terça-feira, 30 de setembro de 2025

A atriz Cláudia Cardinale

 




Em 23 de setembro de 2025 faleceu a atriz Cláudia Cardinale em Paris. Ela estava em casa com seus filhos. Segundo o agente da atriz :"Ela nos deixa o legado de uma mulher livre e inspirada, tanto como mulher quanto como artista".

Claude Josephine Rose Cardinale  nasceu em Túnis, Tunísia, em 15 de abril de 1938. Seus pais eram italianos, nascidos na Sicília. Foi criada em La Goulette, município próximo a Túnis. Ela trabalhou em filmes de destaque do cinema como "Oito e meio" (1963), de Federico Fellini, "O leopardo" (1963), de Luchino Visconti, "A Pantera Cor-de-rosa" (1963), de Blake Edwards, "Era uma Vez no Oeste" (1968), de Sergio Leone, e "Fitzcarraldo" (1982), de Werner Herzog. Foi capa de cerca de aproximadamente 700 revistas nos anos de 1960. O escritor e roteirista italiano Alberto Morávia ficou impressionado com ela e escreveu sua biografia em 1965 quando ela ainda era pouco conhecida. O livro foi traduzido para diversas línguas e o autor disse que a obra era “a descrição de um corpo no espaço”.

Cláudia veio ao Brasil em várias ocasiões e participou de filmes no país. Um desses filmes, Uma rosa para todos, foi gravado em 1967 em favelas da cidade do Rio de Janeiro. Filmou nos anos de 1980 na Amazônia a obra “Fitzcarraldo”, do alemão Werner Herzog. Lançou o filme O gebo e a sombra, de Manoel de Oliveira, em 2012, na Mostra de Cinema de São Paulo. Nesse ano ela deu uma entrevista ao jornal O GLOBO . Ela disse:

 “Estar atuando é fantástico porque geralmente, quando a mulher envelhece na indústria do cinema, ela não recebe mais tantos papéis. É raro porque a maioria dos papéis, especialmente na TV, é para mulheres jovens que não estão interessadas em interpretar, somente em aparecer. A TV hoje só quer mostrar mulheres jovens e sexies, com bocas inchadas de tanto preenchimento e uma cultura de beleza tirânica. Eu não gosto porque a verdade é que você não consegue parar o tempo. Eu não faço lifting porque de outra forma você olha para si mesma no espelho e não se reconhece mais.”

Além de ter trabalhado com grandes cineastas da Itália, Cláudia também trabalhou com atores famosos de seu tempo áureo como Burt Lancaster, Alain Delon e Henry Fonda. Aos 16 anos, foi vitoriosa no concurso "A Mais Linda Garota Italiana na Tunísia" em 1957, sendo o prêmio uma viagem ao Festival de Cinema de Veneza. Nessa ocasião ela chamou logo a atenção e, acabou desistindo de seus planos de se tornar professora. Sobre isso ela comentou: "Todos os diretores e produtores queriam que eu fizesse filmes, e eu disse: 'Não, eu não quero!”. Porém, seu pai a convenceu a "tentar fazer cinema". Ela então começou a conseguir pequenos papéis em filmes, com a influência de seu mentor Franco Cristaldi, que depois se casou com ela.

Na época do início de sua carreira, ela foi vítima de um estupro por um produtor de cinema e engravidou. Ela criou seu filho Patrick e teve de trabalhar em filmes, embora não quisesse se expor, tendo dito em uma entrevista em 2017 ao jornal Le Monde: "Fiz isso por ele, por Patrick, o filho que eu queria manter, apesar das circunstâncias e do enorme escândalo. Eu era muito jovem, tímida, pudica, quase selvagem. E sem a menor vontade de me expor nos sets de filmagem." Quando estava grávida, foi aconselhada a dar à luz secretamente em Londres.. Patrick seria oficialmente seu irmão mais novo até que ela revelasse a verdade sete anos depois. Ela contou: "Fui forçada a aceitar essa mentira para evitar um escândalo e proteger minha carreira".

Ela entrou em uma era de ouro do cinema italiano, mesmo sem saber "uma palavra" da língua italiana. Ela falava somente francês, árabe e o dialeto siciliano de seus pais. Segundo ela em sua autobiografia de 2005: “Tornei-me a heroína de um conto de fadas, o símbolo de um país cuja língua eu mal falava". Até quando começou a trabalhar no filme "Oito e meio", de Fellini, vencedor do Oscar, em 1963 (quando o diretor quis ela que ela usasse sua própria voz), era dublada em italiano. No mesmo ano ela filmou, na idade de 25 anos, o drama épico de época "O Leopardo", de Visconti.  Para Felini ela tinha de estar loira e Visconti a queria morena com cabelos compridos. Foi chamada pelos críticos de "a personificação do glamour europeu do pós-guerra". Sobre isso comentou o jornal britânico The Guardian em 2013:"É quase como se a sensualidade tivesse sido imposta a ela".

Como atriz em Hollywood ela foi bem sucedida em "A Pantera Cor-de-Rosa", com Peter Sellers, e depois com "O Mundo do Circo" (1964), de Henry Hathaway, com Rita Hayworth e John Wayne. Por vários anos ela participou de filmes de Hollywood. Foi muito elogiada pelo seu papel em “Era uma vez no Oeste, de Sérgio Leone, em 1968.

Não quis mais fazer filmes de Hollywood e voltou a fazer filmes italianos e franceses, tendo recebido o prêmio David di Donatello de melhor atriz por seus papeis em Il giornodellacivetta (1968) e A Girl in Australia (1971). Com o diretor Pasquale Squitieri atuou em  I Guappi (1974), Corleone (1978) e Claretta (1984). Nesse período ganhou o Prêmio Nastro d'Argento de Melhor Atriz.

Cláudia era desejada por muitos, no entanto revelou que seu "único amor” era o diretor napolitano Pasquale Squitieri, pai de sua filha Claudia. O casal trabalhou em vários filmes por quatro décadas até a morte dele em 2017.Nunca aceitou fazer cirurgia plástica e atuou até os 80 anos. Ela trabalhou em 175 filmes e recebeu prêmios honorários nos festivais de Veneza e de Berlim. Defendia muito os direitos das mulheres, tendo sido nomeada Embaixadora da Boa Vontade da UNESCO em 2000, em reconhecimento ao seu compromisso com a causa das mulheres e meninas. Ela disse a respeito: "Tive muita sorte. Este trabalho me proporcionou inúmeras vidas e a possibilidade de colocar minha fama a serviço de muitas causas".

Sobre seu sucesso Cláudia disse em 2014:"Se você quer praticar esse ofício, precisa ter força interior. Caso contrário, perderá a ideia de quem você é. Todo filme que faço implica tornar-se uma mulher diferente. E na frente de uma câmera, nem menos! Mas, quando terminei, sou eu de novo.”

Cláudia Cardinale faleceu em Nemours, França, aos 87 anos. 

 


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