalizados. Desta maneira, foi crescendo a desconfiança e o rancor entre as etnias.”    Professora de História Juliana Bezerra.

 

Sugestão de vídeos: 

 

Trailer: Hotel Ruanda

https://www.youtube.com/watch?v=3wf8prFBpIM

 

 

ENTENDA O GENOCÍDIO EM RUANDA

https://www.youtube.com/watch?v=aCx5xosJwxg

 

 

Massacre de Ruanda foi um dos maiores genocídios da história mundial

  https://www.youtube.com/watch?v=geOkJ8p6CX8

 

 

 

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Márcio José Matos Rodrigues -Professor de História



Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03OmYhGjIzDpLxULG6Yh--NjQ__2w:1618255392321&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+massacre+de+1994+em+ruanda

 


sexta-feira, 9 de abril de 2021

O escritor brasileiro Aluísio de Azevedo

 







Em 14 de abril de 1857,em São Luís, capital do Maranhão, nasceu o romancista, cronista, contista, caricaturista, diplomata, desenhista, pintor e jornalista brasileiro Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo. Seu pai era o vice-consul português David Gonçalves de Azevedo, viúvo de sua primeira esposa e a mãe era Emília Amália Pinto de Magalhães, que tinha se casado com um comerciante português aos 17 anos, mas que se separou dele porque o mesmo era um homem muito severo. Aluisio sentiu desde criança o impacto da união de seus pais desaprovada pela sociedade, pois não houve casamento oficial. Tinha um irmão mais novo, o dramaturgo e jornalista Artur Azevedo. Na infância já mostrava habilidade para desenhar e pintar e este talento lhe ajudou quando adulto na produção literária. Estudou inicialmente em São Luís, lá ficando até a adolescência e trabalhou nessa cidade como caixeiro e guarda-livros.

Em 1876 foi para o Rio de Janeiro. Lá estuda na Academia Imperial de Belas-Artes. Conseguiu a ocupação de colaborador caricaturista de jornais, entre os quais Fígaro, O Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada. Teve de retornar ao Maranhão, pois seu pai tinha falecido e Aluísio teve de dar apoio financeiro à família. As dificuldades financeiras apertam e deixa por um tempo os desenhos.

Começa como escritor e é publicada sua obra Uma Lágrima de Mulher em 1879, que se caracterizava por ser um livro no estilo dramalhão romântico. Por esse tempo foi colaborador do jornal O Pensador, que era a favor da abolição da escravatura. Seu segundo livro, O Mulato é publicado em 1881, quando estava já fervendo a luta abolicionista. As camadas conservadoras da sociedade da época ficaram escandalizadas porque o autor abordou no livro, de forma bem aberta a questão racial. Essa obra inicia o Naturalismo nos meios literários no Brasil. Nesse tempo o escritor já mostrava ser abolicionista por convicção.

No Maranhã sua obra não é bem recebida, porém na cidade do Rio de Janeiro foi vista como um exemplo da escola naturalista. Ele então volta para esta cidade em setembro de 1871. No período de 1882 até 1895 passa a produzir romances, contos, crônicas e peças de teatro, com seus parceiros  Artur de Azevedo e Emílio Rouède. Os críticos consideraram irregular o conjunto de obras que ele produziu na época, pois por um lado tem características do romantismo de tons melodramáticos, de cunho comercial para o grande público e por outro lado há obras voltadas para o naturalismo.

As obras do autor primeiro eram mais simples, com o objetivo de gerar renda para poder se manter. Mas o autor passou a se preocupar em observar e analisar aspectos dos grupos sociais. Foi assim que surgiram Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). Obras desse tipo contribuíram para se ter uma compreensão da realidade social da cidade do Rio de janeiro no final do século XIX, quando existia uma cruel exploração econômica e uma profunda desigualdade social.

Passa a atuar como diplomata e vai trabalhar nessa área na Inglaterra, Espanha, Itália, Japão, Argentina e Paraguai. Foi morar em Buenos Aires em 1910, sendo cônsul. Nessa cidade tem um relacionamento com a argentina Pastora Luquez, adotando os dois filhos dela. Três anos depois vem a falecer. Era fundador da cadeira número 4 da Academia Brasileira de Letras. Seus restos mortais foram transladados para São Luís, no Brasil, onde estão hoje em dia.

Aluísio de Azevedo foi influenciado por escritores naturalistas europeus, como o francês Émile Zola e o escritor português Eça de Queirós. Também há a influência de ideias deterministas de Hippolyte Taine. Segundo esse teórico, para se compreender o ser humano e sua história deve-se fundamentar em três pontos: o meio, a raça e o momento histórico.

Nas obras do escritor brasileiro certas características do Naturalismo são encontradas, como o fatalismo, assim como o meio social e a hereditariedade influenciando na formação das personalidades. O crítico Alfredo Bosi fez o seguinte comentário sobre Aluísio: "a natureza humana afigura-se-lhe uma certa selvageria onde os fortes comem os fracos.”

Segundo a professora licenciada em Letras Daniela Diana:

“(...) Exímio escritor, Aluísio possui uma vasta obra literária. Escreveu contos, crônicas, romances, críticas, novelas e peças teatrais.

Foi um dos mais emblemáticos escritores da prosa naturalista brasileira. De suas obras literárias merecem destaque:

  • O mulato(1881): obra que inaugura o movimento naturalista no Brasil, denunciando o preconceito racial e criticando o Clero.
  • Casa de Pensão (1884): obra em que descreve a vida de jovens estudantes, habitantes de uma pensão no Rio de Janeiro.
  • O Cortiço (1890): marco do movimento naturalista, essa obra é um retrato da sociedade brasileira do século XIX. Narra as histórias dos habitantes de um cortiço no Rio de Janeiro.

Características das Obras

Como escritor, as principais características de suas obras são: Descrição minuciosa e narrativa lenta; Linguagem simples e regional; Foco na realidade cotidiana; Retrato da sociedade e crítica social; Temas de patologia social; Promiscuidade, adultério e vícios; Personagens simples e degradadas; Animalização dos personagens; Foco no comportamento dos personagens; Decadência moral; Preconceito racial.”

Frases de Aluísio de Azevedo:

 “Confio nos meus dentes, e esses mesmo me mordem a língua!”

“Infeliz daquele a quem não é dado chorar; só o pranto afoga a dor que a vontade não vence destruir”.

“É que seu gênio retraído e seco dava-se maravilhosamente com esses amigos submissos e generosos - os livros; esses faladores discretos, que podemos interromper à vontade e com os quais nos é permitido conversar dias inteiros, sem termos aliás obrigação de dar uma palavra.”

“E o canto daquela guitarra estrangeira era um lamento choroso e dolorido, eram vozes magoadas, mais tristes do que uma oração em alto-mar, quando a tempestade agita as negras asas homicidas, e as gaivotas doidejam assanhadas, cortando a treva com os seus gemidos pressagos, tontas como se estivessem fechadas dentro de uma abóboda de chumbo.”

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura:

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quarta-feira, 7 de abril de 2021

O poeta francês Charles Baudelaire

 




Em 9 de abril de 1821 nascia em Paris o poeta e teórico da arte francesa Charles-Pierre Baudelaire, considerado um precursor do simbolismo. Foi o fundador da tradição moderna em poesia, assim como Walt Whitman. Suas poesias mostram a inquietude, o mal, o degredo e as paixões da alma humana. Seu pai foi François Baudelaire e sua mãe Caroline Defayis, segunda esposa de François. Aos seis anos o pai de Charles morre.

Em 1832 a família de Charles foi morar em Lyon e ele foi estudar no Colégio Real de Lyon (instituição que desagrada Charles Baudelaire, que se rebela contra sua estrutura militar) e no Liceu (escola de Ensino Médio)  Luís o Grande, sendo que dessa instituição foi expulso. Devido ao seu comportamento de desobedecer regras seu padrasto, o general Jacques Aupick,  o enviou à India, mas Charles só vai até a ilha da Reunião e retorna a Paris.Passa a viver sob a influência de drogas e álcool. Quando atinge a maioridade oficial passa a utilizar dinheiro vindo da herança do pai, no total de 75 mil francos, tendo como companhia Jeanne Duval, uma jovem mestiça, que ele conheceu no teatro Porte Saint-Antoine. Nessa época vai morar na Ilha de Sait-Louis, em Paris.  A mãe de Charles ganha então na Justiça, em 1844,  uma ação. Charles vê assim a herança paterna ser controlada por um notário.

Em 1843 ele estreia em uma coletânea literária chamada Vers. Passa a morar no Hotel Pimodan. Nesse tempo conheceu poetas, pintores e marchands. Nesse hotel travou contato com o poeta Theóphile Gautier e conheceu Apolonie Sabatier, por quem depois se apaixonou e o pintor Fernand Boissard.

Baudelaire se engajou na crítica da arte, tendo escrito: "Salão de 1845” e “Salão de 1846”. Postumamente foram publicados os escritos reunidos em dois volumes: “A Arte Romântica, 1868” e “Curiosidades Estéticas, 1868”. Ele foi tradutor de obras do escritor dos Estados Unidos, Edgar Allan Poe.

O livro As flores do mal, é publicado em 1857, com 100 poemas. O nome da obra não foi dada pelo poeta e sim pelo amigo Hyppolyte Babou. Por causa desse livro Baudelaire foi acusado de ser desrespeitoso em relação à moral. Ele é multado em 300 francos e a editora em 100 francos. Os exemplares são apreendidos. Dos poemas do livro, seis foram os que realments incomodaram. O poeta então escreve outros poemas e os inclui na obra, dizendo sobre eles: "mais belos que os suprimidos". Tenta na época entrar na Academia Francesa, talvez para ficar bem aos olhos da mãe ou porque queria agradar ao público, em tempos que a burguesia criticava duramente obras suas.

Baudelaire esteve na Bélgica e teve um encontro com Félicien Rops, que ilustrou sua obra "As flores do mal”. Nesse país fez uma visita à Igreja de Namur e nessa ocasião perdeu a consciência, apresentando sintomas como a afasia, um distúrbio neurológico que se caracteriza por problemas na linguagem, dificultando a capacidade de comunicação.  Em 1866 ele apresenta hemiplegia, que é uma alteração neurológica com paralisia em um dos lados do corpo, causando dificuldade para andar, sentar e até mesmo para falar. Tanto a afasia como a hemiplagia podem ter sido causados por sífilis que Baudelaire contraiu. E com o agravamento dessa doença, Baudelaire veio a falecer em 31 de agosto de 1867, em Paris. Ele pretendia realizar uma edição final de "As flores do mal”. Foi enterrado na capital francesa no Cemitério de Montparnasse.

Baudelaire era um modernista, simbolista e um realista, que não suportava a subjetividade exagerada. Dizia sobre a arte que considerava pura : "É criar uma mágica sugestiva, contendo a um só tempo o objeto e sujeito, o mundo exterior ao artista e o próprio artista." Sua poesia inclinava-se para a expressão de imagens cotidianas. Ele teve a percepção da mudança radical que a metrópole provocava sobre a sensibilidade. Pelas características de sua poesia foi chamado de pai da poesia moderna. A obra de Baudelaire só foi reconhecida após sua morte. A poesia dele não foi bem compreendida por seus contemporâneos e foi marcada pela contradição, pois revela o romantismo de Allan Poe e Gérard de Nerval e também revela-se Baudelaire um crítico que se opôs aos excessos do romantismo francês.  Ele dizia que sua poesia objetivava “extrair a beleza do mal”, fazendo uma comunicação sobre a tragédia essencial do ser humano, dividido entre Deus e o demônio. Baudelaire foi considerado pelo escritor André Breton como o primeiro dos surrealistas. Quando Baudelaire foi enterrado ,discursaram seus amigos poetas Banville e Asselineau, próximos ao seu túmulo.

Citações de autoras:

Primeira citação: 

Segundo a Professora Licenciada em Letras, Daniela Diana: “Os chamados “poetas malditos” (Arthur Rimbaud, Paul Verlaine e Stéphane Mallarmé) sofreram influência da obra de Baudelaire. Até os dias de hoje, sua obra influencia a literatura mundial.”

E ainda disse a professora: "...Em 1838 escreve o poema “Incompatibilité”. Em 1839, por indisciplina, foi expulso da escola. Nesse mesmo ano, conclui o colegial na École de Droit. Nessa época, Baudelaire decide se dedicar à literatura. Faz amizade com os poetas Gustave Le Vavasseur e Ernest Prarond, e passa a levar uma vida de boêmio e muda-se para a pensão Lévêque et Bailly.

Em 1841, pressionado pela família, interrompe seus estudos superiores e é obrigado a embarcar em um navio para Calcutá, na Índia, mas interrompe sua viagem e permanece nas ilhas Maurício. Em 1842 retorna para a França. Nesse mesmo ano, atinge a maioridade e recebe a herança deixada por seu pai. Passa a morar na ilha de Saint-Louis, torna-se um boêmio incurável, que se violentava com ópio e maconha. Escandalizava Paris ao lado da atriz Jeanne Duval, a “dame créole” de um de seus poemas. Outras mulheres de sua poesia foram Madame Sabatier e a atriz Marie Daubrun.

Em dois anos havia desperdiçado metade de sua herança levando sua mãe a entrar com uma ordem judicial, que nomeou um tutor para as suas despesas.

Charles Baudelaire refugia-se no misticismo, em busca de experiências exóticas e procura afirmar sua individualidade e seu desprezo pela sociedade. Em 1847 publica sua única novela “La Fanfarlo”.

Em 1857, ao lançar uma coletânea com os seus mais belos poemas, intitulada “As Flores do Mal”, foi acusado pela lei francesa de atentar contra a moral.

Baudelaire teve sua obra apreendida, sendo obrigado a pagar uma pesada multa. Quatro anos depois, Baudelaire retirou os seis poemas que foram considerados obscenos, e reeditou a obra com mais trinta novos poemas (...)"

Sobre as obras do poeta disse a citada professora:

“Ainda que inclua o idealismo romântico, em grande parte de suas obras, Baudelaire explora temas sombrios e eróticos.

Alguns exemplos são: o sexo, a sensualidade, a morte, a melancolia, a tristeza, o tédio, o diabo, as doenças, dentre outros.

Chegou também a traduzir obras do escritor estadunidense Edgar Allan Poe (1809-1849).

Vale lembrar que muito da sua personalidade boêmia está expressa em seus versos. Confira abaixo suas obras mais relevantes, algumas delas póstumas: La Farfalo (1847); As Flores do Mal (1857); Paraísos Artificiais (1860);Miudezas (1866);Pequenos poemas em prosa (1869);O Princípio Poético (1876).”

 

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Segunda citação:

 

“Benjamin recorre a Freud, a Bergson e a Proust para explicar o complexo mecanismo da memória e sua articulação à temporalidade, e sua relevância na poética de Baudelaire. É no embate entre a defesa contra os estímulos e a percepção de que tais estímulos o afetam que a consciência do poeta (e sua precária identidade) se constrói. Essa construção só pode ser levada a cabo de maneira dupla. Em Baudelaire, essa duplicidade se manifesta de múltiplas formas. Benjamin destacou algumas delas: "Baudelaire fixou esta constatação na imagem crua de um duelo, em que o artista, antes de ser vencido, lança um grito de susto. Esse duelo é o próprio processo de criação. Assim, Baudelaire inseriu a experiência do choque no âmago de seu trabalho artístico."O texto comentado por Benjamin é um dos "pequenos poemas em prosa" de O Spleen de Paris, de Baudelaire, e chama-se "O confiteor do artista". Nele, o artista se assusta subitamente diante da visão de uma natureza idílica, cuja beleza não-mediada, por assim dizer, espontânea e tendencialmente eterna, rivaliza com a do objeto estético a ser projetado pelo poeta, que de antemão prevê sua derrota futura, em termos da realização desse projeto. Não por acaso, nesse texto de inspiração ironicamente anticartesiana, encontra-se próxima (mas não exatamente) ao centro do texto uma longa série de exclamações, em que a descarga dos afetos se concretiza como dissolução ou dispersão da identidade do eu lírico:

“Que grande delícia afogar o olhar na imensidão do céu e do mar! Solidão, silêncio, incomparável castidade do azul! um pequeno veleiro tremulante no horizonte, que imita em sua pequenez e isolamento minha existência irremediável, melodia monótona das vagas, todas essas coisas pensam por mim, ou penso eu por elas (pois na grandeza do devaneio o eu logo se perde!); pensam, dizia, mas musicalmente e pitorescamente, sem argúcias, sem silogismos, sem deduções.” (Baudelaire, O Spleen de Paris. Pequenos poemas em prosa).

Baudelaire repete aqui, de forma ainda mais enfática e irônica, o "je pense" cartesiano, tantas vezes repetido no poema "Le cygne": A subjetividade moderna se define, pois, por um lado, por uma relação diversa com as coisas, pela qual o sujeito ou se torna objeto, ou se dissolve em sua própria subjetividade, e as coisas se humanizam, tornando-se capazes inclusive de "pensar"; por outro lado, é ela que identifica nas coisas traços de um tipo de pensamento musical e pitoresco, "sem argúcias, sem silogismos, sem deduções", e que aparece como desejável. Na interpretação de Benjamin, essa reversão das relações sujeito-objeto não pode ser entendida senão pelo recurso às tremendas modificações introduzidas pelo capitalismo industrial na vida social e na paisagem urbana da Paris do século XIX. Mas esse recurso não se deixa reduzir a relações de causa e efeito, nem admite explicações de tipo psicológico-causal, como assinalou Max Pensky, já que as fontes da poética baudelariana se encontram precisamente nos diferentes modos de relação que se estabelecem entre a visão poética e seus objetos.

Esse complexo jogo de inter-relações entre produção poética e vida social é, pois, uma das formas pelas quais a duplicidade baudelairiana, em sua melancolia, reiteradamente se manifesta para marcar a necessidade de assimilar a visão poética do passado e simultaneamente destruí-la, aliás, para assimilá-la justamente sob o signo de sua negação ou destruição. Nesse sentido, é igualmente pertinente a observação de Winfried Menninghaus, que sublinha uma observação de Benjamin (que centrou sua análise da lírica baudelairiana na figura da métropole), segundo a qual descrições de Paris praticamente não comparecem nos poemas de As flores do Mal, mas nem por isso a figura da metrópole, também enquanto uma figura interna, deixa de ser literariamente relevante.”

E ainda: “De fato, muitos são os elementos que se entrecruzam na relação entre Baudelaire, Benjamin e a tradução, tema que já tem atraído a atenção de alguns estudiosos. A começar pelo fato de Baudelaire ter sido ele mesmo tradutor – e de obras nada secundárias para sua própria poética e para a interpretação que dela faz Walter Benjamin. Cabe aqui lembrar, com Beryl Schlossmann, de dois autores traduzidos por Baudelaire e duas de suas respectivas obras: Edgar Alan Poe (O homem da multidão) e Thomas de Quincey (Confissões de um comedor de ópio). O processo de traduzir essas obras foi fundamental na configuração da própria poética de Baudelaire. Como sublinha Schlossmann, também enquanto tradutor Baudelaire abre caminhos à modernidade (e talvez se deva dizer: à pós-modernidade): sua tradução de De Quincey afirma-se no mesmo plano do original, anulando-se enquanto tradução e afirmando-se como recriação. Essa inversão categorial entre original e tradução – que afinal de contas Benjamin não chega a defender em seu famoso ensaio sobre "A tarefa do tradutor" – é levada a cabo por Baudelaire não apenas nessa tradução especificamente mas também em outros escritos sobre literatura e arte como mostra em seu ensaio Schlossmann”.

Walter Benjamin, tradutor de Baudelaire, Susana Kampff Lages (Professora da Universidade Federal Fluminense. Autora do livro Walter Benjamin: tradução e melancolia)

Alea: Estudos Neolatinos

Alea vol.9 no.2 Rio de Janeiro, 2007

 

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Algumas Poesias de Baudelaire:

“Vampiro
Tu que, como uma punhalada,
Em meu coração penetraste
Tu que, qual furiosa manada
De demônios, ardente, ousaste,

De meu espírito humilhado,
Fazer teu leito e possessão
- Infame à qual estou atado
Como o galé ao seu grilhão,

Como ao baralho ao jogador,
Como à carniça o parasita,
Como à garrafa o bebedor
- Maldita sejas tu, maldita!

Supliquei ao gládio veloz
Que a liberdade me alcançasse,
E ao vento, pérfido algoz,
Que a covardia me amparasse.

Ai de mim! Com mofa e desdém,
Ambos me disseram então:
"Digno não és de que ninguém
Jamais te arranque à escravidão,

Imbecil! - se de teu retiro
Te libertássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!”

 

“As Flores do Mal - A que está sempre alegre
[...]
Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;

E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.[...]”

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“Embriagai-vos!

Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.

Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. Mas, embriagai-vos.

E si, alguma vez, nos degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo que gene, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão:

- É a hora de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!”

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“Teus olhos são lassos, amante!
Olhos em sono a se perder,
Nesta posição tão distante
Pode surpreender-te o prazer
E pelo pátio o jorro de água
Não cala nunca o seu rumor,
E entretém a extasiada mágoa
Em que pode atirar-me o amor.

Mas o amor irradia
E é odor de flores
E de Febo a alegria
Enche-o de cores
E tal chuva desfia
Imensas dores

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A Uma Passante

A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa
Erguendo e balançando a barra alva da saia;

Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.
Eu bebia, como um basbaque extravagante,
No tempestuoso céu do seu olhar distante,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Brilho... e a noite depois! - Fugitiva beldade
De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Não mais te hei de rever senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!
Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,
Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!

 

Correspondências

A Natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam sair às vezes palavras confusas:
Por florestas de símbolos, lá o homem cruza
Observado por olhos ali familiares.
Tal longos ecos longe lá se confundem
Dentro de tenebrosa e profunda unidade
Imensa como a noite e como a claridade,
Os perfumes, as cores e os sons se transfundem.
Perfumes de frescor tal a carne de infantes,
Doces como o oboé, verdes igual ao prado,
– Mais outros, corrompidos, ricos, triunfantes,
Possuindo a expansão de algo inacabado,
Tal como o âmbar, almíscar, benjoim e incenso,
Que cantam o enlevar dos sentidos e o senso.

 

Um hemisfério numa cabeleira


Deixa-me respirar bastante, bastante, o odor de teus cabelos, neles mergulhar toda a minha face, como um homem agitado dentro da água de um manancial e sacudi-los com minha mão como um lenço aromático a fim de abanar as lembranças no ar.

Se pudesses saber tudo o que vejo! tudo o que sinto! tudo o que escuto em teus cabelos! Minha alma viaja sobre o perfume como a alma de outros homens sobre a música. Teus cabelos contêm um sonho inteiro cheio de mastros e de velames; contêm os imensos mares dos quais as monções me transportam a climas encantadores, onde o espaço é mais azul e mais profundo, onde a atmosfera é perfumada pelas frutas, pelas folhas e pela pele humana.
No oceano de tua cabeleira, entrevejo um porto formigando em cantos melancólicos, homens vigorosos de todas as nações e navios de todas as formas desenhando suas arquiteturas delgadas e complicadas sobre um vasto céu onde se emproa o calor eterno.
Nas carícias de tua cabeleira, reencontro os langores das longas horas passadas sobre um divã, no camarote de um belo navio, embalados pelo balanço imperceptível do porto, entre os vasos de flores e as bilhas refrescantes.
No foco ardente de tua cabeleira, respiro o odor do tabaco misturado com o ópio e o açúcar; na noite de tua cabeleira, vejo resplandecer o infinito do azul tropical; sobre as bordas de penugem de tua cabeleira, embriago-me com os aromas do alcatrão, do almíscar e do óleo de coco.
Deixa-me morder longamente tuas tranças espessas e negras. Quando mordisco teus cabelos elásticos e rebeldes, parece-me que devoro lembranças.

Spleen


Quando, pesado e baixo, o céu como tampa
Sobre a alma soluçante, assolada aos açoites,
E que deste horizonte, a cercar toda a campa
Despeja-nos um dia mais triste que as noites;
Quando se transformou a Terra em masmorra úmida,
Por onde essa esperança, assim como um morcego,
Vai tangendo paredes ante uma asa túmida
Batendo a testa em tetos podres, sem apego;
Quando a chuva estirou os seus longos filames
Como as grades de ferro em uma ampla cadeia,
E um povoado mudo de aranhas infames
Até os nossos cérebros estende as teias,
Súbito, os sinos saltam com ferocidade
E atiram para o céu um gemido fremente,
Tal aquelas errantes almas sem cidade
Que ficam lamentando-se obstinadamente.
– E féretros sem fim, sem tambor ou pavana,
Lentos desfilam dentro mim; e a Esperança,
Vencida, chora, a Angústia, feroz e tirana,
A negra flâmula em meu curvo crânio lança.

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Frases:

 

 “A única obra demorada é aquela que não nos atrevemos a começar.”

“Quem não sabe povoar sua solidão, também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão.”

“A imaginação é a rainha do real e o possível é uma das províncias do real.”

“Só nos esquecemos do tempo quando o utilizamos.”

“Todos os grandes poetas se tornam naturalmente, fatalmente, críticos.”

“A felicidade é composta de pequenos prazeres.”

“O poeta é como o príncipe das nuvens. As suas asas de gigante não o deixam caminhar.”

“A imaginação é positivamente aparentada com o infinito.”

“Homem livre, tu sempre gostarás do mar.”

“Aos olhos da saudade, como o mundo é pequeno.”

“Existem manhãs em que abrimos a janela, e temos a impressão de que o dia está nos esperando.”

“Porque o túmulo há sempre de entender o poeta.”

“Eis que alcancei o outono de meu pensamento.”

“Como os finais de tarde outoniços são penetrantes! Ah! Penetrantes até a dor!”

“A alma toma cá um banho de preguiça aromatizado pela saudade e pelo desejo. - É algo crepuscular, azulado e rosado; um sonho voluptuoso durante um eclipse.”

“Na cama está deitada a deusa, a soberana dos sonhos. Mas como é que ela veio aqui? Quem a trouxe, que poder mágico a instalou neste trono de fantasia e de volúpia?”

“Que demônio benévolo é esse que me deixou assim envolto em mistério, em silêncio, em paz e perfumes?”

“Sim o tempo reina; ele retomou sua brutal ditadura. E está-me empurrando, como se eu fosse um boi, com seu duplo aguilhão: "Vai, anda, burrico! Vai, sua, escravo! Vai, vive, maldito!"

“...Minha alma me parecia tão vasta e pura quanto a cúpula do céu que me envolvia.”

“Esses tesouros, esses móveis, esse luxo, essa ordem, esses perfumes, essas flores miraculosas - és tu. Ainda és tu, esses grandes rios e canais tranquilos. Os enormes navios que eles levam, todos carregados de riquezas e de onde sobem os cantos monótonos da manobra, são meus pensamentos que dormem ou resolvem-se no teu peito. Suavemente, tu os conduzes para o mar que é o infinito, espelhando as profundezas do céu na limpidez da tua bela alma; e quando, cansados do marulho e abarrotados de produtos do Oriente, eles regressam ao porto natal, são de novo meus pensamentos enriquecidos que voltam do infinito a ti.”

“Sou apaixonado pelo mistério, porque sempre tenho a esperança de desvendá-lo.”

“Parece-me que sempre estaria bem lá onde não estou, e essa questão de mudança é uma das que não cesso de discutir com minha alma.”

“Valorize acima de tudo o amor que você recebe. Ele continuará a existir muito depois do seu ouro e da sua saúde terem acabado.”

"Tanto no moral como no físico, sempre tive a sensação do abismo, não só do abismo do sono, mas do abismo da ação, do sonho, da lembrança, do desejo, do arrependimento, do remorso, do belo, do número. Cultivei a minha histeria com prazer e terror. Agora, continuo com a vertigem e hoje (...), sofri uma singular advertência : senti passar por cima de mim o vento da asa da imbecilidade".

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura: 

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