terça-feira, 21 de março de 2017

A questão da água e a seca no Nordeste


Considerando que dia 22 de março é o Dia Mundial da Água (foi instituído pela ONU em 22 de março de 1992), decidi escrever este artigo sobre a Seca no Nordeste do Brasil. A água é um recurso essencial para a vida e infelizmente tantos brasileiros na região Nordeste tem durante muito tempo sofrido com diversas secas que tem ocorrido durante a história brasileira.


"Na região Nordeste existe a região do semiárido que é delimitada pela região chamada de Polígono das Secas, criada em 1951 pelo governo federal para combater as secas e diminuir seus efeitos sobre a população sertaneja, compreendendo partes de quase todos estados da região, sendo exceção o estado do Maranhão (por possuir regularidade de chuvas, em relação aos outros estados da mesma região, podendo ainda ser atingido pela seca), além do norte de Minas Gerais. Inicialmente o Polígono abrangia cerca de 950 mil km², estendendo-se basicamente pelas áreas de clima semiárido. Entretanto, após a ocorrência de grandes secas, a área do Polígono foi ampliada, alcançando parte do estado de Minas Gerais, também atingido pelas estiagens. Quando ocorrem períodos prolongados de estiagem, a maior parte da população sertaneja enfrenta muitas dificuldades por causa da falta de água."

As secas ainda são uma realidade para o povo nordestino. Elas fazem parte de todo um cenário que não é só climático. Há toda uma história de descasos, de indiferença por diversos governos, de exploração dos sertanejos por parte de poderosos locais. Um estudioso da questão das ações governamentais em relação às secas, Marco Antonio Villa, ressaltou em sua obra Vida e morte no sertão, o saldo de mortos com as sucessivas secas, de um lado, e o imobilismo das autoridades públicas e da sociedade, de outro, tendo estimado em torno de três milhões de pessoas as vítimas fatais nos século XIX e XX e destacou a seca de 1877-1879 como uma das mais terríveis, dizimando cerca de 4% da população nordestina.

Certos aspectos que o mesmo autor salienta em sua obra são: os efeitos das secas sobre a economia regional e os grandes prejuízos que ocasionam; o fenômeno das migrações, orientadas, ao longo do tempo, para quase todo o Brasil, com destaque para o Maranhão, Pará, Amazonas, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e capitais do Nordeste; o surgimento de expressões, personagens e situações próprias ao universo das secas, como "indústria da seca", a Sudene, os saques, retirantes, epidemias, frentes de trabalho, entre outros.

O autor relata em seu livro que o semi-árido foi transformado em uma região aparentemente sem história por fatores de conservação, considerando-se a permanência e imutabilidade dos problemas. Como se com as décadas ao passarem não tivessem mudado a realidade e o presente fosse um eterno passado.

A seguir um breve histórico das secas no Nordeste nos séculos XIX, XX e início do XXI    https://pt.wikipedia.org/wiki/Seca_no_Brasil):

1808/1809: Seca atinge Pernambuco na região do rio São Francisco. -1824/1825: Seca e varíola juntas definem essa grande seca. Campos esterilizados e fome atingem engenhos de cana-de-açúcar; 1833/1835 - Grande seca atinge Pernambuco- 1844/1846 : Grande fome. O saco de farinha de mandioca foi trocado por ouro ou prata- 1877/1879 : Uma das mais graves secas que atingiram todo o Nordeste. O Ceará, na época, com uma população de 800 mil habitantes foi intensamente atingido. Desses, 120 mil (15%) migraram para a Amazônia e 68 mil pessoas foram para outros Estados-1888/1889; Ceará-1898/1900: Seca atinge Pernambuco-anos de 1930, 1932, 1953,1954, 1958, 1962: Seca na Região Nordeste-1963: Grande parte do Brasil enfrenta uma forte e intensa estiagem, seguida de recordes de calor-1966: Região NE- Seca de 1970:Seguida pelo início da construção da rodovia Transamazônica que visa entre outros objetivos transferência de parte da população mais pobre do NE para as margens extensas da rodovia Transamazônica.-Década de 1980: A década é considerada chuvosa, com apenas dois períodos de estiagem, correspondentes aos anos de 1982 e 1983- Década de 1990 - Os anos de 1993, 1996, 1997, 1998 e 1999 foram anos sofríveis -2012 - Seca na Região Nordeste, considerada a mais intensa das três décadas anteriores e que ainda está presente. 

Entre as medidas tomadas pelos governos na época citada acima (séculos XIX, XX e início do XXI) podem ser citadas: A Regência Trina autoriza a abertura de fontes artesianas profundas em 1831; 1888/1889 - D. Pedro II cria a Comissão Seca (depois Comissão de Açudes e Irrigação em 1888/1889; o governo de Nilo Peçanha cria o Instituto de Obras Contra as Secas (IOCS) em 1909; o Presidente Venceslau Brás reestrutura em 1915 o Instituto de Obras Contra as Secas (IOCS), que passou a construir açudes de grandes portes e Campos de Concentração no Ceará foram criados para isolar a população faminta e impedir-lhe o movimento em direção às cidades; o governo Epitácio Pessoa transforma o IOCS em DNOCS que ainda em 1919 pelo Decreto 13.687 foi chamado de Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas; reutilização dos Campos de Concentração no Ceará com plano de controle social em 1932; Transposição do Rio São Francisco iniciada em 2007.

Vê-se então uma série de ações tomadas pelos governos de diferentes épocas, chegando ao absurdo de se criar campos de concentração. Quanto à Transposição do São Francisco, embora sendo divulgada como uma obra essencial de combate à falta de água em regiões do Nordeste, é também polêmica, tendo sido criticada por especialistas, que questionam os impactos ambientais, a questão política envolvida e se o objetivo de resolver a falta de água seria alcançado. Sugiro que se leiam os seguintes  sites:




Que o Dia Mundial da Água possa servir como um momento de reflexão sobre um elemento importantíssimo para todos nós!


Márcio José Matos Rodrigues - professor de História.


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