quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Dia das Crianças










Hoje, dia 12 de outubro, é comemorado no Brasil o "Dia das Crianças". Tal data especial foi ideia do  deputado federal Galdino Valle Filho nos anos 20. Os outros deputados aprovaram e o presidente Arthur Bernardes oficializou em 05 de novembro de 1924. Porém a comemoração popular da data não se aconteceu de imediato.



Entre 1955 e  1960, a fábrica de brinquedos Estrela junto com a multinacional Johnson e Johnson fizeram um promoção conjunta para lançar a "Semana do Bebê Robusto". Outras empresas pouco depois da citada promoção criaram a Semana da Criança com o fim de vender produtos.  Os fabricantes de brinquedos escolheram então um dia específico para a comemoração e lembraram o antigo decreto presidencial, confirmando o dia 12 de outubro que passou a ser divulgado como "Dia das Crianças", no qual se tornou costume presentear as crianças.



Há em outros países um "Dia das Crianças". Em Portugal é no dia 1º de Junho; na China e no Japão há o dia 5 de maio (para meninos) e o dia 03 de março (para meninas); na Índia é no dia 15 de novembro. Há países que comemoram no dia 20 de novembro, que é reconhecido pela ONU, desde 1959, como Dia Universal dos Direitos das Crianças.



Creio que a data, além da questão sentimental que envolve as famílias e da questão comercial, deve servir para reflexão sobre a situação da criança atualmente. Por este motivo vou fazer alguns comentários a seguir.



A criança se constitui como ser em formação biológica, que ainda não está totalmente constituído sob a ótica maturacional. Mas mesmo considerando-se esta visão biológica como muito importante, não se pode negligenciar que o desenvolvimento está ligado às condições sociais e culturais, pois o ser humano é um ser não só biológico, como também social. A criança tem seu pensamento desenvolvido, assim como adquire linguagem e constroi suas opiniões,  desenvolvendo-se cognitiva e socialmente por meio de suas relações entre o biológico e o social. Crianças não crescem todas ao mesmo ritmo, não aprendem todas da mesma forma, não se relacionam do mesmo jeito, por questões sócio-culturais, de personalidade, de contexto ambiental e familiar etc. O desenvolvimento também é influenciado pelo contexto histórico, pois a época, o tempo e o lugar em que as pessoas vivem afetam a maneira de viver.



A Criança na História-Grécia e Roma Antigas



Esparta: Os homoioi, os cidadãos espartanos, cresciam comendo mal e viviam com fome, enfrentavam-se entre si e suportavam um treinamento militar intenso. Desde o nascimento os filhos da elite tinham vida dura, isso se o recém-nascido sobrevivesse à análise do Conselho dos Anciãos, pois bebês fora dos padrões da cidade eram mortos, arremessados ou abandonados, no monte Taigeto.  Era comum haver  infanticídio na Grécia antiga, porém Esparta era a única a praticá-lo colocando a decisão nas mãos do Estado. A educação espartana se concentrava no militarismo, na disciplina e na obediência completa. Depois de passar os primeiros 7 anos de vida com a família, os meninos eram mandados para centros de treinamento para serem educados e se tornarem  guerreiros. Até os 11 anos, o jovem espartano passava pelo primeiro ciclo,  em que recebia o treinamento militar básico, recebendo aprendizado para manejar lanças, espadas e escudos, além de praticar esportes como corrida e natação. O foco era a obediência - não ler e escrever.





A base do treinamento era direcionada para uma resposta rápida aos comandos, resistência, força e vitória nas batalhas. A educação era supervisionada no dia a dia por um magistrado responsável, mas a disciplina (e as punições) era imposta pelos colegas mais velhos. O objetivo era deixar os meninos duros, resistentes, no melhor de sua forma física. Eles tinham que ser autossuficientes e capazes de suportar a dor. Durante toda a educação, o papel do Estado espartano era enorme. Era a entrega completa do futuro cidadão à Esparta. E só havia um caminho possível: ser soldado. Aos 7 anos, a criança era  doada ao Estado para a educação e, a partir dos 18 anos, começar a ter papel na vida da cidade.







Sobre a educação feminina, as meninas recebiam algum treinamento cujo foco estava na excelência física. As espartanas eram vistas como parideiras - as futuras mães dos guerreiros e assim as meninas eram criadas para serem o tipo de mãe que Esparta necessitava, uma mãe saudável, educada segundo as diretrizes da sociedade e com bastante conhecimento dos valores espartanos e conforme achados arqueológicos de estátuas da época as mulheres espartanas valorizavam a forma física.






Atenas





Enquanto os espartanos se dedicavam basicamente à guerra, os atenienses estudavam. A educação voltava-se para formar o cidadão da pólis. Havia a ênfase de que para participar da vida em sociedade era preciso ter instrução.



A educação iniciava-se aos sete anos de idade: se a criança era menina, ia pro gineceu, uma parte da casa destinada aos serviços domésticos. Se fosse menino ele começava a sua alfabetização. Existia naquela época um escravo especial chamado pedagogo  que conduzia o menino para a aprendizagem, onde praticava exercícios físicos.  Depois o pedagogo levava-o para o professor de cítara, já que a música era bem valorizada como forma de educação. A educação intelectual foi ganhando cada vez mais importância até suplantar a educação física. Após aprenderem ler, escrever e calcular os meninos pobres eram dispensados para procurar trabalho e os ricos eram encaminhados ao ginásio para práticas físicas e também para o estudo de filosofia, astronomia, matemática, entre outros. À medida que Atenas se desenvolvia politicamente, aumentava a importância dos sofistas. E assim professores ensinavam a arte de falar bem.


Roma


Em Roma antiga, no caso de famílias de posses,eram as parteiras as próprias escravas, que faziam o parto na casa da família, uma vez que não existiam hospitais para estes fins. Depois de nascido, a mãe e a escrava amamentavam o bebê se ele fosse aceito, o pai às vezes passeava com a criança ao colo, como um novo objeto em exposição.



Assim como na Grécia, a educação dos romanos variava de acordo com a classe social e o sexo. Os meninos das classes privilegiadas aprendiam a ler e a escrever em latim e grego com seus preceptores, isto é, com professores particulares. Além disso, deviam ter conhecimentos de agricultura, astronomia, religião, geografia, matemática e arquitetura.



Em relação aos meninos das classes menos abastadas, isso mudava de figura. A maioria, que não podia dispor de tempo integral para os estudos, dedicava-se ao trabalho agrícola ou artesanal.



O abandono de crianças, tão comum nos dias de hoje, também existia na Roma Antiga, e as causas eram variadas. Abandonados, meninos e meninas estavam destinados à prostituição ou à vida de gladiadores, treinados para enfrentar leões, tigres e outros animais perigosos. Outros ainda se tornavam servos. Os filhos não raramente eram abandonados, tanto por ricos como por pobres, por vários motivos: enjeitavam-se ou afogavam-se as crianças malformadas, os pobres, por não terem condições de criar os filhos, expunham-nos, esperando que um benfeitor recolhesse o infeliz bebê, os ricos, ou porque tinham duvidas sobre a fidelidade de suas esposas ou porque já teriam tomado decisões sobre a distribuição de seus bens entre os herdeiros já existentes. Havia na Grécia e Roma Antigas o infanticídio e a legislação do Império Romano tentou condenar tal prática. O imperador Constantino procurou fazer um sistema de assistência aos pais pobres de modo que não vendessem ou expusessem seus filhos e em 318 o infanticídio passou a ser punido com a morte.



As crianças romanas após serem rejeitadas pela família, geralmente morriam de fome ou por causa de doenças, porém aquelas crianças que estivessem largadas na rua poderiam ser adotadas, tanto para fins escravocratas como para servirem de filhos, que aí passavam a pertencer à família adotiva. Os ricos da elite que rejeitavam as crianças não queriam obter informações sobre os abandonados, mas as famílias mais pobres, que muitas vezes abandonavam devido ao baixo poder aquisitivo procuravam manter contato com a criança. Dessa forma, para facilitar essa ligação entre a família e o abandonado, doavam os recém-nascidos para amigos, vizinhos e conhecidos.



O pai sempre era o líder e responsável por sua família. Mulheres não tinham muito poder e o pai tomava as decisões sobre tudo na vida da criança. Nessa época, a vida das crianças poderia variar muito dependendo de sexo ou classe social. As meninas, por exemplo, ficavam em casa ajudando as mães com tarefas domésticas e os meninos estudavam ou trabalhavam. Apesar disso, as crianças também se divertiam com jogos e brincadeiras. Antes da criação das escolas, a educação era de responsabilidade das famílias, que ensinavam o que queriam, podiam e sabiam para as crianças.



Bem, poderia me estender falando da infância em outras épocas da Humanidade, mas creio que os exemplos de Roma e Grécia já dão uma ideia das diferenças que existem em como a infância foi tratada  diferentemente em sociedades diferentes na História.



Atualmente há diversos problemas que afetam as crianças no Brasil e no Mundo. Ainda há muita pobreza afetando milhões de crianças em diversos países. A questão da má nutrição interfere no desenvolvimento físico e psicológico de tantas que padecem. Também as guerras tem causado muito sofrimento em crianças refugiadas ou que estão em países com conflitos internos ou externos. Há também a violência doméstica, a violência urbana, a questão das drogas, o trabalho escravo infantil, os tantos casos de violações físicas e psicológicas que tem causado tanta dor. Há ausência do Estado em certos casos, sem os devidos investimentos em creches, escolas, serviços médicos adequados, assistência social e psicológica. E os relacionamentos sociais e afetivos, quando são problemáticos, tem influência negativa no desenvolvimento psíquico das crianças.



Recentemente houve a tragédia de crianças em uma creche quando um indivíduo totalmente transtornado invadiu salas de aula e provocou mortes e sofrimentos em crianças e professores.  Foi um fato que chocou brasileiros e pessoas de muitos países.



Então, que a data de 12 de outubro sirva sim como momento de carinho entre crianças e familiares, mas que jamais se transforme em sua essência em uma ocasião mais comercial, apesar de ter tido mais este objetivo nos anos 60 no Brasil quando setores comerciais usaram a data para vender mais brinquedos. E que além de tudo isto, da questão comercial e da confraternização familiar, a data sirva para analisarmos a situação atual das crianças no Brasil e no mundo, pensando em novos meios para que haja cada vez menos sofrimentos com mais e mais crianças podendo ter acesso aos meios fundamentais de vida, tendo amor, podendo ser felizes nesta etapa de desenvolvimento e nas posteriores etapas de suas vidas.

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Márcio José Matos Rodrigues-Psicólogo e Professor de História

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