quinta-feira, 2 de março de 2017

Imigrantes nos Estados Unidos - Parte 1: Os Irlandeses



Nesta época se debate muito a questão dos imigrantes mexicanos e de outros países nos Estados Unidos. Em virtude disto, resolvi escrever alguns artigos falando sobre povos que emigraram de seus países para o país norte-americano, em especial no século XIX e nos primeiros anos do século XX. Quero ressaltar a importância destes povos, a razão da partida e as dificuldades que passaram. Vou começar pelos irlandeses.

Há cerca de 10.000 anos começaram a chegar os primeiros humanos à Irlanda. Por volta de 300 a. C, os celtas chegaram vindos da Europa continental. A língua oficial da República, o irlandês, deriva da língua celta. No século V os missionários cristãos chegaram na Irlanda e o cristianismo substituiu a religião pagã por volta de 600 d. C.

No final século VIII e durante o século IX os vikings começaram a invadir e fundaram Dublin em 988, que é hoje a capital da Irlanda. Mas anos depois os vikings foram derrotados por um rei irlandês. No século XII chegaram os normandos (descendentes dos vikings que haviam se estabelecido no norte da França e conquistaram a Inglaterra em 1066), que construíram cidades muradas, castelos e igrejas, desenvolvendo também o comércio e a agricultura.

Quando Henrique VIII era rei da Inglaterra, ele fez que o Parlamento Irlandês o declarasse rei da Irlanda em 1541. A partir daqueles tempos até o fim do século XVII, o sistema agrícola implantado pelos ingleses causou a chegada de colonos protestantes ingleses e escoceses. Começaram aí os conflitos religiosos.

No século XVII houve a imposição das leis penais. Essas leis ditavam a retirada de poder dos católicos, negando-lhes o direito à empréstimos ou a posse de terras acima de um determinado valor, o clero católico foi declarado ilegal, foi proibida a educação superior e a profissionalização. No século XVIII houve um abrandamento no cumprimento das leis penais, mas em 1778 os católicos detinham somente cerca de 5% das terras na Irlanda.

Em 1798, sob influência da Revolução Francesa,  houve uma rebelião contra a Inglaterra, com os rebeldes sendo apoiados pela França. Mas a rebelião falhou e em 1801 foi aprovada a Act of Union (Lei da União), unindo politicamente a Irlanda à Grã-Bretanha.

Em 1829, o líder irlandês Daniel O'Connel lutou pela aprovação da lei de Emancipação Católica no parlamento em Londres e conseguiu eliminar a proibição total de voto para os católicos.

Durante o período colonial, no século XVII, de 50.000 a 100.000 irlandeses, mais de 75% deles católicos, emigraram para as colônias inglesas na América. No século XVIII, mais 100.000 católicos irlandeses chegaram. Irlandeses que trabalhavam sob o sistema de servidão formavam o grupo mais comum.

A partir da década de 1820 já havia uma forte crescimento imigratório de irlandeses para os Estados Unidos, mas o auge da imigração foi durante a Grande Fome de 1845-1849. Nessa época, houve uma praga que arrasou as plantações de batata, o principal produto agrícola que servia de alimento à população irlandesa. Cerca de um milhão de pessoas morreu de fome e mais de um milhão teve de emigrar para sobreviver, a maioria para os Estados Unidos. As condições dos navios eram terríveis e os índices de mortalidade entre os viajantes chegavam a 30%.


Muitos cidadãos irlandeses, que tiveram sua estrutura familiar abalada pelo caos da Grande Fome, em décadas posteriores acabavam migrando para os Estados Unidos. A maioria desses imigrantes se instalava na parte nordeste, principalmente nos grandes centros urbanos, onde criavam suas próprias comunidades. E no início da imigração, os imigrantes católicos sofriam preconceito.


Muitos irlandeses desempregados ou muito pobres viviam em condições precárias nas cidades dos Estados Unidos. Eram os mais pobres de todos os grupos de imigrantes que chegaram aos Estados Unidos no século XIX. Mas por volta de 1900, mesmo havendo muita pobreza entre os trabalhadores imigrantes irlandeses de cidades como Chicago e Boston e Nova York, no geral, muitos imigrantes já tinham emprego e renda igual à média americana. Depois de 1945, os irlandeses católicos consistentemente ascenderam ao topo da hierarquia social, graças principalmente à sua elevada taxa de graduação em faculdade.


A pobreza de muitos  irlandeses e seus descendentes nos séculos XIX e início do XX influenciou na participação de alguns deles em gangs, ficando alguns deles famosos como George “Bugs” Moran, filho de um irlandês e de uma polonesa, chefe de uma gang e que enfrentou Al Capone em Chicago nos anos 20 do século XX.

A participação irlandesa na cultura, na política e na economia dos Estados Unidos é muito significativa e um dos presidentes desta nação era descendente de irlandeses: John Kennedy. E um dos outros destaques foi Henry Ford, um famoso industrial.

Abaixo cito uma parte de um  texto sobre a Grande Fome, de Mark Thornton, que defende que a maior responsável pela morte de tantos irlandeses foi muito mais a política econômica inglesa que a praga (um fungo) que atingiu as batatas:  

"Há teorias que dizem que os ingleses propositadamente geraram a grande fome irlandesa.  Como aquela era uma era de revoluções, e dado que havia suspeitas de que os irlandeses estavam tramando mais uma revolta, trata-se de uma teoria relativamente factível.

No entanto, a questão da culpa não é tão importante quanto a questão da causa.  O que é realmente importante é que a grande fome irlandesa originou-se de grandes erros econômicos.

 A Irlanda foi devassada pelas forças econômicas originadas por um dos mais poderosos e agressivos Estados que o mundo já conheceu.  Sua população sofreu não por causa de um fungo (cujos cientistas ingleses insistiam ser apenas umidade excessiva), mas sim por causa da colonização, da espoliação, da servidão, do protecionismo, dos preços artificialmente altos sustentados pelo governo, do assistencialismo estatal e de insensatos programas de obras públicas."



              Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


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