terça-feira, 30 de setembro de 2025

O Fim da Segunda Guerra Mundial

 



Há oitenta anos terminava a Segunda Guerra Mundial com a rendição do Japão. Em 2 de setembro de 1945 o Japão se rendeu oficialmente aos Aliados. A Alemanha, outro país importante do Eixo, tinha se rendido em 8 de maio aos aliados ocidentais e dia 9 de maio à União Soviética. Hitler, o maior líder nazista, estava morto desde 30 de abril e Mussolini, o líder fascista italiano (a Itália fascista também fizera parte do Eixo), foi executado por guerrilheiros italianos em 28 de abril do mesmo ano. Era o fim de uma guerra terrível iniciada oficialmente em primeiro de setembro de 1939, quando a Alemanha invadiu a Polônia.

O grupo militar nacionalista que governava o Japão iniciou sua participação na Segunda Guerra Mundial em 7 de dezembro de 1941, quando atacou Pearl Harbor, uma base naval dos Estados Unidos  no Havaí. Houve formidáveis combates aéreos e navais, assim como sangrentas batalhas terrestres em ilhas do Pacífico e no continente asiático de 1942 até a rendição japonesa em 1945.

No primeiro semestre de 1945 houve as últimas batalhas em ilhas do Pacífico entre Estados Unidos e Japão, com as derrotas desse país em Iwojima e Okinawa. E em agosto do mesmo ano, os Estados Unidos usaram duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagazaki no Japão, em 6 e 9 de agosto e em 08 de agosto a União Soviética tinha atacado com um forte exército as tropas japonesas que ocupavam parte da China.

Apesar das duas bombas atômicas e da invasão soviética do norte da China, atacando as forças japonesas ali presentes, a rendição japonesa não foi imediata, pois grupos ultranacionalista japoneses não concordavam com os termos impostos pelos Aliados. Muitas das cidades japonesas, incluindo Tóquio, estavam devastadas por bombardeios, já havia dificuldades graves na fabricação de armamentos, a aviação tinha sido quase toda destruída e a marinha estava muito enfraquecida, sem condições de opor-se às esquadras aliadas e havia o risco iminente de haver uma terrível escassez de alimentos se a guerra continuasse.

Após vários debates entre líderes políticos e militares e com a intervenção do Imperador Hirohito , em 14 de agosto o Japão concordou em se render e a rendição foi assinada em 2 de setembro de 1945, a bordo do cruzador Missouri e na presença do general americano Douglas MacArthur, terminando completamente a Segunda Guerra Mundial. A derrota na guerra foi lamentada na época por muitos japoneses e houve por algum tempo antes da rendição oficial alguns focos de resistência à decisão de se render. Foi a decisão tomada pelo Imperador, apoiando os anseios de grupos políticos que desejavam a paz, que superou a vontade de grupos ultra nacionalistas

 

Segundo Sérgio Barcellos (História Secreta da Rendição Japonesa de 1945):

 “ É impressionante a história do que ocorreu no Japão naquele quente agosto de 1945. A Segunda Guerra já acabara em maio na Europa com a derrota completa da Alemanha, e tudo levava à certeza mundial de estar selada a derrota japonesa, de que era só uma questão de tempo. Mas no Japão não. Levantou-se o caráter nacional em toda a sua força terrível: “”Rendição é pior que a morte. Mais digno de nós é morrermos todos”.

E ainda o mesmo autor: “As semanas agitadíssimas antes da rendição japonesa, que marcou o fim do vasto império asiático, estão entre os eventos mais dramáticos da moderna história da Humanidade(...)” “(...) Entre o horror da explosão da primeira bomba atômica, que varreu Hiroshima do mapa em 6 de agosto de 1945, seguida pela declaração de guerra da então União Soviética, em 8 de agosto, e a segunda bomba atômica, um dia depois, em Nagasaki, o Japão viveu uma comoção interna só comparável às grandes tragédias gregas. Nela, sua elite militar, altamente treinada, continuava insistindo no juramento que fizera de vencer ou perecer no processo(...)”

E Lester Brooks, jornalista, soldado e diplomata. que serviu com o general MacArthur nas Filipinas e no Japão diz em sua obra História Secreta da Rendição Japonesa de 1945: “Do ponto de vista de Togo (ministro das relações exteriores) e dos ministros civis do Gabinete, estava óbvio que levaria tempo para convencer os comandantes das tropas de que a rendição era o desejo genuíno do Imperador e a legítima ordem das autoridades militares. Estava previsto serem enviados os irmãos de Hirohito para áreas remotas a fim de transmitir a palavra do Imperador, assegurando que a rendição era autêntica. Acreditava-se que isso seria necessário por causa dos problemas técnicos da transmissão via rádio e da conveniência de fazer chegar pessoalmente a verdade sobre a rendição por intermédio da mais alta autoridade disponível.”

Lester Borooks descreveu em seu livro o discurso que o imperador Hirohito que foi transmitido por rádio a seus súditos:

 “Aos nossos bons e leais súditos, depois de refletir profundamente sobre a tendência geral que se observa no mundo e sobre as reais condições prevalecentes hoje em Nosso Império, decidimos solver a presente situação recorrendo a uma medida extraordinária. Determinamos ao Nosso Governo que comunicasse aos Estados Unidos, à Inglaterra, à China e à União Soviética que Nosso Império aceita as disposições de sua Declaração Conjunta.

 A guerra já dura quase quatro anos. Malgrado o melhor de si que todos deram... a situação da guerra evolveu não necessariamente a favor do Japão, e a tendência geral do mundo voltou-se contra os interesses do país. Além do mais, o inimigo começou a empregar uma nova bomba terrivelmente cruel, cujo poder de destruição é realmente incalculável, cobrando a vida de muitos inocentes. Se continuássemos lutando, resultaria não apenas um colapso final e a obliteração da nação japonesa, mas levaria também à total extinção da civilização humana. Sendo essa a realidade, como vamos salvar os milhões de Nossos súditos? Ou explicar-nos perante os venerados espíritos sacrossantos de Nossos Antepassados Imperiais?

 ...Pensar naqueles que...tombaram nos campos de batalha, que morreram nos seus postos...ou... encontraram morte prematura,...em todas as famílias enlutadas... doi em Nosso coração noite e dia. ... Os feridos vítimas da guerra... objetos de Nossa profunda solicitude. A privação e o sofrimento a que Nossa Nação será submetida daqui por diante serão certamente grandes.... No entanto, está de acordo com o ditame do tempo e do destino que Tenhamos resolvido abrir o caminho de uma grande paz para todas as gerações vindouras, suportando o insuportável e tolerando o intolerável.

Conseguindo preservar e manter a estrutura do Estado Imperial, Nós estaremos sempre convosco, bons, e leais súditos, confiando em vossa sinceridade e integridade. Evitai o mais estritamente manifestações de emoção que possam gerar complicações desnecessárias, bem como contendas entre irmãos e atritos que criem confusão, capazes de vos levar a perder a confiança no mundo... Cultivai os caminhos da retidão, fortalecei a nobreza de espírito e trabalhai resolutamente para que possais assegurar a glória inerente ao Estado Imperial e manter a paz e o progresso no mundo.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


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