domingo, 6 de setembro de 2020

Ascensão e queda do imperador francês Napoleão III

 

 

 

 


 

 

 

 

Em 4 de setembro de 1870 era extinto o império e proclamada a Terceira República na França. Era o fim da monarquia de Napoleão III. Na verdade a deposição do imperador estava ligada à grande derrota francesa para o exército prussiano na cidade francesa de Sedan em primeiro de setembro. Napoleão III fora feito prisioneiro e ficou durante meses preso pelos prussianos.

 

A batalha de Sedan fez parte da guerra franco-prussiana que iniciou-se devido a uma questão que envolvia a sucessão do trono espanhol. Napoleão III, cujo nome era Charles-Louis Napoléon Bonaparte não aceitava a possibilidade de que um primo alemão do rei da Prússia pudesse ascender ao trono espanhol, pois temia uma aproximação política entre a Espanha e a Prússia, que era considerada perigosa à França.  Por outro lado, o poderoso ministro Bismarck, grande líder político da Prússia, tinha a vontade de uma guerra com a França, pois o governo francês se opunha à unificação alemã. O desentendimento devido a essa questão da sucessão na Espanha levou ao início da guerra.

 

A guerra continuou até o ano seguinte, mesmo com a captura de Napoleão III e a rendição das tropas que ele liderava em Sedan, sendo a Prússia e Estados alemães aliados unificados no Império Alemão, que obteve como ganho a região da Alsácia e parte da Lorena, com populações em grande parte descendentes de alemães. Napoleão III viria a morrer em 9 de janeiro de 1873, na Inglaterra, país onde estava exilado após sua libertação pela Prússia.

 

Quem foi esse imperador mal sucedido em derrotar a Prússia e que acabou favorecendo a unificação da Alemanha?

 

Luís Napoleão Bonaparte nasceu em Paris, em 20 de abril de 1808. Seu pai oficial era o rei Luís I, da Holanda, irmão de Napoleão Bonaparte, imperador da França. Foi descoberto depois, em 2014, por meio de pesquisa genética, que ele não era na verdade sobrinho de Napoleão. 

 

Luís Bonaparte tornou-se o herdeiro de Napoleão como pretendente do trono da França após a morte de seu irmão mais velho e, mais tarde, do filho de Napoleão, em 1832. Tentou incentivar um grupamento do exército francês em Estrasburgo contra o governo do rei Luís Filipe em 1836. Publicou o livro As ideias napoleônicas, em 1839. Em 1840 tentou uma nova movimentação contra Luís Filipe, na chamada “Conspiração de Bolonha”, mas fracassou e ficou preso em uma fortaleza. Lá escreveu A extinção do pauperismo. Em 1846 fugiu da prisão e foi para Londres, na Inglaterra.

 

Em 1848 uma revolução depõe o rei Luís Filipe. Luís Bonaparte regressa à França para tentar uma vaga na Assembleia Constituinte, conseguindo ser deputado. Dizia-se defensor da ordem, dos ideais napoleônicos e da estabilidade social. Aliou-se ao Partido da Ordem e aproximou-se dos conservadores (que tinham medo das ideias socialistas), dos burgueses liberais e das forças armadas, que desejavam a volta das glórias militares. Ele baseava-se no mito napoleônico para angariar apoio de várias camadas da sociedade francesa. Com o apoio obtido conseguiu ser eleito Presidente da República, passando a exercer a presidência em dezembro de 1848. Mas Luís queria mais poder, passando a ir contra pessoas e partidos que fossem contra suas ambições.

 

O presidente Luís Bonaparte desejava continuar no governo, mas o mandato francês era de 4 anos e não era permitida a reeleição. Em seu governo nessa época  passou a controlar a imprensa e a fortalecer o ensino religioso.

 

Para realizar seu desejo de permanecer governando, ele e seus aliados da Sociedade 10 de Dezembro, formada por amigos seus, envolvidos em negócios suspeitos, passaram a planejar um golpe político. Ele se colocava como um salvador da pátria.

 

Em 2 de dezembro de 1851, Luís Bonaparte mandou dissolver a Assembleia Legislativa. Realizou um plebiscito que confirmou que continuaria no poder e ele então se tornou um consul, com poderes por dez anos. Em novembro de 1852, com o apoio da grande burguesia, conseguiu resultado favorável em novo plebiscito, que possibilitou a criação do Segundo Império. E assim, exerceu um poder autoritário, restringindo as ações da imprensa e do Parlamento. Sobre essa ascensão disse o estudioso alemão K. Marx: “A França, portanto, parece então ter escapado do despotismo de uma classe apenas para cair sob o despotismo de um indivíduo e o que é ainda pior, sob a autoridade de um indivíduo sem autoridade”  E  ainda disse : “Bonaparte gostaria de aparecer como o benfeitor patriarcal de todas as classes. Mas não pode dar a uma classe sem tirar de outra”. Para Marx, em sua obra o 18 do Brumário de Luís Bonaparte, esse tinha formado um Estado muito centralizador e imperialista, em benefício da burguesia e  segundo a mesma análise, Napoleão III  não era um “herói” e sim um farsante.

 

O governo de Napoleão III  favoreceu a industrialização, a urbanização de Paris, a realização de obras públicas o desenvolvimento agrícola e o sistema ferroviário. No final do Império muitas limitações políticas deixaram de existir e o regime tornou-se mais liberal. Sua base de apoio principal era o Clero, as forças armadas e a burguesia. Camponeses conservadores também o apoiavam.

 

Seu governo teve uma política externa marcada pela participação do exército francês na Guerra da Crimeia contra o Império Russo; pela intervenção na Argélia; pelo envio de tropas à China na Segunda Guerra do Ópio e a invasão da Conchinchina (sul do Vietnã); o confronto com forças austríacas na Itália e a invasão do México, onde chegou a colocar um monarca em substituição ao presidente mexicano (essa guerra no México trouxe muitas despesas à França). Houve em alguns momentos apoio a povos que desejavam sua emancipação política como no caso da Moldávia e da Valáquia contra o Império Turco-Otomano.

 

Em 1870 o governo de Luís Bonaparte já se encontrava enfraquecido e a guerra contra a Prússia apresentava-se como uma forma de conseguir mais apoio popular, mas o imperador francês subestimou o poderio industrial e militar prussiano, que tinha armas mais modernas e mais poderosas, com um exército numeroso, contando com o apoio de outros Estados alemães. E assim, foi derrotado, aprisionado e deposto, para terminar seus últimos dias na Inglaterra.

 

O exemplo da ascensão e queda de Napoleão III mostra toda uma série de políticas envolvendo um líder que não teve escrúpulos para conseguir ser primeiramente presidente e depois consul e imperador. Um homem movido pela sua ambição dentro de um contexto histórico em que trabalhadores e parte dos camponeses lutavam por mais direitos e espaço político e, por outro lado, uma burguesia industrial ávida por se expandir e forças armadas desejosas de glórias, ao mesmo tempo que setores religiosos temiam mudanças. Assim como seu tio Napoleão Bonaparte, Luís quis um grande poder e fez tudo que podia para conseguir. Embora os dois tenham se valido de golpes para ascenderem, a história não foi igual e o segundo na verdade se valeu de um mito existente sobre seu tio para colocar-se como seu herdeiro e poder a partir daí ser elaborada uma imagem dele como também um líder nacionalista glorioso, sendo que ele era um homem comum ( não tinha um forte histórico intelectual e nem militar, assim como não tinha se destacado anteriormente na História da França como um líder político).

 

Quando houve a queda política de  Napoleão III, isso aconteceu em um momento de dificuldades econômicas e enfraquecimento político interno de seu império. Isso influenciou na decisão de mover uma derradeira ação de resgatar seu poder nacionalmente por meio de uma guerra, ao mesmo tempo que procurava mostrar uma posição de uma França mais poderosa militarmente do que era de fato. A última grande decisão do imperador francês (que levou à guerra com a Prússia), teve considerável influência em condições que contribuíram anos mais tarde para a ocorrência da I Guerra Mundial.

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

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