sábado, 21 de outubro de 2017

Somália









No dia  14   de outubro houve um grande atentado terrorista em Mogadíscio, com mais de 300 mortos e cerca de 400 feridos.  Foi um ataque com  carros-bomba no centro da cidade. Os suspeitos principais são os terroristas do grupo Al Shabab, um braço da rede Al-Qaeda. A Somália é um dos países com maior número de ataques terroristas no mundo.


 A situação piorou com a falta de atendimento às vítimas em um país que por vários anos tem tido sua história ligada à guerra, ao terrorismo e à seca e que no seu passado colonial esteve dominado por duas potências europeias: Itália e Inglaterra. 


A realidade é tão brutal na Somália, que 739.000 pessoas ultimamente precisaram deixar obrigatoriamente seus lares para conseguir alimentos e tiveram de viver em campos de refugiados, em moradias precárias.


Vou falar das características deste país e também sobre a sua história. 


A Somália localiza-se no Leste da África, conhecido como chifre da África, sendo uma nação litoral. Nos seus limites continentais há a Etiópia e Djibouti no norte e no oeste e, o Quênia em seu sudoeste. No seu extremo oriente há o Golfo de Áden. A sua extensão territorial é de  637.657 km². Sua capital é  Mogadíscio. O clima é  Árido tropical. Há um chamado governo de transição formado em 2004. É dividida administrativamente em 18 regiões. Os idiomas oficiais são o árabe e o somali, mas também são falados o inglês e o italiano. A maior religião é o  Islamismo com 98,5% da população. Sua população é de aproximadamente 9 milhões de habitantes. A composição da população é de 98,3% somalis, 1,2% árabes e 0,5% outros. 


A Somália sentiu o peso do imperialismo europeu na segunda metade do século XIX, com rivalidades coloniais entre a Itália, o Reino Unido e a França. No início da década de 1880 a França e a Inglaterra procuraram se estabelecer na costa da Somália, visando em especial sua importância estratégica e comercial. Quando a Itália entrou em cena, as três potências iniciaram um processo de expansão pelo interior. 


Em 1897, a partilha do país estava encerrada, sem se importar com os interesses das populações nativas, tirando-lhes a independência. Os chefes de clãs e sultões somalis não se acomodaram à invasão que interferia em seu poder político. Tanto que iniciaram vários levantes contra forças europeias e também da Etiópia durante essa fase de partilha. 


Os chefes somalis, sabedores  das rivalidades que existiam entre as potências europeias, procuraram jogar umas contra as outras, assinando diversos tratados com as potências, na esperança de que pela diplomacia pudessem assegurar a independência. A entrada estrangeira no país não enfrentou uma nação única e sim um conjunto de clãs isolados que não raramente eram inimigos. E para piorar a situação dos somalis, eles não tinham armas modernas. Ainda assim houve resistência, o que conservou vivo o espírito nacionalista.  


A França criou sua colônia no Djibuti, cujo primeiro nome foi Somália francesa. Esse território só se tornou independente em 1977. A Inglaterra ficou com a parte do território somali que ficou conhecido dos europeus como Somália Inglesa, ao norte e a Itália com a Somália Italiana, mais ao sul.


Em relação à Somália Inglesa, também chamada de Somalilândia Britânica, foi um protetorado britânico situado no norte do chifre da África. Quando a Somália se tornou independente fez parte desse país e atualmente se declara um país chamado República da Somalilândia, não reconhecido oficialmente. Durante os anos 1870 o Egito dominou a área, mas abandonou a área e assim o Império Britânico formou seu protetorado.


Sobre a Somália Italiana, a Itália em 1889 celebra acordos com os sultões de Obbia e Aluula, estabelecendo um protetorado nos outros 2/3 do futuro país. O governo italiano impôs a administração direta em 1908, estabelecendo sua colônia. Em 1936 a Itália fascista invade a Etiópia, formando a África Oriental Italiana (AOI), junto a Somália e Eritreia. Com a a declaração de guerra da Itália ao Reino Unido em junho de 1940, na Segunda Guerra Mundial, forças italianas invadem a Somalilândia britânica, reconquistada um ano depois. 


Pós-Segunda GuerraMundial

Quando acaba a guerra, a Itália renuncia aos direitos à Somália, que fica de 1941 a 1950, sob administração militar britânica.A Assembléia Geral da ONU, em 21 de novembro de 1949, adota uma resolução recomendando que a antiga Somália italiana seja colocada sob tutela por 10 anos, com a Itália como administradora, com o objetivo de preparar a independência. A Somália britânica foi declarada independente a 26 de junho de 1960 e 5 dias depois, a 01 de julho, a parte italiana é declarada independente, as duas ao se unirem  no mesmo dia  formaram a República da Somália.


Governo Parlamentar e Golpe Militar


Foi aprovada em referendo, em junho de 1961, uma Constituição que dizia que deveria haver um governo parlamentar com base no modelo europeu e o governo da Somália desistia de reivindicar as áreas somalis na Etiópia, Quênia e Djibuti, estabelecendo boas relações com os vizinhos. Mas a aproximação com a Etiópia, considerada por nacionalistas como uma rival, foi o estopim para o golpe de outubro de 1969, liderado pelo general Mohamed Siad Barre.


Barre aproximou-se da União Soviética (URSS) e formou um serviço de segurança nacional para controlar a população, iniciando uma série de projetos de inspiração socialista, porém restringindo muito a liberdade política e utilizando o terror para intimidar e se manter no poder. 


O imperador da Etiópia foi derrubado em 1974 e em 1977 o governo militar da Somália decide invadir aquele país para conquistar a região de Ogaden, com maioria de habitantes de origem somali. Porém,  o novo governo aliou-se à União Soviética, que forneceu entre 10.000 a 15.000 soldados cubanos e conselheiros militares soviéticos, além de muitas armas, provocando a derrota da Somália. A ajuda soviética irritou o ditador, general Barre, que em novembro de 1977, expulsou todos os conselheiros soviéticos e revogou o acordo de amizade da Somália com a URSS.


Entre as consequências da Guerra de Ogaden podem ser citadas milhares de mortes, com grandes custos para a Somália e o a ocorrência  de mais 650.000 refugiados do território etíope. Esta derrota militar teve efeitos terríveis para o regime de Siad Barre, que viu seu prestígio se reduzir perante o Exército e a população somali. Com o final da a guerra, a Somália abandona sua ideologia socialista e procura apoio no ocidente. 


Assim, de 1982 a 1988, houve  novo parceiro no contexto da Guerra Fria: os Estados Unidos. Mas a crise econômica, corrupção e custo das atividades anti-insurgência causam grandes privações à população e ao final da década de 1980, grupos armados de oposição na região norte se voltam contra o governo e se espalham para as regiões central e sul. Há uma desintegração do exército somali e o controle efetivo do regime é reduzido às áreas nas imediações de Mogadíscio. Após o fim da Guerra Fria, a Somália perdeu sua importância como um aliado dos Estados Unidos, que se distanciaram de Barre. A queda do regime ocorre em 1991 e várias facções começaram a tentar controlar o território lutando entre si.


O General Aidid


O general Mohamed Farrah Hassan Aidid foi um líder controverso e sanguinário da Somália, considerado  muitas vezes como um senhor da guerra. Teve uma educação em Roma e Moscou, tendo servido no governo de Barre em diferentes posições até se tornar o chefe do serviço de inteligência somali. Em 1985, Barre descobriu seus planos golpistas  o prendeu por seis anos. Em 1991, foi libertado da prisão por movimentos contrários ao governo militar.Com a queda do governo Barre, tornou-se poderoso e  liderou a resistência contra as tropas das Nações Unidas e dos Estados Unidos. O General Aidid foi um dos principais alvos da Operação Restore Hope, onde as Nações Unidas e os Estados Unidos forneceram ajuda humanitária à população e também tentavam romper um cerco militar do general no país. Foi o presidente da Somália por um curto período de tempo, no entanto foi obrigado a deixar o país em 1995 pela pressão das forças da ONU. Na sua época no poder, uma violenta guerra civil provocou uma situação de extrema fome no país. E Aidid confiscava os alimentos enviados como ajuda humanitária, atacando comboios, usando a fome como arma. Por causa dessa política cerca de 300.000 pessoas morreram. Uma operação dos Estados Unidos contra o Aidid em 3 de outubro de 1993, apesar de tecnicamente bem sucedida, teve como consequência a morte de centenas de somalis e de 18 soldados dos Estados Unidos. Tal operação foi descrita no filme "Falcão Negro em Perigo". Em 1996, o general morria em agosto, como resultado de um tiroteio com gangues rivais (jornais dos Estados Unidos lançaram a hipótese de ter sido um plano da CIA).



As Cortes Islâmicas


Nos anos 90, Baseadas na Charia (lei islâmica), as cortes islâmicas tornaram-se o principal sistema judicial.  sustentado pelos tributos pagos pelos litigantes. Em pouco tempo, as cortes passaram a oferecer outros serviços, como educação e assistência médica, atuando também como força policial com contribuições de comerciantes  para reduzir o crime. Em 1999 o grupo começou a firmar sua autoridade. Os partidários e integrantes das cortes islâmicas e outras instituições uniram-se para formar a União dos Tribunais Islâmicos (UTI), uma milícia armada passando a controlar partes da capital. As cortes formaram uma união das cortes islâmicas em 2000, consolidando recursos e poder, mas entrando em confronto com senhores da guerra somalis tradicionais.


Para enfrentar a UTI, um grupo de senhores da guerra de Mogadíscio formou a Aliança Para Restauração da Paz e a Luta Contra o Terrorismo (APRPLCT). Esta era uma mudança principal, pois esses senhores da guerra lutaram entre si por muitos anos. No começo de 2006, os dois grupos entraram em choque repetidamente e em maio de 2006 houve fortes combates em Mogadíscio, onde morreram mais de 300 pessoas.


O governo dos Estados Unidos passou a financiar a APRPLCT, devido ao possível envolvimento da UTI com a rede terrorista A-Qaeda, que em 9 de agosto de 1998 provocou ataques às embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia. 


Segundo várias fontes, o governo eritreu começou armar e financiar a UTI, assim como ajudando rebeldes etíopes, como a FLO (Frente de Libertação Omoro). 



As regiões de Puntlândia e Somalilândia (onde era a Somália Britânica) afirmaram sua autonomia. 

Em 2004, o governo de transição somali é formado no Quênia, reconhecido pela comunidade internacional. Esse governo durou até 20 de agosto de 2012 quando seu mandato terminou oficialmente e iniciou-se o Governo Federal da Somália. Nesses governos não tem existido eleições diretas.


Al-Shabab


Al-Shabab significa"A Juventude" em árabe e surgiu em 2006, como uma ala radical da  extinta União das Cortes Islâmica da Somália enquanto combatia forças etíopes que invadiram o país para apoiar o fraco governo interino. Nas áreas sobre seu controle, impôs uma versão rígida da Sharia. O Al-Shabab defende a versão wahabista do islã, inspirada pela Arábia Saudita, enquanto a maioria dos somalis segue a linha do sufismo. Esse grupo foi expulso da capital do país, Mogadíscio, em agosto de 2011. Mas mesmo tendo  perdido o controle das principais cidades e povoados, o grupo ainda tem influência sobre áreas rurais da Somália. O grupo está sob pressão de várias frentes, tanto na Somália quanto no Quênia e na Etiópia e usando táticas de guerrilhas para enfrentar as forças da União Africana (tropas mandadas por países africanos).

Os Clãs

Há uma importância grande dos clãs na Somália.

A população da Somália vem se dividindo quase por completo entre as duas principais famílias de clãs: Somale e Sab. Estes, por sua vez, são subdivididos em seis clãs principais: Hawie, Dir, Isaq, Darod, Digil e Rahawayn.


 Os clãs Hawie, Dir, Isaq e Darod pertencem à família Somale. Concentram a maior parcela da população do país, mais de 70%, e têm como característica o fato de serem pastores nômades criadores de cabras, camelos e ovelhas.


 Os clãs Digil e Rahawayn pertencem à família Sab. Eles são agricultores da região sul do país, constituindo quase 20% de sua população total.

Pirataria

A existência de pirataria na costa da  Somália tem sido uma ameaça à marinha mercante internacional desde o início da guerra civil, nos anos de 1990. A atividade dos piratas  contribuiu para um aumento nos custos do transporte marítimo, e impediram a entrega de remessas assistenciais de alimentos. Noventa por cento das remessas do Programa Alimentar Mundial são enviados pelo mar, e os navios passaram a precisar de escolta militar. Os atos de pirataria foram interrompidos temporariamente quando a União das Cortes Islâmicas ascendeu ao poder. Com o colapso do governo central, barcos e navios pescando ilegalmente nas águas da Somália passaram a ser comuns. Os piratas estavam interessados, inicialmente, em assumir o controle das águas do país antes que empresários ou milicianos se envolvessem. Certos piratas são antigos pescadores, que argumentam que os navios estrangeiros estão ameaçando seu sustento pescando nas águas somalis. Na maioria dos sequestros realizados as vítimas não são machucadas, para que o pagamento dos resgates seja realizado. Pelo contrário, os seqüestradores tratam bem seus reféns, na esperança de receberem os resgates. A pirataria somali tem sido objeto de preocupação de diversos países que tem deslocado navios de guerra para o oceano Índico para proteger navios mercantes.


Comentários finais


A Somália, vive à beira do caos. Além da luta contra o extremismo islâmico, majoritariamente localizada no Al Shabaab, o país parece não conseguir se livrar de crises humanitárias que deixam boa parte de sua população na extrema pobreza. E atualmente, sofre, ainda, com uma das secas mais severas já vistas. Segundo números recentes da ONU, mais de um milhão de pessoas foram afetadas por esse fenômeno. Muitas comunidades rurais da Somália se transformaram em cidades fantasmas após as colheitas falidas e a morte do gado, que deixou a população sem reserva de alimentos. Politicamente a Somália continua fragmentada, com um governo central sem muita força política e militar para integrar todas as regiões do país e com a existência da guerrilha fanática islâmica que almeja tomar o poder. É nesse contexto de miséria, divisão territorial, pouco desenvolvimento econômico e com a existência de terrorismo que está a Somália atual.



Sugestão de Filmes e vídeos


1- Filmes


Falcão Negro em Perigo
https://www.youtube.com/watch?v=8nYUtotY2to
https://pt.wikipedia.org/wiki/Black_Hawk_Down
Capitão Philips
www.adorocinema.com/filmes/filme-191696/
https://www.youtube.com/watch?v=noLJBSIM-lY


2-Vídeos sobre a Somália
https://www.youtube.com/watch?v=C08emqE70E4
https://www.youtube.com/watch?v=V9F-ZE434v8



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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: Google

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