segunda-feira, 26 de julho de 2021

O escritor , poeta e filósofo Thoreau

 









O escritor, poeta, naturalista, agrimensor, professor, historiador e filósofo Henry David Thoreau nasceu em 12 de julho de 1817 em Concord, nos Estados Unidos. Sua família era de origem francesa e protestante.  Sua filosofia teve influência em pensamentos de personalidades históricas como Gandhi, Tolstoy e Martin Luther King. Sua obra mais conhecida é Walden, ou A Vida nos Bosques e também destacou-se por seu ensaio A Desobediência Civil . Estava ligado aos estilos naturalista, simbolista, romântico e defendia ideias abolicionistas.  São mais de 20 volumes os livros, ensaios, artigos e poesias dele. Escreveu sobre história natural e filosofia, sendo um precursor do movimento ambientalista. Ele se interessava por sobrevivência diante de contextos hostis, mudança histórica e decadência natural, buscava descobrir as verdadeiras necessidades essenciais da vida. Atacou as leis contra as fugas de escravos e defendeu o abolicionista John Brown.

Apesar de ter sido considerado por alguns estudiosos como anarquista individualista, o pensamento de Thoreau está relacionado muito mais à busca de melhorias no governo, tendo dito: "Não peço, imediatamente por nenhum governo, mas imediatamente desejo um governo melhor”. Mas também afirmou: 'O melhor governo é o que não governa. Quando os homens estiverem devidamente preparados, terão esse governo”. Thoreau, seu amigo Emerson e os transcendentalistas acreditavam na bondade básica do indivíduo.

Thoreau era filho de um pequeno fabricante de lápis e sua mãe contratava pensionistas. Em 1837 o escritor se formou na Universidade de Harvard, em Literatura Clássica e Línguas, tendo sido amigo do pensador transcendental Ralph Waldo Emerson. O reformismo de Thoreau partia não da coletividade e sim do indivíduo, sendo um defensor de uma vida em sintonia com a natureza. Ficou transtornado com a morte de seu irmão John em 1842. Escreveu o livro de diário A Week on the Concord and Merrimack Rivers e essa era também uma forma de procurar superar a tristeza pela perda do irmão e ao mesmo tempo manter viva a memória sobre ele. Usou o simbolismo do rio como componente de renascimento e continuidade, uma representação existente nas filosofias do Ocidente e do Oriente. Foi professor de Liceu em Concord, fez viagens pelas florestas de Maine e da praia de Cape Co. Como professor não concordava com qualquer tipo de violência, não aceitava o uso de violência nas escolas e defendia um aprendizado com alegria e harmonia. Por ter essas ideias pediu demissão do Liceu de Concord porque se recusava a usar a palmatória e não queria deixar de ter um comportamento liberal como professor. Fundou uma escola particular e com seu irmão John faziam excursões de campo com os alunos para aprenderem sobre ciências naturais. A escola fechou quando o irmão de Thoreau morreu.

Para procurar viver uma vida simples e como desejo de ficar livre das obrigações e constrangimentos que a sociedade causa, em 1845 foi morar em uma pequena cabana feita por ele mesmo nas proximidades do lago Walden em Massachusetts. Assim ele escreveu à vontade e observava a natureza e em 1847 ele deixou essa cabana e foi morar junto com a família de seu amigo Ralph Waldo Emerson em Concord.

Thoreau se colocou contra a guerra contra o México, tendo se recusado em 1846 a pagar um imposto para financiar essa guerra. Ele considerou o imposto injusto e imoral, contrário às ideias de liberdade e igualdade. Disse sobre a questão: “Todos os homens reconhecem o direito de revolução; isto é, o direito de recusar obediência ao governo, e de resistir a ele, quando sua tirania ou sua ineficiência são grandes e intoleráveis”. Por sua recusa ele foi preso por uma noite e solto na manhã seguinte porque uma tia pagou o imposto no lugar dele. Ele afirmou que no caso de um governo que defende o aprisionamento moral,  o lugar de um homem honesto seria a prisão. Sobre a guerra contra o México ele disse: “O governo em si, que é apenas o modo que o povo escolheu para executar sua vontade, está igualmente sujeito ao abuso e à perversão antes que o povo possa agir por meio dele. Prova disso é a atual guerra mexicana, obra de relativamente poucos indivíduos que usam o governo permanente como seu instrumento, pois, desde o princípio, o povo não teria consentido semelhante iniciativa.”

Foi em 1849 que ele publicou Desobediência Civil (contra os maus governos e defendendo uma forma de combate às tiranias) e em 1854 publicou Walden, ou Life in the Woods, a respeito de sua experiência ao viver perto do lago Walden. Ele escrevia a favor das vantagens da vida natural e livre e associava natureza com liberdade, sendo influenciado por Rosseuau e textos orientais. Ele disse: "Quero dizer uma palavra em defesa do ambiente natural e da liberdade absoluta. Uma declaração extrema pois já há muitos defensores da civilização". E sobre os pássaros fez o seguinte comentário: "Tornei-me vizinho dos pássaros, não por ter aprisionado um, mas por ter me engaiolado perto deles". Era um crítico da sociedade de consumo e cético em relação ao progresso tecnológico. Criticava o Estado dizendo que os indivíduos tem de exercer seu próprio julgamento e não servirem como máquinas ou bonecos ao Estado. Thoreau não participou de eleições e nem de partidos políticos ou movimentos organizados. Sua ação contra o Estado era como escritor e recusando a contribuir financeiramente com ele. Ele pregava uma ação necessária perante situações em que não havia alternativa senão resistir, uma ação não violenta, que muitos ano depois Gandhi e Martin Luther King iriam seguir em seus movimentos. Para Thoreau os homens não tem que compactuar com o mal  e tem de criticar as práticas injustas.

Thoreau criticou os privilégios dos mais ricos e suas relações com o Estado e também fez críticas aos que só pensam em bens materiais e se desligam dos valores espirituais e éticos. Disse a respeito: “...Falando em termos gerais, quanto mais dinheiro, menos virtude (...); ao passo que a única nova questão que ele se coloca é a difícil e supérflua de saber como gastar o dinheiro. Assim, seu terreno moral é tirado de sob seus pés.” Ele era a favor de uma vida de abnegação e simplicidade para que se conseguir uma melhor compreensão da existência e do mundo, tendo dito: ''Simplicidade, simplicidade, simplicidade! Digo: Ocupai-vos de dois ou três afazeres, e não de cem ou mil; contai meia dúzia em vez de um milhão e tomai nota das receitas e despesas na ponta do polegar... Simplificar, simplificar. Em vez de três refeições por dia, se preciso for, comer apenas uma; em vez de cem pratos, cinco; e reduzir proporcionalmente as outras coisas...

Thoreau morreu de tuberculose em 6 de maio de 1862, aos 44 anos, em Concord.


Frases de Thoreau

“A bondade é o único investimento que nunca vai à falência.”

“É tão difícil observar-se a si mesmo quanto olhar para trás sem se voltar.”

“Muitos sabem ganhar dinheiro, mas poucos sabem como gastá-lo.”

“Se um homem marcha com um passo diferente do dos seus companheiros, é porque ouve outro tambor.”

“Para cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal, há apenas um atacando as raízes.”

“Quem mata o tempo injuria a eternidade.”

“Se você já construiu castelos no ar, não tenha vergonha deles. Estão onde devem estar. Agora, dê-lhes alicerces.”

“Os homens hão-de aprender que a política não é amoral e que se ocupa apenas do que é oportuno.”

“São precisas duas pessoas para falar a verdade, uma para falar, e outra para ouvir.”

“Uma grande verdade, mesmo mal sugerida, comove-nos mais do que uma verdade medíocre completamente exprimida.”

“Se és escritor, escreve como se tivesses os dias contados, porque, na verdade, eles estão-no quase todos.”

“Muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir da leitura de um livro.”

“Nada é tão útil ao homem como a resolução de não ter pressa.”

“Nunca é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos.”

“Siga confiante na direção dos seus sonhos. Viva a vida que imaginar.”

“É a obra de arte que mais se aproxima da vida.”

“Os livros são o tesouro precioso do mundo e a digna herança das gerações e nações.”

“Os homens, em sua maioria, aprendem a ler para satisfazer uma mesquinha conveniência, assim como aprendem a calcular a fim de organizarem sua contabilidade e não serem enganados no comércio, mas sabem pouco ou nada a respeito da leitura como um nobre exercício intelectual.”

“Nem todos os livros são tão tediosos quanto seus leitores.”

“Não nasci para ser forçado a nada. Respirarei a meu próprio modo.”

“Dá teu voto inteiro, não uma simples tira de papel, mas toda tua influência.”

“Se uma planta não consegue viver de acordo com sua natureza, ela morre, assim também um homem.”

“Fazer todos os dias um bom dia, essa é a mais elevada das artes.”

“Não basta ser ocupado. A pergunta é: estamos ocupados com o quê?”

“Fui para os bosques viver de livre vontade. Para sugar todo o tutano da vida. Para aniquilar tudo o que não era vida e para quando morrer, não descobrir que não vivi.”

“Por que vivemos com tanta pressa, esbanjando a vida? Decidimos morrer de fome antes de sentir fome.”

“Muito melhor seria sentar ao ar livre, pois a poeira não se acumula sobre a grama, a não ser nos trechos em que os homens arrancaram-na do solo.”

“Viva cada estação enquanto elas duram, respire o ar, beba a bebida, saboreie a fruta, e deixe-se levar pelas influências de cada uma.”

A aptidão que leva os homens a construírem casas, é semelhante a que leva os pássaros a construírem seus ninhos. Se os homens construíssem suas residências com as próprias mãos, e arranjassem alimento para si e a família de maneira bastante simples e honesta, quem sabe não desenvolveriam a faculdade poética e épica, cantando como fazem todos os pássaros quando assumem um compromisso dessa natureza? Mas ai de nós! Agimos como Chopins e Cucos, que põe ovos em ninhos feitos por outros pássaros e cujas melodias não alegram o viajante...”

“Um grão de ouro é capaz de dourar uma grande superfície, mas não tão grande como um grão de sabedoria.”

“O dinheiro não é necessário para comprar uma única necessidade da alma.”

 “Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade. Sentei-me a uma mesa onde a comida era fina, os vinhos abundantes e o serviço impecável, mas onde faltavam sinceridade e verdade, e com fome me fui embora do inóspito recinto. A hospitalidade era fria como os sorvetes. Pensei que nem havia necessidade de gelo para conservá-los. Gabaram-me a idade do vinho e a fama da safra, mas eu pensava num vinho muito mais velho, mais novo e mais puro, de uma safra mais gloriosa, que eles não tinham e nem sequer podiam comprar."

"O estilo, a casa com o terreno em volta e o «entretenimento» não representam nada para mim. Visitei o rei, mas ele deixou-me à espera no vestíbulo, comportando-se como um homem incapaz de hospitalidade. Na minha vizinhança havia um homem que morava no oco de uma árvore e cujas maneiras eram régias. Teria feito bem melhor visitando-o a ele.
Até quando nos sentaremos nós nos nossos alpendres a praticar virtudes ociosas e bolorentas, que qualquer trabalho tornaria descabidas? É como se alguém começasse o dia com paciência, contratasse alguém para lhe sachar as batatas, e de tarde saísse para praticar a mansidão e a caridade cristãs com bondade premeditada!”

“A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos.”

“A grande maioria dos homens leva uma vida de calado desespero. O que se chama resignação é desespero confirmado. Da cidade desesperada você vai para o campo desesperado, e tem de se consolar com a coragem das martas e dos ratos almiscarados. Um desespero estereotipado, mas inconsciente, se esconde mesmo sob os chamados jogos e prazeres da humanidade. Não há diversão neles, pois esta vem depois da obrigação. Mas uma característica da sabedoria é não fazer coisas desesperadas.”

 “Desconheço fato mais encorajador que a habilidade inquestionável do homem para melhorar sua vida através do esforço consciente”.

“Um retorno à bondade realizado diariamente ao hálito tranquilo e benéfico da manhã faz com que, em respeito ao amor à vida e o ódio ao vício, a pessoa se aproxime um pouco da natureza primitiva do homem, como os brotos da floresta que foi derrubada. De modo semelhante, o mal que a pessoa faz ao longo de um dia impede que os germes das virtudes que começaram a brotar se desenvolvam e os destrói.”

“Riqueza é a capacidade de experimentar a vida plenamente.”

“O que consegues quando atinges os teus objetivos não é tão importante como o que te tornas ao atingi-los.”

“Por mais que admiremos as ocasionais explorações de eloquência de um orador, as mais nobres palavras escritas situam-se normalmente tão além ou acima da fugaz língua falada quanto o firmamento com suas estrelas encontra-se além das nuvens. Há estrelas, e aqueles que podem lê-las.”

“Procure saber o que as coisas realmente são, não simplesmente o que parecem ser.”

“A vida que os homens louvam e consideram bem-sucedida é apenas um tipo de vida. Por que havemos de exaltar só um tipo de vida em detrimento dos demais?”

“Quanto à roupa, para chegar logo à parte prática da questão, talvez sejamos movidos, na hora de providenciá-la, mais pelo amor à novidade e pela preocupação com a opinião dos outros do que por uma verdadeira utilidade.”

“Você deve viver no presente, lance-se em cada onda, encontre a sua eternidade em cada momento.”

“Não seja demasiado moralista. Você pode se privar de muita vida assim. Procure mais que a moralidade. Não seja simplesmente bom, seja bom para alguma coisa.”

“O maior elogio que já me foi dado, foi quando alguém me perguntou o que eu pensava e prestou atenção na minha resposta.”

“Nada faz a terra parecer tão espaçosa como ter amigos à distância, eles criam as latitudes e longitudes.”

“Os homens se transformaram nos instrumentos de seus instrumentos.”

“Por fecharem os olhos e dormirem, por consentirem em ser enganados pelas aparências, os homens em toda parte estabelecem e confirmam suas vidas diárias de rotina e hábito em cima de fundações puramente ilusórias.”

“Na maioria das vezes somos mais solitários quando circulamos entre os homens do que quando permanecemos em nosso quarto.”


Poemas de Thoreau:

 

 

Névoa

Nuvem, âncora baixa,
Ar da Terra Nova,
Cabeça da nascente e nascente dos rios,
Pano de orvalho, armarinho de sono,
E guardanapo espalhado pelas Fadas;
Prado à deriva no ar,
Onde linhas de violetas florescem e rejuvenescem,
E em cujo labirinto pantanoso
se ouvem os foles do amargo e a garça caminha;
Espírito do lago e dos mares e rios,
Levando apenas o perfume e a essência
Das ervas curativas apenas para os campos dos homens!

 

Eu sou o sol do outono

Às vezes, um mortal sente a natureza em si
mesmo.Ele não é seu pai, mas sua mãe se move
dentro dele, e ele se torna imperecível com sua
imortalidade. De vez em quando, ela afirma ter
parentesco conosco, e algumas células sanguíneas
em suas veias vão roubar as nossas.

Eu sou o sol outonal,
Com os vendavais de outono minha corrida corre;
Quando a avelã derramará suas flores,
Ou a uva amadurecerá sob meus galhos?
Quando a colheita ou o fim da lua do caçador
Transforme minha meia-noite em meio-dia?
Eu sou tudo que está murcho e amarelo,
E eu adoço meu coração.
O mastro está caindo em minha floresta, O
inverno espreita em meus humores,
E o farfalhar da folha seca
É a canção da minha dor ...

Raleigh

A lua é uma estrela cheia de raios inalterados
Eles se acumulam no céu oriental,
Não destinada a essas noites curtas para sempre,
Mas ela brilha constantemente.

Ela não enfraquece, mas, para minha fortuna, Aquela
cujos raios não abençoam,
Meu caminho rebelde declina rapidamente,
No entanto , ela não brilha menos.

E se ela brilhar fracamente aqui,
e sua luz empalidecer,
No entanto , todos os dias em sua própria esfera
Ela possui a noite.

Todas as coisas estão em andamento

Todas as coisas estão em andamento
No terreno terreno,
Os espíritos e os elementos
Têm suas quedas.

Noite e dia, ano após ano,
Alto e baixo, perto e longe
Esses são nossos próprios aspectos,
Esses são nossos próprios arrependimentos.

Os deuses da terra,
Que permanecem para sempre,
Eu os vejo em promontórios distantes,
Espalhando-se em ambos os lados;

Eu ouço os sons de uma doce noite
De seu terreno indestrutível;
Enganando-me apenas com o tempo,
Leve-me ao seu clima.

O Atraso do poeta

Em vão vejo melhorar a manhã,
Em vão vejo o brilho do oeste,
Que ociosamente olha para outros céus,
Imaginando a vida de outras maneiras.

No meio de tanta riqueza sem limites,
Ainda estou sozinho e pobre por dentro,
Os pássaros cantaram seu verão,
Mas ainda minha primavera não começou.

Devo esperar pelo vento de outono,
Forçado a buscar um dia mais pacífico,
e não deixar ninhos estranhos para trás,
Não há florestas ainda ecoando em meu verso?

Natureza

Oh Nature! Eu não aspiro
Ser o mais alto em seu coro, -
Ser um meteoro no céu,
Ou o cometa que pode vaguear alto;
Apenas um zéfiro que pode atacar
Entre os juncos rio abaixo;
Dê-me seu lugar mais íntimo
Onde minha linha etérea corre.

Em algo para se retirar, em uma campina sem uma audiência
Deixe-me suspirar em um junco,
Ou na floresta, em um burburinho de folhas,
Sussurre na quietude do crepúsculo:
Ainda algum trabalho, eu tenho que fazer, -
Só, vai fique perto de você!

Porque eu preferiria ser seu filho
E discípulo, na floresta selvagem,
Do que ser o rei dos homens em outro lugar,
E o mais cuidadoso e soberano dos escravos
Para ter um momento de sua aurora,
Do que compartilhar, um ano de desespero na cidade.

_________________________________

Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

 Figura: https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03s1pbqJhkcwHtSTKHMOTe_MWQMVg:1627353643748&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+Thoreau&sa=X

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário