terça-feira, 20 de julho de 2021

O médico e pesquisador Carlos Chagas

 






Em 9 de julho de 1879, na Fazenda Bom Retiro, cidade de Oliveira, em Minas Gerais, nasceu o biólogo, médico, infectologista, cientista, bacteriologista e sanitarista Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas, que atuou na medicina e como pesquisador. Seus pais eram o cafeicultor José Justiniano Chagas e Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas. O pai morreu quando Carlos tinha quatro anos. Teve quatro irmãos, sendo que um de seus irmãos morreu com três anos de idade. Após certo tempo, Carlos, a mãe e os irmãos vão morar na Fazenda Boa Vista, nas proximidades da cidade mineira de Juiz de Fora. Um tio materno de Carlos era médico e o trabalho desse tio influenciou Carlos a seguir a Medicina.

Estudou por pouco tempo no Colégio São Luís, dirigido por jesuítas, em Itu, na província de São Paulo. A mãe queria que ele fosse engenheiro e após terminar o curso secundário ele entrou no curso preparatório para a Escola de Minas de Ouro Preto, mas Carlos passou a levar uma vida boêmia, adoecendo em 1896, sendo reprovado nos exames. Foi recuperar sua saúde em sua cidade de origem e seu tio médico o apoiou em sua aspiração na área médica e a mãe de Carlos foi enfim convencida de que seu filho poderia ser médico. Carlos então foi para São Paulo, certificando-se em sua preparação para poder frequentar o curso de medicina, no qual ingressou em 1897, na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro. Estava havendo  nessa faculdade um processo de renovação, pois nessa instituição haviam sido adquiridas as teses de Louis Pasteur, o que proporcionou uma influência grande das ideias desse pesquisador.

Carlos Chagas foi bastante influenciado pelos seus professores Miguel Couto, na área da clínica médica moderna e Francisco Fajardo na área do estudo das doenças tropicais, como a malária. Ao concluir seu curso de medicina em 1902, tinha ainda de elaborar sua tese e levou uma carta de seu professor Miguel Couto ao Instituto Soroterápico Federal (que em 1908 veio a se chamar Instituto Oswaldo Cruz) para o médico e pesquisador Oswaldo Cruz, que se tornou um valioso orientador e um amigo. A tese de Carlos Chagas, concluída em março de 1903, foi a respeito do  ciclo evolutivo da malária na corrente sanguínea. A tese se chamava "Estudo Hematológico do Impaludismo”.

Oswaldo Cruz incumbiu Carlos Chagas de controlar a malária em Itatinga, no interior de São Paulo. A ação de Chagas foi bem sucedida e seus procedimentos foram depois utilizados em outras campanhas pelo Brasil. Essa prática de Chagas no combate à malária, com medidas preventivas, serviu de base para outros países no combate à doença.

Carlos Chagas foi trabalhar em Niteroi, em 1904, no Hospital de Jurujuba e no mesmo ano montou seu laboratório na cidade do Rio de Janeiro e casou-se com Irís Lobo, tendo com ela dois filhos, Evandro e Carlos, que também seguiriam a carreira médica. Em março de 1906 foi trabalhar no Instituto Oswaldo Cruz e organizou a pedido da diretoria desse instituto o saneamento da Baixada Fluminense.

Em 1907 foi trabalhar em uma campanha contra a malária na cidade de Lassance, em Minas gerais, onde instalou um laboratório em um vagão de trem (trabalhando lá por dois anos). Suas pesquisas na área possibilitaram que descobrisse o protozoário causador da tripanossomíase americana, conhecida como Doença de Chagas. Esse organismo foi chamado por ele de Trypanosoma cruzi (nome dado em homenagem ao seu amigo Oswaldo Cruz). Também Chagas descobriu a evolução da doença nos seres humanos e como eles a pegavam por meio dos insetos chamados popularmente de barbeiros. Recebeu prêmios de instituições de vários países, por exemplo, membro honorário da Academia Brasileira de Medicina e doutor honoris causa da Universidade de Harvard e da Universidade de Paris. Outro destaque foi o seu trabalho no combate às doenças venéreas e à leptospirose.

Chagas participou de estudos no período de 1912 a 1913, realizados pelo Instituto Oswaldo Cruz na Amazônia, para verificar condições de salubridade, pois o governo federal queria ver condições para melhor explorar os recursos naturais da região. Chagas fez visitas a ribeirinhos dos rios Solimões, Negro e Purus para  analisar a realidade dessas pessoas em relação à moradia, abastecimento de água, esgoto, alimentação e assistência médica. Também foram feitas análises sobre a questão de epidemias (com destaque para a malária) na região. Amostras de plantas medicinais também foram recolhidas. Os resultados da expedição científica foram expostos em uma conferência no Rio de Janeiro e foi escrito um relatório por Oswaldo Cruz para o Ministério da Agricultura. Esses resultados científicos serviram para mostrar a situação de abandono daquelas populações e serviu de alerta para a importância do saneamento no interior do Brasil e sobre a necessidade na melhoria de serviços de saúde pública.

Com a morte de Oswaldo Cruz, Chagas em fevereiro de 1917  foi nomeado para a direção do Instituto Oswaldo Cruz e  seguiu o modelo já implantado por Cruz, com semelhanças com o Instituto Pasteur, da França, com autonomia administrativa e financeira. Procurou aperfeiçoar a relação entre pesquisa, ensino e a fabricação de produtos medicinais.

Na época da Gripe Espanhola, que chegou ao Brasil em 1918, o presidente da República convidou Chagas para o combate à doença na cidade do Rio de Janeiro. Na ocasião, Chagas, sua esposa e filhos tinham pegado a doença. Ele criou um serviço especial de atendimento à população e também cinco hospitais emergenciais, realizando publicações de alertas à população.

Em 1918 Chagas criou o Hospital Oswaldo Cruz, que se tornou um centro de estudos para pesquisadores e que em 1942 passou a ser chamado de Hospital Evandro Chagas. Graças a Carlos Chagas foram criadas no Instituto Oswaldo Cruz seções científicas independentes, por área de conhecimento (seções de Química Aplicada,  Bacteriologia, Micologia, Zoologia, Anatomia, Protozoologia e Fisiologia). Nos anos de 1920 o Instituto passou a ter a responsabilidade de verificar o controle de qualidade dos produtos utilizados na Medicina brasileira. A vacina contra a varíola passou a ser feita no Instituto.

Chagas criou o Serviço de Serviço de Enfermagem Sanitária, com apoio da Fundação Rockefeller e em 1923 foi criada a Escola de Enfermagem Anna Nery, começando o ensino profissionalizante de Enfermagem no Brasil. Os alunos desse curso também passavam pelo Hospital São Francisco de Assis, fundado por Chagas. 

Carlos Chagas foi o representante do Brasil no Comitê de Higiene da Liga da Nações, associação sediada em Genebra e que antecedeu a Organização Mundial de Saúde (OMS). Chagas era um defensor da proximidade entre o ensino e a pesquisa e também do estudo de doenças tropicais e a luta contra os problemas de saúde pública no Brasil como a malária e a Doença de Chagas. Em 1925 ele criou  a especialização em Higiene e Saúde Pública e a cadeira de Doenças Tropicais na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

Em 8 de novembro de 1934, Carlos Chagas morreu na cidade do Rio de Janeiro, aos 55 anos, vítima de um infarto.

Segundo a autora Dilva Frazão:

“(...) Em 1907, Carlos Chagas foi designado para a chefia de uma comissão designada para combater uma epidemia de malária que se espalhava entre os trabalhadores que instalavam uma linha de trem na cidade de Lassance, em Minas Gerais.

Durante dois anos trabalhando em um pequeno laboratório instalado em um vagão de trem, em 1909, as pesquisas de Carlos Chagas tomaram novo rumo, pois na região, muitas pessoas morriam de uma doença desconhecida e, depois de uma autópsia, descobriu grandes lesões no músculo cardíaco da uma vítima.

Pouco depois, descobriu um inseto chamado barbeiro que tinha o hábito de picar o rosto e chupar o sangue das pessoas. Ao examinar o inseto, encontrou em seu intestino uma nova espécie de protozoário flagelado, que mais tarde chamou de Trypanosoma cruzi (em homenagem a Osvaldo Cruz).

No dia 22 de abril de 1909, a descoberta da doença, que depois receberia o nome de Chagas, foi publicada na Revista Brasil-Médico. Em agosto desse mesmo ano, Carlos Chagas publicou o primeiro volume da revista do Instituto Osvaldo Cruz, um estudo completo sobre a doença de Chagas e o ciclo evolutivo do protozoário causador da doença.

Estudo Epidemiológico na Amazônia

Entre 1911 e 1912, Carlos Chagas realizou um estudo epidemiológico completo em 52 cidades do vale amazônico, região assolada por grandes epidemias, principalmente da malária. Em seu relatório, Carlos Chagas se mostrou indignado com a situação de pobreza da região.

Gripe Espanhola

A gripe espanhola chegou ao Rio de Janeiro em 1918, um ano após a morte de Osvaldo Cruz e de Carlos Chagas ter assumido a direção do Instituto Manguinhos. Em dois meses, a gripe matou 15 mil pessoas na cidade.

Carlos Chagas foi chamado para chefiar a campanha contra a epidemia. Em uma semana, ele instalou hospitais improvisados e laboratórios de emergência e, mobilizou a parte ativa da população. No final do ano, a epidemia havia sido debelada.

Diretor de Saúde Pública

Em 1919, Carlos Chagas foi nomeado pelo presidente da República, Epitácio Pessoa, para dirigir o Departamento Nacional de Saúde Pública. Nesse período, realizou reformas no serviço de profilaxia rural, instalou inspetorias especializadas no combate à tuberculose, à sífilis e a lepra.

Com o apoio da Fundação Rockefeller, Carlos Chagas criou o serviço de Enfermagem Sanitária e, em 1923 criou a Escola de Enfermagem Anna Neri, introduzindo o ensino de enfermagem no Brasil. Carlos Chagas deixou o Departamento Nacional em 1926, mas permaneceu dirigindo Manguinhos (...)”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura: https://www.blogger.com/blog/post/edit/1042539871208354879/625224613976908200


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