domingo, 14 de agosto de 2022

"Tears in Heaven" , a canção de Eric Clapton para seu filho Conor

 







Neste segundo domingo de agosto quando se comemora o Dia dos Pais no Brasil, vou abordar a história de uma canção feita por Eric Clapton, um compositor inglês famoso, que perdeu um filho de maneira trágica e que por isso fez a canção Tears in Heaven, dedicada a ele. A canção foi feita em pareceria com Will Jennings.

Tears in Heaven tornou-se uma das melodias mais populares da historia do rock. A conceituada revista Rolling Stone, em 2004 classificou a canção na colocação de número 362 entre as 500 melhores canções de rock.  Eric Clapton, autor e intérprete da canção, ganhou graças a ela, em 1993, três prêmios Grammy (melhor canção, melhor gravação e melhor interpretação vocal pop masculina), sendo que a mesma tem sido há vários anos uma das mais tocadas nas rádios. Lory del Santoa mãe de Conor, o filho de Clapton morto em 1991, evitava ouvir a canção pois lhe causava lembranças dolorosas. Ela disse em uma ocasião em uma entrevista: “Uma vez, quando estava em Amsterdã, colocaram a música no rádio. Ao soarem os primeiros acordes, saí correndo para não ouvi-la”. 

Em 27 de agosto de 1990 o empresário de Eric e um colega músico, Stevie Ray Vaughan, mais duas outras pessoas, tinham morrido em um acidente de helicóptero, o que abalou Eric. E numa manhã de março de 1991 veio outra perda: seu filho Conor. Lory (mãe de Conor) e o filho tinham ido visitar Eric em Nova York. O casal estava separado. Eric ainda era oficialmente casado com Pattie Boyd (a história de Eric e Pattie eu contei quando escrevi o artigo sobre a música que Eric fez para Pattie). Quando Eric e Pattie se separaram, Conor tinha três anos. Eric tinha sido muito ausente na vida do filho e estava querendo ser um pai mais presente. Na véspera da morte do filho, Eric foi com o filho a um circo em Long Island. Lory, na entrevista mencionou: “Eles realmente curtiram muito. Quando Eric voltou, me olhou e disse que finalmente entendia o que significava ter um filho e ser pai. Estava muito feliz. Era a primeira vez que Eric passava algumas horas sozinho com nosso filho. Conor, por sua vez, estava muito emocionado pelo dia tão maravilhoso que havia passado com o pai”. No dia 20 de março Eric se encontraria com Lory e Conor no apartamento onde mãe e filho estavam hospedados para que todos fossem ao zoológico.

Lory fez o seguinte relato sobre o fatídico dia 20 de março de 1991: “Conor brincava com a babá enquanto eu me preparava para ir ao zoo. Eram 11h da manhã. Gritei do banheiro para que Conor se apressasse, e ele me disse que estaria pronto em um minuto”. Lory tinha pedido para a babá ficar prestando atenção no garoto, que corria de um lado para o outro. Enquanto isso, o zelador do prédio estava limpando as janelas do apartamento. A babá perseguia de brincadeira o menino. Em dado momento o zelador avisou que a janela estava aberta e ela parou. Mas Conor não sabia que a janela estava aberta e foi correndo em direção a ela. Nesse momento Lory escutou a babá gritar, foi ver o que tinha acontecido e gritou: “Onde está Conor? Onde está Conor?” Ela então percebeu o que tinha havido e desmaiou. Conor tinha caído da janela do apartamento, localizado no 53º andar. Clapton disse em um documentário sobre sua vida a respeito do que aconteceu com seu filho:  “Às 11h57, Lory me ligou gritando e disse: ‘Está morto.” Ele ficou desnorteado, querendo entender e Lory explicou a ele: “Caiu da janela”. Eric disse nesse documentário que: “Senti como se saísse de mim mesmo, não podia entender, não podia assumir. Fui com ele ao hospital mais próximo e me despedi dele. Perdi a fé”. E destacou: “Conor foi a primeira coisa que aconteceu na minha vida que realmente tocou meu coração e me fez pensar: “É hora de amadurecer”. Eric tinha vivido até então uma vida agitada de artista, envolvendo-se muito com álcool e drogas. Em 1987 tinha deixado as bebidas alcoólicas. Ele tinha questões pessoais que o inquietaram por anos, como a descoberta de que a pessoa que ele pensava ser sua mãe era sua avó e a mãe era quem ele pensava ser sua irmã. Seus problemas existenciais o levavam a momentos autodestrutivos e atrapalhavam seus relacionamentos.  

Com a morte do filho Eric se dispôs a enfrentar suas questões pessoais de uma forma mais equilibrada. Ele ressaltou no documentário: "Comecei a abrir as cartas de condolências, que eram milhares, e entre elas havia uma de Conor. Ele a tinha enviado semanas antes. Dizia: ‘Te amo, quero te ver de novo. Um beijo’. Nesse momento, vi que eu podia passar por aquilo sem beber, poderia fazer qualquer coisa”. Lory, mãe de Conor, não se conformava por ter o zelador ter tirado o vidro da janela e destacou: “O zelador jamais nos pediu desculpa, e eu deixei de viver a partir daquele momento. Quando Conor caiu, o zelador chamou a ambulância, mas obviamente não havia nenhuma esperança. Eric foi vê-lo no IML, mas eu não pude”.

A canção Tears in Heaven foi composta nove meses depois da morte de Conor. Foi lançada no álbum Unplugged. Clapton, sensibilizado com o que houve com seu filho, fez anúncios alertando sobre a necessidade de se colocar proteção para crianças em janelas e escadas. A canção foi um meio que Eric encontrou para lidar com a dor de perder um filho. Eric disse: “Fui consciente de que podia fazer dessa tragédia algo positivo e dediquei minha vida a honrar meu filho. Peguei uma guitarra e a toquei sem parar durante meses para tentar enfrentar a situação. A música me salvou, levou a dor... Escrevi Tears in Heaven para mim porque me sentia terrivelmente mal”. Em 2005 ele a gravou de novo num disco e a renda se destinou às vítimas do tsunami de 2004 que causou uma tragédia no Sudeste Asiático nesse ano. Eric Clapton casou em 2002 com Melia McEnery . O casal teve três filhas.

Em 2004 ele falou sobre as canções My Father’s Eyes e Tears in Heaven"Eu não sentia mais a sensação de perda, que é uma parte integrante dessas composições. Eu preciso me conectar com os sentimentos que havia quando compus essas canções. Acho que esses sentimentos se foram, e eu não quero que eles voltem novamente. Minha vida mudou desde então. Canções assim só precisam de uma pausa e talvez eu volte a apresentá-las de uma maneira nova”.

O coautor de Tears in HeavenWill Jennings, disse em uma entrevista:

Eric e eu fomos contratados para escrever uma canção para um filme chamado Rush. Nós escrevemos uma música chamada 'Help Me Up' para o final do filme... Eric então viu um outro lugar no filme para incluir mais uma canção e ele me disse: 'Eu quero escrever uma canção sobre o meu menino.' Eric tinha a primeira estrofe da canção escrita, que, para mim, é toda a música, mas ele queria que eu escrevesse o resto das linhas do verso ("'Time can bring you down, time can bend your knees...'), e ser creditado no lançamento mesmo dizendo a ele que era tão pessoal que ele mesmo devia escrever tudo sozinho. Ele me disse que tinha admirado o trabalho que eu tinha feito com Steve Winwood e, finalmente, não havia mais nada a fazer, mas como ele pediu (...).  Esta é uma canção tão pessoal e tão triste que é única em minha experiência de escrever canções.”

 

"Tears In Heaven

Would you know my name

if I saw you in Heaven?

Would it be the same

if I saw you in Heaven?

 

I must be strong and carry on,

'Cause I know

I don't belong

here in Heaven.

 

Would you hold my hand

if I saw you in Heaven?

Would you help me stand

if I saw you in Heaven?

I'll find my way

through night and day,

'Cause I know

I just can't stay

here in Heaven.

 

Time can bring you down;

time can bend your knees.

Time can break your heart,

have you begging please,

begging please.

 

Beyond the door

there's peace I'm sure,

And I know

there'll be no more

tears in Heaven.

 

Would you know my name

if I saw you in Heaven?

Would it be the same

if I saw you in Heaven?

I must be strong and carry on,

'Cause I know I don't belong here in Heaven

'Cause I know I don't belong here in Heaven"

 

Tradução em português

"Lágrimas no Paraíso

 

Você saberia meu nome

Se eu o visse no paraíso?

Seria o mesmo

Se eu o visse no paraíso?

 

Eu devo ser forte e seguir em frente

Porque eu sei

Que não pertenço

Aqui ao paraíso.

 

Você seguraria minha mão

Se eu o visse no paraíso?

Você me ajudaria a ficar em pé

Se eu o visse no paraíso?

Encontrarei meu caminho

Pela noite e pelo dia,

Porque eu sei

Que não posso ficar

Aqui no paraíso.

 

O tempo pode te derrubar,

O tempo pode te fazer ajoelhar.

O tempo pode quebrar seu coração,

Você implora por favor

Implora por favor.

 

Além da porta

Existe paz, tenho certeza,

E eu sei

Que não haverá mais

Lágrimas no paraíso.

 

Você saberia meu nome

se eu o visse no paraíso?

Você seria o mesmo

se eu o visse no paraíso?

Eu devo ser forte e seguir em frente,

Porque eu sei que não pertenço aqui ao paraíso

Porque eu sei que não pertenço aqui ao paraíso"


Sugestão para escutar:

Eric Clapton: tears in heaven

https://www.youtube.com/watch?v=IvU_zJUFiLA

 

______________________________________

Márcio José Matos Rodrigues.

 


Figura:

https://www.google.com/search?q=imagem+de+eric+clapton&sxsrf=ALiCzsZZFvjJ4_8Sz26Unfweuz3WSeTvNw%3A1660515975943&source=hp&e

Nenhum comentário:

Postar um comentário