quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O poeta romântico brasileiro Fagundes Varela

 







Em 18 de fevereiro de 1875 falecia em Niteroi, Rio de Janeiro, o poeta de estilo romântico (na fase chamada de “Mal-do-século” ou “Ultrarromântica”) Luís Nicolau Fagundes Varela, mais conhecido como Fagundes Varela. Foi um poeta de destaque no seu tempo, tendo sido patrono na Academia Brasileira de Letras. Fez parte da transição entre a terceira e a quarta geração romântica. Existe muito lirismo bucólico em obras dele. É considerado pelos estudiosos o precursor da poesia social e abolicionista.

As características de suas obras são: Fuga da realidade; Morbidez; Pessimismo; Exagero sentimental; Individualismo; Temática amorosa; Idealização da mulher; Mal do Século: tédio e melancolia; Locushorrendus: lugar tempestuoso.

Ele era bisneto do Barão do Rio Claro. Nasceu em São João Marcos, que hoje em dia é Rio Claro (RJ), em 17 de agosto de 1841. Seu pai era o juiz Emiliano Fagundes Varela e sua mãe Emiliano Fagundes Varela, oriundos de famílias com recursos na província do Rio de Janeiro. A infância do poeta foi na fazenda da família e na vila de São Marcos. Foi morar em Catalão, em Goiás, por causa da transferência de seu pai em 1851. Anos depois o poeta residiu em Angra dos Reis e Petrópolis. Nessa cidade realizou seus estudos primário e secundário. Fez seu estudos preparatórios em São Paulo. Entrou em 1862 na Faculdade de Direito (frequentou esse curso em São Paulo e em Recife), mas não chegou a terminar o curso porque escolheu seguir o caminho da literatura e também envolveu-se com a boemia. Seu primeiro livro, Noturnas, foi publicado em 1861. O livro tinha somente 32 páginas, com influência do poeta Byron e outros poetas românticos.

 

Casou-se aos 20 anos com a artista de circo Alice Guilhermina Luande, de Sorocaba. Tal fato causou um escândalo em sua família e o poeta teve dificuldades financeiras graves. Ao morrer seu primeiro filho, Emiliano, com três meses de idade, o poeta escreveu inspirado nesse fato triste o poema “Cântico do Calvário”. O poeta Manuel Bandeira comentou sobre o poema:

 

"...uma das mais belas e sentidas nênias da poesia em língua portuguesa. Nela, pela força do sentimento sincero, o Poeta atingiu aos vinte anos uma altura que, não igualada depois, permaneceu como um cimo isolado em toda a sua poesia."

Foi a partir desse acontecimento triste na vida dele que se por um lado se deixou levar cada vez mais pelo alcoolismo também por outro lado teve aguçada a sua inspiração para escrever. Assim, publicou as obras Vozes da América (1864) e Cantos e fantasias (1865), considerada a sua obra-prima. Aproximadamente em 1866 Alice Luande falece, quando Fagundes Varela tinha viajado para Recife. Depois ele chegou a morar em Paris. Tentou voltar ao curso de Direito em 1867, porém abandonou de novo o curso indo morar na casa do pai, na fazenda de sua infância. Casou-se com a prima Maria Belisária de Brito Lambert em 1869, tendo com ela duas filhas e um filho que faleceu logo. Fica morando na casa do pai, escrevendo poesias e aproveitando a natureza. Não perdeu o hábito da boemia. Viveu o fim de sua vida com o pai em Niteroi a partir de 1870, indo vez ou outra para fazendas de parentes, pois gostava muito do campo. Frequentando círculos boêmios no Rio de Janeiro e sendo sustentado pelo pai, veio a falecer aos 33 anos de derrame (AVC).

 

Segundo a Professora licenciada em Letras Daniela Diana: “Sua poesia, além de abordar temas sociais e políticos, foca em temas como a solidão, a melancolia, a angústia, a desilusão e o desengano. Algumas de suas obras são: Noturnas (1861); Cântico do Calvário (1863); Pendão Auri-verde (1863); Vozes da América (1864); Cantos e Fantasias (1865);Cantos Meridionais (1869); Cantos do Ermo e da Cidade (1869); Anchieta ou Evangelho na Selva (1875); Cantos Religiosos (1878); Diário de Lázaro (1880)”. 



 

 

Algumas poesias de Fagundes Varela:

 

Cântico do Calvário (À memória do filho do poeta que morreu em 11 de dezembro de 1863)

Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O povir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, — caíste! — Crença, já não vives!

Oh! quantas horas não gastei, sentado
Sobre as costas bravias do Oceano,
Esperando que a vida se esvaísse
Como um floco de espuma, ou como o friso
Que deixa n’água o lenho do barqueiro!
Quantos momentos de loucura e febre
Não consumi perdido nos desertos,
Escutando os rumores das florestas,
E procurando nessas vozes torvas
Distinguir o meu cântico de morte!
Quantas noites de angústias e delírios
Não velei, entre as sombras espreitando
A passagem veloz do gênio horrendo
Que o mundo abate ao galopar infrene
Do selvagem corcel?... E tudo embalde!

Mas não! Tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Talvez das ondas no respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe,
No vulto solitário de uma estrela,
E são teus raios que meu estro aquecem!
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“Tristeza”:

Minh’alma  é como o deserto
De dúbia areia coberto,
Batido pelo tufão;
É como a rocha isolada,
Pelas espumas banhadas,
Dos mares na solidão.

Nem uma luz de esperança,
Nem um sopro de bonança
Na fronte sinto passar!
Os invernos me despiram
E as ilusões que fugiram
Nunca mais hão de voltar! (...)

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"Flor do Maracujá":

Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!
Por tudo que o céu revela!
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está! ...
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!

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"A Dança de Salomé"

Ela volteia, a doida bailarina!
Na dança figurada, aos ágeis passos
Mistura os mais garridos movimentos,
Os gestos ais lascivos. Arquejante,
Às vezes para do salão no centro,
Suspira e cerra os olhos... Vai quem sabe?
Sucumbir de cansaço! Mas engano!
Reanima-se, ri, levanta os braços. (...)

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"O que eu adoro em ti não são teus olhos,
teus lindos olhos cheios de mistério,
por cujo brilho os homens deixariam
da terra inteira o mais soberbo império.

O que eu adoro em ti não são teus lábios,
onde perpétua juventude mora,
e encerram mais perfumes do que os vales
por entre as pompas festivais da aurora.

O que eu adoro em ti não é teu rosto
perante o qual o marmor descorara,
e ao contemplar a esplêndida harmonia
Fídias, o mestre, seu cinzel quebrara.

O que eu adoro em ti não é teu colo,
mais belo que o da esposa israelita,
torre de graças, encantado asilo,
aonde o gênio das paixões habita.

O que eu adoro em ti não são teus seios,
alvas pombinhas que dormindo gemem,
e do indiscreto vôo duma abelha
cheias de medo em seu abrigo tremem.

O que eu adoro em ti, ouve, é tu'alma,
pura como o sorrir de uma criança,
alheia ao mundo, alheia aos preconceitos,
rica de crenças, rica de esperança.

São as palavras de bondade infinda
que sabes murmurar aos que padecem,
os carinhos ingênuos de teus olhos
onde celestes gozos transparecem!...

Um não sei quê de grande, imaculado,
que faz-me estremecer quando tu falas,
e eleva-me o pensar além dos mundos
quando, abaixando as pálpebras, te calas.

E por isso em meus sonhos sempre vi-te
entre nuvens de incenso em aras santas,
e das turbas solícitas no meio
também contrito hei-te beijado as plantas.

E como és linda assim! Chamas divinas
cercam-te as faces plácidas e belas,
um longo manto pende-te dos ombros
salpicado de nítidas estrelas!

Na doida pira de um amor terrestre
pensei sagrar-te o coração demente...
Mas ao mirar-te deslumbrou-me o raio...
tinhas nos olhos o perdão somente!".

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Serão os gênios da tarde
Que passam sobre as campinas,
Cingido o colo de opalas

E a cabeça de neblinas,
E fogem, nas harpas de ouro
Mensagens a dedilhar?

São os sabiás que cantam...
Não vês o sol declinar?

Ou serão talvez as preces
De algum sonhador proscrito,
Que vagueia nos desertos,
Pedindo a Deus um consolo
Que o mundo não pode dar?

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Quem és tu, pobre vivente,
Que vagas triste e sozinho,
Que tens os raios da estrela,
E as asas do passarinho?
A noite é negra; raivosos
Os ventos correm do sul;
Não temes que eles te apaguem
A tua lanterna azul?
Quando tu passas, o lago
De estranhos fogos esplende,
Dobra-se a clícia amorosa,
E a fronte mimosa pende.
As folhas brilham, lustrosas,
Como espelhos de esmeralda;
Fulge o iris nas torrentes
Da serrania na fralda.
O grilo salta das sarças;
Piam aves nos palmares;
Começa o baile dos silfos
No seio dos nenufares.
A tribo das mariposas,
Das mariposas azuis,
Segue teus giros no espaço,
Mimosa gota de luz!
São elas flores sem haste;
Tu és estrela sem céu;
Procuram elas as chamas;
Tu amas da sombra o véu!
Quem és tu, pobre vivente,
Que vagueias tão sozinho,
Que tens os raios da estrela,
E as asas do passarinho?

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+fagundes+varela&sxsrf=ALeKk03womIsOjX_zTkfFd5-4QOuv0MKPQ:1614282319513&tbm=isch&source=i

 

 

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