sexta-feira, 2 de abril de 2021

O escritor francês Émile-Édouard-Charles-Antoine Zola

 





Em 2 de abril de 1840 nasceu em Paris o famoso escritor francês Émile-Édouard-Charles-Antoine Zola, que pertenceu ao movimento literário chamado Naturalismo. Também foi participante de movimentos políticos pela liberdade. Há fortes suspeitas de ter sido assassinado devido ao artigo em que protestava e acusava os que elaboraram um processo falso contra o oficial francês de origem judaica, Alfred Dreyfus.

Zola era filho de François Zola (originalmente Francesco Zola), um engenheiro italiano e da francesa Émilie Aubert. Passou sua infância em Aix-em-Provence, tendo estudado no Collège Bourbon (atualmente conhecido como Collège Mignet). Aos 18 anos vai para Paris e passa a estudar no Lycée Saint-Louis. Estando com sérias dificuldades financeiras quando o pai morreu, Zola vai trabalhar em escritórios, em cargos de pouca influência. Seu início no jornalismo acontece quando escreve para os jornais Cartier de Villemessant's e Controversial. Fazia duras críticas ao imperador Napoleão III e ao conservadorismo religioso. Críticos literários não gostaram da obra de tipo autobiográfico de Zola, La Confession de Claude (1865).Também criticaram o romance Thérese Raguin, de 1866. Nessa obra foi inovador, com inspiração em aspectos científicos daqueles tempos, indo além de um romance para fazer também uma análise detalhada do ser humano e da sociedade. Foi o início de um movimento literário novo, o Naturalismo, que se originou das análises científicas sobre os seres humanos, com base em teorias como o darwinismo, o evolucionismo e o determinismo científico. Em 1880 Zola publicou o texto O romance experimental, o manifesto literário do movimento chamado Naturalismo.

 

Zola casou-se com Alexandrine Meley em 1870, com quem já tinha um envolvimento amorosos por cinco anos e em 1888 teve um caso fora do casamento com Jeanne Rozerot e desse relacionamento que durou 14 anos o casal teve dois filhos.

 

Em 1871, Zola começou a executar seu grande projeto: a série Os Rougon-Macquart (Les Rougon-Macquart), com subtítulo de História natural e social de uma família sob o segundo império. Esta série possui 20 romances com base naturalista e foi escrita no período de 1871 a 1893. A inspiração para Zola escrever esses romances foi a obra de 89 romances de Honoré de Balzac, um grande escritor francês que viveu no século XIX. No prefácio do livro A Fortuna dos Rougon, de 1871, Zola escreveu:

 

Eu desejo explicar como uma família [os Rougon-Macquart], um grupo reduzido de seres humanos, conduz a si mesma dentro de um determinado sistema social (…) dando origem a dez ou vinte membros, que, embora possam parecer, à primeira vista, profundamente divergentes uns dos outros, são, como a análise demonstra, mais intimamente ligados por meio da afinidade. Hereditariedade, como a gravidade, tem suas leis

O escritor procurou seguir quando escreveu  Os Rougon-Macquart o método científico que existia na época, considerando as influências do meio e da hereditariedade na constituição das personalidades dos indivíduos.

Uma segunda série de livros escrita por Zola foi As três cidades, que tratava de questões religiosas e sociais. Com base em  idéias socialistas e também tendo uma visão estilo messiânico a respeito do destino da Humanidade, foi escrita uma terceira série que não foi terminada pelo autor: Os quatro evangelhos. Mesmo tendo escrito muitas obras com ótimo valor literário, Zola não conseguiu entrar na Academia Francesa de Letras, tendo sua candidatura sido negada por 24 vezes. Os amigos pintores famosos Zola Paul Cézanne (1839-1906), Claude Monet (1840-1926), Edgar Degas (1834-1917) e Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) romperam a amizade com ele por se sentirem ofendidos pelo que o escritor disse em seu livro A obra, escrito em 1886.

O livro que mais consagrou Zola como escritor foi Germinal (1885), o décimo terceiro da série Les Rougon-Macquart. Nesse romance o autor passou dois meses como mineiro em uma mina de carvão e procurou conhecer bem o meio dos trabalhadores. Na obra ele descreve com minúcias as duríssimas condições dos trabalhadores de uma mina de carvão na França. Na obra os mineradores se organizam contra a opressão dos que os exploram e iniciam uma greve por melhores condições, sendo reprimidos, restando a esperança de conquistas por meio de lutas.   

O escritor Zola também foi um ativista político. Sua obra de maior repercussão na política foi a carta aberta J'acccuse (Eu Acuso), para o presidente da França  publicada no jornal L'Aurore, em Paris, em 13 de janeiro de 1898. Nessa carta havia a acusação de antissemitismo ao governo francês em relação ao caso Dreyfus ( ver nota de rodapé), um capitão francês de origem judaica que foi condenado injustamente por espionagem. A publicação da carta fez com que Zola fosse condenado por difamação e condenado a uma ano de prisão, mas ele embarcou para a Inglaterra, escapando de ser preso. Voltou quando teve resposta positiva a seu favor contra a acusação.

  

Em 29 de setembro de 1902, aos 62 anos, Zola faleceu em sua casa em Paris por causa de inalação de uma excessiva quantidade de monóxido de carbono vinda de uma lareira com defeito. Pesquisadores levantam a hipótese de assassinato por causa do engajamento político do escritor.

 

___________________________________________________

*A carta de Zola e o caso Dreyfus

  ”No dia 13 de janeiro de 1898, o escritor Émile Zola revelava ao público francês uma grande farsa. Denunciando o Tribunal e o Alto Comando Militar da França, Zola publicou no jornal L’Aurore uma longa carta revelando a fraude contra Alfred Dreyfus.

Denominada J’accuse! (Eu Acuso!), a carta revelava que o exército condenou Dreyfus à prisão perpétua baseado em documentos falsos, e acobertado por ondas de nacionalismo e xenofobia.

O caso Dreyfus

Era 1894 quando o capitão de artilharia Alfred Dreyfus foi acusado de vender informações secretas aos alemães. Condenado pelo seu próprio exército e sofrendo com as ondas de antissemitismo que assolavam a Europa, Dreyfus foi sentenciado à prisão perpétua na Guiana Francesa e acabou ficando isolado por quatro longos anos, até que muitas vozes se levantassem para defendê-lo.

A acusação foi feita 24 anos após a Guerra Franco-Prussiana, quando a França já tinha conseguido se reconstruir e experimentava um período de florescimento cultural e econômico, no contexto da Belle Époque. Os franceses temiam que uma nova guerra contra a Alemanha abalasse a prosperidade do país, e colocavam toda sua confiança nas Forças Armadas.

 A acusação de Dreyfus veio da necessidade em proteger segredos estratégicos. Um novo e poderoso canhão de guerra estava sendo construído, mais eficiente que qualquer arma do Exército Alemão. Para resguardar essa informação, os franceses criaram uma série de documentos falsos sobre outra arma, que deveriam ser entregues aos alemães por um “espião”.

Para que a mentira funcionasse, tanto os documentos quanto o espião deveriam ser “apanhados”. E a vítima escolhida foi o introvertido Dreyfus, membro de uma família de industriais judeus-alemães e que já era visto com desconfiança entre seus pares.

Inocente

Quatro anos depois, personalidades resolveram levantar a voz contra essa fraude. Mudando a opinião do povo ao provar que o exército falsificara documentos, a carta de Émile Zola — junto a denúncias do poeta Charles Péguy e de compositores como Alfred Bruneau — levou Dreyfus a deixar a prisão, e em julho de 1906 sua inocência foi oficialmente reconhecida.” (Joseane Pereira, Aventuras na História, 13 de janeiro de 2020).

Trecho da carta sobre o caso Dreyfus escrita por Zola:

“E será à sua Excelência, senhor Presidente, que dirigirei meus clamores, a verdade, com toda força da minha revolta de homem honesto. Conheço a sua honra e, por isso, sei que ignora a verdade. A quem mais eu poderia denunciar a turba malfeitora dos verdadeiros culpados, que não à Sua Excelência, o primeiro magistrado do país? A verdade, para começar, sobre o processo e a condenação de Dreyfus. Um homem nefasto, responsável por tudo, autor de tudo, é o comandante du Paty de Clam, naquele momento um simples oficial. Ele é a personificação do caso Dreyfus; nada será esclarecido até que uma investigação imparcial tenha estabelecido claramente seus atos e sua responsabilidade. Ele representa uma figura nebulosa, a mais complicada, obcecado pelas intrigas romanescas, comprazendo-se, à maneira dos folhetins baratos, com papéis que desaparecem, cartas anônimas, encontros e lugares desertos, mulheres misteriosas que carregam, à noite, provas irrefutáveis. Ele imagina ter ditado o documento a Dreyfus; é ele que sonha estudá-lo em um cômodo inteiramente revestido de espelhos, é ele que o comandante Forzinetti nos representa, empunhando uma lanterna velada, desejando se aproximar do acusado adormecido, para projetar sobre seus olhos um jato de luz e surpreendê-lo então em seu crime, na confusão do sonho. Não tenho mais nada a dizer: se procurar, alguma coisa aparece. Declaro simplesmente que o comandante du Paty de Clam, encarregado de instruir o caso Dreyfus, como representante da justiça, e, segundo a cronologia e a importância dos fatos, é o primeiro culpado do erro judicial que foi cometido (...)”

 

Outro trecho:

 

“...Assusta o que o caso Dreyfus acabou revelando, esse sacrifício humano de um infeliz, de um “Judeu porco”! Ah!, que agitação de demência e imbecilidade, de imaginações estúpidas, de práticas de políticas mesquinhas, de costumes inquisitoriais e tirânicos, a satisfação de alguns oficiais agaloados esmagando a nação com suas botas, enfiando goela abaixo seu grito de verdade e justiça, sob o pretexto mentiroso e sacrílego da razão de estado! E é um crime ainda terem se apoiado na impressa imunda, terem se deixado defender por toda a canalha de Paris, de modo que é essa canalha que triunfa insolentemente, diante da derrota do direito e da simples probidade. É um crime terem acusado de perturbar a França aqueles que a querem generosa, na vanguarda das nações livres e justas, quando tramaram eles próprios a impudente conspiração para impor o erro ao mundo inteiro. É um crime confundir a opinião pública, utilizar para uma sentença fatal essa opinião pública que foi corrompida até o delírio. É um crime envenenar os pequenos e humildes, exasperar as paixões de reação e de intolerância, abrigando-se atrás de um odioso anti-semitismo, de que a grande França liberal dos direitos do homem sucumbirá, se não for curada. É um crime explorar o patriotismo para as obras do ódio; é um crime, por fim, fazer do sabre o deus moderno, quando toda a ciência humana está a serviço da obra iminente da verdade e da justiça (...)”

 

______________________________________________________

 

“A partir de 1871, Zola trabalhou em um ciclo de vinte romances de cunho realista-naturalista. “Les Rougon-Macquart”, que tinha como subtítulo "História Natural e Social de uma Família no Segundo Império".

Zola traça uma evolução genealógica dos Rougon-Macquart ao longo de cinco gerações, onde mais de mil personagens fazem parte de intrigas, invejas e ambições.  O resultado foi uma combinação de precisão histórica, riqueza dramática e um retrato acurado dos personagens.

A Taberna (1876) é o sétimo romance da série dos vinte volumes da obra Os Rougon-Macquart. Considerada uma das obras-primas de Zola, o romance traz um estudo psicológico profundo das consequências do alcoolismo e da pobreza na classe trabalhadora parisiense.

Na obra “Germinal” (1885), o décimo terceiro da série e o de maior destaque, Zola descreve com grande realismo as péssimas condições de vida dos trabalhadores de uma mina de carvão na França.

O último livro da série “Le Docteur Pascal” só foi publicado em 1893. Através dos romances naturalistas, Zola pretendia determinar as leis do comportamento humano e da evolução das sociedades.

Em 1898, Émile Zola se envolveu em um caso polêmico de grande repercussão ao defender, em público, o oficial judeu do Exército francês, o Capitão Alfred Dreyfus, num caso de traição montada pelos generais reacionários da França.

Em uma carta aberta ao presidente da República francesa, editada na primeira página do jornal L’Aurore, intitulada "Eu Acuso", Zola defende a inocência de Dreyfus e critica a postura antissemita do alto escalão do Exército francês. Por ter acusado o comando militar de ter forjado as provas de acusação, foi perseguido condenado à prisão, tendo que se refugiar na Inglaterra.

Preocupado em escrever a realidade com exatidão absoluta em suas descrições, e sempre denunciando os grandes problemas e injustiças sociais de sua época, posteriormente, Émile Zola publica mais dois conjuntos de romances “As Três Cidades” (1894-1898) e “Os Quatro Evangelhos” (1899-1902), em cujas intenções didáticas, manteve a violência quase visionária das obras anteriores.”  Dilva Frazão

_______________________________________________

 

Frases de Zola:

 

"O sol surgia no horizonte glorioso, era um despertar de regozijo por toda a extensão do campo. Uma vaga de ouro rolava do oriente ao ocidente, sobre a imensa planície. Esse calor de vida avançava, estendia-se num estremecer de juventude, e nele vibravam os suspiros da terra, o canto dos pássaros, todos os murmúrios das águas e dos bosques. Era bom estar vivo, o velho mundo queria viver mais uma primavera." (citação de trecho do livro Germinal)

“O que é o amor? - um conto simples, dito de muitas maneiras.”

“Prefiro morrer de paixão a morrer de tédio.”

 “Privado de uma paixão, o homem ficaria mutilado como se o privassem de um dos sentidos!”

“O artista não é nada sem o dom. Mas, o dom não é nada sem o trabalho.”

“Uma obra de arte é um canto da criação visto através de um temperamento.”

“Os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhes escapa.”

“Por que é que o sofrimento dos animais me comove tanto? Porque fazem parte da mesma comunidade a que pertenço, da mesma forma que meus próprios semelhantes.”

“Um romancista é constituído por um observador e por um experimentador.”

“O amor, como as andorinhas, dá felicidade às casas.”

 

____________________________________________

Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

 


Figura: https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk01MJNqwmPGzrACj1yDQ-A_j7-oHtg:1617371176363&source=univ&tbm=isch&q=imagens+de+Zola&sa=X&ved


Nenhum comentário:

Postar um comentário